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Í n d i c eÍ n d i c eÍ n d i c eÍ n d i c eÍ n d i c eEDITORIAL

"O Boêmio Voltou Novamente"

ARTIGOSCIÊNCIA PARA O AMANHÃA Gênese da Nova Lua

por Gerson Lodi RibeiroDRIVING MR. STERLING

por Roberto de Sousa CausoNOVA: UMA HISTÓRIA DEPOLÊMICAS E REALIZAÇÕES

por Marcelo Simão Branco

O QUE ROLA PELO FANDOMFC EM NOTÍCIAS

por Adriana SimonDiário do FandomRETROSPECTIVA 1997

por Roberto de Sousa CausoLISTSERVER: UM POUCO DO QUE ROLA NA INTERNET

compilado por Dario Alberto de Andrade Filho

FICÇÃONATAL CÓSMICO

por Dora Incontri

ILUSTRAÇÕESRoberto SchimaPaulo Marcos G. BubolKILJosé Carlos NevesFernando Moretti

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02, 2002, 2002, 2002, 2002, 20

Somnium é a publicação oficial doClube de Leitores de Ficção Científi-ca - CLFC. Aceitam-se colaborações,que ficam sujeitas à apreciação da res-pectiva editoria. Toda colaboraçãorelativa ao Somnium deve ser envia-da em disquete IBM PC no programaWord 6.0 ou menor. Os trabalhos pu-blicados não fazem jus a qualquer re-muneração e os direitos autorais per-manecem de propriedade dos autores.Originais, publicados ou não, não se-rão devolvidos. Os textos assinadosnão refletem necessariamente a opi-nião da editoria.O Clube de Leitores de Ficção Cien-tífica foi fundado em São Paulo, aos14 de dezembro de 1985, tendo sidoregistrado no 3o Cartório de RegistroCivil das Pessoas Jurídicas sob núme-ro 79.416/86. Sua diretoria para obiênio 1998/99 está composta pelossócios Humberto Firmiani (Presiden-te), Marcello Simão Branco (Secretá-rio Executivo) e Cesar R. T. Silva (Te-soureiro).

Correspondência:CLFC - Clube de Leitores de FicçãoCientífica: Caixa Postal 2105 - SãoPaulo-SP - 01060-970 - Brasil.e-mail [email protected].

número 66dezembro de 1997

Editorias:Social e NotíciasAdriana Simon;

Diário do FandomRoberto de Sousa Causo;

CiênciaGerson Lodi-Ribeiro;

Artigos e ContosMarcello Simão Branco;

ListserverDario Alberto de Andrade Filho;

GeralCesar R. T. Silva.

Produção Gráfica eGerência ComercialHumberto Fimiani

Arte, Diagramação e Revisão:Cesar R.T. Silva

Tiragem: 100 exemplares

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Editorial: "O boêmio voltou"O boêmio voltou"O boêmio voltou"O boêmio voltou"O boêmio voltounovamente"novamente"novamente"novamente"novamente"

O Somnium está de volta. Depois de exato umano, o Clube dos Leitores de Ficcão Científica poderetomar a publicação deste que é o mais importanteserviço do Clube para o sócio. E é exatamente porisso que o Somnium precisou mudar, por força de umrealismo doloroso que vinha minando o CLFC há anos,sem que nenhum de seus dirigentes tivesse coragemde encará-lo, até agora.

O que ocorria é que oSomnium tinha um custo muitomaior que as arrecadações doClube. Poucos eram os sóciosque recolhiam suas mensalida-des, e os que o faziam não erambastantes para subsidiar apublicacão e ainda proporcio-nar os demais serviços que me-reciam. Isso imobilizou o Clu-be por muito tempo, ao pontode quase inviabilizá-lo. Era pre-ciso coragem para assumir queo CLFC não podia existir ape-nas para sustentar a "revista"Somnium.

Porisso, caro sócio, agora oSomnium é seu. Sua mensali-dade lhe dará direito a seusexemplares do Somnium que,a princípio, diminuiu suas pági-nas, simplificou seu acabamen-to e definiu a perodicidade qua-tro edições para 1998, o queserá rigorosamente cumpridopelo seu corpo editorial. Dessemodo, o Somnium não serámais um fardo para o Clube,mas um veículo eficiente,confiável, ao serviço do CLFCe de seus sócios efetivamenteativos.

E na medida que essas pro-vidências recuperarem a alegria

e descontração que o Somnium possuia em suas ori-gens, motivando o leitor a participar e os demais sóci-os não-ativos a retornarem ao Clube, poderá retomarseu talento para revista, sem que isso ponha em riscoa existência do Clube. O Somnium refletirá o corposocial do CLFC. Participe, colabore. Seu espaço agoraé garantido.

O Editor

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FC em NotíciasFC em NotíciasFC em NotíciasFC em NotíciasFC em Notícias

Cinema- Os estúdios Hollywood estão

gastando quantias astronômicas nacompra de romances que serãotransformados em filmes, um inves-timento arriscado que traz a tona odesejo por histórias inovadoras.

É o caso de The Second Angel,romance ainda inédito de Philip Kerrque foi adquirido pela Warner Brotherspor US$ 2,5 milhões. Trata-se de umasaga futurista sobre uma gripe fatal ede desenvolvimento lento quecontamina a maior parte da populaçãodo planeta.

Foi o terceiro grande negócioassinado por Kerr nos dois últimosanos. A Disney pagou US$ 2 milhõespor seu livro Esau, um thriller sobre aevolução e a busca do AbominávelHomem das Neves. Denise Di Novi,produtora da WB responsável pordesenvolver adaptações de várioslivros, afirma que “um bom número deescritores espertos já faz seus livrosem ritmo de filme, produzindoexatamente aquilo que o cinemaprecisa”.

- Até o futuro se repete: Rollerball,o filme de FC de 1975, que misturaesporte, suspense e pessimismo sócio-político, vai ser refeito e terá naprodução Norman Jewison, diretor daversão original do filme.

- Muitos filmes tiveram cenas e atéseqüências retiradas devido a diversosmotivos, tais como: decisão doprodutor, por economia, ou parareduzir a duração. É o caso de Alien(conversas sobre a filha de Ripley), OSegredo do Abismo (cena domaremoto), O Exterminador do Futuro(cena em que a personagem de LindaHamilton conserta a cabeça de ArnoldSchwarzenegger). Estas cenas servemde aperitivo especial no relançamentodos filmes.

