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“É preciso desmistificar a ideia de que a Bolsa de

Valores é só para grandes investidores”.

O Manual do Pequeno Investidor – Guia para iniciantes | @Todos os direitos reservados e

protegidos

Gerson Justino David | 2019

Proibido o uso para fins comerciais.

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ÍNDICE

DEDICATÓRIA................................................................................................................................................. 6

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................................................... 7

NOTAS DO AUTOR........................................................................................................................................ 8

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................. 1

CAPITULO I – INTRODUÇÃO AO INVESTIMENTO ....................................................................... 3

1. O que é INVESTIMENTO? ............................................................................................................... 3

1.1. INVESTIMENTO E FIGURAS AFINS ..................................................................................... 3

a) Investimento vs Poupança ............................................................................................................ 3

b) Investimento Vs Gasto ................................................................................................................. 4

1.2. TIPOS DE INVESTIMENTO. ...................................................................................................... 5

a) Investimento em activos reais, Investimento cripto, Investimento em bens

incorpóreos e Investimentos em activos financeiros; .................................................................... 5

1.3. INVESTIMENTOS EM ACTIVOS FINANCEIROS ............................................................ 6

b) Investimento directo (aquisição de activos financeiros) vs investimento indirecto

(aquisição de participações em fundos de investimentos); ......................................................... 6

c) Investimento a Curto, Médio e a Longo prazo ....................................................................... 7

1.4. Quais as Vantagens de Investir em Títulos cotados na Bolsa para os Jovens? ............... 8

1.5. SE É VANTAJOSO INVESTIR, PORQUÊ QUE MUITOS JOVENS NÃO

INVESTEM? ................................................................................................................................................... 9

a) Falta de apetência para a assunção de riscos ........................................................................... 9

b) A pretensa ideia de falta de recursos ....................................................................................... 10

c) Não construir uma disciplina de poupança? ......................................................................... 13

1.6. AS 5 REGRAS DE OURO PARA POUPAR .......................................................................... 17

CAPÍTULO II - O SISTEMA FINANCEIRO E O MERCADO DE CAPITAIS OU DE

VALORES MOBILIÁRIOS .......................................................................................................................... 21

2. Sistema Financeiro ............................................................................................................................ 21

2.1. Mercado de Capitais Ou Mercado de Valores Mobiliários ............................................... 21

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2.2. Estrutura do Mercado De Valores Mobiliários ......................................................................... 22

2.2.1. Mercado Primário e Mercado Secundário ........................................................................... 22

2.2.2. O Mercado Secundário ............................................................................................................. 22

2.2.3. A Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) ....................................................................... 23

2.2.4. Sistema de Bolsa de Valores adoptado em Moçambique. .............................................. 23

2.2.5. Estrutura da Bolsa de Valores de Moçambique ................................................................ 24

2.2.5.1. O Mercado de Cotações oficiais .......................................................................................... 24

2.2.5.2. Segundo Mercado ................................................................................................................... 25

2.3. VALORES MOBILIÁRIOS ............................................................................................................. 25

2.3.1. Definição ........................................................................................................................................ 25

2.3.2. Valores Mobiliários Representativos de participação social ...................................... 26

2.3.2.1. Acções ..................................................................................................................................... 26

a) Noção e direitos conferidos ....................................................................................................... 26

b) Quem pode emitir acções ........................................................................................................... 26

c) Classificação das Acções ............................................................................................................ 26

2.3.2.2. Unidades de Participação em Fundos de Investimento ....................................... 29

a) Noção e direitos conferidos ....................................................................................................... 29

b) Tipos de Fundos de Investimento ........................................................................................... 29

2.3.3. Valores Mobiliários Representativos De Dívida ............................................................. 29

2.3.3.1. Definição ............................................................................................................................ 29

2.3.3.2. Tipologias .......................................................................................................................... 30

2.3.3.2.1. Obrigações de Tesouro .................................................................................................. 30

2.3.3.2.2. Bilhetes de Tesouro ......................................................................................................... 30

2.3.3.2.3. Obrigações Corporativas .............................................................................................. 30

a) Modalidades.................................................................................................................................... 31

b) Emissão ............................................................................................................................................... 32

CAPÍTULO III – OPERAÇÕES FINANCEIRAS SOBRE VALORES MOBILIÁRIOS. ............. 33

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3. OFERTAS ............................................................................................................................................ 33

3.1. O que são ofertas? .......................................................................................................................... 33

3.2. Ofertas Públicas e Particulares .................................................................................................. 33

3.3. Ofertas de Subscrição ................................................................................................................... 33

3.4. Ofertas de Venda ........................................................................................................................... 33

3.5. Ofertas de Aquisição ................................................................................................................... 34

3.6. PROCEDIMENTOS PARA A COMPRA E VENDA DE VALORES MOBILIÁRIOS:

O SISTEMA DE NEGOCIAÇÃO DA BOLSA DE VALORES DE MOÇAMBIQUE. ..............35

3.6.1. Abertura de uma Conta de Investimentos ....................................................................35

3.6.2. Ordens De Bolsa ....................................................................................................................35

O que são e como se preenchem? .......................................................................................................35

3.6.3. Envio da Ordem de Bolsa ao Intermediários financeiro ............................................38

Como se efectua. .....................................................................................................................................38

3.6.4. Secções De Bolsa .................................................................................................................. 39

3.6.5. SISTEMA DE COMPENSAÇÃO E LIQUIDAÇÃO DAS OPERAÇÕES. ........... 39

CAPÍTULO IV: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS NA BOLSA DE VALORES DE

MOÇAMBIQUE. ............................................................................................................................................ 41

4. ASPECTOS GERAIS ........................................................................................................................ 41

a) Algumas particularidades do Mercado de Capitais em Moçambique. .......................... 41

b) Metodologia de análise de investimentos ............................................................................. 42

4.1. ANÁLISE TOP DOWN: PRINCIPAIS FACTORES. ......................................................... 43

a) Generalidades ................................................................................................................................ 43

b) Produto Interno Bruto (PIB) ..................................................................................................... 44

c) Tendências da Inflacção ............................................................................................................. 44

d) Preços de produtos no mercado internacional .................................................................... 45

4.2. ANÁLISE BOTTOM UP ............................................................................................................ 46

a) Generalidades ................................................................................................................................ 46

b) Compreendendo o Prospecto e a Ficha Técnica. ................................................................. 47

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4.2.1. ANÁLISE BOTTOM UP NO MERCADO DE ACÇÕES ............................................. 48

a) Base de análise. .............................................................................................................................. 48

b) Estrutura do Prospecto e do Relatório de Contas. ............................................................. 48

c) Descrição da empresa e sua estrutura organizativa ........................................................... 48

d) Análise da Situação financeira da empresa. .......................................................................... 49

4.2.2. ANÁLISE BOTTOM UP NO MERCADO DE OBRIGAÇÕES. .................................. 57

a) Análise Externa .............................................................................................................................. 57

b) Análise da Ficha Técnica. ........................................................................................................... 58

c) Estrutura da Ficha Técnica ....................................................................................................... 58

d) Análise Financeira da Ficha Técnica ...................................................................................... 59

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................................................. 62

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DEDICATÓRIA

A cada um dos formandos do programa Investe Jovem que partilham connosco o sonho de

começar a investir jovem.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar à Deus.

Aos meus pais e irmãos.

À equipa do Investe Jovem: Actinidio Machoco, Linda Wawa e Edmilson (Kae The Cre8tor).

À W Editora (em especial a pessoa da Me. Tânia Waty).

Aos meus amigos Bruno Cossa e Idilson Pirbay.

A dois companheiros de trincheira: Eddie Massinga e René Meneses.

Aos dr.s Lonicêncio da Silva e Ornília Sitoe (que muito carinhosamente corrigiram cada

ponto e vírgula deste trabalho).

E a todos aqueles que de uma forma directa e indirecta nos apoiaram neste projecto que está

só a começar.

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NOTAS DO AUTOR

O que é este e-book?

Antes de tudo, este é o livro que eu queria ter lido há alguns anos, quando comecei a ter os

meus primeiros rendimentos. Hoje, eu olho para muitos Y.O.L.O’s1 meus não necessariamente

com arrependimento, até porque os momentos foram marcantes, mas com a sensação de que

poderia ter sido um pouco mais inteligente para me abdicar de alguns a fim de ter muitos

mais no futuro (que até poderia ser hoje).

Mas, este trajecto teve o seu lado positivo, pois proporcionou-me uma experiência

totalmente diferente da que eu transmitiria, se as minhas decisões, no passado, tivessem sido

todas sábias. Hoje, eu escrevo como um insider, ou seja, como alguém que errou muito nas suas

opções de como usar o dinheiro e investiu muito pouco, quando faz uma análise de tudo o

que já ganhou comparado ao que possui actualmente.

Os relatos contidos neste livro (usando personagens fictícias, mas retratando factos reais) descrevem

algumas experiências dos desafios que alguns jovens, especialmente da classe social média-

baixa (à qual pertenço) enfrentam para prosperar financeiramente. Uma das lições que muito

me marca neste livro é a ideia de “redefinição da nossa capacidade de gasto” – os que

tiveram a oportunidade de beber disto, quando era ainda um simples projecto, sabem que

esta é uma lição que eu escrevi para mim mesmo e tento todos os dias relembrá-la para

cumprir com a minha disciplina financeira. E por quê?

Até à data em que escrevi este livro, os meus rendimentos tinham tendência a aumentar ano

após ano e, em alguns anos, eles duplicaram, sem contar com o facto de que sempre tive

rendimentos extras. Como podem imaginar, estava a acontecer comigo o que muitos de nós,

jovens, aspiramos e consideramos ser a base para a prosperidade financeira – ganhar cada vez

mais dinheiro – mas, EU ESTAVA SIMPLESMENTE ENGANADO.

Onde é que as coisas falharam e como é que a história mudou?

A minha história não se distingue muito daquelas que nós vemos no dia-a-dia, jovens que

tiveram muitas oportunidades para construir a sua independência financeira, mas a cada ano

1Y.O.L.O (You Only Live Once) é uma expressão muito usada por jovens, que numa tradução literal significa “tu

só vives uma vez”, para justificar acções compulsivas de consumo (não poucas vezes exageradas) com fundamento de que ninguém sabe o que será do nosso amanhã, então melhor viver o presente.

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que passa e à medida que os seus rendimentos aumentam, mais sufocados ficavam com as

suas despesas.

Por estar envolvido em pesquisas e assessoria empresarial (com enfoque especial para o Mercado de

Capitais), num certo dia, nos finais do ano de 2017, tive a oportunidade de partilhar as minhas

ideias com um investidor que me fez uma pergunta que revolucionou a minha visão sobre

finanças:

“Gerson, se tu perdesses o teu emprego hoje, quanto tempo tu

viverias, mantendo o nível de vida que levas hoje, sem precisar de

pedir ajuda a ninguém, até te recompores?”

Quando eu estava prestes a responder (reparem que esta pergunta me foi colocada num contexto em

que eu sequer tinha uma conta poupança – então devem imaginar qual seria a minha resposta) ele me

interrompeu, disse que era uma pergunta retórica e prosseguiu:

“Se tu quiseres incentivar os jovens a investirem, na bolsa ou em

qualquer outra área, o teu maior desafio vai ser mudar o mindset

deles em relação à forma como se relacionam com o seu dinheiro.

Tu vais perceber que quando eles estiverem financeiramente

organizados não serás tu a procurar por eles para investirem, eles

é que vão procurar por ti para saber o que fazer com o dinheiro

que sobrou depois de terem as suas finanças organizadas”.

Aquele que era suposto ser um conselho para algo a considerar numa futura parceria, tornou-

se um conselho pessoal e me colocou a pensar sobre como eu geria as minhas próprias

finanças e, a partir daquela data, comecei a criar novos hábitos financeiros, a começar pela

constituição das minhas poupanças.

Este novo ciclo trouxe consigo importantes revelações, mas a maior delas foi a causa do nosso

fracasso financeiro: “não temos disciplina financeira e não sabemos esperar pela verdadeira prosperidade

financeira para colher os seus frutos”.O maior desafio que nós os jovens temos é desaprender o

idioma do consumo e passar a praticar os idiomas da poupança e do investimento.

Este exercício, que em teoria perece muito simples, vai exigir de nós uma ruptura imediata

com os nossos hábitos passados, especialmente no plano psicológico. O que na verdade

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acontecia comigo era que eu achava que estava na hora de celebrar o término do ciclo da falta

de capital que assolou toda a minha infância e que devia me consolar comprando as coisas

que nunca pude ter no passado, como quem diz “POR QUÊ NÃO, SE PASSEI A VIDA

TODA PRIVADO DE TAL COISA E AGORA POSSO?

Portanto, mais do que partilhar o ABC para os jovens investirem na Bolsa (coisa que pode ser

explicada em três linhas), neste livro eu destaco muito, nos capítulos iniciais, a importância da

organização financeira, partilho dicas de hábitos saudáveis para quem quer prosperar

financeiramente e construir uma carteira de investimentos rentável, bem como atitudes que

devem ser abandonadas pela potencialidade que têm de destruir qualquer património (por

maior que ele seja).

Espero que este livro lhe impacte e lhe coloque a reestruturar as suas finanças para que possa,

a médio e longo prazo, gozar das reais potencialidades do dinheiro. Tenho habitualmente

dito aos meus formandos e clientes que: “Mil meticais de uma pessoa financeiramente educada podem

valer muito mais que Dez Mil Meticais de uma pessoa sem educação financeira, pois o primeiro pode

transformar o Um em Dez, mas o último só com muita sorte consegue multiplicar o seu dinheiro”.

Votos de uma excelente leitura.

Gerson Justino David

(Gestor e Coordenador Principal do Programa Investe Jovem)

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INTRODUÇÃO

Caro jovem investidor (ou aspirante a…),

Em Dezembro de 2018, lançamos e realizamos a 1ª edição do nosso Programa de Formação em

Investimentos denominado “Investe Jovem” e este e-book foi elaborado no âmbito do

mesmo, com o objectivo de proporcionar aos nossos formandos uma base adicional de

consulta e sedimentação dos conteúdos das nossas formações e, ao mesmo tempo, constituir

um guião para os nossos formadores em relação ao que pretendemos transmitir aos nossos

formandos.

O Programa Investe Jovem é uma iniciativa que surgiu após termos realizado um evento

denominado “A Caminho da Revista de Mercado de Capitais”, cuja proposta inicial para o

Programa do evento, era uma intervenção de um jovem que investisse no Mercado de

Capitais e que tivesse menos de 35 anos de idade.

Sucedeu, no entanto, que, quando mantivemos contacto com alguns operadores da Bolsa, nos

demos conta de que poucos jovens investem na Bolsa de Valores de Moçambique (doravante

designada abreviadamente por “BVM”) e dos poucos que o fazem, uma parte insignificante é

que assume um papel activo no processo de gestão das empresas em que são accionistas, ou

detém algum título emitido pela empresa.

Várias são as razões que podem ser levantadas para o facto de os jovens não investirem, mas a

principal de todas elas é o facto de muitos jovens não conhecerem a BVM. O Programa Investe

Jovem surge, também, para mudar este paradigma, mas numa vertente prática, a fim de

permitir que qualquer pessoa que participe na formação, possa criar um plano financeiro que

lhe permita, a curto e médio prazo, iniciar as primeiras operações de investimento na Bolsa.

O que é que você vai encontrar neste e-book?

O presente guia está dividido em 4 principais capítulos (que correspondem aos módulos de

base da nossa formação para iniciantes). No primeiro capítulo, fazemos uma viagem

introdutória ao mundo dos investimentos no qual damos especial enfoque à importância da

poupança como ponto de partida para a jornada de investimentos. No segundo capítulo,

fazemos o enquadramento do mercado de capitais no sistema financeiro, a descrição da sua

estrutura seguida de uma apresentação dos principais títulos que são nele negociados e suas

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principais características. No terceiro, fazemos a descrição dos procedimentos para a compra

de títulos desde a oferta pela entidade emitente até à altura em que o título passa

efectivamente a pertencer ao Investidor. Este manual termina com notas gerais sobre o

processo de avaliação de investimentos na Bolsa, no quarto e último capítulo.

