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# EDITORIAL

Um dos grandes desafios que os imigrantes sentem, desde a sua chegada até à sua partida, é a integração no mercado de trabalho do país de acolhimento. Ao contrário do que alguns julgam, não lhes é fácil encontrar trabalho. E, se o encontram rapidamente, é porque estão dispostos a ocupar os postos de trabalho livres, que ninguém quer. Sujos, mal pagos e perigosos, esses empregos vão ficando vazios de nacionais, que preferem outras opções, mesmo que seja o subsídio de desemprego. Os imigrantes agarram essas oportunidades com ambas as mãos, porque o seu objectivo de vida não passa por viver à espera de que o emprego caia do céu.

Ora, se é explicável que num primeiro momento, por des-conhecimento, as oportunidades estejam limitadas, é ina-ceitável que estas não se alarguem com a plena integração dos imigrantes na sociedade de acolhimento. Uma política de integração bem sucedida é a que garante igualdade de oportunidades para todos, em função das suas competências e saberes, independentemente da sua origem nacional. Mas as limitações no acesso à informação sobre oportunidades de emprego, a sua desconfiança e afastamento do serviço público de emprego ou a discriminação étnica praticada por potenciais empregadores, são alguns dos bloqueios que difi-cultam a integração profissional dos imigrantes.

No trajecto de integração sócio-profissional dos imigrantes, uma das medidas fundamentais é a igualdade de oportu-nidades, no acesso ao emprego, entre cidadãos imigrantes e os cidadãos nacionais. O recém-aprovado Plano para a Integração de Imigrantes (PII) preconiza como resposta a este desafio o desenvolvimento de “uma rede de UNIVA’s, em parceria com entidades da sociedade civil, tendo em vista

a informação, a orientação profissional, a procura de uma formação e/ou emprego e o acompanhamento dos jovens em experiências no mundo do trabalho.”

Ora, no dia seguinte à aprovação do PII, porque as promessas são para cumprir, foi assinado entre o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e 22 parceiros locais – maiorita-riamente, Associações de Imigrantes – um protocolo que via-biliza a constituição de mais de duas dezenas de Unidades de Apoio à Inserção na Vida Activa (UNIVA). Estas irão trabalhar em rede, quer com o Centro Nacional de Apoio ao Imigrante, quer com os Centros de Emprego do IEFP, potenciando signi-ficativamente a sua capacidade de intervenção. Desta forma, desejamos promover uma maior igualdade de oportunidades no acesso ao trabalho, combatendo a discriminação e as vulnerabilidades específicas dos imigrantes, jovens descen-dentes de imigrantes e minorias étnicas.

Com gestos concretos, mobilizando anualmente mais 275.000 Euros para este objectivo, procuramos, com o apoio inestimável do IEFP, dar passos firmes em direcção a uma coesão social e a um desenvolvimento sustentável que não deixa ninguém à margem. A rede UNIVA Imigrante vai ser mais uma peça nesse puzzle.

REDE UNIVA IMIGRANTE PARA MAIOR IGUALDADE DE OPORTUNIDADES

Rui Marques

Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas

UMA POLÍTICA DE INTEGRAÇÃO BEM

SUCEDIDA É A QUE GARANTE IGUALDADE DE

OPORTUNIDADES PARA TODOS, EM FUNÇÃO

DAS SUAS COMPETÊNCIAS E SABERES,

INDEPENDENTEMENTE DA SUA ORIGEM

NACIONAL.

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BREVES

No dia 9 de Março decorreu, no CNAI de Lisboa, a ses-são de apresentação pública da iniciativa REDE UNIVA IMIGRANTE, na presença do ministro da Presidência e do ministro do Trabalho e da Solidariedade Social. A assinatura de um Protocolo entre o Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas e o Instituto de Emprego e Formação Profissional visa a criação de uma rede de Unidades de Inserção na Vida Activa (UNIVA) espalhadas por todo o pais, em parceria com Associações de Imigrantes e outras instituições da sociedade civil que trabalham próximo dos imigrantes. Na sequência desta assinatura, é também protocolado com as instituições parceiras a criação das UNIVA em locais próximos dos imigrantes, onde estas enti-dades desenvolvem actividades. Pretende-se assim constituir uma solução integrada e uma resposta adaptada às necessidades específicas da população imigrante, nomeadamente em territórios mais vulneráveis e onde essa resposta ainda não se verifica. Estes gabinetes apoiarão a orientação profissional e escolar, a colocação no mercado de trabalho, o acesso à formação profissional e a ligação às empresas, numa estreita articulação com

R E D E U N I V A I M I G R A N T E

UMA RESPOSTA NO TERRENO

os diferentes serviços dos Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante.O atendimento em todas as Unidades de Inserção na Vida Activa será feito por um mediador, que procurará fazer a ligação entre os utentes, as empresas, os centros de formação e outras entidades que possam apoiar o processo. O media-dor participará numa acção de formação inicial específica e em acções de formação contínuas, de forma a garantir um atendimento profissional e de rosto humano, centrado nos imigrantes, nos seus descendentes e nas minorias étnicas.

O ACIME e o Instituto Camões assinaram no dia 19 de Março um protocolo de cooperação com o objectivo de promover a aprendizagem e aperfeiçoamento da Língua e Cultura Portuguesa, de modo a contribuir para a plena integração dos imigrantes em Portugal. Este protocolo passará também pela

organização de cursos de por-tuguês para estrangeiros no Centro Nacional de Apoio ao I m i g r a n t e (CNAI), utilizan-do os recursos constantes do Centro Virtual do

ACIME E INSTITUTO CAMÕES

PROTOCOLO SOBRE ENSINO DE PORTUGUÊS

PARA ESTRANGEIROS

Instituto Camões e através da criação de compilações de materiais de base para o Ensino do Português adequados aos estrangeiros que se encontram em Portugal. Neste sentido, serão criados “livros graduados”, baseados em obras da lite-ratura portuguesa, que estarão disponíveis na Internet. O Instituto Camões, vocacionado para o ensino e promoção do português e da cultura portuguesa, tem desenvolvido um trabalho importante no âmbito do ensino à distância, que pretende ver optimizado, adaptando-o a uma maior diversidade de contextos e de promotores. O ACIME, por seu lado, está ciente de que o conhecimento e o domínio da língua portuguesa como língua estrangeira são dimensões fundamentais no processo de acolhimento e integração de imigrantes. Este deverá ser um trabalho desenvolvido através da divul-gação de projectos e estratégias pedagógicas diversificadas, no sentido de facilitar e apoiar o processo de integração/escolarização de crianças que não têm o português como língua materna. Este processo implicará uma reflexão sobre a didáctica específica do Português como língua não mater-na, no quadro de políticas públicas integradas de educação intercultural, assim como a incentivação e a dinamização de iniciativas que facilitem o acesso à aprendizagem do Português como língua estrangeira.

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O Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS- Portugal), apoiado pelo “Network of European Foundation”, lançou o projecto “Bem-vindos à nossa Terra”, que culminou no dia 18 de Março com a apresentação da Gala “Bem-Vindos à nossa Terra!”. Este projecto foi apre-sentado em 40 estabelecimentos de ensino de Lisboa, Porto e Setúbal, com o objectivo de sensibilizar as crianças e jovens para a temática das migrações. No decorrer das apre-sentações realizadas, obtiveram-se participações dos alunos, através do diálogo, muitas vezes motivado não só pelas vivências dos próprios, filhos de imigrantes de 2ª ou 3ª

geração, como também pelas histórias que a actriz Natasha Marjanovic (imigrante de ex-Jugoslávia) contou ao longo das sessões. O momento final deste Projecto, a Gala “Bem Vindos à nossa Terra!”, realizou-se no Auditório do Colégio São João de Brito no dia 18 de Março, reunindo não só os momentos importantes ao longo das sessões, como também uma peça de teatro encenada por Natasha Marjanovic e interpretada por crianças e jovens de diversas nacionalidades, cuja prin-cipal mensagem foi a tolerância e receptividade face a uma população cada vez mais multicultural.

SERVIÇO JESUÍTA AOS REFUGIADOS

GALA ‘’BEM-VINDOS À NOSSA TERRA!’’

Entre os dias 1 e 24 de Março, esta Bienal celebrou a Lusofonia através do cinema, pintura, escultura, teatro e musica, contando com a presen-ça de artistas de Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Brasil e Guiné-Bissau. A iniciativa foi da Odivelcultur, tendo o presidente do conselho de administração Mário Máximo, resu-miu o sentido da lusofonia como “Um lugar de fraternidade e identidade cul-tural em que o traço de união é a lín-

gua portuguesa.” Algumas das actividades que se destacaram foram os concertos da cabo-verdeana Nancy Vieira e do gui-neense Braima Galissá, os filmes “Oxalá Cresçam Pitangas”, de Kiluange Liberdade e Ondjaki, e uma celebração a Mulher Lusófona. O director artístico da Malaposta, Manuel Coelho, concebeu o programa apostando numa “cultura de qualidade para todos”, esperando que esta primeira Bienal continue em novas edições e se converta num emblema do conselho. A presidente da Câmara de Odivelas, Susana Amador, refe-riu-se à bienal como uma “enorme ponte cultural”, tendo confirmado o seu apoio a esta iniciativa e à “Malaposta” como um espaço cultural prioritário do Conselho. A presidir a Comissão de Honra da Bienal de Lusofonia estiveram Maria Barroso, acompanhada por Simonetta Luz Afonso (presi-dente do Instituto Camões), Francisco Lopo de Carvalho (secretário-geral da UCCLA), Rui Marques (ACIME), Malaca Casteleiro (professor da Universidade de Lisboa) e Maria Máxima Vaz (historiadora).