É o caso do alternativo FleshGordon, (versão erótica do heróiespacial criado por Alex Raymond) que

teve sua cópia remasterizada, ganhousom estéreo e trouxe de voltas ascenas cortadas na época de seulançamento em 1972. As cenasconsideradas pornográficas são maisleves que as exibidas habitualmentena televisão.

- Foi lançada recentemente naInglaterra a nova versão de ContatosImediatos do Terceiro Grau (exibidaanteriormente nos anos 80), que apesarde ter 3 minutos a menos que o original,traz cenas inéditas do interior da navealienígena.

- O filme Mortal Kombat:Annihilation estreou em novembronos EUA, conquistando de cara aprimeira posição na parada. A TopTape colocou a venda um kit de 25peças que inclui uma fita de vídeo coma versão em desenho animado deMortal Kombat, a segunda parte datrilha sonora do primeiro filme MoreKombat e o CD Club Sega que traz ostemas dos principais videogames dacasa de Sonic em versões Techno eJungle.

Para ganhar estes 3 itens, o fã teráapenas que responder à seguintepergunta: “O videogame MortalKombat originalmente é americano oujaponês?” Se quiser pode falar outrascoisas a respeito. Promo RF KitKombat - R. Irineu Marinho, 35 CidadeNova CEP: 20233-900 Cidade Nova -Rio de Janeiro.

- Está fazendo o circuito dosfestivais independentes o curtacanadense alt.rec.death, que mesclaespiritismo e tecnologia. Conta ahistória de Larry, que perde o amigoChris e se tranca em casa, tendo comoúnico contato com o mundo aDominatrix Cibernética “dk”, comquem se comunica via rede. No dia dasbruxas, “dk” se abre: manteve contatocom Larry para que ele assistisse a seusuicídio pela Internet, e propõe trocarsua alma pela de Chris. A parte II jáestá sendo planejada, com sujestõesvia Internet e fax. [http://

www.blokland.com/index.html]

Starship Troopers- O roteirista de Starship Troopers,

Ed Neumeier, declarou em entrevistapara Carlos Angelo que está nosplanos da equipe a produção de umStarship Troopers 2, desta vez sendofiel ao conceito de trajes propulsadosdo livro. Também contou que elegostaria de fazer novas adaptações deobras de Heinlein, em especial RedPlanet, publicado pela editora EuropaAmérica como O Planeta Vermelho.

- A linha Starship Troopers dequadrinhos da DarkHorse se esgotoutão logo chegou às lojas e agora sópode ser comprada como raridade.

- Serão lançados durante o ano de1998 pela Spectrum Holobyte, nadamenos que 4 CD-ROMs com jogosinterativos adaptados do filmeStarship Troopers.

- A Galoob Toys já está comer-cializando no mercado americano umalinha de miniaturas dos bugs, dasnaves e dos equipamentos de combatedo filme Starship Troopers.

VídeoLançamentos

- Millennium - Piloto/ Gehenna(EUA, 1997, 90 min., Abril, Direção deChris Carter/ David Nutter)- Millennium - Lamentação(EUA, 1997, 87 min., Abril, Direção deWinrich Kolbe e Thomas J. Wright)

Chega às locadoras os episódios emvídeo de Millennium. Do mesmocriador de Arquivo X, esta série lidacom problemas mais terrenos.

O herói é o ator Lance Henriksen,que interpreta Frank Black, um ex-agente do FBI que entra para aorganização Millennium por suacapacidade intuitiva de olhar dentrodas mentes dos criminosos e descobriro que os leva a matar.- Batman e Robin(EUA, 1997, 125 min., Warner)

por Adriana Simon

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Quarta aventura do Homen-morcego, é o segundo filme dirigidopor Joel Schumacher. Traz o sexsymbol George Clooney no papelprincipal, em um cenário menossombrio que em Cavaleiro das Trevas.Aparece a Batgirl, interpretada porAlicia Silverstone. O destaque émesmo para os vilões: Mr. Freeze(Arnold Schwarzenegger) e Hera (UmaThurman), entre outros.

Venda (Sell-Thru)- Trilogia Guerra nas Estrelas -Edição Especial(Abril - 0800-120199, R$ 64,00)

A Edição Especial com acréscimo denovas cenas e novos recursos, já estádisponível. As fitas podem seradquiridas em conjunto ou avulsas. Aedição também traz o anúncio da nova(pré) trilogia. Os novos episódiosdevem se chamar "O Equilíbrio daForça" (The Balance of the Force), “AAscensão de Darth Vader” (The Riseof Darth Vader) e “A Batalha (ouQueda) da República” (Battle for theRepublic)- Cyborg - O Dragão do Futuro(Cyborg, Paris Filmes, Distribuição:América Vídeo Filmes)

Relançamento. Jean-Claude VanDamme numa produção ao estilo MadMax. O filme mostra um planetadestruído, onde canibalismo é atocomum. O belga interpreta Gibson,lutador de artes marciais que tentarámudar o ruma das coisas com a ajudade Pearl, uma jovem Cyborg deestrutura biomecânica e habilidadesespeciais.

Televisão- O filme Duna (Dune), de David

Lynch, baseado no livro homônimo deFrank Herbert, virou uma mini-série de6 horas de duração numa co-produçãoda Sci-Fi Channel e BBC.

- Assim como Perdidos no Espaço,agora a Disney também está com umprojeto baseado num seriado antigo:Meu Amigo Marciano, que deverá serdirigido por Donald Petrie. ChristopherLloyd interpretará o alienígena antesfeito por Ray Walston.

Arquivo X- Para dar notas nos episódios da

série pela acesse: [www.amaroq.com/

x-files].- Está prevista para maio a estréia da

versão para cinema, com o capítuloconclusivo do ano 5 da TV.

- Gillian Anderson, a agente DanaScully participou da gravação do clipe“Extremis” do projeto inglês Hal (nomeinspirado no famoso robô de 2001. Elanão canta na música, só geme. Ela nãopretende, por hora, dar continuidadeà música. Se diz ser o oposto dapersonagem que é séria e reservada, econfessa que nunca foi muito atraídapor conceitos futuristas outecnológicos. Decepcionados?

GamesLançamentos baseados em filmes- Infelizmente alguns dos games que

trazem o nome dos filmes de FC, nãofazem justiça a estas super-produções.