Procuramos abordar estes temas todos utilizando uma linguagem tendencialmente inclusiva,

quer em relação às classes sociais, bem como em relação ao grau e área de formação. Portanto,

ninguém precisa ser economista, financeiro, gestor ou jurista para compreender os temas aqui

abordados.

Quaisquer dúvidas em relação ao conteúdo deste livro, podem ser colocadas por email:

[email protected] ou na nossa página do facebook (Valores Mobiliários de

Moçambique).

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CAPITULO I – INTRODUÇÃO AO INVESTIMENTO

1. O que é INVESTIMENTO?

De uma forma simples podemos dizer que investimento é toda a APLICAÇÃO OUUSO DE

RECURSOS (TEMPO, ENERGIA, VONTADE e até DINHEIRO) NO “PRESENTE” com

vista à OBTENÇÃO DE BENEFÍCIOS NO “FUTURO”, na sua maioria INCERTOS (a

curto e médio prazo, - a valorização dos títulos investidos, o recebimento de juro sou de dividendos,

consoante a natureza do investimento e, a longo prazo, a INDEPENDÊNCIA

FINANCEIRA).

1.1. INVESTIMENTO E FIGURAS AFINS

a) Investimento vs Poupança

A forma mais simples de distinguir o investimento da poupança é a expectativa dos

benefícios ao aplicar o dinheiro. Enquanto quando investimos, para além dos direitos

associados ao título (receber dividendos ou receber juros) a nossa expectativa como

investigadores é de que os títulos valorizem e ganhemos mais com a valorização, na

poupança, a nossa expectativa, enquanto poupadores, é somente o ganho associado ao

contrato que celebramos com o banco (reembolso de capital e juros). Vamos usar um

exemplo que causa uma certa confusão às pessoas, para explicar melhor:

EXEMPLO ILUSTRATIVO:

Quando nós compramos acções de uma empresa (aplicação de

recurso - dinheiro), passamos a ser donos de parte dela e a nossa

expectativa é de receber parte dos lucros que essa empresa for a

produzir no final do exercício económico (benefício futuro).

No entanto, nunca existe a certeza de que a empresa vai gerar

lucros nesse ano, o que existe é uma expectativa baseada nas

projecções financeiras da empresa e noutros factores que vamos

abordar mais adiante (daí a INCERTEZA dos benefícios – no caso o

lucro).

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AGORA VAMOS AO IMPACTO:

Na eventualidade de ambos terem criado conjuntamente um plano para adquirir a curto

prazo um certo bem, A teria a possibilidade de adquirir o bem e ainda ter dinheiro para

adquirir um outro bem ou até mesmo reinvestir o capital gerado pela valorização do seu

investimento. B, por sua vez, teria apenas conseguido adquirir o bem.

Desta forma podemos dizer que:

b) Investimento Vs Gasto

No investimento, como já havíamos nos referido anteriormente, a expectativa do investidor é

sempre de obter um retorno (financeiro). A pessoa que gasta não tem a expectativa de obter

qualquer retorno, ela pretende simplesmente satisfazer uma necessidade que pode ser

temporária (comer, beber, viajar, etc) ou duradoura (comprar uma casa para residir nela,

comprar um carro para uso pessoal, etc).

Para compreendermos melhor esta distinção podemos usar a distinção entre activos e

passivos. São considerados activos todos os bens geradores de renda e passivos todos os

bens que geram despesa.

INVESTIMENTO = Reembolso de Capital + Juros + valorização dos títulos

POUPANÇA = Reembolso de Capital + Juros.

A e B têm 10.000,00 MZN. A aplica o seu dinheiro em bilhetes de tesouro (investimento) e B

aplica o dinheiro numa conta a prazo (poupança). Ambos contratos são remunerados a mesma

taxa de 10%, usam a mesma fórmula de cálculo de juros e têm um período de maturidade de 1

ano. No fim de um ano, A e B vão receber de volta o valor aplicado mais os 10% de juros.

Como podemos ver, ambos terão o mesmo rendimento, onde está então a diferença?

Suponhamos que A tenha comprado cada bilhete de tesouro ao preço de 100 MT e, ao longo

do período de investimento, os bilhetes passaram a estar avaliados em 110 MT. Isto significa

que, a cada 100 MT investidos, A vai receber mais 10 MT, resultantes da valorização dos

bilhetes. B não tem este benefício (ele vai receber somente o que foi acordado inicialmente

quando fez a poupança).

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Repare-se que o problema não é o bem, mas a sua finalidade. Veja o exemplo abaixo, para

melhor compreensão:

1.2. TIPOS DE INVESTIMENTO.

a) Investimento em activos reais, Investimento cripto, Investimento em bens

incorpóreos e Investimentos em activos financeiros;

A presente classificação toma por base o bem sobre o qual incide o investimento.

Estamos perante investimentos em activos reais quando nós aplicamos o nosso capital em

bens tangíveis. Por exemplo: um carro (para táxi, transporte público), uma mota (para

transporte de pessoas ou serviços de motoboy), a construção/compra de uma casa para arrendamento,

para montagem de uma loja etc.

O investimento forex e cripto. Tanto o Forex como o Cripto são investimentos realizados

sobre moedas sendo que, no primeiro caso, são negociadas moedas emitidas pelos estados

(Dólar/Rand/Euro e etc) e, no último, o objecto da negociação são moedas virtuais (tal como

o famoso BITCOINS). O processo consiste essencialmente em comprar moedas a um custo

baixo e revendê-las a um custo mais elevado e ganhar com as diferenças cambiais.

Investimento em bens incorpóreos ou não materiais, que são aqueles que incidem sobre

bens intangíveis como, por exemplo, o investimento na nossa educação (curso superior ou de

especialização).

Os investimentos em activos financeiros são aqueles que são realizados sobre títulos

financeiros, tais como, contratos de financiamento, leasing, acções, obrigações entre outros

que são transaccionados no mercado financeiro.

A e B, amigos de infância, decidiram juntar dinheiro para comprar as suas primeiras

viaturas. A comprou uma viatura da marca Toyota, modelo Belta. B comprou uma viatura

da Marca Honda, modelo Accord. A comprou a viatura com a finalidade de exercer a

actividade de Taxi, enquanto que B comprou a viatura para uso pessoal.

Tanto o carro de A como o de B são, teoricamente bens passivos, pois o seu uso gera

uma despesa (combustível, manutenção, impostos e etc). No entanto, o carro de A gera

receita (e, no caso, superior às despesas), pelo que, o mesmo deve ser considerado um

activo.

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1.3. INVESTIMENTOS EM ACTIVOS FINANCEIROS

O presente manual tem como objecto a análise de investimentos em activos financeiros, mas

especificamente dos que são transaccionados no Mercado de Capitais – os Valores

Mobiliários (Acções, Obrigações Corporativas e de Tesouro, Papel Comercial, Bilhetes de

Tesouro, entre outros).

Deste modo, as classificações que se seguem são sub-classificações dos Investimentos em

Activos financeiros que são transaccionados no Mercado de Capitais.

b) Investimento directo (aquisição de activos financeiros) vs investimento indirecto

(aquisição de participações em fundos de investimentos);

A distinção entre investimento directo e investimento indirecto assenta essencialmente na

forma de aquisição dos activos financeiros. Como investidores, podemos adquirir

directamente os activos (ex: comprar as acções das Cervejas de Moçambique, comprar

obrigações da Bayport e dos demais títulos que estão a ser transaccionados na Bolsa), como

também podemos adquirir participações de um fundo de investimento.

Qual é a importância prática desta distinção? Um dos factores que garante a estabilidade do

investidor é a diversificação da sua carteira de investimentos, ou seja, o investidor não pode

aplicar o seu capital em um único activo ou numa só categoria de activos. O seu capital deve

estar disperso para permitir que na eventualidade de um ou alguns desses activos

depreciarem, os outros compensem as perdas com a sua valorização.

No entanto, nem todos têm habilidade e/ou tempo para estarem constantemente a escolher

os melhores activos para comporem a sua carteira de investimentos. Assim, para os que não

têm esse tempo, existem os chamados Fundos de Investimento que possuem bons

profissionais de investimento que se encarregam de realizar todas as operações de

investimento em nome do investidor. Estes fundos adquirem participações no capital social

de várias empresas e, por intermédio deles, o investidor passa a deter uma participação numa

dada empresa.

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c) Investimento a Curto, Médio e a Longo prazo

Esta classificação toma em consideração o período em que o investidor espera o retorno do

seu investimento.

Investidores que realizam operações de day-trading (compra, venda e revenda de activos financeiros

que ocorre no mesmo dia) realizam investimentos de curto prazo. O mesmo se pode dizer dos

investidores que adquirem o Papel Comercial ou Bilhetes de Tesouro (que como veremos

adiante são emitidos por período máximo de um ano) também realizam investimentos a

curto prazo.

Investidores que aplicam o seu capital em obrigações (corporativas ou de tesouro) com um

prazo de maturidade médio de cerca 3 anos realizam operações de investimento de médio

prazo.

Investidores que aplicam o seu capital em acções, regra geral, realizam um investimento de

longo prazo. Dizemos regra geral porque o preço das acções leva alguns anos para atingir uma

alavancagem significativa.

Veja-se a título de exemplo o gráfico abaixo que descreve o processo de evolução das acções

das Cervejas de Moçambique (um dos melhores títulos cotados na BVM) nos períodos

compreendidos entre anos de 2002 (ano em que começaram a ser negociadas na Bolsa ao

preço de 15,00 MZN) e 2018. Conforme se pode verificar, foram necessários cerca de 10 anos

para que a sua cotação se alavancasse e estabilizasse acima dos 100,00 MZN após ter

conhecido períodos longos de estagnação abaixo da margem dos 50,00 MZN.

(Fonte: Banco BIG Moçambique)

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1.4. Quais as Vantagens de Investir em Títulos cotados na Bolsa para os Jovens?

Antes de mais, importa mudar uma expressão que vem sendo usada de forma repetitiva e que

causa alguma confusão nas pessoas “investir na Bolsa”. Em bom rigor, as pessoas não investem

na Bolsa, elas investem (compram) nos títulos que lá estejam cotados (acções, obrigações e

etc.). Portanto, o correcto é “investir em acções/obrigações), se nos quisermos referir a um

título em específico, ou investir em títulos cotados na bolsa, se quisermos nos referir à sua

generalidade.

Mas voltando para aquela que é a questão central deste ponto: quais as vantagens que os

títulos cotados na Bolsa têm a oferecer aos jovens?

Na Bolsa, são transaccionados vários títulos e cada um deles oferece as suas vantagens, pelo

que, cada investimento tem os seus prós e contras.

É comum vermos publicitadas como vantagens de investir questões como: rentabilidade (juros e

dividendos), diversificação da aplicação da poupança (para além de aplicar o capital só em contas a prazo,

aplicar também em títulos de curto prazo transaccionados na bolsa), benefícios fiscais (taxas reduzidas e

algumas isenções) etc.

Mas, para além dessas vantagens de carácter financeiro (aplicáveis à generalidade do universo

investidor) há muitas outras vantagens (indirectas) que têm mais incidência sobre os jovens.

Abaixo, alistamos algumas vantagens de investir na Bolsa, para os jovens, que se manifestam

nos principais títulos.

Uma das coisas muito interessante é que eles conferem direitos homogéneos, ou seja, tanto o

titular de 1000 acções como o titular de 1 acção têm os mesmos direitos (com algumas excepções

nos casos em que o Contrato de Sociedade estabelece a necessidade de ser titular de um número mínimo de

acções para exercer o direito de voto). Mas qual é a vantagem disto?

Um dos direitos que é conferido aos titulares de acções, por exemplo, é o de participar nas

Assembleias-Gerais (poderia também falar da Assembleia de Obrigacionistas se estivéssemos

a falar de obrigações). Agora, imagine que você seja empreendedor, estudante ou profissional

de áreas como Gestão, Contabilidade, Marketing, Direito e etc.

Sendo um empreendedor, ao participar nas assembleias, você passa a ter uma nova visão sobre o

processo de administração e gestão de empresas e tem uma oportunidade única de testar as

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suas ideias sobre gestão, colocá-las sob o escrutínio de grandes investidores e colher

recomendações que, transportadas para a realidade do seu negócio, permitirão um melhor

posicionamento da sua empresa e do seu negócio em face dos seus concorrentes no mercado;

Para os estudantes, há também muitas vantagens. Infelizmente, a nossa formação académica

ainda apresenta uma predominância de conteúdos teóricos. As pessoas sabem muita coisa,

mas pouco do que sabem tem utilidade prática (pessoalmente já me frustrei muitas vezes

com isso). Um estudante que investe e participa nestes meios, consegue ter uma visão mista,

que concilia a teoria e a prática, e isto agrega para si um valor que poucos estudantes têm,

tornando-se mais competitivo no mercado e com uma visão mais ampla tendo, por isso,

melhores hipóteses de crescimento e progressão na carreira.

Isto é válido também para as pessoas que já estão no mercado de emprego. Com o know-how,

que é transmitido pelos grandes investidores, nós agregamos a nós um valor que pode ser

aplicado nas empresas em que trabalhamos, contribuindo para o seu crescimento, o que pode

se reflectir em promoções e aumentos salariais.

Uma outra vantagem dos investimentos sobre títulos cotados na bolsa é o processo

denominado “Buy and Hold”, que é uma estratégia de investimento que consiste em comprar

acções com boas expectativas de valorização, a um custo baixo, e mantê-las na carteira de

investimentos até que valorizem para depois vendê-las. Como pudemos ver no exemplo da

CDM acima, o processo de valorização das acções pode levar alguns anos. Portanto, este

modelo de investimento é adecuado para jovens.

Mas, melhor que tudo o que foi escrito acima, consideramos que a maior vantagem é o

conhecimento sobre o funcionamento do mercado, que é o principal factor de rentabilidade.

Aprender cedo, ganhando e perdendo, vai nos permitir colher os ensinamentos necessários

para correr grandes riscos (com mais recursos) de forma segura ou menos insegura.

1.5. SE É VANTAJOSO INVESTIR, PORQUÊ QUE MUITOS JOVENS NÃO

INVESTEM?

a) Falta de apetência para a assunção de riscos

Vamos relembrar a nossa definição do conceito de investimento dada no início.

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No destacado a vermelho há um elemento implícito “ o risco” que está directamente

associado ao facto de nós não termos certeza dos ganhos a colher do investimento. Os

investimentos em bolsa são feitos com base em perspectivas e é por essa razão que, enquanto

uns vendem os seus títulos na certeza de que é o melhor momento para sair do investimento,

há quem compra convicto de que é o melhor momento para entrar no investimento.

O que muitos não sabem é que o risco é um factor valorado no mercado e a ele estão

associadas perspectivas de rentabilidade. Creio que todos conhecemos a máxima “quanto

maior for o risco, maiores serão os ganhos”.

Naturalmente que a decisão de assumir e não ou assumir os riscos está directamente

associada ao perfil do investidor (consoante seja mais conservador, moderado ou arrojado,

consoante tenha aversão, seja intermediário ou assuma muitos riscos, respectivamente),

razão pela qual, em alguns países, antes de investir, os Operadores de Bolsa são obrigados a

fazer a avaliação do perfil do investidor para saber quais os investimentos que podem ser por

si realizados.

b) A pretensa ideia de falta de recursos

“Sabia que alguém no mundo está à procura de algo que

você tem e está disposto a pagar por isso?”

Toda a aplicação ou uso de recursos (tempo, energia, vontade e

até dinheiro) no “presente” com vista a obtenção de benefícios no

“futuro”, NA SUA MAIORIA INCERTOS.

EXEMPLO ILUSTRATIVO:

Ao nível do Mercado bolsista é possível encontrar dois principais títulos de dívida: emitidos pelo Estado e

emitidos pelas Empresas. Regra geral, os títulos do Estado apresentam taxas mais baixas por se tratar

de um investimento sem muitos riscos associados (as dívidas das emissões do Estado podem ser inscritas

no Orçamento do Estado em caso de incapacidade de cumprimento nas datas previstas para o

pagamento).

Por sua vez, às empresas está associado o risco da falência e da insolvência e, como consequência, o

investidor pode não recuperar os seus investimentos. Este risco associado é compensado pelos benefícios

que são dados aos investidores (altas taxas de rentabilidade).