BIENAL DE LUSOFONIA

Um encontro de culturas

“Empowerment - Capacitar para participar” foi o tema do sexto congresso que a Cais pro-moveu, de 21 a 23 de Março, na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. Durante três dias, especialistas nacionais e estrangeiros deba-teram questões relacionadas com os problemas sociais, como a pobreza, num desafio que esta associação lançou “à democracia portuguesa e às suas instituições”. De acordo com Henrique Pinto, director da Cais, capacitar para participar é a única forma de prevenir os focos de pobreza e exclusão a todos os níveis e o único caminho

para o exercício de uma cidadania plena e realizada. O envolvimento no processo de decisão, a defesa dos direitos e o desenvolvimento foram os assuntos abordados nos pai-néis. O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, José Vieira da Silva, interveio na sessão de abertura, defendendo a constituição de uma plataforma que reuna as instituições no combate à exclusão social. Por seu lado, o presidente da Cais referiu que esta associação presta auxílio a entre 200 a 250 pessoas carenciadas, em Lisboa e no Porto. Este é o sexto ano consecutivo em que o congresso da CAIS procura reflectir e debater questões relacionadas com problemas sociais.

CONGRESSO CAIS

CAPACITAR PARA PARTICIPAR

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O CLAII de Aveiro, em colaboração com o Gabinete de Acção Comunitária do CSPVC, realizou no dia 17 de Fevereiro, uma acção de sensibilização de ”Introdução à Informática” para Imigrantes. O Animador transmitiu aos participantes as ferramentas básicas para usar a informática na procura de emprego, formação, e informação com interesse para a realidade dos imigrantes.A partir do mês de Fevereiro e em fase experimental, está disponível no CLAII de Aveiro um computador com ligação à Internet, com o objectivo de facilitar o acesso a esta fer-ramenta aos imigrantes que visitam o espaço e procuram emprego ou formação ou necessitam de redigir o CV ou uma carta de apresentação. O CLAII de Aveiro pretende com estas acções disponibilizar aos imigrantes o acesso à informática e a possibilidade de a utilizarem como mais um recurso de acesso à informação, facilitando desta forma a integração.

BREVESCLAII DE AVEIRO

INTRODUÇÃO À INFORMÁTICA PARA IMIGRANTES

O Gabinete de Apoio ao Imigrante e Minorias Étnicas do Concelho de Santarém inaugurou as novas insta-lações, passando a exercer a sua actividade na Rua 1º de Dezembro, nº 64, 1º andar, 2000 Santarém, com o número de telefone 243 356 500. O Gabinete de Apoio ao Imigrante e Minorias Étnicas, criado pela Câmara Municipal de Santarém em Abril de 2002, pretende apoiar e promover a integração sócio-cultural da Comunidade Imigrante e das Minorias Étnicas residentes em Santarém, fomentando a sua inter-relação com a população local.

SANTARÉM

GABINETE DE APOIO AO IMIGRANTE E MINORIAS ÉTNICAS

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) vai alargar a sua área de atendimento, principalmente para as zonas metropolitanas, com a abertura de um posto de atendimento na estação de comboios da Reboleira, na Amadora. O anún-cio foi realizado pelo ministro da Administração Interna no final de uma visita às instalações do SEF, em Lisboa, onde anunciou uma “desconcentração do atendimento”. Segundo explicou António Costa, o primeiro passo será a abertura na estação da Reboleira de um posto de atendimento para tra-tar dos assuntos de todas as pessoas que sejam imigrantes e residam na linha de Sintra. Por outro lado, de acordo com o ministro, haverá nova legislação para tratar da renovação de residência dos cidadãos comunitários.Deste modo, referiu, com as novas leis que estão para aprovação, os novos cidadãos comunitários vão deixar de se dirigir ao SEF para renovação da residência, para tratar do assunto directamente nas Câmaras Municipais, uma medida que descongestionará ainda mais o SEF. Para com-pletar as medidas de simplificação no atendimento ao imi-grante, António Costa afirmou que só falta a aprovação na Assembleia da República da nova Lei de Imigração.

SERVIÇO DE ESTRANGEIROS

E FRONTEIRAS

ATENDIMENTO ALARGADO NAS ZONAS METROPOLITANAS

Quatro anos depois do lançamento da Rede de Centros Locais de Apoio ao Imigrante (CLAII), que conta já com 58 Centros espalhados por todo o pais, realiza-se o alargamen-to desta rede com a abertura de quatro pólos no Concelho de Vila Franca de Xira. Nesse sentido, no dia 26 de Março, na delegação da Câmara Municipal, no Palácio da Quinta da Piedade, na Póvoa de Santa Iria, foi assinado pelo Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, e pela Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Dra. Maria da Luz Rosinha, um protocolo de cooperação. Apostando na integração de proximidade, que se realiza através da sinergia entre indivíduos, organizações da socie-dade civil, instituições e poder político, serão criados pólos na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, no Centro Comunitário de Arcena, no Centro Comunitário de Vialonga e na Delegação da Câmara Municipal no Palácio da Quinta da Piedade na Póvoa de Santa Iria. Desta forma é possível criar, ao nível local, uma resposta mais próxima e ajustada às diferentes necessidades de inte-gração com que os cidadãos imigrantes se confrontam, nas mais variadas áreas.

VILA FRANCA DE XIRA

INAUGURAÇÃO DE QUATRO CLAII

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A Associação dos Imigrantes nos Açores (AIPA) anunciou no dia 26 de Fevereiro que vai abrir delegações nas ilhas Terceira, Faial e Flores para dar uma dimensão regional ao trabalho já desenvolvido em S. Miguel. O presidente da AIPA, Paulo Mendes, referiu que as três novas delegações da associação no arquipélago devem entrar em funcionamento antes do início do segundo semestre de 2007. Presentemente, a AIPA dispõe apenas de um espaço físico na ilha de São Miguel, onde funciona o Centro Local de Apoio ao Imigrante (CLAI), que em 2006 realizou um total de 266 atendimen-tos presenciais. Já estão formadas as três equipas para pôr em funcionamento as novas delegações da AIPA, que serão compostas por nove pessoas na Terceira, cinco nas Flores e quatro no Faial.Paulo Mendes disse que na ilha Terceira já foi encontrado um edifício, localizado no centro histórico de Angra do Heroísmo e disponibilizado pela Câmara Municipal, onde funcionará a sede da delegação. No Faial e nas Flores a associação ainda está à procura de imóveis. As respectivas autarquias foram já contactadas e mostraram-se empenhadas em colaborar com

AÇORES

AIPA ABRE DELEGAÇÕES EM TRÊS ILHAS

a associação para encontrar espaços que permitam estender os serviços da AIPA até ao Faial e Flores.Para além de uma maior presença junto dos imigrantes, a abertura dos novos espaços vai possibilitar a realização de actividades até agora restritas a São Miguel, por falta de meios logísticos nas restantes ilhas açorianas. Paulo Mendes frisou que a imigração nos Açores tem uma dimensão regio-nal, sendo possível encontrar estrangeiros do Corvo a Santa Maria. Este dirigente associativo referiu ainda que o Centro Local de Apoio aos Imigrantes, actualmente a funcionar uni-camente na maior ilha açoriana, recebe anualmente muitos telefonemas e cartas de imigrantes a residir noutras ilhas.O Centro Local de Apoio ao imigrante, que funciona de segunda a sábado em Ponta Delgada, tem por missão prestar informações e proceder ao encaminhamento dos imigrantes. Segundo referiu o presidente da AIPA, mais de quinze nacio-nalidades diferentes recorreram aos serviços do Centro Local de Apoio ao Imigrantes em Ponta Delgada, com destaque para a comunidade brasileira, ucraniana e cabo-verdiana.

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Segundo dados do SEF, referidos pelo Jornal da Madeira, esta Região Autónoma tinha, em finais de 2006, 7.404 estrangeiros, naturais de 91 paí-ses. Verificou-se

assim uma pequena redução em relação ao ano anterior, quando se verificou o registo de 7.500 estrangeiros, oriundos de 95 países.De entre estes, 2.200 (1.500 em 2005) são cidadãos comunitá-rios, sendo, maioritariamente, provenientes do Reino Unido (703); da Alemanha (403); da Roménia (282), da Itália (145), da Espanha (135), da França (123), da Holanda (112), da Suécia (58), da Áustria (43), da Finlândia (44), da Dinamarca (36), da Hungria (26), da Polónia (22), da Irlanda e Lituânia (21 cada) e, em número inferior, nacionais de outros países da União.

MADEIRA

7.404 IMIGRANTES NA REGIÃO

Os restantes 5.204 são provenientes de países não comuni-tários. O maior contingente continua a ser brasileiro, com 1.134 indivíduos, a maior parte dos quais vive no Funchal e em Machico. Segue-se a República da Ucrânia, com 1.089, residindo principalmente no Funchal (536) e em Machico (118). A Venezuela permanece em terceiro, com 1.050.Dois dos países com maior descida ao nível de imigrantes foram os da Guiné-Bissau (298) e Guiné Conacri (56). Ambos os números decresceram em relação a 2005, que eram res-pectivamente de 400 e 100 respectivamente. Quanto aos naturais da República da Moldávia (274).Há ainda a destacar 113 naturais de Cabo Verde, 130 naturais da Rússia e 120 da China. Os restantes 1.000 imigrantes são provenientes de uma série de outros países, cujas comuni-dades não ultrapassam os 100 elementos: África do Sul (98); EUA (56), Suíça (72), Paquistão (45), Bielorússia (51), Índia (10), Uzbequistão (52).Seguem-se comunidades mais pequenas ainda como o Senegal, Moçambique, Marrocos, Peru, Panamá e a Colômbia que detinham 25,15, 13, 13, 12 e 15 indivíduos em 2005 e pas-saram a deter 10, 10. 19, 9, e 18 indivíduos respectivamente em 2006. E, a finalizar, países com um número muito reduzido de pre-senças como a Argélia, a Bolívia, a República Dominicana, a Costa do Marfim, a República da Coreia, Cuba, Nova Zelândia, o Irão, a Libéria, o Quénia, o Japão e a Namíbia.