É o caso de Independence Day,lançado recentemente para aparelhotipo Saturno. É um jogo de simulaçãode vôo e combate aéreo.

No jogo, apesar de pilotar 10 aviõesequipados e uma nave alienígena, oscontroles não respondem direito. Amira se confunde com os gráficos dojogo, que são fragmentados eimpedem o jogador de saber no queestão atirando. Nem as cenasdigitalizadas do filme, que aparecemna introdução e nas fases do jogo,escapam.

- Em Lost World: Jurassic Park, aparte gráfica também não é lá grandecoisa. Além disso, o jogo é pancadariado início ao fim.

Na primeira etapa do jogo, que ébaseado no filme durante 9 fases, ojogador controla o compsognathus,um dinossauro pequenino que levauma surra de animais maiores como otiranossauro rex e o velociraptor. Nanona fase o objetivo é escalar umaparede de pedra, desviando de tirosde uma arma de fogo disparada porum humano. Na segunda etapa, ojogador fica no lugar do caçadorhumano, apanha dos dinossauros, sedefendendo apenas com algumasarmas fracas e com um arpão comgancho, que usa para se dependurarnas paredes.

Ao todo são 31 fases, divididas em5 etapas, nas quais você controla

outras feras e até uma cientista. Suamissão é encontrar um código de DNAem cada fase.

- O presente aos gamemaníacos éStarfleet Academy. A Interplay,fabricante de jogos americana, criouum simulador de vôo definitivo paraquem sempre sonhou em pilotar a USSEnterprise.

São 5 CDs disponíveis com váriasmissões, que rodam em Pentium. Osgráficos são impressionantes, comcenários e espaçonaves baseados natecnologia de polígnos 3-D. O jogadorfaz o papel de um cadete da StarfleetAcademy, localizada em São Francisco.

A ação começa com o discurso deabertura das aulas ministrado empessoa pelo Capitão Kirk (WilliamShatner), pelo Capitão Sulu (GeorgeTakei) e pelo Comandante Chekov(Walter Koenig). Para cada missão háum pequeno resumo, mas a maioria dasdiretrizes são fornecidas durante ovôo.

Outro atrativo é a possibilidade dese jogar contra outras pessoas, atravésde rede ou de modem. São até 4espaçonaves da Federação enfren-tando 30 diferentes tipos de navescomandadas por aliens.

Configuração mínima: Pentium 75 ousimilar, 16 MB de memória RAM, 180MB disponíveis no disco rígido e CD-ROM 4x. Se você quiser fazer odownload da demo, a página daInterplay é www. interplay.com.

- E os fãs de Guerra nas Estrelastambém podem ficar contentes: aBrasoft traz Jedi Knight - Dark Forces2, lançado recentemente pelaLucasArts, de George Lucas.

O jogo tem alta qualidade gráficacaracterística dos produtos da Lucas,e a mesma trilha sonora dos filmes. Ospersonagens, no entanto, sãodiferentes. O jogador pode, porexemplo, assumir o papel de KyleKatarn, um aprendiz de Jedi que seinfiltra entre os cavaleiros do Império.Pode contar com armas, tais como ofamoso sabre de luz, além demetralhadora, pistola e granada. Nodecorrer do game o jogador deve tomardecisões que poderão transformá-loem cavaleiro do Lado Negro oufortalecer sua participação na Aliança

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Rebelde. Em ambos os casos, a lutafinal se dá contra Jerec, o poderosoJedi da escuridão.

Nas lutas, além das armas o jogadorpoderá também usar os poderes daForça, como telecinese, ver através dasparedes e curar ferimentos. Durante ojogo, os cenários e inimigos podem servistos em terceira ou em primeirapessoa.

O jogo roda em Pentium 133 MHzcom Windows 95 e suporta a placaaceleradora gráfica Monster 3D FX,que dá mais rapidez e resolução àsimagens. Pode ser disputado em redepor até 8 pessoas e custa R$ 67,00.Informações: (011) 285-5344

LivrosLançamentos

- Toward the End of TimeAlfred Knopf, 334 págs., US$ 25.00

Escrito pelo americano John Updike,o livro de ficção científica se passa noséculo 21, quando a Terra foi devastadapor uma guerra entre China e EstadosUnidos.- O Homem Simbiótico - Perspectivaspara o Terceiro MilênioEditora Vozes, 446 págs., R$ 30,00

O livro de Joël de Rosnay (traduzidopor Guilherme J. de F. Teixeira)descreve a origem de “um macro-organismo planetário constituído peloconjunto dos homens e máquinas,organismos, redes, nações”, ocibionte, com o qual o homem dofuturo como diz o título, estará emperfeita simbiose.- TimequakePutnam, US$ 23.95

Romance de Kurt Vonnegut Jr.Mistura de FC e fantasia metida aromance político, com os melhorestrechos e idéias que tinha para umromance. Mexe com a estrutura dotempo, fazendo com que o calendárioretroceda de 13 de fevereiro de 2001para 17 de fevereiro de 1991. Apesarde certo idealismo romântico do autormisturado a seu conhecido cinismo,isto não é oportunidade de reparar omal feito. Todo mundo revive a décadaexatamente como na primeira vez.Vonnegut é célebre por sua habilidadeem navegar pelo tempo. EmSlaughterhouse Five (1969), seu maior

publicado na coleção, o primeiro foi AEspinha Dorsal da Memória, prêmioCaminho de FC)

Nº 179 - Outras Histórias... - Gerson-Lodi Ribeiro

Nº 181 - Artiauri - Ana GodinhoVários outros autores já foram

publicados por esta coleção, atravésda antologia luso-brasileira OAtlântico tem Duas Margens, entreeles Roberto Causo e Finísia Fideli.

Lançamentos deNão-Ficção

- The Making of Starship TroopersUS$ 15,00

Escrito por Paul M. Sammom, o livrotraz fotos coloridas do filme, entrevistacom a equipe técnica e os atores,esquemas, rascunhos e até ostoryboard do filme. Também incluidescrições dos métodos usados paracriar por computadores os incríveisbugs.- Malditos - A Vida e o Cinema deJosé Mojica Marins, o Zé do Caixão

Biografia escrita por André Barcinskie Ivan Finotti, com lançamentoprevisto para dia 13 de março, sexta-feira, aniversário de 62 anos docineasta. O livro conta sobre a extremafalta de dinheiro, problemas com acensura e alcoolismo, algumas dasdificuldades vividas peloprotagonista.- Aeroportos, os Novos Prédios MaisInteressantes do Século XX

Catálogo de exposição fotográficahomônima, que conta com texto de J.G. Ballard (autor de Crash), quedescreve os aeroportos comosubúrbios de metrópoles inexistentese as verdadeiras cidades do séculoXXI.