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No primeiro dia da Formação em Investimentos (Investe Jovem), perguntamos aos nossos

formandos se algum deles investia na Bolsa e todos nos responderam que não. Quando

questionamos por quê, entre as respostas como falta de informação e pouco domínio do mercado, a

resposta mais sonante foi “não tenho dinheiro para investir”.

Na verdade, nós já estávamos à espera daquela resposta, pois essa foi uma das razões que nos

levou a desenhar a formação. Se prestaram atenção, notaram que, ao longo da nossa

abordagem, usamos o conceito RECURSO no lugar de dinheiro. Explicaremos por quê, mas,

antes, vamos relembrar o conceito de recurso anteriormente apresentado:

Quando damos maior importância ao dinheiro, como o principal recurso para investir, para

além de estarmos a criar uma limitação para aqueles que não o têm, nós estamos a induzir as

pessoas à ideia de que o sucesso nos investimentos, feitos ao nível do mercado de capitais,

depende da quantidade de dinheiro que nós temos à nossa disposição para investir, o que não

é “necessariamente” verdade.

Veja-se, por exemplo, que o processo para a tomada de decisão sobre onde e qual o melhor

momento para investir num certo título é antecedido de um exercício muito importante que é

o da análise da viabilidade do investimento. Esta análise tem mais valor que o capital a ser

investido, pois ela é base da rentabilidade do investimento, sem a qual qualquer ganho só

poderá advir da sorte. Ou seja, alguém que investiu 10.000,00MZN, após ter feito uma análise

sobre a oportunidade de investimento, pode muito facilmente ter melhores resultados do que

alguém que somente colocou 100.000,00MZN num investimento sem ter feito o mesmo

exercício.

Quer isto dizer que, é importante olhar para outros recursos que temos à nossa volta e usá-los

de forma inteligente. Usar um recurso de forma inteligente significa encontrar uma forma de,

com ele, suprir necessidades alheias e obter um retorno financeiro que nos permita investir.

Deixem-me partilhar duas histórias pessoais sobre isto.

Entendemos por recurso, tudo aquilo

que pode gerar algum rendimento.

Estamos a falar de Tempo, Energia e

até DINHEIRO.

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FACULDADE

Quando eu estava a frequentar a Faculdade (de

Direito da Universidade Eduardo Mondlane -UEM)

ainda não tinham os poucos recursos financeiros

que tenho hoje que me permitem, pelo menos,

viver sem preocupações financeiras básicas

(poupança, alimentação, investimentos e lazer). A

minha vida se resumia em acordar, ir a faculdade e

dormir (na altura eu vivia na residência de

estudantes). Esta rotina fazia de mim uma pessoa

com muito tempo para estudar e por isso eu tinha

resultados satisfatórios na faculdade.

No entanto, havia um grupo de estudantes, com

condições muito melhores que as minhas, que

tinha todos os manuais, mas não tinha tempo para

estudar, quer porque estudavam e trabalhavam,

quer porque deveriam se dedicar às preocupações

das suas famílias, outros ainda porque preferiam

se divertir.

Eles tinham muitos livros, mas não tinham tempo

ou vontade para ler. Eu tinha o tempo e a

disposição que eles precisavam para ler, portanto,

o casamento foi imediato. Com isso, eles passaram

a me pagar para que eu lesse os livros deles e lhes

explicasse o conteúdo. Numa fórmula simples, eles

tinham em 1 hora o que eu levava a noite inteira ou

dias para ler, compreender e transmitir.

Ou seja, eu encontrei uma forma de suprir uma

necessidade de alguém com um recurso que eu

tinha a minha disposição, gerando com isso,

rendimentos.

Mas muito mais do que dinheiro, com a leitura dos

livros, eu ganhei conhecimento e isso me permitiu

dar explicação a mais pessoas e assim aumentar

os meus rendimentos.

INVESTIMENTOS

Eu desenvolvi a minha paixão por investimentos de

forma muito natural. Faço isto mesmo porque gosto.

Isso me permitiu desenvolver pesquisas de forma

muito natural e conhecer melhor o mercado.

Com a crescente exposição dos meus trabalhos,

começaram a aparecer pessoas que me colocavam

questões sobre como investir na bolsa, outros já

haviam investido mas haviam perdido dinheiro e

procuravam por novas estratégias para colocar as

suas economias a renderem.

Nesta altura eu percebi que essas pessoas tinham

uma necessidade e que não estavam a conseguir

suprir (dentre elas, estratégias de maximização dos

seus ganhos).

Eu peguei naquele problema e comecei a procurar

uma solução. Comecei a estudar os principais

factores que influenciam no valor das acções e de

outros títulos cotados na Bolsa e comecei a

estabelecer um padrão (para o caso especifico de

Moçambique).

Fiz os primeiros testes e aconselhava as pessoas a

título gratuito para poder comprovar os padrões que

eu havia criado (que na altura eram puramente

teóricos). Alguns estavam correctos e outros não.

Então refiz a minha teoria e voltei a testar no

mesmo modelo anterior até chegar ao padrão que

uso até hoje (embora os factores careçam de

actualização progressiva, resultante da evolução do

mercado).

Nessa altura, eu parei de realizar consultorias

gratuitas e passei a cobrar pelos meus

aconselhamentos (nada mais que justo

considerando que as pessoas estavam a ganhar

dinheiro com eles) e isso me permitiu ter mais uma

fonte extra de rendimento para além do meu salário.

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A essência da citação “alguém no mundo está à procura de algo que você tem e está

disposto a pagar por isso” está nestes dois exemplos. Em ambos os casos, o recurso

investido não foi dinheiro, mas sim foi tempo, paciência e energia. Mas esses recursos me

permitiram ter o dinheiro que eu precisava para investir, o que nos permite concluir que cada

um de nós pode usar o recurso que tiver à sua disposição para ganhar dinheiro.

E agora, a prova de que ter dinheiro não é tudo: no primeiro exemplo (Faculdade), eu não

tinha conhecimentos sobre investimentos e gastei todo aquele dinheiro em futilidades

(eventualmente tenha investido uma parte em livros, mas cerca de 90% do que ganhei foi

todo gasto sem qualquer expectativa de retorno), porque não tinha as ferramentas

necessárias para multiplicar o meu dinheiro.

Reparem que esta lição não é só para quem não tem uma fonte de renda. Muitos de nós

vivemos trancados nos nossos escritórios e deixamos adormecidos muitos recursos que nos

poderiam garantir uma renda extra (sem necessariamente prejudicar o nosso desempenho laboral). A

renda extra tem duas principais vantagens: primeiro ela permite que o nosso orçamento

esteja menos sufocado com as nossas despesas e, segundo, uma aceleração dos nossos

investimentos.

Portanto, o desafio que cada um de nós tem hoje é encontrar uma forma de ser útil para a

sociedade (no sentido de agregar valor) e transformar essa utilidade numa fonte de renda.

c) Não construir uma disciplina de poupança?

Um dos maiores desafios que nós os jovens enfrentamos para começar a investir, para além

dos aspectos que foram levantados acima como desconhecimento do mercado e a falta de

apetência para assumir risco, é o facto de o nosso nível de consumo continuar elevado em

relação aos nossos rendimentos e isso faz com que muitos de nós não tenhamos economias.

Do mesmo jeito que toda a casa precisa de uma fundação sobre a qual serão erguidas as

paredes e o tecto, o investimento precisa da poupança como uma fundação sobre o qual se irá

desenvolver. Esta é a razão por que dizemos: “a poupança é a fundação sobre a qual o

investimento será erguido”.

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Para melhor compreensão desta secção, apresentamos três personagens (fictícias) que nos

vão dar algumas lições sobre finanças. Eles se chamam: João, Pedro e Luísa. Vamos conhecer

um pouco mais sobre eles?

STATUS COMUM

VEJAMOS COMO FICARAM OS SEUS ORÇAMENTOS BASEADO NA DESCRIÇÃO

ACIMA DADA

João, Pedro e Luísa são recém-graduados, vêm todos de famílias de renda baixa e concluíram a

faculdade com recurso às Bolsas de Estudos que o Estado oferece todos os anos. Os três foram os

melhores estudantes da turma e, por essa razão, tiveram direito a um estágio profissional, numa

instituição bancária, para a qual foram depois contratados para trabalhar, todos com um rendimento

mensal de 20.000,00 MZN.

Uma vez concluído o ciclo académico, os três tiveram de iniciar a vida fora do ambiente académico.

JOÃO

CARACTERÍSTICAS:

- Pessoa extrovertida e

muito social;

- Vamos viver o presente;

- Não gosta de pensar no

futuro, porque é incerto;

- Não se pode sofrer com

dinheiro no bolso;

- Posso não ter dinheiro no

bolso, o importante é não

ter dívida com ninguém.

PEDRO

CARACTERÍSTICAS:

- Super extrovertido: Mr.

“Mapaga bem”!

- Vamos viver o presente,

mas viver beemmmm!

- Não se pode sofrer com

dinheiro no bolso;

- Se não houver dinheiro

nós fazemos uma

vaquinha (dívida).

LUÍSA

CARACTERÍSTICAS:

- Calma e ponderada;

- Vou gastar somente o

que posso.

- Aceito sacrifícios hoje

para no futuro viajar e

fazer compras sem

precisar fazer contas.

- Avessa à dívidas.

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Cada um de nós tem um Pedro, um João ou uma Luísa dentro de si. Mesmo havendo a

possibilidade de nos tornarmos Luisas, infelizmente, a maioria de nós continua sendo João e

Pedro. Recordam-se da questão que me foi colocada e que revolucionou totalmente a minha

vida? Vamos colocar a mesma questão ao João, ao Pedro e à Luísa, seis meses depois de terem

começado a trabalhar (mantendo o seu estilo de vida).

JOÃO

RENDIMENTO: 20.000,00 MZN

DESPESAS

Fixas:

Renda de casa: 10.000,00 MZN

Rancho: 4.000,00 MZN

VARIÁVEIS:

Energia, água, celular e transporte:

2.000,00 - 2.500,00

Lazer: 2.500, MZN

Emergência: 1.000,00 MZN

POUPANÇA

Não tem

INVESTIMENTOS

Não tem

DÍVIDAS

Não tem

PEDRO

RENDIMENTO: 20.000,00 MZN

DESPESAS

Fixas:

Renda de casa: 10.000,00 MZN

Rancho: 4.000,00 MZN

VARIÁVEIS:

Energia, água, celular e transporte:

2.000,00 - 2.500,00

Lazer: 6.500,00 MZN

Emergência: Não tem

POUPANÇA

Não tem

INVESTIMENTOS

Não tem

DÍVIDAS

A cada mês acumula uma dívida

de 2.500- 3.000,00 MZN

LUÍSA

RENDIMENTO: 20.000,00 MZN

DESPESAS

Fixas:

Renda de casa: 5.000,00 MZN

Rancho: 4.000,00 MZN

VARIÁVEIS:

Energia, água, celular e transporte:

2.000,00 - 2.500,00

Lazer: o que sobra depois de pagar

as despesas, poupar e investir.

Emergência: 1.000,00 MZN

POUPANÇA

4.000,00

INVESTIMENTOS

3.000,00

DÍVIDAS

Não tem

João, Pedro e Luísa: Se a vossa fonte de renda secasse neste preciso

momento em que vocês estão a ler este livro, quanto tempo vocês

sobreviveriam, mantendo vosso nível de vida e sem precisar pedir ajuda

de alguém, até se recomporem?

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VEJAMOS AS RESPOSTAS:

Conforme podemos verificar, João e Pedro pensaram mais no presente e ignoraram o que

todos nós ignoramos, “que a vida tem imprevistos” e que precisamos estar sempre preparados

para fazer face a eles. Por mais qualificados que João e Pedro sejam ao ponto de não terem

dificuldades em voltar para o mercado de emprego, o facto é que tal processo implica a

realização de um ciclo de entrevistas, o que lhes vai colocar numa situação de, pelo menos por

alguns dias, ter de recorrer a empréstimos para satisfazer as suas necessidades, incluindo do

primeiro mês de trabalho (pois o salário é pago a posteriori).

Um outro aspecto é que, João e Pedro estão vulneráveis relativamente ao seu poder negocial

para um eventual retorno ao mercado de emprego, pois estão numa situação em que, uma vez

que não tem dinheiro nenhum, qualquer um valeria, podendo vir a aceitar contractos

totalmente desvantajosos para si.

De sorte diferente goza a Luísa, pois ela tem uma resiliência de pelo menos 3 meses, à pressão,

o que lhe permite tomar decisões com mais discernimento e negociar melhores condições de

trabalho.

Estas três histórias reflectem algo que nós os jovens não percebemos ou fingimos não

perceber. É que mais do que produto das oportunidades, nós somos produto das nossas

escolhas. O João, o Pedro e a Luísa, tinham as mesmas possibilidades, apenas fizeram escolhas

diferentes e, por essa razão, eles tiveram resultados diferentes, para ela bons, e para os outros

dois, nem por isso.

E você agora tem uma escolha a fazer, entre três opções: (i) fechar este e-book e manter os seus

hábitos financeiros, (ii) continuar a ler só para acumular conhecimento ou (iii) “cumprir com a disciplina

que se segue das cinco regras de ouro para poupar”. (choose wisely).

JOÃO

Nenhum, pois não

criei nenhuma

economia para tal.

LUÍSA

55 dias com recurso às minhas

poupanças e mais 41-42 dias se

tivesse de recorrer aos meus

investimentos (sem incluir o valor

da valorização dos títulos e dos

direitos gerados)

PEDRO

Nenhum (e teria uma

dívida de cerca de

18.000,00 MZN por

pagar).

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1.6. AS 5 REGRAS DE OURO PARA POUPAR

i. REGRA 1: DEFINIR O OBJECTIVO DA POUPANÇA

Definir o objectivo da poupança significa duas coisas: o que eu pretendo fazer com o dinheiro da

poupança e em quanto tempo pretendo fazê-lo?

Quando o nosso objectivo ao poupar (o que pretendemos fazer) é investir, a nossa poupança deve

ser direccionada em dois sentidos:

(1) Criar um fundo de emergência que nos assegure, pelo menos, 6 (seis) meses de capacidade de pagamento das

nossas despesas correntes: o objectivo principal deste fundo, para além de fazer face às despesas

imprevistas, é garantir que o investidor não tenha de interromper os seus investimentos para

cobrir tais custos.

Uma nota muito importante a reter é que o valor do fundo não deve ser mantido numa conta

corrente, pois ele pode desvalorizar (10MZN hoje podem valer menos que 10MZN amanhã).

O ideal é colocar o valor numa conta a prazo, pois apesar de os juros serem baixos, o dinheiro

vai reagir automaticamente às tendências de desvalorização.

(2) Constituir o capital de investimento: a primeira pergunta que se pode fazer aqui é: Quanto é que eu

preciso para começar a investir? Na verdade, não existe uma resposta para essa pergunta. As

pessoas investem em função do capital que (prepararam e) têm disponível para investir.

Portanto, se você quiser começar a investir comprando 1.000 acções, 100 obrigações, 10 papéis

comerciais e etc., você pode. Trata-se aqui de uma decisão de carácter puramente individual.

O importante a ter em conta aqui é que o nosso retorno é directamente proporcional ao

capital investido.

Há, porém, alguns Operadores de Bolsa que exigem montantes mínimos para realizar

operações de compra e venda de activos na Bolsa, daí que recomendamos que se consulte os

termos e condições do seu Operador.

Para conhecer as cotações do dia das Acções em negociação na Bolsa clique aqui.

Para os restantes títulos as cotações podem ser solicitadas directamente a algum dos

Operadores de Bolsa.

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Definição de um horizonte temporal

Quando nós definimos uma meta temporal para a realização dos nossos objectivos de

poupança, estamos a estabelecer um cronograma que nos vai permitir fazer uma avaliação do

nosso nível de cumprimento. Muitas vezes, nós não conseguimos alcançar os nossos

objectivos porque ficamos com a ideia de que “se não fizermos hoje, poderemos fazer

amanhã”.

ii. REGRA 2: ORGANIZE AS SUAS CONTAS

“Não sei como meu dinheiro acabou (…)”. Quem não conhece esta frase? Parece que a nossa

memória fica curta quando se trata de lembrar quanto e como nós gastamos o nosso dinheiro.