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BREVES

O Camião da Diversidade está em movimento por terras de Portugal, tendo já visitado diversos distritos. Esta iniciativa pretende percorrer o país, permanecendo uma semana em cada capital de distrito, até Novembro, quando terminará o percurso em Lisboa na data do encerramento internacio-nal do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos. O veículo é um espaço de exposição, de distribuição e de apresentação de materiais informativos sobre o com-bate a todas as discriminações que fazem parte do plano de combate do Ano Europeu: discriminação racial, de género, étnica, religiosa, em relação a deficiências, idade ou opção sexual. A isto se acrescenta o combate pela inclusão e por

ANO EUROPEU DA IGUALDADE

DE OPORTUNIDADES PARA TODOS

CAMIÃO DA DIVERSIDADE

PERCORRE PORTUGAL

A educação e a formação profissional para a igualdade de oportunidades são as áreas prioritárias do Plano para a Integração dos Imigrantes que hoje foi aprovado a 8 de Março em Conselho de Ministros. O roteiro de compromis-sos que o Executivo pretende aplicar nos próximos três anos inclui 123 medidas, envolve 13 ministérios e pretende aco-lher e integrar em áreas como o trabalho, habitação, saúde, educação, justiça, desporto e língua portuguesa.A educação é a área que envolve um maior número de medi-das ao abranger 15 propostas, nomeadamente a formação de docentes para a interculturalidade, a colaboração das asso-ciações de imigrantes na promoção do acesso à educação e o reforço da informação para famílias estrangeiras sobre sistema educativo português. Quando o plano foi apresen-tado, em Dezembro último, o ministro da Presidência referiu que a educação e a formação profissional para a igualdade de oportunidades são a aposta chave de um plano que quer uma melhor integração dos imigrantes na sociedade por-tuguesa. Além da educação, o Plano para a Integração dos Imigrantes dá igualmente prioridade às questões sociais e ao combate à discriminação.O Plano prevê a garantia do serviço de tradução e interpre-tação nos tribunais, a criação de redes de gabinetes de apoio à habitação, a sensibilização do sistema bancário para maior abertura ao acesso ao crédito bancário por parte de imigran-tes e novas soluções de habitação social. Incentivos à parti-cipação sindical dos imigrantes, campanha de sensibilização específica sobre segurança no trabalho para trabalhadores imigrantes, promoção de acções de formação para combater o desconhecimento dos imigrantes relativamente aos servi-ços de saúde e a criação de centro de acolhimento para víti-mas de tráfico são outras acções previstas. O Plano pretende ainda facilitar o acesso à saúde de cidadãos estrangeiros em situações irregular, uma campanha de divulgação de direitos e deveres dos imigrantes enquanto consumidores e o reforço da actividade inspectiva sobre entidades empregadoras que empreguem mão-de-obra imigrante.

PLANO PARA A INTEGRAÇÃO DOS IMIGRANTES

APROVAÇÃO EM CONSELHO DE MINISTROS

No dia 21 de Março, o Dia Internacional para Eliminação da Discriminação Racial, o ACIME e a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) associam-se às Nações Unidas na celebração do Ano Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial. Nas instalações da APAV – Associação de Apoio à Vítima, foram apresentados os resultados da Unidade de Apoio à Vitima Imigrante e de Discriminação Racial e Étnica – UAVIDRE, que ali desenvol-ve a sua missão, através de uma parceria entre o ACIME e a APAV.

Esta unidade foi criada em Maio de 2005, no âmbi-to dos objectivos da CICDR. Visa o apoio, gratuito e confidencial, às vítimas de discri-minação racial ou étnica, através de

uma jurista e de um psicólogo especializados nesta temática e de um serviço de apoio telefónico. A linha criada especial-mente para o efeito (707 20 00 77) funciona todos os dias úteis entre as 10h00 e as 13h00 e as 14h00 e as 17h00.

DIA INTERNACIONAL

PARA ELIMINAÇÃO

DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA UNIDADE DE APOIO À VÍTIMA

uma sociedade mais justa. Os materiais disponíveis são tanto de difusão genérica como destinados a especialistas. Procura-se assim criar uma maior proximidade por parte da Administração Púbica no tratamento destas questões e sen-sibilizar a sociedade em geral para o combate às discrimina-ções, alertando para a necessidade de promover a igualdade de oportunidades para todos. Ao estar estacionado em locais públicos de grande noto-riedade nas capitais de distrito de Portugal, o Camião da Diversidade, animado por agentes locais de ONG’s ou de serviços públicos que tratam as questões da igualdade de oportunidades, motiva a visita e a curiosidade.

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# EDITORIAL# CONVENÇÃO

Pedro Silva Pereira, Ministro da Presidência, foi o orador da sessão de abertura da Convenção ACIME 2007. Entre outras questões, abordou os temas da presidência portuguesa da União Europeia e do novo enquadramento orgânico do ACIME.

(...) No quadro da presidência portugue-sa [da União Europeia], a imigração será certamente um dos temas prioritários de Portugal. A preocupação de Portugal

Convenção ACIME 2007 Consolidar um espírito de serviçoA CONVENÇÃO ACIME 2007, REALIZADA NO VIMEIRO NOS DIAS 24 E 25 DE FEVEREIRO, FOI UMA OCASIÃO PARA

AVALIAR RESULTADOS E EXPOR E DEBATER PROJECTOS. FOI TAMBÉM UMA OPORTUNIDADE PARA A EQUIPA ESCUTAR

E DEBATER AS IDEIAS SOBRE IMIGRAÇÃO EXPOSTAS PELOS ORADORES CONVIDADOS.

desenvolvimento dos países de ori-gem da imigração. Isso significa que a agenda portuguesa da União Europeia promoverá a realização de uma con-ferência entre a Europa e os países do Mediterrâneo, do Norte de África, dedi-cada ao tema das migrações e do desen-volvimento. É importante que a Europa leve mais a sério a sua cooperação com os países do Norte de África, porque só o desenvolvimento pode dar respos-ta a este movimento migratório, um movimento que todos compreendemos muito bem, porque identifica o anseio natural que as pessoas têm por melho-res condições de vida. O terceiro pilar é o pilar da integração dos imigrantes. Quando olhamos para as tensões sociais que muitos países europeus vivem a propósito da ques-tão da imigração, temos que perceber que na origem desses problemas está o insucesso de políticas sociais, de políti-cas de integração nessas sociedades. E também aí a Europa precisa de ter uma agenda mais activa.

PEDRO SILVA PEREIRA

A presidência portuguesa da EU NO ÂMBITO DA IMIGRAÇÃO

é que a Europa possa assumir uma polí-tica de imigração assente em três pilares fundamentais. O primeiro, aquele de que se fala mais, há-de ser sempre o de controle de fluxos migratórios. Sabemos o problema que existe na fronteira sul da Europa e a solidariedade que nos é pedida por tan-tos países, particularmente devido às situações em Espanha, França e Itália. Esse problema faz apelo a uma coo-peração solidária da Europa para um controlo mais eficaz das suas fronteiras externas. Mas não queremos para a Europa uma política de imigração que seja uma polí-tica securitária. Não queremos para a Europa uma política de imigração que se confine a uma lógica de controlo fronteiriço, pois essa não é uma políti-ca inteligente face aos problemas que temos pela frente. E é por isso que falamos de três pilares de uma política europeia de imigração. Um segundo pilar muito importante é aquele que diz respeito à ajuda ao

A NOVA ORGÂNICA DO ACIME (...) É tempo de dar uma solidez institucional acrescida à própria estrutura do ACIME. Já saiu a Lei Orgânica da Presidência do Conselho de Ministros. O ACIME vai ganhar, entre outras coisas, um novo nome, passando a chamar-se Alto Comissariado para a Imigra-ção e para o Diálogo Intercultural, ganhando também novas vertentes de intervenção. Aquilo que é hoje a Estrutura de Missão para o Diálogo com as Religiões vai ser integrada no interior desta nova realidade. Estamos a falar de um novo instituto público, e o que o Governo está a dizer com esta alteração jurídi-co-institucional é que o ACIME é um organ-ismo que a Administração Pública portuguesa já não pode dispensar. (...) Esta transição vai ser positiva para o ACIME, porque vai ganhar solidez institucional e a estabilidade que o modelo mais frágil, que ainda subsiste, não podia totalmente conferir. (...)

A LEI DE IMIGRAÇÃO (...) A alteração da Lei de Imigração repre-senta uma alteração muito signifi cativa, desde logo porque combate activamente a burocra-cia, e aí benefi ciamos da circunstância de a tutela da Administração Interna coincidir com a tutela da Modernização Administrativa, e portanto todo o impulso de simplifi cação de procedimentos administrativos pode chegar também à área da política da imigração. Sabemos como isso não é uma coisa menor, que tradicionalmente um dos problemas da política de imigração, em Portugal e noutros países europeus, é exactamente o excesso de burocracia. (...) Esta é uma lei que visa superar o quadro jurídico anterior, que era um quadro jurídico que verdadeiramente nunca se conseguiu conciliar com a realidade das coisas. (...)

A LEI DA NACIONALIDADE (...) Na última Convenção, tive ocasião de apresentar as linhas de força da proposta do Governo para uma nova Lei da Nacionalidade. Uma lei que fosse um instrumento de combate à exclusão, porque era sobretudo disso que se tratava. Muitas pessoas na sociedade portu-guesa estavam afastadas de um determinado estatuto de direitos, sem nenhuma razão que o pudesse verdadeiramente justifi car. Era isso que tornava necessário mexer na lei estrutur-ante que é a Lei da Nacionalidade. A verdade é que essa proposta de lei de que falei há um ano atrás é hoje uma Lei da República, aprovada na Assembleia da República, pro-mulgada pelo Presidente da República, que está em vigor. Mas com uma particularidade, que julgo signifi cativa: foi uma lei aprovada na Assembleia da República sem nenhum voto contra. (...)

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# CONVENÇÃO

Presente na Convenção ACIME 2007 o ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, preconizou uma pedagogia dos direitos humanos e o estabelecimento, a breve prazo, de uma política europeia comum de imigração que considera tanto neces-sária como inevitável.

(...) Entendo ser esta uma matéria em que o processo de integração europeia poderia e deveria avançar rapidamen-te, não só por corresponder a uma das principais preocupações dos europeus, cristalizando muitos dos seus receios e angústias, como por ser um campo em que a Europa tem tardado a avançar, adiando a solução de problemas que se avolumam e amplificam, e perdendo os extensos benefícios que poderia retirar dos fluxos migratórios. A meu ver, ganhar-se-ia em apostar numa política europeia comum de imi-gração, recuperando dos crónicos atra-sos que nesta matéria se têm acumu-lado ao longo dos anos e vencendo as resistências que os Estados têm oposto à construção de um verdadeiro espaço de liberdade, segurança e justiça, de que uma política de imigração consti-tui uma componente essencial. Existe uma expectativa forte, por parte dos cidadãos europeus, que não pode ser defraudada. Primeiro, porque o envelhecimento das nossas sociedades, com o seu reconhe-cido lote de problemas a nível econó-mico, social e de finanças públicas, cria

prática como se sabe hoje corrente, que prejudica a sua correcta aplicação pela União Europeia ao arrepio do que é, aliás, a sua genuína tradição. E, em último lugar, porque consertada com os países de origem e de trânsito, uma estratégia de imigração europeia tornar-se-ia outrossim um poderoso instrumento de política externa, em consonância com um modelo de desen-volvimento durável que é caro à União Europeia, (...)