Quadrinhos- A Fábrica de Quadrinhos (em São

Paulo) organiza palestras e workshopsque ensinam segredos da criação degibis. Maiores informações pelotelefone (011)62-0760.

- Depois de Hitman, com aventurasde um assassino de aluguelespecializado em matar super-heróis,a Editora Magnum lança agora BlackForce que traz aventuras de 2 heróisnegros (independentes), Ícone e

sucesso, e considerado sua obra prima,a estrutura do livro vai e volta no tempoe no espaço, apresentando aserenidade da vida em outro planeta(ou no céu), refletindo as conse-qüências da II Guerra Mundial.- Efeitos Secundários(Side Effects)

Lançada pela Simetria (AssociaçãoPortuguesa de FC&F) a segundaantologia bilíngüe de FC,correspondente aos SegundosEncontros de Cascais. Além dapresença dos talentos lusitanos,aparecem ali o famoso conto de US$100.00 do Joe Haldeman (umaautêntica pechincha, em se tratandodesse autor!) e uma noveleta dehistória natural alternativa (segundoo autor!) de Gerson Lodi-Ribeiro(CLFC 090).- O Afilhado de GaboEditora Relume-Dumará, 240 págs., R$19,00

O livro de Armando Gabena conta atrajetória do vampiro Otto H. F.,baseado em Renfield, o companheirode Drácula. Otto, um vampiro muitomoderno que prefere sugar o sanguede animais ao invés de humanos, éanalisado segundo as teorias de Freud.- Outras Histórias...Caminho Coleção FC nº 179, 1997, 251págs.

Coletânea de contos de FC e históriaalternativa de Gerson Lodi-Ribeiro(CLFC 090). Ao todo são 12 contos,sendo 2 de histórias de guerra, 2 decivilizações mesozóicas, 2 históriasalternativas, 2 histórias de amor, 2 defuturo próximo e 2 de futuro distante,a maioria publicada anteriormente emfanzines brasi-leiros, principalmenteSomnium e Megalon. Gerson é um dosautores de participação mais ativa nofandom, sendo sua especialidadehistórias alternativas.- ArtiauriCaminho Coleção FC nº 181, 1997, 182págs.Romance de Ana Godinho.

Vale aqui observar um fato inéditona Coleção Caminho, são 3 númerosseguidos com obras de autores delíngua portuguesa:

Nº 177 - Mundo Fantasmo - BráulioTavares (segundo livro do autor

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Hardware. Eles são personagens douniverso da Milestone, que desde 1993são distribuídos nos EUA pela giganteDC Comics. R$ 2,50.

Século XXI- O Jornal Verde, publicação

gratuita sem fins lucrativos, dedicadaà ecologia e questões ambientais,completou 10 anos em setembro desteano, para comemorar foi escolhido otema Século XXI.

O tema despertou interesse e o jornalrecebeu muitas matérias. Entre elas“Algumas Expectativas para o ano2050” do Prof. Paulo Nogueira Netoda Universidade de São Paulo que foipublicada em outubro, no número 74,e trata dos recursos naturaisdisponíveis e alternativas para ofornecimento de energia.

Na edição de novembro, número 75,foi publicado “Contatos Extrater-restres?” de Ulisses Capozoli, quediscorre sobre a famosa pergunta: “Naimensidão das galáxias seremos osúnicos seres com vida, seja esta igualou não à nossa?”. Você também poderáoferecer sua visão do século XXI, quese iniciará dentro de 3 anos, já que apassagem do século se dará na noitede 31 de dezembro de 2000.

Serão considerados somente ostextos de nível elevado, que deverãoser aprovados pelo Conselho deRedação. Originais datilografados emespaço duplo, sem erros de redação,máximo 30 linhas. O Jornal não assumeo compromisso de publicar nem dedevolver esses originais. Caixa Postal61.021 CEP: 05071-970 São Paulo - SP.

Base EstelarCampinas

A Base Estelar Campinas é formadapor um grupo de amigos que sereúnem a cerca de 3 anos, inicialmentecom o objetivo de assistir filmes deJornada nas Estrelas, conseguidascom grande dificuldade. Alguns dosassuntos abordados nos encontrossão astronomia, cinema, música eoutros.

Em outubro o clube realizou a suaprimeira convenção que reuniu cercade 200 trekkers, que a partir de agorafarão parte de um grupo que tem por

objetivo a divulgação de FC e ciênciasutilizando o universo Star Trek comoponto de partida. O grupo tambémpretende lançar um fanzine e prometeuma convenção de Arquivo X noprimeiro semestre no próximo ano.

Maiores informações: AlexandreFranchini - Av. Dr.Heitor Penteado, 654- CEP: 13075-460 - Campinas - Tel.:(019)243-9780 ou Marizilda Massucato- R. Cônego Oscar Sampaio, 193 - CEP:13026-380 - Campinas - Tel.: (019)233-3571 [http://www.mpc.com.br/users/b/base.campinas]

Perry RhodanA volta da série ao Brasil

Recado de Alexandre Santos,presidente do Perry Rhodan Fã Clubedo Brasil (PRFCB);

“A série Perry Rhodan poderá estarretornando às bancas brasileiras,dependendo apenas de uma coisa:você.

Os fãs da série deverão escreverpara César Augusto F. Maciel (R. FelipeDrummond, 91 - 401/A - BeloHorizonte-MG - CEP: 30380-310 - E-mail: [email protected]),dizendo estarem prontos para esteretorno. Esta carta específica doassunto, será anexada a todas asoutras e mostrada a editorainteressada. Esta carta deverá conteros dados completos do leitor-fã, quese compromete a assinar a série, tãologo ela volte. Necessariamente deveafirmar que irá assinar a série.

Portanto, fã da série, o que estamospedindo, é um compromisso sério, jáque do número inicial de assinantes,depende a volta da série Perry Rhodanàs bancas. E logo.