Mas esta “amnésia” resulta do facto de muitos de nós não termos as nossas contas

organizadas. Nós só sabemos quanto ganhamos. Mas não estamos em condições de justificar

os nossos gastos.

Quando nós organizamos as nossas contas e anotamos cada gasto que fazemos, nos

permitimos a nós mesmos fazer um rastreio das nossas despesas e perceber, sendo o caso,

onde é que o dinheiro “é gasto de forma supérflua” e começar a efectuar cortes.

Como organizar as suas contas?

Como podem ver, a partir da Planilha acima, o nosso Orçamento deve estar dividido em 3

principais categorias: (i) Despesas, (ii) Poupança e (iii) Investimento. As despesas podem ser

fixas (aquelas cujo valor não varia e temos de pagar todos os meses), variáveis (que são

aquelas cujo valor varia ou não temos de pagar todos os meses) e despesas extras (lazer e

fundo mensal de emergência). Depois temos a secção de poupança e por fim a secção de

investimentos.

Se pretendemos saber quanto gastamos, precisamos anotar tudo, inclusive os centavos, pois,

muitas vezes, nós perdemos o controle dos nossos gastos nos centavos.

Baixe aqui a Panilha de Poupança do Programa Investe

Jovem.

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iii. REDEFINA O SEU CONCEITO DE CAPACIDADE DE GASTO.

Até aqui você tomou uma decisão: “Você vai começar a investir daqui há X meses”. Para o

efeito, você já organizou as suas contas e sabe quanto e como é que o seu dinheiro é gasto. No

entanto, as contas não batem, pois os seus níveis de gastos ainda não lhe permitem poupar.

Isso deve-se ao facto de muitos de nós, infelizmente, ainda confundirmos os nossos

rendimentos com a nossa capacidade de gasto. Por exemplo, quando nós recebemos

10.000,00MT/mês, o pensamento que nos vem à cabeça é de que temos capacidade para

gastar 10.000,00MT/mês. Matematicamente isso até está correcto, no entanto, quando

estamos no âmbito da gestão de finanças pessoais, essa fórmula não é correcta.

Se repararem, a planilha é automatizada. Ao inserir as suas despesas, ela vai lhe dar um

referencial à direita sobre qual a percentagem ideal a gastar com as suas despesas, tomando

em consideração os seus rendimentos.

O nosso “parâmetro ideal” são 50% dos nossos rendimentos (esta é a meta que todos nós

devemos aspirar chegar). A lógica por detrás disto é simples “um mês de trabalho deve ser

correspondente a um mês de pagamento de despesas e um mês de liberdade financeira”.

Estamos cientes de que esta fórmula pode implicar uma mudança radical na sua vida e

implicar algumas restrições. Por essa razão, a planilha tem a opção de elevar as despesas para

60%, mas esta opção foi criada com carácter transitório, pois conforme dissemos, a meta deve

ser consumir apenas 50% dos nossos rendimentos.

“Não consigo reduzir minhas despesas, o dinheiro não chega”.

Imagina que você só tivesse a metade do que ganha como seu rendimento? Como

sobreviveria? Renda extra? Pois bem, guarde metade para investimento ou poupança

(consoante o seu estágio) e vá atrás da renda extra! Mas não mexa nos 50%, coloque eles a

render.

Repare que a vida, por alguma razão, pode lhe colocar na situação de ter de reduzir as suas

despesas e, nessa ocasião, porque você efectivamente não terá os recursos, será obrigado a

reduzir. Mas infelizmente, nessa ocasião, você vai sofrer primeiro, por causa da dor que o

aperto de cinto geralmente causa e segundo, porque você não estará a fazer o aperto de livre e

espontânea vontade. Mais uma vez, a escolha é sua.

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iv. PAY YOURSELF FIRST (PAGUE A SI PRIMEIRO)

Esta regra provém de um ensinamento do investidor Warrem Buffet que diz “não poupe o

que sobrar depois de gastar. Gaste o que sobrar depois de poupar”. Esta regra é

complementar à anterior.

Uma das formas de cumprir com a disciplina da poupança é não ter o dinheiro da poupança à

nossa disposição. Muitas vezes nós dizemos “mas 1000 não faz diferença, vou compensar no

próximo mês” e o que nós não percebemos é que estamos a comprometer os rendimentos do

próximo mês. No fundo, nós estamos a fazer uma dívida connosco mesmos e, como não

estamos a dever a terceiros, fica a impressão de que não há nenhum problema. Mas na

verdade há, pois nós estamos a criar um ciclo de défices ao nosso orçamento que vai se

prolongar.

Portanto, antes de qualquer despesa, nós devemos reservar 50% dos nossos rendimentos para

as nossas contas de poupança e de investimentos. Dizemos pagar a nós mesmos, porque como

referimos acima, estes 50% representam a nossa independência financeira.

v. SEMPRE QUE SOBRAR DINHEIRO, ANTECIPA O PAGAMENTO DE

DESPESAS FIXAS, POUPE OU INVISTA.

Uma primeira consequências que senti na minha vida quando comecei a seguir as quatro

regras acima, foi que o dinheiro começou a sobrar. Eu já havia pago as minhas despesas, já

havia realizado minhas metas de poupança, mas ainda tinha dinheiro.

Conforme dissemos acima, a estrutura dos 50% despesas e 50% poupança/investimentos nos

permite pagar apenas um mês de liberdade financeira. Se sobrou dinheiro, porquê não pagar

por mais alguns?

E isso pode ser feito de duas formas: antecipação de pagamento de despesas fixas (uma vez

que delas não poderemos fugir) ou poupar/investir. A decisão entre uma e outra vai depender

muito do contexto. Se, por exemplo, você já tiver completado a sua meta de poupança e não

existirem propostas atractivas de investimento, a melhor opção eventualmente seja antecipar

os gastos para evitar que o valor seja gasto de forma desnecessária.

Coloque estas cinco regras num lugar por onde passa com frequência e siga a disciplina. Você

vai perceber que em pouco tempo estará pronto para investir.

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CAPÍTULO II - O SISTEMA FINANCEIRO E O MERCADO DE CAPITAIS OU DE

VALORES MOBILIÁRIOS

2. Sistema Financeiro

As economias de todo o mundo, e a de Moçambique não é excepção, possuem dois tipos de

agentes económicos situados em pólos opostos. Por um lado, temos os poupadores (também

designados agentes superavitários), que consomem menos do que ganham e, do lado

contrário, temos os tomadores (também designados agentes deficitários), que consomem

acima da sua renda e precisam recorrer à poupança de terceiros (os poupadores) para

satisfazer as suas necessidades.

Lembram-se do exemplo do Pedro e da Luísa que mencionamos acima? O Pedro, como vimos,

todos os meses precisa de 3.000,00MZN a mais para cobrir as suas despesas, para o efeito,

ele tem recorrido à ajuda de pessoas como a Luísa que consegue reter para si parte dos seus

rendimentos e multiplicá-los através de aplicações financeiras.

Imagine como seria se Pedro não conhecesse a Luísa e vice-versa? Pedro não teria onde pedir

emprestado dinheiro para completar as suas despesas e Luísa não tinha como dar emprestado

o seu dinheiro e obter ganhos com juros. Deste modo, para garantir que houvesse um fluxo

financeiro entre os tomadores e os poupadores foi criado um conjunto de instituições e

instrumentos com essa finalidade, ao que se denomina sistema financeiro.

Este Sistema financeiro é constituído por vários mercados: o Mercado Bancário, o Mercado

Cambial e o Mercado de Capitais ou de Valores Mobiliários. Destes, nos interessa, em

particular, o mercado de Valores Mobiliários.

2.1. Mercado de Capitais Ou Mercado de Valores Mobiliários

O Mercado de Valores Mobiliários ou Mercado de Capitais é “o conjunto dos mercados

organizados ou controlados pelas autoridades competentes onde se transaccionam Valores Mobiliários”.

Quer isto significar que, na verdade, não existe um mercado de capitais, mas vários e que

nesses vários mercados, são transaccionados simplesmente valores mobiliários. Vejamos a

estrutura do Mercado de Capitais.

.

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2.2. Estrutura do Mercado De Valores Mobiliários

2.2.1. Mercado Primário e Mercado Secundário

O Mercado de Valores Mobiliários encontra-se dividido em dois principais mercados: o

Mercado Primário e o Mercado Secundário.

O Mercado Primário é “o mercado de valores mobiliários através do qual os mesmos são emitidos e

distribuídos (vendidos) pelos (primeiros) investidores”. Em outros termos, é neste mercado onde eles

são criados e passam, pela primeira vez, a ter um dono. É uma relação entre a empresa e o

investidor.

Por sua vez, o Mercado Secundário é o “conjunto dos mercados de valores mobiliários organizados

para assegurar a compra e venda desses valores depois de distribuídos aos investidores através do mercado

primário”. Ou seja, trata-se de um mercado onde se estabelecem relações entre investidores.

Conforme podemos extrair do exemplo ilustrativo, estes dois mercados possuem uma relação

de estreita dependência, pois, por um lado, a finalidade do Investidor do mercado primário só

poderá se materializar se existir um mercado secundário (com boa liquidez) que lhe permita

vender o título e, por outro, só pode existir um Mercado Secundário se existir um Mercado

Primário onde os títulos são emitidos.

2.2.2. O Mercado Secundário

O Mercado Secundário de Valores Mobiliários é constituído por dois mercados: a Bolsa de

Valores e o Mercado fora da Bolsa. São negociados na Bolsa de Valores de Moçambique os

Valores Mobiliários das empresas que tenham sido admitidas à cotação e os títulos de dívida

Exemplo ilustrativo:

Quando uma empresa pretende se financiar através da cedência de parte do seu capital, ela emite

(cria) novas acções e procede a sua venda junto de investidores. Esta venda tem a particularidade de

ser a primeira que é feita sobre os títulos emitidos, ou seja, são títulos de 1ª mão. Neste caso,

estamos em face de uma operação realizada no Mercado Primário.

Os investidores (primários,) quando compram acções, têm a expectativa de ver as mesmas a valorizar

para depois venderem a outros investidores a um preço mais elevado, expectativa esta partilhada

pelos demais investidores que as compram. Estas operações todas ocorrem no chamado Mercado

Secundário, onde as mesmas podem passar de investidor para investidor.

.

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emitidos pelo Estado. Os demais Valores Mobiliários são negociados no Mercado Fora de

Bolsa.

Portanto, sob o ponto de vista de integração no Mercado de Valores mobiliários, a Bolsa de

Valores é um sub-mercado do Mercado Secundário de Valores Mobiliários.

2.2.3. A Bolsa de Valores de Moçambique (BVM)

A Bolsa de Valores pode ser entendida em várias perspectivas:

i. Como o edifício ou lugar onde funcionam os escritórios da instituição (Av. 25 de Setembro,

nº 1230, 5º andar, Bloco 5, Edifício 33 andares - Maputo);

ii. Como o estado das operações bolsistas (é neste sentido que ouvimos alguns participantes do

mercado a usarem termos como “a bolsa está alta”);

iii. Como instituição “entidade pública responsável pela organização, gestão e manutenção de um

mercado secundário central de valores mobiliários”

iv. Como o conjunto das operações bolsistas (o Mercado Bolsista).

Todas estas perspectivas estão correctas dependendo do contexto em que as mesmas são

empregues. Neste manual, vamos usar esta última acepção, ou seja, vamos falar da forma

como são celebrados os negócios no mercado bolsista.

2.2.4. Sistema de Bolsa de Valores adoptado em Moçambique.

Existem essencialmente dois Sistemas de Bolsa de Valores no mundo distinguindo-se pelo

“modo de constituição das Bolsas de Valores”: o Sistema Liberal e o Sistema Restrito de Bolsa de Valores.

No Sistema Liberal, os Governos permitem que se criem livremente outras Bolsas de Valores no

país. É por isso que é comum ouvirmos que em alguns países existe mais de uma Bolsa de

Valores. No Sistema Restrito o direito de criação da Bolsa é um direito exclusivo do Estado.

Em Moçambique vigora o Sistema Restrito, sendo “proibido o uso, em território nacional, por

qualquer outra entidade ou organização, pública ou privada, da expressão Bolsa de Valores” mesmo que o

objecto da entidade ou organização seja “diverso do da gestão de um mercado secundário central de

valores mobiliários”.

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2.2.5. Estrutura da Bolsa de Valores de Moçambique

A Bolsa de Valores de Moçambique é constituída por mercados obrigatórios e mercados

facultativos, sendo ambos regulamentados pela Bolsa de Valores de Moçambique.

São Obrigatórios, aqueles que estão estabelecidos na Lei, nomeadamente: o Mercado de

Cotações Oficiais e Segundo Mercado e facultativos, que são aqueles que a Bolsa pode criar

tendo em conta vários aspectos, a destacar:

Perfil empresarial (Ex: Criar um mercado para o segmento das start-ups, empresas do sector de

agro-business, etc);

Especificidade técnica dos tipos de valores a transaccionar (Ex: Criar um mercado

para transacção de futuros e opções);

A diversidade dos tipos de operações a realizar ou as modalidades de liquidação

de operações a executar (Ex: se as empresas petrolíferas que operam em Moçambique

estivessem obrigadas a estar cotadas, a Bolsa poderia eventualmente criar um mercado específico

para estas empresas para permitir que a compensação e liquidação daquelas operações possa ocorrer

simultaneamente em sintonia com outras Bolsas em que as mesmas estivessem também cotadas).

2.2.5.1. O Mercado de Cotações oficiais

O Mercado de Cotações Oficiais é destinado a transacção de Valores Mobiliários emitidos

pelas Grandes Empresas (empresas com mais de 100 trabalhadores e ou um volume de negócios superior a

29.970.000,00 MZN).

Empresas cotadas: CERVEJAS DE MOÇAMBIQUE (CDM); CETA;

COMPANHIA MOÇAMBICANA DE HIDROCARBONETOS (CMH);

EMPRESA MOÇAMBICANA DE SEGUROS (EMOSE); MATAMA S.A.

Pode consultar todos os procedimentos para a admissão de empresas

neste mercado no Código de Mercado de Valores Mobiliários e no

Regulamento nº 1/GPCABVM/2010 de 27 de Maio que regulamenta o

processo de admissão à cotação de Valores Mobiliários.

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2.2.5.2. Segundo Mercado

O Segundo Mercado foi criado em 2009, com a aprovação do actual Código do Mercado de

Valores Mobiliários, e destina-se à transacção de Valores Mobiliários emitidos por Pequenas

e Médias Empresas – PME’s (5 a 100 trabalhadores e/ou um volume de negócios que varia

entre 1.200.000,00 MZN a 29.970.000,00 MZN).

2.3. VALORES MOBILIÁRIOS

2.3.1. Definição

Valores Mobiliários são títulos transaccionados ao nível do mercado de capitais que

conferem aos investidores a qualidade de titulares de uma parte do capital social da empresa,

tratando-se de títulos representativos de participação social (é o caso das acções e dos títulos

representativos de participação num fundo de investimentos), ou a posição de credores,

tratando-se de títulos de dívida (Obrigações Corporativas e de Tesouro, Papel Comercial e

Bilhetes de Tesouro).

Em Moçambique, existe liberdade para a criação de novos Valores Mobiliários para além dos

que constam na Legislação. Na abordagem que se segue, vamos falar dos principais Valores

Mobiliários transaccionados em Moçambique, nomeadamente:

Acções ;

Obrigações (Corporativas e de Tesouro);

Bilhetes de Tesouro;

Papel comercial e;

Títulos representativos de participação em fundos de investimento

Caso pretenda aprofundar esta matéria, consulte o Código de Mercado

de Valores Mobiliários.Código de Mercado de Valores Mobiliários.

Empresas cotadas: ZERO INVESTIMENTOS S.A, TOUCH

PUBLICIDADE S.A e ARCO INVESTIMENTOS S.A.

Pode consultar todos os procedimentos para a admissão de empresas

neste mercado no Código de Mercado de Valores Mobiliários e no

Regulamento nº 2/GPCABVM/2010 de 28 de Maio (Regulamento do

Segundo Mercado).