JORGE SAMPAIO

A imigração como matéria de urgente INTEGRAÇÃO EUROPEIA

necessidades crescentes em termos de imigração legal, a que urge dar respos-ta. Depois, porque uma imigração regulada permite responder às carências de mão-de-obra, evitando a criação do efeito perverso do aumento de desemprego ou prejudicando as oportunidades de trabalho dos desempregados. Em terceiro lugar, porque a ausência de regulação favorece a imigração ilegal e todas as formas de exploração e de discriminação que lhe estão associa-das, bem como todos os fenómenos de criminalidade organizada internacional que lhe são muitas vezes conexos. Em quarto lugar, porque uma imigração regulada permite uma adequada e har-moniosa integração dos imigrantes e possibilita o reforço da segurança inter-na, conhecendo porventura melhor a ameaça terrorista que tantas vezes se alimenta no cadinho turvo do submun-do da clandestinidade e da ilegalidade. Em quinto lugar, porque uma política europeia de imigração teria um efeito dissuasivo a nível do recurso indevido ao direito de asilo e dos refugiados,

UMA PEDAGOGIA DE DIREITOS HUMANOS (...) Só com uma forte pedagogia de direi-tos humanos podemos assegurar o respeito pelas minorias, lutar contra a intolerância, a xenofobia e o racismo e assim desenvolver o diálogo de culturas e criar uma sociedade da pluralidade e da diversidade cultural. Esta é a única forma de encontrar, a meu ver, uma solução durável para os problemas que alimen-tam a insegurança e que levam as populações a optarem por vezes pela estratégia fácil da xenofobia, do proteccionismo ou do retraimen-to. (...)

O FACTOR ISLÂMICO (...) Alguns pensadores falam de choque de culturas, de civilizações ou mesmo de religi-ões. Outros vêem nas presentes difi culdades uma fractura entre o Ocidente e o Islão. Mas importa não radicalizar o discurso, importa evitar polarizar o debate em torno de termos demasiado simplistas. Toda a história demons-tra que o diálogo entre culturas, civilizações e mesmo religiões é possível. Esse diálogo é necessário, frutífero e desejável. Há pois que o fomentar. (...)

A LEI DA NACIONALIDADE (...) Na última Convenção, tive ocasião de apresentar as linhas de força da proposta do Governo para uma nova Lei da Nacionalidade. Uma lei que fosse um instrumento de combate à exclusão, porque era sobretudo disso que se tratava. Muitas pessoas na sociedade portu-guesa estavam afastadas de um determinado estatuto de direitos, sem nenhuma razão que o pudesse verdadeiramente justifi car. Era isso que tornava necessário mexer na lei estrutur-ante que é a Lei da Nacionalidade. A verdade é que essa proposta de lei de que falei há um ano atrás é hoje uma Lei da República, aprovada na Assembleia da República, pro-mulgada pelo Presidente da República, que está em vigor. Mas com uma particularidade, que julgo signifi cativa: foi uma lei aprovada na Assembleia da República sem nenhum voto contra. (...)

O CONTRIBUTO DOS IMIGRANTES (...) Para os países de acolhimento, as popula-ções imigrantes representam sempre um factor de crescimento da economia, um complemento de mão-de-obra disponível para suprir as fa-lhas do mercado de trabalho nativo, um vector de equilíbrio demográfi co e, como sabemos também, de sustentabilidade da segurança social. O seu contributo líquido para a criação de riqueza nos países de acolhimento parece pois inegável. (...)

PORTUGAL, CRUZAMENTO DE CULTURAS (...) [Por Portugal] passaram celtas, romanos, suevos e visigodos, hebreus e muçulmanos e hoje se cruzam, entre muitos outros, brasi-leiros, cabo-verdianos, guineenses, moçam-bicanos, angolanos, moldavos, ucranianos, chineses, indianos e timorenses. Para o pendor universalista da nossa cultura, para o seu dinamismo e considerável pujança, não terá justamente contribuído o cruzamento das culturas e a diversidade das tradições e infl uências de que todos estes povos foram portadores? (...)

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# EDITORIAL# CONVENÇÃO

Numa intervenção que suscitou um vivo interesse e animado debate, o sociólogo Rui Pena Pires colocou em questão o multiculturalismo e destacou a impor-tância primordial do cumprimento da lei na prevenção da discriminação.

(...) Se me perguntassem em que con-siste, para além do plano social, a pro-moção da integração, eu diria, e sou criticado por isso, que é promover a nacionalidade. Fazer com que a política de nacionalidade seja não um prémio,

podem alimentar uma leitura etnici-zada da desigualdade e transformar-se num dado estrutural dificilmente remo-vível. É a meu ver indispensável que as políticas de integração dos imigrantes ganhem uma dimensão social maior do que aquela que têm. É também fun-damental, a meu ver, que se desligue o combate à discriminação de um dis-curso cultural sobre o preconceito. (...) Há a ideia de que a intervenção para a integração deve ser uma intervenção com uma forte componente cultural. Não é verdade. Não é verdade que a dis-criminação esteja sempre associada ao preconceito, e não é verdade, a meu ver, que seja necessário remover o precon-ceito para combater a discriminação. O que interessa é o que as pessoas fazem, mais do que aquilo que pensam. E o que as pessoas fazem depende da vergonha que têm naquilo que fazem – e portanto os comportamentos incorrectos devem ser socialmente combatidos.

RUI PENA PIRES

Integrar signifi ca criar SENTIMENTOS DE PERTENÇA

mas uma condição da integração. É frequente, quando se fazem debates sobre a nacionalidade, ouvir dizer, na Assembleia da República, que não é possível dar a nacionalidade portugue-sa a pessoas que ainda não demons-traram “merecê-la”. Ora todos os dias nascem crianças em Portugal que têm a nacionalidade portuguesa, e não fize-ram nada para a merecer. Por trás disto está a ideia de que, na imigração, a nacionalidade é um prémio. A minha opinião é que a nacionalidade dever ser um instrumento para promover a integração e não um prémio atribuído no fim do percurso. Posto isto, o que pode ser o papel de uma organização como o ACIME? Não é segredo que, desde que existe o ACIME, no início nem tanto como organização, mas como cargo, eu sempre tive uma opinião negativa sobre o nome, sem-pre disse que deveria ser apenas Alto Comissariado para a Imigração. Penso que conseguiremos a integração se con-seguirmos evitar a formação de mino-rias étnicas. A etnicidade é uma herança do passado com que nós temos de viver, mas não é, a meu ver, um modelo dese-jável de organização da vida humana. A etnicização das pertenças tende a diminuir a nossa capacidade de agir livremente, com autonomia, na base de escolhas racionais na decisão do nosso futuro. E portanto, o que pode fazer uma organização como o ACIME, para além daquilo que faz, e que já é muito, no domínio do acolhimento, da media-ção da relação dos imigrantes com a Administração e com o Estado, no domí-nio da consensualização das políticas? A meu ver pode, e deve, ajudar a incre-mentar o desenvolvimento de políticas sociais que impeçam a cristalização de situações de desigualdade que depois

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UMA POSIÇÃO CRÍTICA DO MULTICULTURALISMO (...) É público que sou um crítico do multicul-turalismo. Penso que no multiculturalismo há vários equívocos: Há um excesso de cultu-ralização das identidades, há um excesso de essencialização dos grupos e das chamadas comunidades e, em resultado disto, há a meu ver um défi ce da valorização das dimensões sociais da integração. O que hoje falta como condição de integração real são dois elemen-tos: Falta a resolução de vários problemas sociais que tendem a transformar-se em problemas identitários, abrindo-se assim uma via que a meu ver não tem solução. A trans-formação dos problemas sociais em problemas culturais não dá nem uma solução ao problema social nem dá uma saída à outra dimensão fundamental da integração, que é, como dizia, a constituição de uma sociedade nova a partir do apport da imigração. A segunda questão é que, mais importante do que mudar mentali-dades, é haver uma percepção clara de que há uma relação entre um comportamento, uma norma, e uma punição ou uma recompensa, social e jurídica. É esta efi cácia da norma, independentemente da cultura que lhe está subjacente, que penso ser fundamental. (...)

CRIAR UM NOVO SENTIMENTO DE PERTENÇA (...) Penso que é fundamental revermos a nossa concepção de nacionalidade para conseguirmos fazer esta realidade nova – uma realidade baseada na remoção dos problemas da integração no plano social, das difi culdades que há na integração por remoção das práticas de discriminação, mas também criando um sen-timento de pertença a uma colectividade úni-ca. E não é possível construir um sentimento de pertença a uma comunidade única se essa colectividade se continuar a defi nir exclusi-vamente, e principalmente, por uma narrativa identitária baseada num passado que não é partilhável. Se for essa a única base da nossa defi nição como colectividade, nunca consegui-remos dar passos decisivos na integração. (...) As histórias não são partilhadas porque estão já escritas, mas o futuro é partilhável porque pode ser escrito de forma diferente, e portanto prefi ro uma identifi cação menos suportada no passado. (...)

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# CONVENÇÃO

Na perspectiva do director do SEF, expres-sa na sua intervenção na Convenção ACIME 2007, o trabalho de acolhimento e integração dos imigrantes assenta em dois vectores fundamentais: a avaliação das políticas adoptadas e o reforço das sinergias entre as instituições do Estado que actuam nestes dois domínios.