Escreva, participe!”PRFCB:Rua André Marques, 209 - 09 - SantaMaria - RS CEP: 97010-041,E-mail:[email protected]

Tecnologia- No encontro

promovido pelo MediaLab, um dosm a i o r e slaboratóriosdo legendárioM I T

(Massachusetts Institute ofTechnology), Leonard Nimoy (Spock)fez graça dizendo ser o representantede um certo VIP (Instituto deTecnologia de Vulcano) para anunciarNicolas Negroponte, presidente daMedia Lab.

Andrew Allen, o astronautaamericano, mostra como oscomputadores “vestíveis” podemauxiliar no treinamento e napermanência do homem no espaço. Os“wearable” computers são apenas umadas muitas inovações que estão sendogestadas no MIT. [wearables.www.media.mit.edu/projects/wearables]

- No seriado Red Dwarf, umcomputador chamado Holly aparececomo uma cabeça falante na tela, deondese comunica com a tripulaçãoatravés da fala e de expressões faciaispara ajudá-los em suas aventurasespaciais. Mais uma vez, a realidadese aproxima da ficção.

Os laboratórios de pesquisa edesenvolvimento da British Telecom(BT), trabalham com cabeças falanteshá 10 anos que hoje já conseguemadotar os traços faciais e a voz dequalquer pessoa. Por meio de umteclado, o usuário registra texto que éconvertido em palavras faladas pelosoftware Laureate, com diferentessotaques possíveis.

AgradecimentosGostaria de agradecer à colaboração

dos sócios Roberto Nascimento(CLFC 001), Gerson Lodi-Ribeiro(CLFC 090) e Carlos Angelo (CLFC232). Participe você também enviandosua colaboração.

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Para bem e para mal, o ímpeto daexploração planetária perdeu boaparte do gás com o término da corridaespacial. Ainda enviamos sondasnão-tripuladas para explorar outrosmundos do nosso sistema solar.Contudo, os sucessivos cortesorçamentários das várias agênciasespaciais e o desenvolvimento dassondas robotizadas inteligentes,parecem ter colocado um ponto finalnaquela brevíssima fase das viagensinterplanetárias tripuladas. O sonhoda colonização dos outros planetas,acalentado por três ou quatrogerações de fãs de ficção científica,talvez esteja definitivamente relegadoao passado romântico, cada vez maisdistante das realidades do terceiromilênio. Esperamos que estatendência sombria se reverta naspróximas décadas, quem sabe, comoresultado da aplicação de investi-mentos privados.

Mesmo sem mencionar o desen-volvimento tecnológico proporcio-nado pela resposta ao desafio de secolocar seres humanos na Lua, asmissões Apollo deixaram à huma-nidade um legado científico valioso.

Em primeiro lugar, a selenologiatransformou-se numa ciênciaaplicada. A análise dos dados emateriais coletados in loco alteroupor completo os conceitos até entãoexistentes sobre a idade, composiçãoe origem da Lua.

Não é necessário pensar a Lua como senso de observação de umastrônomo profissional para notar oquão peculiar é o relacionamento daTerra com o seu satélite natural. Saltaaos olhos que a Lua é grande demaispara a Terra. Talvez seja o único

exemplo no sistema solar (1) de umsatélite que possui um terço do raio emais de um centésimo da massa doplaneta orbitado. Com cerca de doisterços do diâmetro de Mercúrio, a Luaé um mundo em si, um planeta pordireito próprio, a ponto de muitoastrofísicos se referirem ao conjuntoda Terra e seu satélite como sistemaplanetário Terra-Lua.

Essa desproporção relativa háséculos gera dúvidas e polêmicasquanto à origem da Lua. Há trêsteorias clássicas principais, cada umadelas exibindo suas virtudes e pontosfracos.

A primeira teoria clássica é aHipótese da Captura. Em sua formaoriginal, essa teoria afirmava que aTerra teria capturado a Lua tal comoela é hoje. Embora a captura gravi-tacional seja possível em tese, não seimagina que seja um fenômenoastrofísico dos mais freqüentes. Umcorpo com as dimensões da Lua quese aproximasse da Terra colidiria como nosso planeta ou, o que é maisprovável, receberia um impulsogravitacional capaz de alterar suaórbita, afastando-o em definitivo davizinhança terrestre. A probabilidadede que os parâmetros orbitais da Terrae da Lua tenham se ajustado tãoperfeitamente, a ponto de possibilitara captura, é diminuta a ponto dagrande maioria dos astrofísicos terrejeitado a hipótese.

As missões Apollo ajudaram asepultar a Hipótese da Captura. Asamostras trazidas pelos astronautasconfirmaram que as proporções dosisótopos de oxigênio (2) da Terra e daLua são idênticas, sugerindo umparentesco próximo entre os dois

mundos. Se a Lua houvesse seformado num outro ponto qualquerdo Sistema Solar, teria muito prova-velmente uma proporção de oxigênioisotópico diferente da terrestre.

A segunda teoria clássica da gêneselunar é a Hipótese da Fissão. Essateoria possui antecedentes famosos.Foi postulada por George Darwin, osegundo dos dez filhos de CharlesDarwin. De acordo com essa hipótese,a Terra estaria girando extremamenterápido na época em que o seu núcleometálico estava se solidificando. Porefeito da aceleração centrífuga, aregião equatorial começou a sofrerum abaulamento, até que uma grandemassa de magma se desprendeu daTerra, solidificando-se no vácuointerplanetário e se transformando naLua. Essa concepção se ajustaperfeitamente a uma característicafundamental do nosso satélite,deduzida pelos astrônomos há maisde cem anos. Baseados nos elementosorbitais e nas dimensões da Lua, osestudiosos deduziram que ela deveriaser menos densa que a Terra. Estadensidade reduzida significa que aLua deve possuir um núcleo metálicodiminuto ou inexistente. A Hipóteseda Fissão explicaria a ausência donúcleo: uma Lua oriunda de umprocesso de fissão planetária teriasido constituída essencialmente pelomanto rochoso da Terra (a camadaexistente entre a litosfera, ou crostaterrestre, e o núcleo).

Contudo, quando examinamos aHipótese da Fissão na ponta do lápis(ou, o seu equivalente moderno — asimulação por computador) desco-brimos que, para ejetar a Lua, arotação da Terra primitiva deveria ser

Ciência para o Amanhã A Gênese da LuaA Gênese da LuaA Gênese da LuaA Gênese da LuaA Gênese da Luapor Gerson Lodi-Ribeiro

Há pouco mais de vinte e oito anos, em 20 de julho de 1969, os seres humanos imprimirampela primeira vez suas pegadas num planeta alienígena.