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Para o efeito, vamos agrupar os Valores Mobiliários em dois principais grupos: Valores

mobiliários representativos de participação social (Acções e Unidades de Participação em Fundos

de Investimento) e Valores Mobiliários representativos de dívida (Títulos de dívida Pública e

títulos de dívida Privada).

2.3.2. Valores Mobiliários Representativos de participação social

2.3.2.1. Acções

a) Noção e direitos conferidos

As Acções representam uma fracção do capital de uma sociedade. Quando um investidor

compra as acções de uma empresa, ele passa a ser dono dessa empresa na percentagem

correspondente ao valor das acções que detém.

Como dono da sociedade, ao Investidor são agregados alguns direitos dos quais se destacam:

o de votar nas Assembleias Gerais, eleger os membros do Conselho de Administração e o mais

importante: o direito de receber dividendos no final de cada exercício económico.

b) Quem pode emitir acções

As acções são emitidas por sociedades cujo capital social está dividido em acções, e no caso

particular de Moçambique são: as Sociedades Anónimas e as Sociedades Comanditas por

acções.

c) Classificação das Acções

As Acções podem ser classificadas segundo vários critérios, no entanto, vamos nos restringir

a fazer menção a dois deles: quanto à forma e a quanto à espécie ou à natureza dos direitos que

conferem2.

i. Acções Nominativas Vs Acções ao Portador

Quanto a forma as acções podem ser nominativas ou ao portador. São nominativas aquelas em

que consta no título representativo da acção o nome do seu titular. São ao portador aquelas

2 Cfr. ZILVETI, Ana. C. de Barros, ROVAI, Artur, et al (2011) “ob cit” pág. 128

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em que não consta o nome do seu titular no título, basta ser portador da acção para exercer

os direitos que ela confere.

ii. Acções Registadas Vs Escriturais

As Acções Nominativas podem ser Registadas ou Escriturais. São Registadas as que constam

do Livro de Registo de Acções Nominativas ou Instrumento de controlo que o substitua e

Escriturarias as que são mantidas em conta de depósito, de um estabelecimento bancário

autorizado.

iii. Acções Ordinárias vs Acções Preferenciais

Independentemente da forma (nominativas ou ao portador) as Acções podem ainda ser

classificadas quanto à espécie em: ordinárias ou preferenciais.

As Acções Ordinárias asseguram aos seus titulares a plenitude dos direitos de accionista,

inclusive o de votar nas deliberações das Assembleias Gerais e o de eleger os administradores

da sociedade.

As Acções Preferências conferem aos seus titulares dividendos prioritários em cada

exercício e que ultrapassem, de qualquer forma, os valores atribuídos a este título aos

titulares de acções ordinárias. Pode-se assim dizer que as acções preferências conferem todos

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os direitos que são assegurados aos titulares de acções ordinárias, acrescidos de alguns

privilégios.

No entanto, há possibilidade de haver acções preferenciais sem direito ao voto (que é um

direito conferidos aos titulares de acções ordinárias). Deste modo, podemos dizer que

existem duas espécies de Acções Preferenciais (com e sem o direito ao voto).

Exemplo de uma Acção (Ordinária e Nominativa)

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2.3.2.2. Unidades de Participação em Fundos de Investimento

a) Noção e direitos conferidos

Os Fundos de Investimento são instituições que realizam investimentos por meio de uma

Sociedade Gestora de Fundos de Investimentos. O capital do Fundo é representado por

várias Unidades de participação pertencentes a vários investidores.

Portanto, ao adquirir uma ou mais Unidades de participação no fundo, o Investidor passa a

ser proprietário de uma percentagem do valor global do fundo e, à semelhança do que

acontece com os accionistas, o membro (Investidor) tem direito a receber os lucros que o

fundo for a obter com os investimentos que forem realizados com o valor das suas

contribuições.

O papel dos Fundos é realizar investimentos (semelhantes aos que são realizados

individualmente pelos Investidores singulares), mas aqui há uma particularidade, é que eles

são realizados por especialistas.

Recordam-se quando falamos em investimento indirecto no início do manual? É exactamente

o que acontece aqui. O investidor passa a investir em várias outras empresas, mas por

intermédio do Fundo..

b) Tipos de Fundos de Investimento

Os Fundos de Investimento podem ser abertos ou fechados. São Abertos quando se permite o

aumento das unidades de participação e Fechados quando as Unidades de Participação estão

limitadas ao valor das contribuições feitas à data da constituição do Fundo.

2.3.3. Valores Mobiliários Representativos De Dívida

2.3.3.1. Definição

Quando falamos das acções referimo-nos ao facto de o Investidor passar a ser titular de uma

fracção do capital da sociedade, o que lhe atribui a qualidade de accionista. De forma diversa

se processa nos Títulos de Dívida. Essencialmente o que acontece é que Estado ou as

Empresas vendem alguns papéis (que podem ser físicos ou electrónicos) a Investidores.

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Os Investidores que compram esses papéis passam a ter o direito de receber juros sobre o

valor investido, com base nas condições constantes da Ficha Técnica (da qual falaremos no

Capítulo IV) e o reembolso do valor investido no final do Investimento. Esta é a razão pela

qual são considerados títulos de dívida, pois trata-se de um empréstimo que o Estado ou as

Empresas fazem junto dos Investidores, ou seja, os Investidores tornam-se credores.

Quando a emissão é feita pelo Estado, ela é considerada uma dívida pública e, dependendo

do período de duração da emissão, pode revestir a forma de Bilhete de Tesouro (quando a

emissão tenha uma duração não superior a um ano) ou de Obrigação de Tesouro (quando a emissão

tenha uma duração superior a um ano).

Quando a emissão é feita por uma empresa, ela é considerada dívida privada e, dependendo

do período de duração da emissão, ela pode revestir a forma de Papel Comercial (quando a

emissão tenha uma duração não superior a um ano) ou de Obrigação Corporativa (quando a emissão

tenha uma duração superior a um ano).

2.3.3.2. Tipologias

2.3.3.2.1. Obrigações de Tesouro

As obrigações de Tesouro, como já referimos, são valores mobiliários representativos de

dívida do Estado, emitidos por um período superior a um ano. Elas constituem uma das

formas mais seguras de investimento, pois gozam dos privilégios e garantias reconhecidas dos

títulos da dívida pública, podendo ser inscritas no Orçamento do Estado para que sejam

cumpridas as obrigações assumidas pelo Estado.

2.3.3.2.2. Bilhetes de Tesouro

Os Bilhetes de Tesouro distinguem-se das Obrigações de Tesouro pelo período de emissão.

Tal como já referimos, estes títulos são emitidos com a duração máxima de um ano.

2.3.3.2.3. Obrigações Corporativas

As obrigações corporativas, como já referimos, representam uma dívida das empresas perante

os seus investidores. Trata-se de uma dívida a médio e a longo prazo, pelo que, é ideal para

investidores que estejam à procura de investimentos com esse período de maturidade.

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a) Modalidades

Elas podem ser classificadas segundo vários critérios. No entanto, restringimos a nossa

abordagem para as principais e mais comuns no nosso mercado.

Quanto à natureza dos juros

Obrigação de juro suplementar ou com prémio de reembolso, quando conferem ao

Investidor o direito a um juro fixo e o habilita a um juro suplementar ou a um prémio de

reembolso. O juro suplementar ou o prémio de reembolso pode ser fixo ou dependente dos

lucros obtidos pela empresa.

- Obrigações que declarem juro e plano de reembolso são dependentes de lucros e variáveis

em função destes.

Quanto à possibilidade de conversão

- Obrigações convertíveis em acções conferem ao titular o direito de converter os títulos de

dívida em acções, ou seja, o Investidor tem a possibilidade de passar de credor a accionista.

- Obrigações com Bónus de subscrição asseguram aos seus titulares o direito de subscrever

acções da Sociedade, aquando do aumento do capital subscrito.

Quanto aos privilégios conferidos

- As Obrigações Clássicas são aquelas que não conferem qualquer privilégio ao investidor, ou

seja, o seu crédito é satisfeito em pé de igualdade com os demais investidores. Por essa razão,

as emissões de obrigações clássicas geralmente vêm acompanhadas de uma cláusula

denominada “pari passu”, que constitui uma assunção, por parte da entidade emitente do

compromisso, de não dar tratamento privilegiado que não resulte de um crédito

especialmente garantido.

- As Obrigações Subordinadas, por sua vez, sujeitam o Investidor à situação de ver o seu

crédito satisfeito em último lugar. Ou seja, quando o Investidor compra uma Obrigação

Subordinada, implicitamente, está a declarar que aceita ser o último a ser pago em caso de

falência da empresa. Então, pode se questionar: o que faz com que um investidor compre

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obrigações desta natureza? E a resposta é simples: elas remuneram melhor, apesar de serem

um investimento de alto risco.

b) Emissão

Na prática das instituições ainda prevalece a ideia de que somente as Sociedades Anónimas

podem emitir obrigações. Portanto, por agora aconselhamos que retenham a ideia de que

somente as sociedades anónimas podem emitir obrigações.

No entanto, em nossa opinião não existe qualquer impedimento legal para que os outros

tipos societários emitam títulos obrigacionais. Naturalmente que, tratando-se de um regime

tendencialmente das sociedades anónimas haverá questões específicas a acautelar. Por

exemplo, pelo facto do capital social estar dividido em quotas, não poderá nenhuma

sociedade por quotas, emitir obrigações convertíveis em acções ou que confiram o direito de

subscrever acções.

2.3.3.2.4. Papel Comercial

O Papel Comercial, à semelhança dos Bilhete de Tesouro, constitui um título de dívida de

curto prazo (não podendo ser emitido por um período superior a um ano, distinguindo-se

apenas da entidade emitente, pois enquanto os Bilhetes são emitidos pelo Estado, o Papel

Comercial é emitido pelas empresas.

Diferentemente do que sucede com as Obrigações Corporativas, no Papel Comercial não

subsistem dúvidas de que as mesmas podem ser emitidas por qualquer sociedade comercial,

incluindo pessoas colectivas de direito (associações, fundações públicas, autarquias locais,

entre outras).

O Papel Comercial confere ao Investidor o direito a receber juros nas condições especificadas

no documento de emissão e de ser reembolsado o valor do investimento no final do período

de investimento.

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CAPÍTULO III – OPERAÇÕES FINANCEIRAS SOBRE VALORES MOBILIÁRIOS.

3. OFERTAS

3.1. O que são ofertas?

Podemos definir as ofertas como sendo o meio pelo qual as empresas e os investidores

manifestam o seu interesse em adquirir ou transmitir Valores Mobiliários. Existem várias

espécies de Oferta no Mercado, mas, para os objectivos do presente manual, vamos destacar

apenas as principais e mais comuns.

3.2. Ofertas Públicas e Particulares

A distinção entre uma oferta pública e particular assenta essencialmente na identidade do

destinatário da oferta. Assim, a Oferta diz-se Pública quando é dirigida a investidores não

identificados e Particular quando é dirigida a investidores previamente identificados.

No entanto, existem certos casos em que a Oferta é dirigida a investidores previamente

identificados, mas porque a identificação dos mesmos foi resultado de um processo de

auscultação prévia e recolha intenções de investimento por parte dos destinatários, ela é

considerada pública.

3.3. Ofertas de Subscrição

Quando uma empresa emite um título novo, ela pode colocar o mesmo à disposição de

investidores realizando, para o efeito, uma Oferta de Subscrição que pode ser pública ou

privada. A subscrição é o acto pelo qual um investidor manifesta o seu interesse em adquirir

um título que nunca foi antes transaccionado no mercado. Quer isto dizer que a Oferta de

subscrição é uma operação típica do Mercado Primário.

É importante esclarecer que a simples subscrição não torna o investidor proprietário do

título. Para ser proprietário, o investidor deve, posteriormente, realizar o pagamento do valor

constante na Oferta à entidade emitente.

3.4. Ofertas de Venda

Também designada pela sigla OPV a Oferta (Pública) de Venda é o mecanismo pelo qual

uma sociedade coloca a disposição dos investidores parte de ou totalidade do seu capital.

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Diferentemente das Ofertas de Subscrição, as Ofertas de Venda são operações típicas do

Mercado Secundário, na medida em que, os títulos transaccionados já foram emitidos, mas

eram antes detidos pela Oferente.

Este tipo de operações geralmente ocorrem quanto a empresa decide passar a estar cotada na

Bolsa de Valores.

3.5. Ofertas de Aquisição

Estamos perante uma Oferta (Pública) de Aquisição (OPA) quando uma empresa

(ofertante) apresenta à outra uma proposta de compra de todas ou parte das suas acções.

Repare-se que as ofertas de Aquisição são sempre Públicas, no sentido de que devem se

dirigir a todos os accionistas da sociedade visada ou a todos os titulares da (s) categoria (s)

de acções que seja objecto de oferta. Para além disso, as Ofertas estão sujeitas a registo no

Banco de Moçambique (órgão de supervisão do mercado de capitais). Esta obrigatoriedade de

Registo e o seu carácter público no geral têm, entre outros , o objectivo de proteger os

interesses dos accionistas minoritários.

EXEMPLO ILUSTRATIVO:

Pode consultar aqui um exemplo de uma oferta pública realizada pela

Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH), representativa de

10% do seu capital, destinada a investidores nacionais, aquando da sua

admissão à cotação na BVM em 2008.

Recentemente houve uma Oferta de Aquisição feita pelos accionistas do BANCO MOZA

dirigida aos accionistas do BTM (Banco Terra de Moçambique), manifestando o seu

interesse em adquirir 100% do capital da instituição bancária, facto que poderá resultar

numa fusão entre as duas instituições, muito brevemente.

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3.6. PROCEDIMENTOS PARA A COMPRA E VENDA DE VALORES

MOBILIÁRIOS: O SISTEMA DE NEGOCIAÇÃO DA BOLSA DE VALORES

DE MOÇAMBIQUE.

3.6.1. Abertura de uma Conta de Investimentos

Os investimentos na Bolsa são realizados todos por meio de um intermediário financeiro,

através da execução de ordens de Bolsa enviadas pelos Investidores. Para o efeito, o investidor

deve possuir uma conta bancária que lhe permita realizar operações de investimento na

Bolsa, junto de um Banco que seja Operador de Bolsa.

O processo de abertura de conta é exactamente o mesmo que se observa para a abertura de

uma conta corrente (preenchimento de formulário de abertura de conta e apresentação de documentos de

identificação – Bilhete de Identidade ou documento equivalente, Número Único de Identificação Tributária e

Atestado de residência).

3.6.2. Ordens De Bolsa

O que são e como se preenchem?

Após a abertura da conta e depositado o valor para realizar a operação de investimento o

Investidor já pode emitir uma Ordem de Bolsa.

Conforme podemos verificar na imagem abaixo, a ordem de Bolsa é constituída por duas

partes fundamentais (cujo preenchimento é da responsabilidade do investidor). A primeira

parte é relativa à identificação do Investidor e, a segunda, à operação que o mesmo pretende

realizar. Neste manual, vamos nos cingir à análise da segunda parte, pois a primeira não

acarreta qualquer dúvida.

Veja aqui a lista completa dos Bancos registados como Operadores de Bolsa.

As Ordens de Bolsa constituem o meio pelo qual os

investidores manifestam a sua pretensão de comprar,

vender e realizar qualquer operação relativa a valores

mobiliários.

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i. Natureza da operação.

A primeira janela do formulário abaixo possui duas opções de operações que podem ser

ordenadas pelo Investidor. Caso o Investidor pretenda comprar algum título, deve preencher

um X na janela relativa à Compra e, caso pretenda Vender, deve preencher um X na janela

relativa à Venda.

ii. Valor Mobiliário pretendido.

Conforme vimos acima, existem vários tipos de Valores Mobiliários, no entanto, nem sempre

todos eles se encontram disponíveis no mercado. Para o efeito, é preciso consultar a lista de

títulos cotados do mercado antes de emitir a ordem.

Mais à direita, existe uma outra janela onde deve ser inserido o código do título escolhido. O

Código a que se faz alusão é o ISIN (Internation Securities Identification Number –

Número Internacional de Identificação de Valores Mobiliários, numa tradução literal),

(Modelo usado para a compra de títulos na BVM)

Consulte os títulos cotados na Bolsa de Valores de Moçambique aqui.

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constituído por 12 dígitos. Na imagem abaixo, constam alguns exemplos do Código referente

a títulos emitidos pela BAYPORT, entre os anos de 2016 e 2017.