(...) É importante realçar que a política de integração é aplicável a uma reali-dade dinâmica. As medidas e os pro-gramas adoptados num determinado momento podem não ser os mais efica-zes em momentos posteriores, pelo que se revela necessário adequá-los, adaptá-los ou mesmo abandonar aqueles que se manifestem inadequados. A partilha de experiências com outros Estados que lidam há mais tempo com o fenómeno migratório parece-nos uma boa abor-dagem, no sentido de se apreenderem as boas práticas e a informação sobre as experiências menos conseguidas, de forma a prevenir em Portugal fenóme-nos como aqueles que recentemente sucederam em França. Tendo em consideração as funções que desempenho, permitam-me que dê um especial realce ao segundo vector. É que a integração não pode ser abordada de uma forma fragmentada, mas sim de uma forma integral, incluindo nesta perspectiva a questão da admissão dos cidadãos estrangeiros. Nesta matéria, partilho inteiramente o entendimento

expresso pelas instituições europeias, designadamente o Parlamento, que, na resolução de 9 de Junho de 2005, sobre as relações entre a imigração legal e ile-gal, salientou que a política de imigração tem de adoptar uma abordagem global baseada não somente nas exigências do mercado de trabalho, mas sim num conjunto de políticas de acolhimento e integração, assim como na definição de um estudo de cidadania compreenden-do direitos e deveres sociais e políticos. O tipo de acolhimento proporcionado aos cidadãos imigrantes é uma das prin-cipais condicionantes de todo o pro-cesso da integração, na medida em que uma boa gestão de acolhimento permi-te acelerar o processo de integração em todas as suas vertentes – social, laboral, escolar, etc.. Ao invés, a ausência de um adequado acolhimento atrasa os processos de integração, o que implica um esforço adicional, quer por parte dos cidadãos, quer por parte da socie-dade de acolhimento. Acresce que uma boa política de acolhimento permite que o cidadão adquira o sentimento

MANUEL JARMELA PALOS

A integração não pode ser abordada DE UMA FORMA FRAGMENTADA

FORMAÇÃO SOBRE A LÍNGUA E AS INSTITUIÇÕES NACIONAIS (...) A formação na língua portuguesa e sobre as instituições nacionais e procedimentos de acesso aos serviços públicos são tão importantes como a orientação sobre as regras e os valores básicos vigentes, os direitos e os deveres que impendem sobre todos os ci-dadãos. Apesar de considerar importante que também os cidadãos que já vivem entre nós há algum tempo tenham acesso a estas medidas, designadamente aqueles que encontram maio-res difi culdades no desenvolvimento do seu projecto de vida, os principais destinatários são, em minha opinião, os cidadãos recém-chegados. (...)

COORDENAR OS ORGANISMOS QUE LIDAM COM A IMIGRAÇÃO (...) Os programas de acolhimento devem fomentar a promoção da independência dos cidadãos imigrantes, evitando atitudes de dependência e de auto-exclusão. É funda-mental assegurar uma coordenação entre os diferentes organismos intervenientes neste domínio da imigração e das diferentes políticas sectoriais, permitindo o conhecimento mútuo dos recursos existentes, a concentração de esforços, a criação de sinergias e, em última análise, a maior efi cácia da política de imigra-ção. Incrementar a capacidade das medidas de acolhimento requer, ainda, o desenvolvimento das associações de imigrantes e das organiza-ções não governamentais, que desempenham um papel chave neste domínio. (...)

de pertença à comunidade que o rece-be e de valorização do seu processo migratório pessoal. Este é também o propósito de um dos princípios básicos comuns sobre a integração, aprovados no Conselho de Ministros da Justiça e Assuntos Internos, segundo o qual o conhecimento básico da língua, da História, das instituições da socieda-de de acolhimento, é indispensável para a integração. Proporcionar aos imigrantes a possibilidade de adquirir esse conhecimento básico é essencial para lograr uma integração bem suce-dida. É fundamental, pois, que a aqui-sição destes conhecimentos se realize o quanto antes, pois é esta aquisição que permitirá a concretização de um outro princípio básico, segundo o qual o acesso às instituições, aos bens e aos serviços públicos e privados por parte dos cidadãos imigrantes, numa base de igualdade face aos cidadãos nacionais e de forma não discriminatória, é um fundamento essencial para uma melhor integração. (...)

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# EDITORIAL# CONVENÇÃO

ARNALDO ANDRADE RAMOS

Embaixador de Cabo Verde verdianas em Portugal, iniciámos uma discussão sobre como ultrapassar alguns dos problemas que se põem. (...) Penso que no domínio da educação temos um grande desafio. O de manter os jovens na escola e evitar o abandono escolar, o de conseguir o sucesso esco-lar. (...) Temos um desafio também na área da comunicação, visando trans-mitir às pessoas a ideia e a atitude do sucesso. Aqui, em particular, proponho lançar um desafio ao ACIME para cola-borarmos nesta matéria. Obviamente, a comunicação obriga a que haja uma colaboração intensa para que as men-sagens passem, e passem, e passem bem. (...)

(...) As relações entre Cabo Verde e Portugal são relações óptimas, de gran-de entendimento no plano político, e que recentemente conheceram mais um passo, que é a criação de uma comissão conjunta para as questões da imigra-ção. É a primeira vez que existe uma tal comissão e temos uma enorme expecta-tiva em relação a isso, mas obviamente que a aspiração é irmos sempre muito mais longe, e haverá muita coisa por fazer. (...) A questão da nacionalidade coloca-se-nos com alguma preocupa-ção. Tendo tido no dia 27 de Janeiro uma reunião com as associações cabo-

Negócios Estrangeiros da Ucrânia a Portugal, quando ele foi recebido no CNAI em Lisboa e ficou bem sensi-bilizado com o facto de que todas as explicações durante a sua visita guia-da foram feitas em idioma ucraniano, pelos mediadores sócio-culturais do Centro – representantes da comunidade ucraniana em Portugal. As actividades dos dois Centros Nacionais e dos numerosos Centros Locais de Apoio ao Imigrante têm mere-cido uma apreciação muito boa por parte dos nossos compatriotas, que muitas vezes têm procurado nesses centros apoio e conselho na solução dos seus problemas pessoais do dia-a-dia. (...)

ROSTYSLAV TRONENKO

Embaixador da Ucrânia (...) Em primeiro lugar, gostaria de agra-decer o trabalho desenvolvido pelo ACIME no sentido de apoiar os imi-grantes em Portugal, uma boa parte dos quais constituem os cidadãos ucranianos. Nós apreciamos altamen-te a colaboração do ACIME, enquanto entidade governamental portuguesa, com as organizações dos imigrantes, para proteger melhor os seus direitos e liberdades, o que é também uma tarefa importante da nossa embaixada. Apreciamos igualmente a coopera-ção do ACIME com a nossa Missão Diplomática, o que ficou bem eviden-ciado na recente visita do Ministro dos

os melhores princípios ao nível euro-peu, ao nível mundial, como a OCDE teve ocasião de dizer esta semana em Portugal. (...) Este elogio, que não escon-de também os problemas que existem, é um elogio muito sincero e muito objec-tivo em relação àquilo que me foi dado observar. A modernização administrati-va é algo de que a equipa do ACIME faz parte, dentro deste princípio de que a Administração Pública tem de ser uma Administração inclusiva. (...)

MARIA MANUEL LEITÃO MARQUES

Unidade de Coordenação da Modernização Administrativa

(...) A visita ao ACIME foi das visitas que mais me tocou profundamente, e que mais me fez acreditar que é possível a modernização administrativa. Vi fazer muito bem, fazer segundo bons prin-cípios, com muito pouco. Numa esco-la velha, cujo espaço foi tudo menos preparado para aquilo que acolheu, vi transformar o mundo a partir dali, e transformá-lo segundo os melhores princípios da modernização adminis-trativa. Não os nossos princípios, mas

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Viegas Bernardo Programa Escolhas Estou muito satisfeito com a Convenção, a primeira em que participo. Para mim, sobressai a riqueza da partilha que é feita, do que se fez e do que se pretende fazer, e o espírito da equipa. É sobretudo esse espírito de equipa e de partilha que me comove.

Angela Ramos Mediadora CNAI Um dos aspectos que gostei mais foi o facto de termos tido uma grande variedade de personalidades nos painéis, que nos deram informações muito interessantes e muito importantes. Para além desse aspecto, gostei do facto de esta Convenção nos ter proporcionado um momento de convívio que foi reforçado em relação aos anos anteriores.

Paula Ferreira Coordenadora da Linha SOS Imigrante O que destaco nesta Convenção tem a ver com a ideia de criar pontes. Para mim, enquanto coordenadora da linha, é essencial conhecer as pessoas, o que torna mais fácil relacionar-me com elas.

Graciano Vaz Serviço de Tradução A presença de Jorge Sampaio, foi muito importante, pelas ideias que transmitiu, e também aquilo que foi dito pela Profª. Maria Manuel Leitão Marques, da Unidade de Coordenação da Modernização Administrativa, que esteve na base do Simplex. Também destaco o painel em que intervieram o Dr. Manuel Correia, o Dr. Jarmela Palos e o Dr. Pena Pires, neste último caso com algumas opiniões divergentes.

Jorge Cardoso GATAIME Gostaria de destacar dois elementos. O primeiro foi a Profª. Maria Manuel Leitão Marques, que falou sobre o Simplex, por-que o impacto que isso vai ter na vida das pessoas é enorme. Para além disso, todo o debate gerado em torno da comunicação do Dr. Pena Pires, as questões sociais e culturais levantadas. Foi um debate muito rico e que me fez pensar.

Vanda Reis Coordenadora do Gabinete da Nacionalidade Desta Convenção, aquilo que mais me marcou, tal como no ano passado, foi o convívio com os colegas com quem normalmente não nos damos tanto, sobretudo com os do Porto, e é o sentir que toda esta questão da imigração nos está de facto no coração, não se trata aqui apenas do ordenado ao fim do mês.

Isabel Rolim Mediadora Sócio-Cultural O que gostei mais nesta Convenção foi todo o convívio. A forma-ção e as conferências já existem com frequência no CNAI, mas esta ligação entre as pessoas que aqui trabalham é essencial para continuarmos a prestar um bom serviço.