Foi uma época de sonhos: a corrida espacial estava a pleno vapor e os prognósticosmais conservadores da NASA previam as missões tripuladas a Marte

e o início da colonização da própria Lua para a década de 1980.

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tal que um dia duraria apenas 2 horase 30 minutos! Uma velocidadeincompatível com qualquer modelode formação planetária aplicável àTerra. Em realidade, os modelosbaseados em mecanismos de acreção(3) prevêem que o nosso mundodeveria possuir um dia bem maislongo do que as 23 horas e 56 minutosvigentes...

Podemos incluir no modeloeventos plausíveis capazes deaumentar o momento angular (e,conseqüentemente, a velocidade derotação) da Terra primitiva, como porexemplo impactos com planetesimais(4) de vários quilômetros de diâmetro,mas isto não vai nos adiantar muito.Em termos estatísticos, as simulaçõesindicaram que para cada impacto queacelerasse a rotação da Terra nosentido horário, haveria um outroimpacto para acelerá-la no sentidooposto.

Além disso, mesmo que houvesseum mecanismo capaz de justificar atransferência dessa quantidadeimensa de momento angular à Terra,os proponentes da Hipótese da Fissãoainda teriam que explicar o que foifeito deste excesso de momento.Porque, como a energia, o momentoangular não pode ser criado, masapenas transferido de um sistemapara outro. E os nossos cálculosindicam que no presente o sistemaTerra-Lua não possui o momentoangular necessário para desencadearo processo de fissão planetária.

O programa Apollo forneceu umbom teste para a Hipótese da Fissão.Se a Lua se separou da maneiraproposta, sua composição químicadeveria ser idêntica à dos materiaisexistentes próximos à superfície daTerra, nas regiões da litosfera e domanto rochoso.

Conforme mencionado, a Lua e aTerra possuem as mesmas proporçõesisotópicas de oxigênio, o que indicaque os dois corpos estão relacionadosde algum modo. Mas as similaridadesdas composições químicas das duassuperfícies planetárias termina aí. Aproporção entre as percentagens deóxido de magnésio e óxido de ferro

presente nas rochas lunares é superiorem 10% à proporção existente nomanto e na crosta terrestres. Asconcentrações de alumínio, cálcio,tório e elementos da família doslantanídeos (terras-raras) na su-perfície lunar são cerca de 50%superiores às da litosfera terrestre.Em contrapartida, elementos voláteiscomo o sódio, o potássio e o bismutoestão praticamente ausentes dasamostras lunares.

Corroborando o resultado daanálise química das rochas trazidaspara a Terra, tanto os dados coletadospor uma rede de sismógrafosinstalada em nosso satélite pelosastronautas quanto os estudosespectroscópicos realizados pelasmissões Apollo 15 e 16, permitemafirmar que a Terra e a Lua possuemcomposições químicas diferentes.

A terceira teoria clássica da gêneselunar é a Hipótese do Planeta Duplo,ou Teoria da Formação Simultânea.A Terra e a Lua teriam se formadosimultaneamente a partir da mesmanuvem de gás e poeira estelar. Omaterial que compõe a Lua proviria,portanto, de um anel de gás e poeiraque orbitaria a proto-Terra. À medidaque o tamanho da Terra aumentavacom o processo de acreção, o mesmose dava com a proto-Lua, existentedentro do anel de poeira.

O ponto fraco da Hipótese doPlaneta Duplo é a incapacidade deexplicar porque a Lua possui umnúcleo metálico tão diminuto quandocomparado ao da Terra.

Nenhuma dessas três hipóteses —Captura, Fissão e FormaçãoSimultânea — é capaz de responderde modo satisfatório porque a rotaçãoda Terra é consideravelmente maisrápida do que a prevista pelosmodelos simples de acreção.

Desbancadas as teorias clássicas,falemos da Hipótese do GrandeImpacto, a teoria que se tornouvigente após a análise dos dadoscoletados ao longo do programaApollo, e que surgiu de um consensode selenologistas insatisfeitos com asinconsistências das três hipótesesesboçadas acima.

A nova hipótese afirma que a Luateria sido formada em resultado doimpacto de um corpo de dimensõesplanetárias com a proto-Terra. Porter se revelado capaz de explicar deforma simples todas as observaçõesque embaraçavam as teorias ante-riores, a Hipótese do Grande Impactofoi aclamada de modo quase unânimepelos selenologistas reunidos numaconferência no Havaí em 1984.

De acordo com a HGI, a Lua nãodispõe de um núcleo metálico deníquel-ferro porque, após o impacto,o núcleo do bólido planetário foiincorporado pela Terra, ao passo quea Lua se formou a partir do materialejetado no processo, essencialmentecamadas de silicatos dos mantosrochosos e das litosferas de ambos osobjetos.

A diferença entre as razões [óxidode magnésio / óxido de ferro] lunar eterrestre se dá pelo fato da Lua serconstituída principalmente pelamassa do planeta impactante, quecontinha menos óxido de ferro do quea Terra.

As proporções idênticas dosisótopos de oxigênio terrestre e lunaradviria do fato de que a Terra e oobjeto impactante se terem formadona mesma região do Sistema Solar.

E por fim, a HGI passa por seu testemais difícil, quando consegueexplicar a quantidade de momentoangular do sistema Terra-Lua. Comuma massa equivalente à do planetaMarte, o objeto impactante colidiucom a Terra de forma excêntrica,chocando-se com o nosso mundo numponto afastado do seu eixo de rotação.Um impacto deste tipo seriaperfeitamente capaz de acelerar arotação da Terra até o seu valorpresente.

O aspecto mais interessante da HGIé que, longe de se constituir numevento extraordinário, uma colisãodeste tipo parece ter sido um eventorelativamente comum na época deformação dos planetas do SistemaSolar, ou seja, um dos mecanismos-padrão do processo natural deformação planetária.

Depois do êxito em esclarecer o

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processo da gênese lunar, a HGI foiempregada para explicar a com-posição anômala de Mercúrio e agrande inclinação do eixo de rotaçãode Urano. Mas isso já é papo para umoutro artigo.