Fonte: Central de Valores Mobiliários

Onde é que o código ISIN pode ser encontrado? Os Valores Mobiliários emitidos em

Moçambique estão todos sujeitos a registo e a entidade responsável pelo seu registo é a

Central de Valores Mobiliários.

iii. Quantidade.

A quantidade é o número de títulos pretendidos pelo Investidor e depende da sua capacidade

financeira.

iv. Preço.

O Formulário acima possui duas janelas alternativas: uma com Limite de Preço e outra ao

Melhor Preço. O investidor emite uma ordem ao Melhor Preço quando não pretende

estabelecer qualquer limite mínimo para a sua venda ou um limite máximo de compra do

título. Ou seja, em caso de venda, o título será vendido ao preço mais alto que for oferecido no

mercado e, em caso de compra, ao preço mais baixo que for oferecido pelo mercado.

As ordens com limite de preço são emitidas por investidores que, no caso de ordens de

Compra, pretendam estabelecer o valor máximo que estão dispostos a pagar pelo título e, no

caso de Ordens de Venda, o valor mínimo que o Investidor está disposto a receber pelo título.

v. Duração da ordem.

A realização de negócios na Bolsa depende do encontro de duas ordens de bolsas com

conteúdos opostos (uma de compra e outra de venda). Quando isso não acontece, o negócio

não se realiza.

Consulte Códigos de todos os títulos cotados na Bolsa de Valores de Moçambique aqui

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É possível que o interesse do investidor em vender ou comprar um certo título só faça sentido

(para as suas projecções financeiras) se o negócio ocorrer numa data em concreto. Nesses casos, o

Investidor dá a Ordem para uma só sessão.

O investidor pode também dar uma Ordem de Bolsa que dure por alguns dias, desde que não

excedam a 30 (trinta).

vi. Modalidade do sistema de negociação.

As ordens de Bolsa podem ser negociadas em dois Sistemas: o de chamada e o de registo.

O sistema de chamada é o sistema de base em que são realizadas todas as negociações sobre

Valores Mobiliários. O Sistema de Registo é destinado à transacção de grandes lotes de

Valores Mobiliários (iguais ou superiores a 25.000 unidades).

3.6.3. Envio da Ordem de Bolsa ao Intermediários financeiro

Como se efectua.

Após o preenchimento, o Investidor envia a Ordem de Bolsa ao seu intermediário financeiro.

O envio da ordem pode ser feito por um dos seguintes meios:

Telex;

Telefax;

Transmissão por via informática ou outro meio apropriado.

Em todas as circunstâncias acima mencionadas, o Investidor deve proceder ao

preenchimento do Impresso de Ordem de Compra/Venda de Valores Mobiliários que consta

na imagem acima.

Mas a Ordem também pode ser transmitida verbalmente, incluindo por via telefónica,

devendo o representante ou o funcionário do operador de bolsa que a receber reduzi-la a

escrito, mediante o preenchimento do Impresso de Ordem.

i. Período de envio, alteração e cancelamento.

As ordens podem ser enviadas antes da abertura das sessões de bolsa ou no decurso destas.

Caso o investidor pretenda alterar algum dos elementos acima mencionados ou até mesmo

cancelar a Ordem, pode fazê-lo a qualquer momento, desde que as mesmas não tenham sido

executadas. O cancelamento da ordem pode ser igualmente efectuado pelo operador de Bolsa

até às 11 horas 55 minutos.

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3.6.4. Secções De Bolsa

As ordens de Bolsa são negociadas em secções de Bolsa. Existem dois tipos de secções de

bolsa:

i. Secções normais: que decorrem em todos os dias úteis das 8:00horas às 12 horas.

ii. Secções especiais: que decorrem nas datas determinadas no aviso que anuncia a

sua realização.

3.6.5. SISTEMA DE COMPENSAÇÃO E LIQUIDAÇÃO DAS OPERAÇÕES.

A intervenção do investidor termina com o envio da ordem de Bolsa para o seu operador de

Bolsa. Após receber a ordem, o intermediário financeiro deve executá-la, inserindo-a no

sistema de negociação.

Nessa altura, inicia a fase da compensação que tem como objectivo apurar os negócios que

foram realizados nas secções de Bolsa. A fase da compensação tem início logo após o término

da sessão de Bolsa e termina no segundo dia útil, após o encerramento da sessão de bolsa.

Uma vez apurados os negócios, passa-se à liquidação, que é a fase final de uma operação

realizada sobre valores mobiliários. A liquidação ocorre no terceiro dia útil, após o

encerramento da sessão de bolsa.

A liquidação pode ser física ou financeira. Diz-se física quando ela consiste na entrega, por

parte do vendedor, do título objecto da transacção e Financeira quando ela consiste no

pagamento do valor referente à aquisição do título. Vejamos o exemplo a seguir:

A vende uma acção para B ao preço de 100 MZN. Quando A entrega a acção a B, ele está a proceder à

liquidação física. Quando B paga a quantia de 100MZN por acção, ele está a proceder à liquidação financeira.

Note-se que este é apenas um exemplo, pois os investidores não têm intervenção directa nestes processos, uma vez

conduzidos, exclusivamente, pelos Operadores de Bolsa.

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READING MORE:

Caso pretenda aprofundar os seus conhecimentos sobre os procedimentos de Compensação e

Liquidação de operações financeiras na Bolsa de Valores, recomendamos a consulta do Regulamento

nº 01/GPCABVM/2014, de 20 de Fevereiro, que aprova os procedimentos operacionais da Central De Valores

Mobiliários aqui e o Regulamento nº 04/GPCABVM/2014, de 17 de Outubro relativo às Secções de Bolsa,

Negociação e Operações aqui.

Consulte ainda a presente nota explicativa do processo neste link.

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CAPÍTULO IV: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS NA BOLSA DE VALORES DE

MOÇAMBIQUE.

4. ASPECTOS GERAIS

a) Algumas particularidades do Mercado de Capitais em Moçambique.

Antes de avançarmos para os aspectos técnicos da avaliação dos investimentos, vamos

conhecer algumas particularidades do Mercado de Capitais moçambicano que influenciam

no processo de análise de investimentos:

Como referimos acima, a relação entre os investidores é estabelecida no Mercado

Secundário, sendo que a Bolsa de Valores de Moçambique é, nesse mercado, o local de

excelência no qual essas operações podem ser realizadas com segurança e eficiência.

No entanto, a história da BVM ainda é uma curta-metragem iniciada em 1998, sendo

que, de lá para cá, o número máximo de empresas que nela se inscreveu é de cerca de

8 (oito)3, após a recente admissão, à cotação, da ARCO INVESTIMENTOS S.A, em

Janeiro do presente ano;

Segundo o último Relatório de Desempenho da Bolsa de Valores, referente ao 1º

Semestre de 2018, o Estado continua a ser a entidade que mais se financia através do

Mercado Bolsista com uma quota de cerca de 46,7% de todo o mercado, o que

significa que a maior quota do mercado é composta por investimentos de baixo risco

e, consequentemente, de baixa rentabilidade,

Uma das formas mais usadas para avaliar as perspectivas de rentabilidade das

empresas, na Bolsa, é o chamado método comparativo, com base no qual, entre outros

critérios, se confrontam os dados de empresas que operam no mesmo sector de

actividade. Sucede que, as empresas cotadas na Bolsa não são concorrentes entre si

sob o ponto de vista de ramo de actividade e, porque as empresas não cotadas não são

obrigadas a divulgar as suas posições financeiras para o público (como acontece com

as cotadas), o Investidor acaba não tendo acesso à muita informação pertinente da

concorrência, antes de tomar a decisão de investir;

3 Entre elas, uma empresa se encontra suspensa da bolsa, a MATAMA S.A, em virtude de um processo

executivo que corre os seus trâmites nas instâncias judiciais.

Leia o Relatório na íntegra aqui

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O nível de divulgação de informação das empresas (cotadas) ainda está longe de

satisfazer às expectativas dos investidores, pois ainda existem muitas empresas que

não cumprem com a obrigação da apresentação dos seus Relatórios Anuais de Contas,

não permitindo que se conheça a sua saúde financeira;

Moçambique continua a apresentar altos índices de dependência externa,

especialmente no que concerne à importação de matéria-prima para o sector

industrial, situação que tem um impacto directo no custo de produção afectando,

assim, o preço dos produtos finais, o nível de consumo e, consequentemente, a

rentabilidade das empresas.

Estas particularidades, colocam um grande desafio aos investidores. Se, por natureza, os

investidores devem ser muito informados, para os que investem na Bolsa moçambicana, o

desafio é ainda maior, pois os principais concorrentes das empresas cotadas são uma espécie

de anónimos (pouco ou nada se conhece sobre as mesmas) a operar em simultâneo e a concorrer com

empresas com um alto nível de exposição.

b) Metodologia de análise de investimentos

Tratando-se de uma edição para iniciantes, este e-book vai apresentar um modelo

simplificado para a análise de investimentos baseado em dois métodos que se complementam

entre si: o método Top Down e o método Bottom up. A exposição de ambos os métodos será feita

em termos muito genéricos e visa dar a conhecer ao leitor quais os principais elementos a

serem considerados pelo Investidor, antes de aplicar o seu capital num certo investimento em

Acções ou Obrigações.

Como a tradução literal já indicia, o método Top Down (de cima para baixo) parte da economia

global e desemboca nos sectores de actividade onde a empresa na qual se pretende investir

opera. O objectivo do investidor, ao usar este método, é identificar as tendências e

perspectivas de evolução de um certo sector de actividades que possam afectar a

rentabilidade da empresa.

Diferente deste, o método Bottom up (de baixo para cima) parte da estrutura interna da

empresa e explica de que forma ela está preparada para atingir bons resultados em face dos

resultados colhidos na análise Top Down.

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Uma boa análise financeira busca perceber de que forma a visão do Conselho de

Administração de uma empresa está alinhada com as perspectivas de evolução da economia

nacional e global. Sempre que estes dados não estiverem alinhados, significa que existe um

grande risco de a empresa não atingir a rentabilidade desejada.

Repare-se que quando falamos em alinhamento não nos estamos a referir à relação directa: “se

há muito risco, não vamos investir; se há pouco risco, vamos investir”, mas à ideia de: “se há muitos riscos,

vamos investir tendo os seguintes planos de reacção, caso o mercado não responda às nossas expectativas de

investimento”. Este plano de reacção é, muitas vezes, o elemento que mais atrai o investidor e

lhe faz aceitar o desafio de correr o risco de investir numa empresa que está a operar numa

altura em que as projecções económicas não são favoráveis (mas apresentam fossos de

oportunidades).

É importante referir, no entanto, que a análise financeira tem um cunho muito subjectivo, no

sentido de que ela depende muito dos factores que são colocados na balança pelo Investidor,

e é por essa razão que, enquanto uns retiram o seu capital de um Investimento por

entenderem que o mesmo já não vai render, outros aplicam o seu capital nesse mesmo

Investimento com uma expectativa contrária, a de ver o mesmo a rentabilizar.

4.1. ANÁLISE TOP DOWN: PRINCIPAIS FACTORES.

a) Generalidades

Creio que muitos de nós já ouvimos alguém a fazer perguntas como: “esta é uma boa época para

investir em Moçambique?”. As pessoas que colocam esta pergunta geralmente pretendem saber o

quão arriscado é ou não investir em Moçambique.

Esta pergunta pode ser colocada em termos mais específicos como: “é uma boa época para investir

nos títulos cotados na Bolsa?”; “É uma boa época para investir em acções? Ou ainda, é uma boa época para

investir em obrigações?” E assim em diante.

A pessoa que vai responder a essas perguntas, geralmente, toma em consideração vários

factores para dizer sim ou não. Passemos a analisar os principais:

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b) Produto Interno Bruto (PIB)

Muitos de nós certamente que já ouvimos em algum lugar o termo “PIB”. Mas, suspeito que,

tal como eu, você nunca entendeu o que ele realmente significa e qual a sua importância. Em

termos simples, o PIB representa tudo o que uma certa região (continente, país, província e etc.)

produz durante um certo período de tempo, excluindo o custo de produção.

O que é importante perceber no PIB com especial interesse para os investimentos na Bolsa?

Em primeiro lugar, o PIB é um importante barómetro da saúde financeira de um país. É a ele

que recorremos quando pretendemos perceber o fluxo da actividade económica em

Moçambique e extrair o contributo de cada sector de actividade para esse fluxo.

Por exemplo, se a empresa na qual nós pretendemos investir opera no sector energético,

devemos procurar compreender qual tem sido a evolução do sector (a percentagem da sua

contribuição para PIB há alguns anos e na actualidade), quais os principais factores que influenciam

para essa margem de contribuição (o mercado, a sazonalidade do negócio, a pressão cambiária, a carga

tributária, os incentivos ao investimento etc.) e quais são as projecções para os próximos anos (dos

factores atrás referidos há alguma expectativa de mudança? Até que ponto essas mudanças serão benéficas?).

Estes dados nos permitem ter uma ideia do que se pode esperar para os próximos anos num

certo sector de actividade e perceber se é viável ou não investir numa empresa que opera

nesse sector. Estes dados tem a vantagem de serem públicos e muitos deles podem ser

encontrados, entre outras instituições, no Instituto Nacional de Estatísticas (INE).

c) Tendências da Inflacção

A inflacção é entendida como o aumento generalizado dos preços dos produtos, isto é, ela se

verifica quando os preços de produtos e serviços dos “vários” sectores de actividade

aumentam de forma contínua. Por quê é importante perceber as tendências da inflacção nos

investimentos?

Um dos efeitos directos da inflacção é a redução da capacidade de consumo das pessoas,

porque o aumento dos preços dos produtos, geralmente, não é acompanhado pelo aumento

dos rendimentos das pessoas. Ou seja, se antes da inflacção eu podia comprar 10 KG de

PIB = Total da Produção – Custo de produção (mão-de-obra, maquinarias, consumíveis e etc.)

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batatas por mês, durante o período em que a economia estiver a viver um momento de

inflacção, eu, eventualmente, só terei capacidade para comprar 5KG de batatas.

Agora, coloque-se na posição de uma empresa: você produziria muito sabendo que as pessoas

não têm como comprar toda a sua mercadoria? Naturalmente que não. Portanto, em períodos

de inflacção, a tendência das empresas é reduzir a sua produção e os seus custos (inclusive a

mão-de-obra) para se manter estável no mercado.

Este fenómeno tem um efeito directo no valor da empresa, ele cria uma tendência de redução

do valor das cotações. Mas, como é natural, há alguns sectores que são mais resilientes que os

outros e não são afectados (directamente) à mesma escala.

Onde é que o investidor joga com a inflacção? Lembram-se de termos, no início, falado do “buy and

hold”? Só para refrescar a memória, nós teríamos explicado que esta estratégia consistia em

comprar activos e esperar que eles valorizassem com o tempo. Se, por exemplo, os

indicadores (investimentos, aumento de posto de trabalhos, etc) mostrarem que a inflacção poderá

vir a baixar a médio prazo, o momento da inflacção pode representar uma oportunidade para

investir em activos que, como referimos, têm tendência a estarem a ser transaccionados a um

preço baixo.

A inflacção pode também ser um sinal de que é oportuno sair de um investimento ou não

entrar em nenhum, se os indicadores não mostrarem tendências de melhoria.

Portanto, o investidor deve acompanhar as tendências de evolução da inflacção nos sectores

referentes à(s) empresa(s) em que pretende investir para tomar as melhores decisões de

investimento.

d) Preços de produtos no mercado internacional

Como dissemos no início, Moçambique apresenta, ainda, altos níveis de dependência externa

que comprometem a rentabilidade das empresas no país. Esse comprometimento pode estar

associado a várias questões das quais se destacam: as diferenças cambiais e a variação dos preços no

mercado internacional.

A título de exemplo, a Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos refere no seu relatório

de contas de 2017, que:

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“Reportou um lucro após impostos de USD 22 632 021

(Vinte e dois milhões, seiscentos e trinta e dois mil e vinte

e um dólares norte americanos), o que representa uma

descida dos lucros da empresa em cerca de 7% quando

comparados com os resultados do ano financeiro de 2016,

devido à queda dos preços do petróleo no

mercado internacional”. (o destacado é nosso).