CONVENÇÃO ACIME 2007

A opinião dos participantes

AVALIAÇÃO AO CNAI PELA OIM

Um trabalho com continuidade

Na sequência de um primeiro momen-to de avaliação dos Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante, decorrido entre Março e Julho de 2006, surgiu o projec-to de criar um sistema de avaliação e de acompanhamento que aprofunde esses resultados, incida sobre aspectos particulares daí decorrentes e avalie as mudanças entretanto ocorridas.

A avaliação já realizada ao CNAI foi solicitada a uma instituição de grande prestígio, a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Este traba-lho, levado a cabo pela socióloga Maria Abranches, pretendeu analisar a res-posta dos CNAI de Lisboa e do Porto face às questões suscitadas pela imi-gração e à necessidade de integração dos imigrantes em Portugal.

Para além dos objectivos da avaliação inicial, esta nova avaliação pretende incluir outras valências do Sistema Nacional de Apoio ao Imigrante, tais como os CLAI e CLAII, a Linha SOS Imigrante (já objecto de avaliação preliminar na fase anterior), o Serviço de Tradução Telefónica e os CNAI no Terreno.

O trabalho deverá ser desenvolvido numa base de articulação permanente entre as equipas e direcções das valên-cias objecto de avaliação e o responsá-vel pelo estudo.

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BREVES

O perfil das chinesas que imigraram para a Grande Lisboa está a mudar, com a chegada de um número crescen-te de jovens solteiras, pouco disponíveis para os negócios de família e mais interessadas em trabalhar numa grande

empresa. Esta constatação figura num estudo da antropóloga Irene Rodrigues, divulgado em pleno Dia da Mulher e que integra o primeiro número da Revista de Estudos Chineses, apresentada a 8 de Março no primeiro dos quatro dias do II Fórum Internacional de Sinologia, que decorreu no Auditório Municipal de Gaia.Segundo a antropóloga, as chinesas da nova vaga de imigra-ção chegam a Lisboa em geral através de redes informais de imigração, ainda solteiras, com o mesmo sonho das prece-dentes, ganhar dinheiro, mas de forma diferente. Agora, as suas estratégias para alcançar o sucesso passam não pelo casamento ou pelo estabelecimento de um negócio familiar, mas pela valorização académica e profissional, afirma Irene Rodrigues, que é docente no Instituto Superior de Ciências

ESTUDO

IMIGRANTES CHINESAS COM OUTRAS ACTIVIDADES

No âmbito das actividades do Grupo Imigração e Saúde (GIS), ao longo de 2007 realiza-se um Ciclo de Seminários sobre diferentes temas e dimensões de análise da problemá-tica da saúde/doença na sua relação com processos migrató-rios. No dia 10 de Abril, o seminário contará com a presença de Luís Silva Pereira, que abordará a questão das problemá-ticas inerentes à recolha de dados, enquanto que Fernanda Bonfim, Catarina Rodrigues e Sofia Vaz falarão sobre as difi-culdades sentidas no trabalho directo com imigrantes. Por seu lado, no dia 26, Bárbara Backstrom apresentará a tese de doutoramento “Saúde e Imigrantes: As representações e as práticas sobre a saúde e a doença na comunidade cabover-diana de Lisboa”. O programa completo do Ciclo de Seminários do GIS encon-tra-se disponível em: www.oi.acime.gov.pt/docs/eventos/GIS_Seminarios_2007.pdf

CICLO DE SEMINÁRIOS GIS

atitudes e representaÇÕes dos imigrantes face À saÚde

Cerca de um milhão de crianças ciganas a viver na Europa continuam sem documentos, acesso a cuidados de saúde e fora das escolas, sujeitas a preconceitos de que roubam e pre-ferem pedir na rua do que estudar, num ciclo que continuará quando elas próprias tiverem filhos. A chamada de atenção foi feita pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), após um dia de conferências, na capital alemã, destinadas a mostrar os problemas na Europa das crianças da comunida-

de roma, termo preferido pela própria comu-nidade cigana. “As crianças roma devem ter uma hipó-tese de romper o ciclo vicioso da pobreza, da exclusão e dos

preconceitos”, afirmou Reinahdr Schlagintweit, da Unicef alemã. O responsável alertou ainda para as consequências dramáticas de no coração da Europa centenas de milhares de crianças crescerem em guetos, sem perspectivas de edu-cação. As crianças de etnia cigana têm taxas de escolarização muito baixas - de 60 a 80 por cento na Albânia, Bulgária ou Roménia, mas apenas de 20 por cento na Bósnia. A Unicef pretendeu destacar a necessidade de melhorar o acesso à educação como primeiro passo para quebrar a exclusão. Segundo um dos relatórios apresentados na conferência, que decorreu em Março em Berlim, cerca de dois terços das 50 mil crianças ciganas que residem na Alemanha vivem como refugiadas, pendendo sobre elas, a qualquer momento, a ameaça de expulsão.

UNICEF

Um alerta para as condições das crianças ciganas

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Sócias e Políticas, em Lisboa.No seu estudo “Género e migração - estratégias de inserção das mulheres chinesas migrantes em Lisboa”, a antropóloga refere que estas mulheres sonham com um trabalho numa grande empresa, mas sentem que não conseguem competir em ternos de igualdade com os portugueses. As razões que condicionam a sua inserção no mercado de trabalho pren-dem-se com o deficiente domínio do português, falta de reconhecimento dos diplomas académicos que trazem e o facto de não terem nacionalidade portuguesa.

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CARTÃO IMIGRANTE

PARA UM SERVIÇO SEMPRE MELHOR

O objectivo deste cartão é tornar mais

fáceis e simples o acolhimento e a inte-

gração dos imigrantes. Para isso, estes

podem aceder gratuitamente aos seguin-

tes serviços do CNAI:

INFORMAÇÃO JURÍDICA No Gabinete de Apoio Jurídico do CNAI, os utentes do Cartão Imigrante beneficiam de informação e aconselhamento jurí-dico, prestado por juristas qualificados que o apoiam no esclarecimento de dúvidas sobre questões legais.

APOIO AO REAGRUPAMENTO FAMILIAR No Gabinete de Apoio ao Reagrupamento Familiar, os uten-tes do Cartão Imigrante beneficiam de apoio para prepara-rem o seu pedido de trazer a família, bem como de ajuda no acompanhamento do processo.

APOIO À PROCURA DE EMPREGO Através do Gabinete de Apoio ao Emprego, é possível obter informações sobre empregos disponíveis ou sobre como lançar o seu próprio negócio, bem como sobre as oportuni-dades de formação profissional existentes.

APOIO À PROCURA DE HABITAÇÃO O Gabinete de Apoio à Habitação disponibiliza informação sobre acesso à habitação, nomeadamente ofertas disponí-veis e eventuais mecanismos de apoio.

APOIO À INTEGRAÇÃO DOS FILHOS NA ESCOLA Através do Gabinete da Educação pode obter-se informação e apoio na integração escolar.

APOIO À INTEGRAÇÃO NO SISTEMA DE SAÚDE Através do Gabinete de Saúde, é possível obter informação sobre a integração no Sistema Nacional de Saúde, bem como os direitos que assistem aos imigrantes na protecção da saúde.

ACESSO A AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Através dos cursos de formação em Língua Portuguesa, a funcionar no CNAI ao fim-de-semana, será possível ter aces-so à aprendizagem de Português, no sentido de tornar mais fácil a integração.

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O Cartão Imigrante resulta da inscrição de um(a) imigrante regularizado no Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) enquanto cliente, permitindo beneficiar, gratuitamente, de todos os serviços dispo-nibilizados pelo CNAI. Para além disso, o seu titular poderá vir a beneficiar dos serviços prestados por outras entidades que, no futuro, se venham a associar ao Cartão.

CARTÃO IMIGRANTEPERGUNTAS E RESPOSTAS

Tenho o Cartão Imigrante. Posso marcar ante-cipadamente a minha ida ao CNAI e ser aten-dido com rapidez?Sim. Basta ligar o SOS Imigrante (808 257 257) e o operador que atende marcará o dia e a hora para comparecer no CNAI, onde poderá ter acesso a qualquer um dos serviços referidos. Na véspera, o cliente do CNAI receberá um SMS no telemóvel para o lembrar da marcação. No dia do atendimento, deverá estar presente à hora marcada e será atendido(a) rapidamente.

Quanto custa?O Cartão Imigrante é gratuito e tem uma validade anual. É pessoal e intransmissível.

Substitui a autorização de residência ou o visto de trabalho?Não. O Cartão Imigrante diz respeito apenas ao acesso aos ser-viços do CNAI e só é atribuído a quem se encontre em Portugal em situação regular.

PARA SABER MAIS:- Pessoalmente, no Balcão de Apoio do CNAI- Rua Álvaro Coutinho, nº 14, 1150-025 Lisboa- Rua do Pinheiro, nº 9, 4050-484 Porto- Através do telefone 808.257.257- Através de e-mail: [email protected]

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# ENTREVISTA

CNAI: TRÊS ANOS AO SERVIÇO DOS IMIGRANTES

QUAIS SÃO OS SERVIÇOS QUE O CNAI ACTUALMENTE INTEGRA? A nível de instituições do Estado, temos o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a Inspecção-Geral do Trabalho, a Segurança Social e os gabinetes do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde. Recentemente, desde Dezembro de 2006, existe também uma presença do Ministério da Justiça, através de uma extensão da Conservatória dos Registos Centrais para a questão da nacionalidade. A nível de gabi-netes do ACIME, para dar respostas que estas instituições não poderiam dar, existem o Gabinete de Apoio Jurídico, o Gabinete que apoia o Reagrupamento Familiar, o Gabinete de Apoio Social, o Gabinete de Apoio à Habitação e o

Gabinete de Apoio ao Emprego, que procura dar respostas às necessidades de emprego e integra também o Gabinete do Empreendedorismo e a gestão de uma rede de Unidades de Inserção na Vida Activa (UNIVA’s) espalhadas por todo o país.