O fato importante a meditar é que,não fosse esse cataclismo gigantescoque atingiu o nosso planeta nosprimórdios do Sistema Solar, nãohaveria uma Lua no céu. A Terra nãogiraria tão rápido e os nossos mares

e oceanos não possuiriam marés tãofortes. Como ocorre em Vênus, o diaterrestre duraria quase um ano e, comtoda a probabilidade, eu não teriaescrito e vocês não estariam lendoeste artigo.

Notas:(1) Com a possível exceção deCaronte, o satélite de Plutão.(2) Os átomos dos elementos estãopresentes na natureza sob a formade isótopos distintos. Os váriosisótopos de um mesmo elementopossuem todos o mesmo número deprótons, mas números de néutronsdiferentes. Existem isótopos estáveise instáveis. Os últimos, decaem paraátomos estáveis de elementos comnúmero atômico menos elevado natabela periódica.

(3) Processo físico-químico respon-sável pelo surgimento de corposextensos a partir da aglomeração departículas, como os grãos de poeiracósmica, em torno de um núcleosólido pré-existente.(4 ) Corpos sólidos de pequenasdimensões que se formaram quandoa nebulosa proto-solar colapsou emum disco e se fragmentou.

Leitura Adicional:- Brown, G. Malcolm: “ChemicalEvidence for the Origin, Melting and

• Notícias... do Fim do Nada: Editor: Ruby Felisbino Medeiros.Trimestral, formato ofício, 30 páginas. Volta-se mais à literatura,com contos, artigos e publicação de listas de livros e autores.É um importante pólo do fandom gaúcho.Rua Comendador Azevedo, 506, Porto Alegre/RS, 90220-150

• Fábrica de Fanzines:Todos os fanzines da "Fábrica" são editados por Roberto deSousa Causo, Rua Aimberê, 406/103, São Paulo/SP, 05018-010:

Biblioteca Essencial da FCB: série de livros em xerox A4,encadernados com capa dura, que reproduzem ensaios emonografias sobre a FC no Brasil.Borduna & Feitiçaria: A4, 16 páginas. Primeiro fanzinebrasileiro especificamente voltado à fantasia heróica. Contos,artigos, resenhas e ilustrações.Brazuca Review: A4, 22 páginas. Fanzine em inglês sobreFC brasileira, com artigos e contos.Diário do Fandom: Bimestral, A4, 8 páginas. Informativosobre as novidades da ficção científica brasileira einternacional. Tem também resenhas sobre lançamentos naárea de FC&F.Papêra Uirandê Especial: A4, 36 páginas. O mais crítico epolêmico zine de ficção científica do País. Artigos, resenhas eensaios sobre o estado do gênero no Brasil e no Exterior.O Rhodaniano: A4, 12 páginas. Fanzine sobre Perry Rhodane Space Opera. Traz artigos sobre a série alemã de FC esobre Star Wars, ilustrações e o prólogo de uma noveletade FC.

• Astaroth: Editor: Renato Rosatti. A5, 4 páginas. Fanzine dehorror, distribuído gratuitamente. Artigos, contos e ilustrações.R. Irmão Ivo Bernardo, 40, São Paulo/SP, 04772-070.• Hiperespaço: Editores: Cesar R.T. Silva & José Carlos Neves.Trimestral, A5, 20 páginas. O mais tradicional fanzine brasileiro deficção científica. Contos, artigos, ilustrações, quadrinhos,modelismo, cinema, TV, vídeo, animação. Caixa Postal 375,Santo André/SP, 09001-970• Hipertexto: Editores: Carlos André Mores e Roger Trimer.Formato magazine, 50 páginas. Revista do Clube JerônymoMonteiro de Literatura, editado pela Universidade Federal de SãoCarlos. Contos, artigos e poesias. R. Tiradentes, 816, EstânciaSuiça, São Carlos/SP, 13560-430.• Informativo Perry Rhodan: Editor: Daniel dos Santos. A5, 12 a16 páginas. Fanzine que inspirou a criação do “Perry Rhodan FãClube do Brasil”, do qual é agora órgão oficial. Muita informação,curiosidades, artigos, ilustrações. Rua André Marques, 209/09Santa Maria/RS, 97010-041• Juvenatrix: Editor: Renato Rosatti. 3 a 4 edições por ano,formato ofício, 20 páginas. Fanzine de Horror e FC que tem comoprioridades artigos sobre cinema e contos. Rua Irmão IvoBernardo, 40, São Paulo/SP, 04772-070 .• Megalon: Editor: Marcello Simão Branco. 5 edições por ano,formato ofício, 30 a 40 páginas. O mais importante e premiadofanzine brasileiro de ficção científica e horror. Prioriza a literatura(contos, artigos e notícias), mas também abre espaço paracinema, quadrinhos e ilustrações. Av. Clara Mantelli, 110, SãoPaulo/SP, 04771-180

Differentiation of the Moon”, in TheOrigin of the Solar System, S.F.Dermott [editor], Wiley/NATO,Inglaterra (1978).- Harris, A.W.: “Dynamics ofPlanetesimal Formation andPlanetary Accretion”, in The Origin ofthe Solar System, S.F. Dermott[editor], Wiley/NATO, Inglaterra(1978).- Taylor, G. Jeffrey: “The ScientificLegacy of Apollo”, ScientificAmerican, vol. 271, No. 1 (Julho1994).

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A FC brasileira surpreenden-tementese comportou muito bem, graças emparte a escritores mainstream oujuvenis que se aventuraram no gênero.Tivemos a Editora Moderna,empenhada no campo infanto-juvenil,promovendo seus autores com umalinha adulta: O Demônio noComputador, de Marcia Kupstas, umromance de dark fantasy, e a FC depós-holocausto A Cidade Proibida,de Álvaro Cardoso Gomes, forampublicados pela Moderna.

Também uma dark fantasy,Imperatriz no Fim do Mundo, de IvanirCalado, foi relançado este ano, agorapela Ediouro. A publicação originaldesse romance histórico comelementos de horror é de 1992. AFascinação, de Tabajara Ruas, novelagótica publicada pela Record, tambémfoi uma contribuição ao gênero dohorror. Ainda nesse campo, temos delembrar a revista HorrorShow, quedurou quatro números editados porCesar R. T. Silva e Marcello SimãoBranco para a editora Escala. A revistapublicou quatro contos nacionais emsuas páginas, de autoria de MiguelCarqueija, José Carlos Neves,Henrique Flory e Carlos OrsiMartinho. Durante sua curta exis-tência, foi uma plataforma do fandombrasileiro junto aos leitores em geral.A revista também foi o centro de umdos escândalos editoriais maisdescarados de que temos notícia, coma editora demitindo os editores pararelançar a mesma revista meses maistarde, com um novo título.