Ou seja, a empresa produziu e vendeu (em termos quantitativos) tal como estava planificado,

no entanto, não atingiu a rentabilidade esperada, porque o preço do petróleo (que é fixado

internacionalmente) baixou.

Portanto, sempre que o investidor decidir aplicar o seu capital numa empresa de um sector

que realiza muitas operações com o estrangeiro, deve manter-se actualizado em relação à

evolução dos preços, das taxas de câmbio e demais aspectos fiscais para compreender de que

forma o mercado ou um sector em concreto poderá ser afectado.

4.2. ANÁLISE BOTTOM UP

a) Generalidades

Para a nossa análise Bottom Up escolhemos dois principais títulos: Acções e Obrigações

Corporativas. A razão de escolha está associada ao facto destes serem os títulos com maior

índice de risco no mercado, o que torna a sua análise mais complexa em relação a outros

títulos. Explicamos por quê.

Se compararmos o papel do Investidor que realiza pessoalmente os seus investimentos (em

Acções) com o do Investidor que realiza os seus investimentos mediante aquisição de

participações em fundos de investimento colectivo, vamos perceber que a maior preocupação

deste último será simplesmente compreender a estrutura da Sociedade que administra o

fundo e o modelo de repartição dos lucros entre os participantes do Fundo. Ou seja, todos os

aspectos ligados ao investimento propriamente dito não contam com uma intervenção

directa do investidor.

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Olhemos agora para o prisma do Mercado de Obrigações. Tal como referimos no Capítulo II,

as Obrigações do Tesouro gozam da garantia de inscrição no Orçamento do Estado, o que

significa que o Investidor não precisa se preocupar (muito) com o risco de incumprimento na

medida em que ele é muito baixo ou quase inexistente. Nos investimentos em Obrigações

Corporativas, a situação é totalmente diferente, sendo uma das maiores preocupações do

investidor a de avaliar o risco da empresa não cumprir com as suas Obrigações.

b) Compreendendo o Prospecto e a Ficha Técnica.

Para que uma empresa seja admitida à Bolsa de Valores de Moçambique, precisa apresentar

um prospecto de admissão à cotação, que é o documento que contém informações

pertinentes sobre a empresa, para que os investidores possam formar a sua decisão de

investimento.

À medida que os anos passam, as informações contidas no prospecto são actualizadas no

Relatório de Contas (auditado por uma entidade independente) que as empresas devem

apresentar todos os anos. Ou seja, o documento tem a denominação de Prospecto quando a

empresa está em processo de listagem ou está listada na Bolsa há menos de um ano e de Relatório de

Contas nos anos subsequentes à sua listagem na bolsa. No entanto, sempre que nos referirmos ao

Prospecto de forma singular, salvo se o contexto indicar o contrário, deve se subentender que

estamos a nos referir também ao Relatório de Contas e vice-versa.

O Prospecto e o Relatório de Contas são, por excelência, documentos de utilidade

indispensável para todos os investidores que pretendam aplicar o seu capital em Acções.

A Ficha Técnica, por sua vez, é o documento que contém as informações sobre os termos e

condições de uma emissão obrigacionista, sendo, por isso, um documento de referência para

os investidores que pretendam aplicar o seu capital em Obrigações.

Portanto, conhecer a estrutura do prospecto e da ficha técnica, bem como saber extrair dele

os elementos essenciais é fundamental para fazer um investimento de sucesso.

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4.2.1. ANÁLISE BOTTOM UP NO MERCADO DE ACÇÕES

a) Base de análise.

A análise Bottom Up no Mercado de Acções consiste essencialmente na análise do Prospecto

ou do Relatório de Contas, partindo da sua estrutura até os principais factores que

influenciam nos resultados da empresa (a situação financeira da empresa).

Em geral e como veremos a seguir, a avaliação da situação financeira da empresa consiste

essencialmente na análise, ainda que de forma genérica, de números. No entanto, existem

alguns elementos (intangíveis – marca, natureza da clientela e o marketing) que apesar de serem

parte integrante da situação financeira, devem ser analisados de forma isolada e específica.

b) Estrutura do Prospecto e do Relatório de Contas.

O Prospecto e o Relatório de Contas não possuem uma estrutura fixa, podendo variar de

empresa para empresa. No entanto, há elementos comuns e indispensáveis à análise de

qualquer investimento em Acções e que passamos a destacar: (i) Descrição da empresa e dos seus

Valores Mobiliários, (ii) Situação financeira da empresa e o (iii) “Relatório da auditoria”.

c) Descrição da empresa e sua estrutura organizativa

No início deste capítulo, mencionamos, na secção referente ao método Top Bottom, que a

análise dos elementos macroeconómicos deveria desaguar no sector de actividade da empresa

na qual pretendemos investir. E como é que nós conhecemos o sector em que a empresa opera?

A secção relativa à descrição da empresa oferece-nos esses elementos todos de identificação,

seu sector de actividade, o capital social, a estrutura accionista, a composição e direcção do

Conselho de Administração, a descrição de outros órgãos relevantes existentes, o

organograma da empresa, entre outros aspectos funcionais e estruturais.

Um outro dado de especial relevância que pode ser encontrado na descrição da empresa é a

natureza das Acções que a empresa emitiu. No início do nosso manual, explicamos que as

Acções apresentam diferentes características e conferem diferentes direitos aos investidores,

pelo que, o Investidor deve procurar perceber qual a natureza das Acções nas quais pretende

investir.

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Portanto, para perceber mais sobre a empresa e sobre as características das Acções, o

investidor deve se dirigir à secção relativa à descrição da empresa que geralmente aparece na

parte inicial do Prospecto ou do Relatório de Contas.

d) Análise da Situação financeira da empresa.

Esta é a parte mais interessante da avaliação de uma empresa. A análise da Situação

Financeira de uma empresa consiste, essencialmente, em perceber qual é o seu estágio

patrimonial (dinheiro e bens em sua posse ou por receber, dívidas a pagar, investimentos realizados,

desinvestimentos, lucros, entre outros) e de que forma a mesma está organizada para competir

com os seus principais concorrentes, aumentar a sua robustez e gerar mais lucro para os seus

investidores (accionistas).

Não vamos enganar a ninguém e dizer que este processo é simples, porque, na verdade, não o

é: mas existe sempre uma forma de tornar coisas difíceis mais fáceis. É desta forma que esta secção foi

organizada de modo a permitir que qualquer pessoa possa fazer a avaliação da situação

financeira de uma empresa cotada na Bolsa, sem necessariamente ter uma formação em

economia, contabilidade, gestão e outras áreas afins (Eu, por exemplo, sou Advogado ).

Tudo isso sem descurar do facto deste manual ser destinado a Investidores iniciantes.

A Situação Financeira de uma empresa é representada por 4 principais Demonstrações: (i) da

Posição Financeira (ii) da Alteração no Capital Próprio, (iii) de Lucros ou Prejuízos e Outro Rendimento

Integral e (iv) de Fluxos de Caixa.

As Demonstrações da Posição Financeira (também designadas por “Balanço” – principalmente

entre os contabilistas) apresentam-nos os resultados relativos ao Património da empresa:

Os Activos, que são os bens físicos ou direitos avaliáveis em dinheiro que a empresa

tem em sua posse (instalações, veículos, dinheiro depositado em contas bancárias, no caixa da

empresa e etc.) ou a receber de terceiros (pagamentos por serviços prestados ou bens fornecidos

ou vendidos).

Os Passivos, que são obrigações avaliáveis em dinheiro que a empresa tem a cumprir

perante terceiros (dívidas, materiais por fornecer etc).

As DEMONSTRAÇÕES são as tabelas e/ou gráficos constantes do Prospecto ou Relatório de Contas com

os dados numéricos (valores monetários) referentes a cada um dos itens acima referidos (Posição

Financeira; Lucros e Prejuízos; Fluxos de Caixa e Alteração do Capital Próprio).

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O Capital Próprio, que é a diferença entre os activos e os passivos. Ou seja:

Veja abaixo uma demonstração da Posição Financeira de uma empresa cotada na BVM

(Cervejas de Moçambique – Relatório de Contas de 2017:

O que é que o investidor deve perceber aqui?

Primeiro, o mais óbvio: se os activos da empresa são ou não mais elevados que os seus

passivos. Quando os passivos são mais elevados que os activos, significa que a empresa não

Activos – Passivos = Capital Próprio

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está a atravessar um bom momento financeiro, pois o seu património não tem capacidade

para cobrir as suas dívidas e isso deve ser um alerta vermelho para o investidor. Uma empresa

com boa saúde financeira deve ter necessariamente activos superiores aos seus passivos.

Mas esta análise deve ser feita um pouco mais a fundo. Conforme se pode extrair da tabela

acima, os Activos podem ser “Correntes” e “Não-Correntes”. A distinção entre estes reside

essencialmente no facto de a empresa poder ou não fazer uso dos mesmos num curto espaço

de tempo (por exemplo, uma empresa não tem como se desfazer de um imóvel – casa ou fábrica - num curto

espaço de tempo, por isso, este é considerado um activo Não-Corrente). Os passivos também podem ser

correntes ou não correntes, consoante a dívida tenha de ser paga num curto espaço de tempo

ou não (regra geral no prazo inferior a um ano). Já perceberam onde queremos chegar? Não? Então

vamos a isso.

Imagine que tudo o que você tenha na vida seja um carro, uma mansão, 0 MT (Zero Meticais)

no bolso e nas contas bancárias e ainda tenha uma dívida de 10.000,00 MZN (que deveria ter

sido paga ontem). Nesse mesmo exemplo, a pessoa a quem você deve, se dirige à sua casa hoje a

exigir que lhe pague os 10.000,00 MZN, o que é que você faria?

Eventualmente você pediria um empréstimo a alguém para pagar a dívida, ou pediria à pessoa

a quem deve uma prorrogação do prazo de pagamento (o que implicaria em ambos casos aumentar a

sua dívida por causa dos juros), ou ainda venderia o carro ou a mansão para pagar a dívida (a um

preço mais baixo que o justo, dada a urgência). Mas o facto é que se a dívida lhe fosse exigida hoje,

você não teria capacidade para pagar. Isto quer dizer que, mais do que considerar o óbvio (se

os activos são ou não superiores aos passivos) o investidor deve perceber qual o

comportamento dos activos correntes em relação aos passivos correntes.

Este exemplo hipotético levou a uma das empresas cotadas na Bolsa (a MATAMA S.A), entre

outras eventuais razões, a ser executada por um Banco e ver penhorados os seus bens, pois no

momento em que o referido Banco exigiu o pagamento das prestações do empréstimo, a

empresa não tinha capitais suficientes para cumprir com a sua obrigação, apesar de ter um

património avaliado num valor muito superior ao da sua dívida. E o final foi aquele que todos

nós conhecemos (a empresa foi suspensa da Bolsa de Valores – causando prejuízo aos seus

investidores).

Portanto, sempre que os activos correntes não possam fazer face aos passivos correntes, o

sinal vermelho do investidor deve accionar, porque isso pode ser um indício de que a empresa

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esteja a atravessar um momento difícil. Dizemos “pode ser”, porque, como veremos mais

adiante (quando estivermos a falar das demonstrações de fluxo de caixa), estas diferenças podem ser

resultantes de investimentos que a empresa tenha realizado (e ainda esteja na fase de implantação

das infra-estruturas, início de produção ou lançamento do produto no mercado).

Nestes casos, o Investidor deve perceber o comportamento destes elementos da

demonstração ao longo dos anos, para perceber se esta situação é transitória ou se a empresa

já vem apresentando essa instabilidade por alguns anos ou não.

Em todo o caso, é importante que se retenha que, apesar de se poder concluir que a diferença

negativa dos activos correntes em relação aos seus passivos correntes seja resultado de

investimentos que a empresa tenha realizado, ao comprar as acções dessa empresa, o

investidor deve estar ciente de que está a realizar um investimento de risco e, se os credores

(as empresas a quem a empresa na qual se pretende investir deve) decidirem cobrar as suas dívidas à

empresa, a mesma poderá ter dificuldades de honrar com os seus compromissos (situação que

poderá obrigar a empresa a elevar o seu nível de endividamento para cumprir com as suas responsabilidades

ou mesmo reduzir o seu Capital Próprio para o efeito).

As Demonstrações de Alteração no Capital Próprio

O Capital próprio, como referimos no ponto anterior, faz parte das Demonstrações da

posição financeira. No entanto, optamos por tratar em separado, porque tal como também

havíamos referido, existe uma demonstração específica sobre o Capital Próprio de uma

empresa (demonstrações de alteração do Capital Próprio).

Só para recordar, o Capital Próprio representa a diferença entre os Activos e os Passivos de

uma empresa. O mesmo se encontra dividido em 4 (quatro) partes principais: (i) o Capital

Social (valor da contribuição dos sócios), (ii) o Prémio de Emissão (diferença entre o valor nominal e

valor da subscrição4); (iii) as Reservas Legais (percentagem dos lucros que não pode ser distribuída, nos

4 Quando uma empresa decide se financiar com base na emissão de um título ela estabelece um valor para

esse título e esse valor consta do documento de emissão. O valor da emissão é denominado valor nominal. No entanto esse mesmo título pode ser subscrito (comprado no mercado primário) ao preço do valor nominal ou a preço superior ao valor nominal. O bónus de subscrição existe no segundo caso. Por exemplo se o título foi emitido a 100,00 MTs e foi subscrito a 110, o bónus de subscrição é de 10MTs.

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termos do Contrato de Sociedade ou dos Estatutos da empresa) e (iv) os Lucros Acumulados

(dividendos que não foram divididos pelos accionistas no final do exercício).

O Capital Próprio das empresas não constitui uma unidade estática, ele varia ao longo dos

anos (pode aumentar, pode se manter estável e pode reduzir). As Demonstrações de alteração do

Capital Próprio mostram como é que essa variação ocorreu, se a empresa tem estado a crescer

em termos reais ou não e de que forma as expectativas dos investidores são afectadas com

essas variações.

Por exemplo, quando o capital social aumenta, a empresa passa a estar melhor posicionada no

mercado, aumentando a sua capacidade para realizar investimentos, fortificando a confiança

dos seus credores e ainda demonstrando ser atractiva para se investir nela (o que cria um

ambiente propício para a valorização dos seus activos).

No entanto, pode ocorrer, no mesmo exemplo, que a variação se verifique somente ao nível do

capital social da empresa e que os outros elementos (o Prémio de Emissão, as Reservas Legais e os

Lucros Acumulados) se mantenham estáticos. O que é que isto significa? Que o número de

investidores aumentou, mas não na mesma proporção em que a mesma cresceu.

Naturalmente que, ao aumentar o seu capital social, pelos factores que referimos acima, o

valor da empresa no mercado poderá aumentar (representando uma vantagem para os investidores

que pretendam obter rendimentos com a sua valorização), mas, ao mesmo tempo, pode representar a

redução dos lucros para os investidores, pelo facto de ter aumentado o número de

proprietários da empresa (ainda que as acções tenham sido adquiridas por quem já detinha outras

acções).

Portanto, para que a evolução do capital próprio seja considerada positiva, os seus elementos

devem crescer numa proporcionalidade que permita um equilíbrio entre o crescimento da

empresa e as expectativas de rentabilidade da empresa.

As Demonstrações de Lucros ou Prejuízos e Outro Rendimento Integral apresentam-nos

os dados relativos às diferenças entre as Receitas (que correspondem ao capital que a empresa

recebeu das vendas de seus produtos e de outras fontes de rendimento) e os Custos da empresa (que

correspondem aos gastos que a empresa realizou para operar e gerar as receitas – compra de matéria prima,

pagamento de salários, impostos e etc).

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Os resultados dessa diferença podem ser designados por Lucros (se as receitas forem superiores

aos custos) ou Prejuízos (se as receitas forem inferiores aos custos).

Qual a importância destas demonstrações para o investidor?

Quando nós investimos em acções de uma empresa, o nosso principal objectivo é obter uma

parte dos lucros da empresa. Portanto, antes de qualquer decisão de investimento, o

investidor deve perceber qual tem sido o comportamento da empresa no que se refere ao

cumprimento das suas obrigações de pagamento dos dividendos aos seus accionistas. E essa

informação é obtida nestas demonstrações.