O CNAI EXISTE DESDE HÁ TRÊS ANOS. QUE BALANÇO SE PODE FAZER DESTE PERÍODO DE ACTIVIDADE? O balanço é muito positivo. No início, quando se pensou neste projecto, obviamente inspirado nas Lojas do Cidadão, que já davam alguma resposta, subsistiam algumas dificul-dades aos cidadãos imigrantes, tais como a língua ou o des-conhecimento dos meandros da Administração Pública em Portugal, entre outras. Assim, pensou-se juntar as institui-ções que se relacionavam com os imigrantes, propondo-lhes um funcionamento integrado e especializado. Embora essa realidade esteja a mudar, em Portugal não temos ainda uma

O Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) pretendeu, desde o seu início, a 16 de Março de 2004, responder de forma integrada a todas as questões levantadas na vida de um cidadão imigrante. Nesse sentido, procurou congregar uma série de instituições e gabinetes, integrando estes servi-ços entre si. Francisca Assis Teixeira, Directora do CNAI, faz o balanço de três anos de actividade e aponta os objectivos para o futuro.

mentalidade de cooperação e de trabalho em rede. Apesar disso, foi possível, num ano, criar esta rede e pensar o projec-to em conjunto. Foi um ano muito estimulante, porque sur-giu um projecto de raiz, de que não existia qualquer exemplo a nível internacional. Obviamente, surgiram dificuldades que foi necessário ultrapassar, muitas delas com o projecto já em funcionamento. Neste processo de criação do CNAI, foi muito importante o apoio do Instituto das Lojas do Cidadão, que colocou à disposição todo o know-how adquirido na construção das próprias lojas. Quando abrimos, a procura excedeu em muito as nossas expectativas. Estávamos a pôr em funcionamento vários tipos de serviços que não existiam até então, e portan-

to foi um tempo de grande stress, mas também de grande motivação, porque fomos conseguindo responder às várias solicitações. Actualmente, com excepção de alguns tempos de espera que estamos a procurar resolver, temos conseguido responder a todas as solicitações.

QUAIS TÊM SIDO AS GRANDES EVOLUÇÕES DO CNAI? O CNAI foi, desde o seu início, uma estrutura muito flexível, porque era um projecto que estava a nascer e não havia outros exempos com os quais se pudesse aprender. Por isso, tivemos que ir criando a própria realidade, fazendo avalia-ções semanais e adaptando os serviços aos resultados des-sas avaliações. Assim, desde a primeira semana que fomos fazendo alterações à orgânica e à dinâmica dos serviços prestados. Para além disso, à medida que fomos sentindo necessidade de mais serviços, ou que os serviços se adaptas-sem às solicitações existentes, fomos sempre promovendo

“O grande projecto futuro é a consolidação dos diversos serviços que foram nascendo, e sobretudo a consolidação da área da Nacionalidade, iniciada no fi nal de 2006.”

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essas modificações. A aposta no trabalho em rede, colabo-rando com algumas instituições que estavam com graves problemas de atrasos na resposta aos imigrantes no senti-do de recuperar esses atrasos, como aconteceu nos casos da IGT ou do SEF, foram algu-mas das grandes conquistas do CNAI enquanto institui-ção que trabalha em parceria. Recentemente, com a nova Lei da Nacionalidade e com a entrada em funcionamento da extensão da Conservatória dos Registos Centrais, que permi-te uma resposta aos pedidos de nacionalidade, criou-se aqui mais uma vertente muito importante de apoio às neces-sidades dos imigrantes.

DESDE O INÍCIO, FOI FEITA UMA APOSTA EM MEDIADORES LIGADOS ÀS COMUNIDADES IMIGRANTES... Essa foi uma das apostas mais conseguidas. Para além da

resposta integrada aos problemas dos cidadãos imigrantes, pretendíamos também uma Administração Pública mais próxima dos nossos clientes. E, obviamente, uma das espe-cificidades dos cidadãos imigrantes é o desconhecimento ou o conhecimento por vezes deficiente da nossa língua, para além de alguns desen-contros culturais. Portanto, a aposta em mediadores sócio-culturais vindos eles próprios das comunidades imigrantes, falando a mesma língua e tendo os mesmos códigos cul-turais, facilita muito, como a experiência o tem demonstra-do, a proximidade ao cliente e a resolução dos problemas. Por outro lado os mediadores sócio-culturais, eles próprios oriundos das comunidades imigrantes, sentem como nin-guém o problema de quem estão a servir. Assim, há aqui uma proximidade que faci-lita muito o atendimento e potencia o empenho no trabalho desenvolvido e no próprio projecto.

UMA OUTRA APOSTA IMPORTANTE FORAM OS SERVIÇOS DE ATENDIMENTO TELEFÓNICO...

A Linha SOS Imigrante surgiu um ano antes do CNAI, porque desde o início esta equipa sentiu que havia um grande défice de informação aos imigrantes. A Linha existe desde 2003,

estando actualmente dispo-nível num horário alargado, entre as 8h30 e as 24h00, para responder a todas as questões que surjam por parte de imi-grantes, instituições ou qual-quer outra pessoa, relaciona-das com imigração. Dispõe de uma equipa multicultural, com resposta em vários idio-mas. A avaliação deste servi-ço tem sido muito positiva e, num futuro próximo, o seu atendimento deverá ser alar-gado também ao chinês. Para além da Linha SOS Imigrante, existe ainda o Serviço de Tradução Telefónica, um serviço recente, criado em 2006 com o objectivo de ofe-

recer, sobretudo aos serviços públicos, nomeadamente hos-pitais, tribunais, escolas, etc., a possibilidade de, no caso

de se encontrarem perante um cidadão que não fala português, recorrerem de forma gratuita ao nosso

serviço de tradução. Trata-se de um serviço que coloca ime-diatamente os interlocutores em contacto com um tradutor especializado que, em conferência telefónica, procurará ajudar a resolver o problema. O serviço funciona sempre em

conferência telefónica e não através de traduções presen-ciais, embora estas possam ser organizadas se alguma insti-tuição o solicitar.

QUAIS SÃO OS PROJECTOS FUTUROS PARA O CNAI? O grande projecto futuro do CNAI é a consolidação dos projectos que foram nascendo ao longo destes anos e, sobre-tudo, a consolidação da área da Nacionalidade, iniciada no final de 2006, do Gabinete de Apoio ao Emprego, com a dina-mização das áreas do Emprego, do Empreendedorismo e tam-bém das novas 25 UNIVA’s espalhadas por todo o país, um projecto de grande enver-

gadura. Pretendemos continuar também a aposta na avalia-ção dos vários projectos em curso, uma avaliação externa e credível, para que possamos ir afinando os nossos critérios e práticas. Temos agora também a aposta no Cartão Imigrante, um projecto que nos é muito querido e que tem como objectivo desenvolver e intensificar a relação com os nossos clientes.

“A aposta em mediadores sócio-culturais das comunidades imigrantes foi uma das mais bem sucedidas.”

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# ENTREVISTA

O Jornal CNAI

Na linha do aprofundamento da relação de

proximidade que o CNAI pretende ter com

os seus clientes, surgiu a ideia de publicar

um jornal quinzenal, o “Jornal CNAI”, com in-

formação útil para o cidadão imigrante. Este

jornal, distribuído nos CNAI’s de Lisboa e do

Porto, pretende ser um veículo de informação

sobre as várias actividades e iniciativas que

vão acontecendo tanto no CNAI como nas

instituições que ali estão presentes, abor-

dando ainda outros temas de interesse para

os imigrantes.

Um site de Internet para o CNAI

O CNAI tem em preparação um site de Inter-

net que pretende fornecer informação útil e

prática aos cidadãos imigrantes, e sobretudo

permitir uma interacção directa do utilizador

com os vários gabinetes de especialidade do

Centro Nacional de Apoio ao Imigrante. Esta

iniciativa deverá facilitar a vida de quem ago-

ra se dirige ao CNAI para tratar de diversas

questões, já que, para muitos efeitos, as fun-

cionalidades disponíveis na Internet tornarão

desnecessária a presença física nos diversos

gabinetes. Este site de Internet deverá estar

disponível ao público em Maio.

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BI.ABRIL.07#48 18

# EDITORIAL# FÓRUM GULBENKIAN IMIGRAÇÃO

A Conferência Internacional “Imigração: Oportunidade ou Ameaça?”, o evento final do Fórum Gulbenkian Imigração, realizou-se nos dias 6 e 7 de Março. De entre os oradores, destacaram-se, Joaquim Chissano, Ex-Presidente da República de Moçambique e Presidente da Fundação Joaquim Chissano, Manuel Marín, Presidente do Congresso de Deputados de Espanha, Luiz Felipe Lampreia, Ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, e Laurent Cathala, Presidente da Câmara de Créteil. André Azoulay, conselheiro do Rei de Marrocos, abordou a questão do debate intercultural e inter-religioso, um dos maiores desafios no processo de inte-gração. Por outro lado, três escritores e

des nacionais e internacionais, que nos trazem a sua visão própria acerca da imigração. Esta visão pretende ser tanto na óptica dos países de origem como na dos de destino, com testemunhos de experiências de várias décadas. Em simultâneo com a conferência, foi inaugurada a exposição de fotogra-fia Homo Migratius e lançado o livro “Imigração: Oportunidade ou Ameaça? - Recomendações do Fórum Gulbenkian Imigração “, apresentado por António Vitorino e comentado por Jan Niessen (European Programme for Integration and Migration), Sukhvinder Stubbs, (Diversity, Migration and Integration Interest Group) e Firoz Ladak (Edmund Benjamin de Rothschild Foundations).

IMIGRAÇÃO

Oportunidade ou ameaça?

ensaístas, dois portugueses e um cabo-verdiano - Eduardo Lourenço, Jacinto Lucas Pires e Germano Almeida – pro-curaram dar uma visão das componen-tes culturais envolvidas neste encontro. Esta Conferência contou ainda com a presença de representantes do Conselho da Europa, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM).A conferência de encerramento do Fórum Gulbenkian Imigração preten-deu assim dar a palavra a personalida-

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Numa pequena entrevista António Vitorino, comissário do Fórum Gulbenkian Imigração, realiza o balanço desta iniciativa, destacando os seus elementos-chave e as ideias que se poderão projectar para o futuro.

QUE BALANÇO FAZ DO FÓRUM GULBENKIAN IMIGRAÇÃO?Este Fórum, a que a Gulbenkian quis emprestar não só o seu prestígio, mas também o simbolismo de o inserir nas comemorações do seu quinquagésimo aniversário, resultou na perspectiva de colocar a imigração sob um foco de visibilidade, com base num diálogo e num debate que seja sobretudo racio-nal, baseado em factos, não emotivo. Um diálogo e um debate que ajuda a desfazer mitos e a esclarecer realidades.