Se analisarmos a tabela abaixo, verificaríamos, por exemplo, que quem fosse investir em

empresas como a CDM, a CMH e EMOSE teria algum referencial sobre qual tem sido o

comportamento das empresas no que concerne ao pagamento de dividendos e estaria mais

seguro na hora de escolher o melhor investimento.

Fonte: Site da Bolsa de Valores de Moçambique (www.bvm.co.mz)

O histórico de pagamento de dividendos é como um Registo Criminal. Pese embora se

acredite que as pessoas, depois de cumprirem a pena, estejam corrigidas, o facto é que, na

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hora de contratar um trabalhador, as empresas têm apetência para acreditar mais na

integridade moral de quem tenha um registo limpo. Os investidores olham da mesma forma

para as empresas, quando pensam investir.

Demonstrações de Fluxos de Caixa

Para compreendermos o conteúdo das Demonstrações de Fluxos de Caixa vamos, recorrer a

uma lição passada(a 2ª regra de Ouro para poupar — “organize as suas contas”). Como explicamos

anteriormente, à semelhança do que acontece com as finanças dos investidores, as

Demonstrações do Fluxo de Caixa são o registo dos movimentos que nos permitem perceber

quanto é que entra e quanto é que sai das contas da empresa.

Deste modo, podemos dizer que o Fluxo de Caixa é a demonstração que nos permite perceber

quanto dinheiro a empresa produz efectivamente por dia, semana, mês ano e quanto gasta nesse

mesmo período. E é aqui onde reside a distinção entre estas demonstrações e as

demonstrações de Lucros e Prejuízos, enquanto aquelas nos apresentam dados das

facturações, estas últimas apresentam-nos os dados reais sobre o dinheiro em posse da

empresa.

Por exemplo, é possível que a empresa tenha vendido muito, mas ainda não tenha recebido o

valor dessas vendas. Essas vendas estarão reflectidas na demonstração de Lucros como

Receitas, mas só vão constar da Demonstração do Fluxo de Caixa, quando a empresa receber

o valor.

As Demonstrações de Fluxo de Caixa estão divididas em três principais secções: (i) Fluxo de

Caixa de Actividades Operacionais, em que encontramos os registos das operações de

entrada e saída de dinheiro referente à produção da empresa (exemplo: se a empresa produz

feijão, o fluxo de caixa referente às operações vai nos apresentar as entradas e saídas de vendas e pagamentos a

fornecedores de sementes e insumos agrícolas) (ii) Fluxo de Caixa de Actividades de

Financiamento, no qual encontramos registos das operações de financiamento da empresa

(entrada de capital referente à emissão de novas acções, pagamento de dividendos aos sócios, entrada de

capital referente a um empréstimo e a respectiva saída de capital referente ao pagamento de cada uma das

prestações) e (iii) Fluxo de Caixa de Actividades de Investimento, em que consta o registo

das operações de entrada e saída de capital referentes a investimentos realizados pela

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empresa (exemplo: aquisição de equipamentos, instalações, activos financeiros e quaisquer outros bens

geradores de renda, recebimento de juros ou dividendos referentes a investimentos feitos pela empresa).

O fluxo de caixa é o indicador mais considerado pelos Investidores por expressar a

capacidade da empresa de gerar dinheiro. Não importa quanta maquinaria de ponta a

empresa possua, se ela não consegue gerar dinheiro, os investidores não se sentem atraídos

para investir nela

Critérios financeiros Subjectivos

i. O Conselho de Administração.

Antes de investir numa empresa, o investidor deve tomar o cuidado de perceber quem será

responsável pela gestão do seu património, conhecer um pouco mais sobre a sua experiência

em gestão ou no ramo, pois a liderança da empresa conta muito para o seu sucesso e para a

sua rentabilidade.

O Conselho de Administração é o órgão responsável pela administração da empresa (o coração

da empresa). Deste modo, é preciso compreender, para além do que já referimos acima, a sua

orientação e a sua visão no que concerne aos investimentos a serem realizados pela empresa

(maquinaria, capital humano, etc) e em relação às suas estratégias para superar os seus

concorrentes.

É importante perceber ainda, possíveis situações de conflito de interesses e analisar até que

ponto essas situações podem influenciar negativamente no desempenho da empresa em que

se pretende investir.

ii. Marca, marketing e concorrência.

Pense na última coisa que você comprou. O que foi que lhe fez comprar essa coisa? Muito

provavelmente foi a marca ou a forma como a informação sobre esse produto chegou a si

(Marketing).

A marca e o marketing tornaram-se dois elementos vitais quando o assunto é maximizar

vendas e superar a concorrência. Portanto, o investidor deve fazer uma prospecção sobre a

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receptividade do público em relação aos principais produtos da empresa na qual pretende

investir e perceber qual a força da sua marca em relação aos seus concorrentes.

No entanto, é preciso ter ciente a ideia de que há seguimentos em que a marca não é um

elemento vital. Por exemplo, a Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos é (na

actualidade) a empresa com a melhor cotação do mercado e que tem apresentado os melhores

resultados de exercício, pagando, consequentemente, os melhores dividendos do mercado

(vide gráfico acima). Mas a sua marca (e a marca dos seus produtos) não constitui um factor

relevante nas suas receitas, na medida em que, os destinatários dos seus produtos consomem-

no pela sua utilidade prática e não por factores ligados a tendências.

4.2.2. ANÁLISE BOTTOM UP NO MERCADO DE OBRIGAÇÕES.

a) Análise Externa

Aplicação dos Indicadores da análise Bottom Up no Mercado de Acções.

Os indicadores da análise Bottom Up no mercado de acções também se aplicam à análise da

viabilidade dos investimentos no Mercado de Obrigações, de tal modo que o Investidor não

pode ignorar aqueles indicadores, quando estiver a analisar um investimento em Obrigações

Corporativas.

O Histórico de Emissões, pagamento de juros e reembolso do capital aos investidores.

Quando nós investimos nas Obrigações emitidas por uma empresa, criamos certas

expectativas: recebimento de Juros nas datas do vencimento das prestações (cupões) e o

reembolso do capital, no final do período de investimentos. Mas, como devemos imaginar, à

semelhança dos nossos amigos e conhecidos a quem emprestamos dinheiro e depois não nos

devolvem, as empresas que emitem obrigações, podem, quer por motivos de mercado, quer

por decisão da sua administração, não reembolsar o capital dos investidores e não pagar

juros.

Daí que, o investidor deve, antes de realizar o investimento, fazer-se se questões como: quantas

emissões obrigacionistas a empresa X tem no mercado? Quantas emissões já teve? Qual tem sido o

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comportamento da empresa: paga os juros? Reembolsa o capital? Estas perguntas nos remetem ao

histórico da empresa na sua relação com os seus investidores.

O histórico de emissões da empresa permite-nos perceber qual tem sido o comportamento da

empresa no mercado, antes de investir nos títulos por si emitidos. Naturalmente que, um

histórico negativo ou positivo não vai necessariamente ditar o comportamento futuro da

empresa – até porque tal situação, quer negativa quer positiva, poderia estar associada à gestão ou a

factores do mercado que já não se verificam, mas ele é um indicador importante a ser considerado

como ponto de partida.

Por outro lado, o número de emissões é um indicador do nível de endividamento da empresa

na qual se vai investir. Uma empresa que apresenta níveis elevados de endividamento,

apresenta um risco maior de incumprimento das suas obrigações, pois há vários créditos a

concorrerem em simultâneo e, se o fluxo de caixa da empresa não puder fazer face a todas as

dívidas, algumas delas não serão pagas (e pode ser que essa dívida a não ser paga, seja a dos títulos

obrigacionistas em que o Investidor aplicou o seu capital).

Para acompanhar o histórico de emissões, pagamento de juros e reembolso de capital de uma

empresa, consulte a secção relativa a Comunicados, no site da Bolsa de Valores AQUI.

b) Análise da Ficha Técnica.

Conforme referimos anteriormente, a Ficha Técnica é o documento de referência que contém

todos os detalhes sobre uma proposta de investimento em Obrigações (no caso em análise, as

Corporativas).

Nesta secção, vamos analisar a estrutura de uma Ficha Técnica e os principais itens a ser

considerados pelos investidores antes de investir.

c) Estrutura da Ficha Técnica

À semelhança do Prospecto, a Ficha Técnica não possui uma estrutura fixa, variando de

emitente para emitente. No entanto, comparamos as emissões em circulação no mercado e

delas pudemos extrair uma estrutura comum composta por 3 (três) principais partes:

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Descrição da emissão, na qual podemos encontrar elementos como: valor da emissão, número de

títulos emitidos, valor de cada título, prazos para o envio de ordens de subscrição, datas de apuramento dos

resultados e liquidação das operações.

Natureza dos títulos emitidos em que encontramos os detalhes sobre o título (a ser)5

emitido: tipologia da Obrigação, método de cálculo dos juros e garantias conferidas aos investidores.

Direitos conferidos e mecanismos do seu exercício. Esta secção possui a descrição dos

procedimentos a serem adoptados em caso de incumprimento do dever de pagar os juros pela

entidade emitente.

d) Análise Financeira da Ficha Técnica

Para efeitos deste manual, interessa-nos, dentro da Ficha Técnica, analisar “a natureza dos

títulos emitidos” e em três aspectos em particular: natureza das obrigações, garantias do Investidor e

natureza dos juros aplicáveis.

i. Natureza das obrigações

No Capítulo II deste manual, apresentamos uma classificação de obrigações que se baseia nos

privilégios que a obrigação oferece e, nessa altura, fizemos a distinção entre Obrigações

Clássicas e Subordinadas.

Nas Obrigações Subordinadas, como já referimos, o investidor é o último a ser pago em relação aos

outros credores em caso de falência ou insolvência. Isto faz com que o investidor tenha de ter uma

atenção especial quando esteja perante este tipo investimento, pois para além do risco directo

associado às suas características, a emissão de uma obrigação subordinada pode ser um

indício de que a empresa está a passar por algum momento difícil.

Chamamos atenção para este aspecto, porque estas obrigações têm apresentado as melhores

taxas de rentabilidade do Mercado, o que por si constitui um indicador de alto risco. Isto não

quer dizer que não se deva assumir o risco, mas ao assumir o risco, temos de estar cientes de

quão elevado ele é e de que forma a empresa está estruturada para reagir em face do mesmo.

5 A emissão só ocorre após terem sido enviadas ordens de subscrição.

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ii. Natureza dos juros (fixo ou variáveis)

Regra geral, existem duas principais formas de fixação dos juros nas Obrigações: em renda fixa

ou renda variável. Na primeira, o investidor sabe de antemão qual a percentagem que vai

receber sobre o capital investido na data do vencimento da prestação (por exemplo 20%),

enquanto, na segunda, a percentagem é determinada no momento do pagamento de cada uma

das prestações.

A fixação da taxa variável, na maioria das vezes, é feita através do uso de uma taxa de

referência, também designada por indexante, que são mecanismos de controlo da inflacção

por parte do Banco de Moçambique (órgão responsável pela coordenação da política

monetária). Sobre a taxa escolhida pode ainda incidir um spread determinado pela entidade

emitente.

As principais taxas de referência usadas no nosso mercado são a Facilidade Permanente de

Cedência (FPC), Facilidade Permanente de Depósito (FPC) e Prime Rate do Sistema

Financeiro (PRSF) e a MIMO. O valor destas taxas é determinado pelo Comité de Política

Monetária do Banco de Moçambique.

Uma outra referência, que tem sido usada para a Determinação da Taxa de Juro de uma

Obrigação Corporativa, é a Taxa de Juro média ponderada de um certo número de Bilhetes de

Tesouro (o mais comum é que se use como referência a média das últimas seis emissões).

Matematicamente (considerando 6 emissões), seria:

Onde:

TJ = Taxa de Juros a ser aplicada na data de vencimento de cada prestação da Obrigação Corporativa;

Tb = Taxa de Bilhetes de Tesouro aplicável em cada emissão;

6 = Corresponde ao número de Tb´s constante da ficha Técnica (no nosso exemplo são 6, mas pode

variar);

Assim, se considerássemos a seguinte sequência das últimas emissões de Bilhetes de Tesouro:

Março (15%), Abril (18%), Junho (19% e 14%), Setembro (15%) Dezembro (15%), teríamos:

Encontre aqui o valor das taxas

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Deste modo, a taxa aplicável seria de 16%.

Portanto, quando pretendemos investir em títulos de dívida, especialmente os que usam uma

taxa de referência para efeitos de determinação da taxa de juro, devemos estar atentos à

evolução dessas taxas e perceber os principais factores que nela influenciam para avaliar a

rentabilidade esperada.

iii. Existência de garantias especiais

Regra geral, as emissões obrigacionistas são emitidas sem garantias especiais para os

investidores. No entanto, nada impede que a empresa emitente assegure a emissão com

alguns bens móveis ou imóveis.

A existência de garantias especiais reforça os poderes dos investidores, no entanto, e como

consequência, isso pode implicar a redução da Taxa de rentabilidade.

iv. Reforço das garantias dos investidores (Constituição de Agente fiduciário).

A protecção dos investidores nos investimentos obrigacionistas é assegurada, num primeiro

plano, pela Assembleia de Obrigacionistas (um órgão composto por todos os investidores que

compraram obrigações de uma empresa responsável pela protecção dos interesses do Investidor). A

Assembleia pode conferir poderes de representação a um profissional, que pode ser

Advogado, para a defesa dos seus interesses, este que toma a designação de Agente

Fiduciário.

Em algumas emissões, são constituídos Agentes Fiduciários com o objectivo de reforçar a

protecção dos investidores.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Manuais de Referência

- Comissão de Valores Mobiliários (2017) “Análise de Investimentos: histórico, principais ferramentas

e mudanças conceituais para o futuro” 1ª Edição, Comissão de Valores Mobiliários, Rio de Janeiro.

- Comissão de Valores Mobiliários (2017) “Direito do Mercado de Valores Mobiliários” 1ª Edição,

Comissão de Valores Mobiliários, Rio de Janeiro

- Comissão de Valores Mobiliários (2014) “Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro” 3ª Edição,

Comissão de Valores Mobiliários, Rio de Janeiro

- Comissão de Valores Mobiliários (2015) “Relação com investidores: da pequena empresa ao mercado

de capitais” 2ª Edição, IBRI/CVM, Rio de Janeiro

- CORDEIRO, A. Barreto Menezes (2015) “Direito dos Valores Mobiliários I- Fontes e Dogmática

Geral” Editora Almedina, Coimbra

- FILHO, Óscar Barreto “Natureza Jurídica das Bolsas de Valores no Direito Brasileiro” publicado na

Revista dos Tribunais, nº 283, Maio de 1959.

- PIRES, CESALTINA (2011) “Mercados e Investimentos Financeiros”, 3ª Edição, Editora Escolar,

Lisboa.

Legislação

- Código Comercial, aprovado pelo Decreto-lei 2/2005 de 27 de Dezembro, publicado no BR,

I série, nº 51,

- Código do Mercado de Valores Mobiliários, aprovado pelo Decreto-Lei nº 4/2009 de 2 de

Junho de 2009, publicado no BR, I Série, nº, de 2 de Junho de 2009

Regulamento nº 01/GPCABVM/2014, de 20 de Fevereiro, que aprova os procedimentos

operacionais da Central De Valores Mobiliários

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Regulamento nº 04/GPCABVM/2014, de 17 de Outubro relativo às Secções de Bolsa,

Negociação e Operações

SITES DE INTERNET

MOÇAMBIQUE

Site oficial da Revista de Mercado de Capitais

Brochuras da Bolsa de Valores de Moçambique

Site Oficial do Banco de Moçambique

Site Oficial do Instituto Nacional de Estatísticas

PORTUGAL

Estudos da Comissão de Mercado Valores Mobiliários - CMVM

Cadernos da Comissão de Mercado Valores Mobiliários - CMVM

Brochuras da Comissão de Mercado Valores Mobiliários - CMVM

BRASIL

Regulamentos e Manuais da Bovespa

Colecção Livros TOP - Comissão de Valores Mobiliários

Comité Consultivo de Educação da Comissão de Valores Mobiliários

Livro (Introdução ao mercado de capitais) - Fernando da Costa

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