QUE ELEMENTOS GOSTARIA DE DESTACAR?Destacaria que há aqui uma força muito

FÓRUM GULBENKIAN IMIGRAÇÃO

O balanço de António Vitorino

grande por trás destas conclusões, no sentido de que uma imigração regular, uma imigração que garanta as condi-ções de integração, uma imigração que é mobilizada para juntar as suas forças para o desenvolvimento dos próprios países de origem, é uma oportunidade que se traduz num jogo de tripla soma positiva: soma positiva para os próprios imigrantes, soma positiva para os países de acolhimento, soma positiva para os países de origem. Claro está que se não formos eficientes, quer na regulação

dos fluxos, quer na criação das condi-ções para uma integração bem sucedida dos imigrantes, aquilo que é uma opor-tunidade pode transformar-se em foco de tensão e de conflito. E isso não inte-ressa, em primeira linha, aos próprios imigrantes, e não interessa à sociedade de acolhimento.

QUE PONTES ESTABELECE O FÓRUM PARA O FUTURO?Uma das ideias que sai do Fórum com grande força é a criação da Plataforma das Políticas de Integração e de Acolhimento dos Imigrantes, que se dirige à mobilização da sociedade civil, com um papel muito destacado para a responsabilidade das autar-quias locais na aplicação dos princí-pios básicos comuns de integração da União Europeia, que nos parecem ser os esteios fundamentais para uma política de integração bem sucedida.

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# FÓRUM GULBENKIAN IMIGRAÇÃO

Falando no evento final do Fórum Gulbenkian Imigração o primeiro-ministro, José Sócrates, realçou a importância da imigração, considerando que se trata de um pilar de apoio para a Europa Ocidental, indispensável para a sustenta-bilidade da economia. O chefe do Governo referiu que as migrações não são um fenómeno do nosso tempo, nem uma novidade histórica, afirmando ser desejável e possível regular os movimento migratórios. O primeiro-ministro destacou ainda que a imigração é um tema central da agen-da política europeia, numa altura em que Portugal se pre-para para assumir a presidência rotativa da UE na segunda metade do ano e defendeu uma perspectiva positiva e aber-ta em relação a esta questão.

JOSÉ SÓCRATES

A imigração como pilar

DA EUROPA

Paul de Guchteneire, um dos oradores convidados da sessão final do Fórum Gulbenkian Imigração,

é o chefe da Secção Internacional para as Migrações da UNESCO. Na sua intervenção, insistiu na utilidade da procura de consensos, em particular os relacionados com o respeito pelos direitos humanos dos migrantes

QUAL É O PAPEL DA UNESCO NAS QUESTÕES RELACIONADAS COM A IMIGRAÇÃO? O nosso papel principal é nas áreas da educação e da cultura. Por exemplo, na área da medicina, temos colocado em prática algumas convenções sobre o reconhecimento de qualificações de migrantes altamente especializados. Através do reconhecimento dos seus

PAUL DE GUCHTENEIRE, DA UNESCO

É fundamental debater as questões onde existem consensos

diplomas pretendemos evitar que enge-nheiros e médicos tenham de conduzir táxis ou realizar outros trabalhos menos especializados.

A SUA INTERVENÇÃO DEU UM GRANDE ÊNFASE À QUESTÃO DOS DIREITOS HUMANOS... Para as Nações Unidas é muito impor-tante colocar os direitos humanos no centro de todos os debates. Precisamos de chegar a consensos sobre alguns prin-cípios essenciais e temos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um instrumento essencial. É um facto que, por diversas razões, os governos nacio-nais frequentemente não conseguem chegar a acordo nas questões relacio-nadas com as migrações. Portanto, temos de procurar debater as questões sobre as quais todos concordam, e por isso os direitos humanos são um bom ponto de partida. Existem depois mui-tos outros problemas delicados, onde é difícil obter consensos. Um bom exem-plo é o problema da “fuga de cérebros”. Especialmente nos países pequenos, a migração de quadros altamente espe-

cializados, como médicos, mas também de enfermeiros/as, pode destruir o sis-tema de saúde.

A UNESCO TEM-SE EMPENHADO TAMBÉM NA PEDAGOGIA DO MULTICULTURALISMO...Há quem afirme que nos estamos a afastar da ideia de que uma sociedade multicultural é possível. Isso pode ler-se em alguns jornais e é defendido por diversos políticos populistas na Europa. Mas, analisando a investigação realiza-da sobre esta questão na área das ciên-cias sociais, pode constatar-se que o apoio à construção de sociedades mul-ticulturais, em países como a Holanda, Alemanha ou França, permanece ele-vado. É fundamental mostrar que a imi-gração é um factor positivo, com o qual os países europeus podem beneficiar. A imigração existe para ficar e é uma necessidade, tanto para as economias dos países de destino como para os de origem.

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ACIMEAlto Comissariado para a Imigração e Minorias

Étnicas

O ACIME encontra-se na dependência da Presidência do Conselho de Ministros, regulado pelo D.L.

nº251/2002, 22 de Novembro.

LisboaRua Álvaro Coutinho, nº 14-16 1150-025 Lisboa

Tel.: 218 106 100 Fax: 218 106 117

PortoPraça Carlos Alberto, 71 4050-157 Porto

Tel.: 222 046 1 10 Fax: 222 046 119

[email protected]

www.acime.gov.pt

www.oi.acime.gov.pt

BOLETIM INFORMATIVO

DirecçãoRui Marques

Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas

Coordenação da ediçãoElisa Luis

RedacçãoFrancisca Assis Teixeira

João van Zeller([email protected])

DesignJorge Vicente ([email protected])

Colaboraram nesta edição Marta Gonçalves Pereira

Catarina Reis OliveiraMaria Helena Torres

Fotografia da capaACIME

Pré-impressão e ImpressãoCPP - Consultores de Produção

Publicitária Lda

Tiragem6.000 Exemplares

Depósito legal23.456/99

# CULTURA

INTERNATIONAL MIGRATION, REMITTANCES, AND BRAIN DRAIN C o o r d e n a ç ã o : Cag la r Ozden e Maur ice Sch i f f E d i ç ã o : Wor ld Bank

O movimento de pessoas através de fronteiras internacionais tem um enorme impacto económico, social e cultural, tanto nos países de origem como de destino. O fl uxo de remessas duplicou na última década, ultrapassando a ajuda externa e constituindo a maior fon-te de capital estrangeiro para dezenas de países. Realizando uma investigação de raiz, “International Migration, Remittances, and Brain Drain” analisa os elementos condicionantes das migrações, o impacto das remessas e da imigração na pobreza, bem-estar e decisões de investimento e as consequências da “fuga de cére-bros” e do desperdício de talentos.

AS MIGRAÇÕES NUM MUNDO INTERLIGADO... A u t o r : Comissão Mund ia l sobre as Mig rações In te rnac iona is

“As migrações num mundo interligado: Novas linhas de acção” é o relatório fi nal da Comissão Mundial sobre as Migrações Inter-nacionais, que inclui uma análise sobre as principais questões na agenda internacional. O Relatório sublinha que as questões da imi-gração não podem ser abordadas apenas mediante políticas migra-tórias unilaterais, devendo basear-se em objectivos partilhados e numa visão comum. Alguns dos temas abordados são o papel dos imigrantes no mercado de trabalho mundial, o desenvolvimento, as migrações irregulares, os imigrantes na sociedade, os direitos humanos e a sustentabilidade social.

WWW.OECD.ORG

Página de Internet que refl ecte o trabalho que a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) desen-volve sobre os fl uxos migratórios que envolvem os seus Estados-membros, elaborando análises em profundidade sobre as políticas e os efeitos económicos e sociais das migrações. A página permite aceder às extensivas estatísticas da OCDE, bem como a docu-mentos de trabalho e publicações centradas no fenómeno migrató-rio. Destaca-se o International Migration Outlook, um relatório que fornece dados estatísticos exaustivos sobre os fl uxos migratórios e a população estrangeira na OCDE.

LA ERA DE LA MIGRACIÓN A u t o r e s : S. Cast les e M. J . Mi l l e r E d i ç ã o : Univers idade Autónoma de Zacatecas (Méx ico)

A obra “La Era de La Migración – Movimientos internacionales de población en el mundo moderno” tem sido considerada um texto essencial para todos os especialistas em migrações. O livro combina o conhecimento teórico com uma informação empírica ac-tualizada dos fl uxos migratórios internacionais e dos seus efeitos na sociedade, economia e políticas públicas, tanto nos países de origem como de destino. Inclui diversos aspectos dos movimentos humanos, destacando os efeitos sobre as estruturas do sistema internacional. Esta terceira edição, de 2004, analisa as relações das migrações com o Estado e a sua repercussão sobre a segu-rança e a soberania.

WWW.ILO.ORG

Página de Internet da Organização Internacional do Trabalho, um organismo especializado das Nações Unidas que elabora paradig-mas laborais internacionais, na forma de convenções e recomen-dações, estabelecendo os padrões mínimos de direitos dos traba-lhadores. Esta página disponibiliza informação sobre a gestão dos fl uxos migratórios de carácter laboral. Podem consultar-se bases de dados sobre migrações laborais internacionais, que permitem cruzar informações estatísticas de diferentes países tão diversas como trabalhadores estrangeiros, sectores de ocupação, género, nacionalidade, condições de trabalho ou políticas de emprego.

BI.ABRIL.07#48

PROGRAMA NÓSRTP 2: - DOMINGOS ÀS 10H00RTP 1 – 2A A 6A ÀS 6H05

Em Abril, o NÓS traz-lhe mais histórias... Em estúdio, estarão representantes da Associação Cova da Moura, para falarem das incitavas que têm vindo a desenvolver. Terá também destaque a comunidade cigana, com um programa inteiramente dedicado a esta temática. Não perca ainda as fortes histórias de vida dos imigrantes de todas as proveniências, que têm lutado pela inte-gração. Como sempre, pode contar com a gastronomia dos quatro cantos do mundo, as informações úteis e as sugestões da agenda multicultural.