A Editora Ática publicou a obracompleta de Murilo Rubião, que formacom José J. Veiga o duo dos grandesautores brasileiros de realismofantástico. E Veiga também reapareceuem 1997, com Objetos Turbulentos,

pela Bertrand Brasil. Finalmente, umoutro autor com coletânea de contosfantásticos foi João Carlos TeixeiraGomes, com O Telefone dos Mortos,que apareceu pela Nova Fronteira.

Coletâneas compuseram umfenômeno interessante este ano, edevemos destacar A Máquina deHyerónimus, de André Carneiro,publicado pela Editora da Univer-sidade Federal de São Carlos, como oprimeiro título de uma nova coleção,Visões. O livro reúne contos de FC,realismo fantástico e mainstream, comalguma ênfase no erotismo e naexperimentação metalingüística.Carneiro também teve seu livropioneiro Introdução ao Estudo da“Science Fiction”, de 1967, republi-cado em edição comemorativa pelaBiblioteca Essencial de FicçãoCientífica, e seu livro de poemas,Pássaros Florescem (4a. Bienal Nestléde Literatura Brasileira, 1988), ganhoutradução para o inglês nos EstadosUnidos, em tempo para o fechamentode 1997.

Um contemporâneo de Carneiro,Antonio Olinto, que escreveu FC nadécada de 1960, fazendo parte daGeração GRD, reaparece com umromance histórico com algunselementos fantásticos. Alcacer-Kibirfoi lançado pela Editora Cejup, deBelém do Pará, e trata da repercussãoda derrota portuguesa nesse campode batalha, com o fantasma de D.Sebastião perambulando pela história.

O bom desempenho numérico da FCe do fantástico brasileiro este ano sedeveu em parte a autores mainstream,com altos e baixos. A novela OVioloncelo Verde (Rocco), dapremiadíssima Denise Emmer, recebeuboas resenhas aqui e ali, mas é de fatoum livro impossível de ser lido como

boa FC. Perto do fim do ano, JoãoUbaldo Ribeiro, autor da FCB OSorriso do Lagarto, reaparece com OFeitiço da Ilha do Pavão, que temutopia e viagem no tempo, numlançamento da Nova Fronteira.

Um outro fenômeno que se acentuaé a exportação de FC nacional. BraulioTavares teve sua segunda coletânea,Mundo Fantasmo, que saiu aqui em1996 pela Rocco, lançado em Portugalpela Caminho Editorial. A mesma casapublicou seu romance A MáquinaVoadora, quase simulta-neamente. Osegundo brasileiro a ter uma coletâneapublicada na prestigiosa coleçãoCaminho Ficção Científica foi GersonLodi-Ribeiro, com o livro de títuloengenhoso, Outras Histórias...,também em 1997. Lodi-Ribeiro esteveem Portugal para o lançamento e paraos Segundos Encontros de FicçãoCientífica e Fantástico de Cascais.Roberto de Sousa Causo tambémanuncia ter vendido seu conto “WhatImmortal Hand or Eye” para a revistaTcheca Ikarie. A história sai nocomeço de 1998.

E quanto à FCB em revistas? ADragão Brasil, editada por MarceloCassaro para a Editora Trama,continuou publicando contosnacionais, de autoria de Cassaro,J.Mauro Trevisan, Miguel Carqueija eCarlos Orsi Martinho. Infelizmente onúmero de trabalhos publicados caiuem relação ao ano anterior. Umasurpresa interessante foi a revistaNossas Edições, editada por MárcioRangel para a sua editora Legnar, quedesde o seu número 1 tem dado espaçopara contos de FC e fantasia folclórica.O número 4 foi quase uma ediçãoespecial, com contos de Finisia Fideli,Roberto Schima e Roberto de SousaCauso, entre outros. Causo também foi

Retrospectiva 1997Retrospectiva 1997Retrospectiva 1997Retrospectiva 1997Retrospectiva 1997Diário do Fandom:

por Roberto de Sousa Causo

O ano de 1997 foi excepcionalmente bom paraa FC no Brasil, tendo em vista o péssimo

desempenho dos anos anteriores.

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publicado na revista Magma, doDepartamento de Teoria Literária daFaculdade de Letras da USP, com umconto de fantasia contemporânea.Finalmente, a revista Hipertexto,também realizada pelo mesmo grupode fãs que edita a coleção Visões pelaEdufscar, lançou dois números em1997.

Edgard Guimarães e Roberto deSousa Causo lançaram em 1997 aBiblioteca Essencial de FCB, umacoleção de estudos, catálogos, eensaios sobre ficção científicabrasileira. Embora se trate depublicação amadora, a BEFCB publicalivros em capa-dura com bomacabamento e bom nível intelectual. Oprimeiro volume foi Ensaios

Internacionais de Ficção CientíficaBrasileira e o segundo o jámencionado livro de André Carneiro.Ambos serão resenhados em 1998 pelarevsita acadêmica norte-americanaScience-Fiction Studies. Outrostítulos estão sendo planejados para1998.

- A V InteriorCon, convenção de FCdo Interior de São Paulo, aconteceuem Sumaré nos dias 8 e 9 de novembrode 1997, com a presença de BruceSterling, André Carneiro e VagnerVargas como os convidadosprincipais. O evento foi um sucesso,com o comparecimento de fãs dequatro estados brasileiros e muitasdiscussões interessantes, com paineise palestras para todos os gostos,

muitas acontecendo em paralelo mascom público suficiente em cada umadelas. Além das palestras dadas pelosconvidados, foram especialmenteinteressantes os paineis sobre a mulherna FC, sobre Jerônymo Monteiro (compresença de sua filha, Thereza), e oEncontro do Primeiro Fandom, querevelou vários aspectos interes-santese desconhecidos da primeiracomunidade bra-sileira de FC, quevicejou na década de 1960.

Para o ano...- Orion deverá ser o título de uma

mais uma revista de FC a ser lançadaem 1998 pela Editora Resser, de SãoPaulo. O editor será Roberto de SousaCauso, que promete publicar autoresnacionais e estrangeiros.

O mesmo perfil deverá serobedecido pela coleçãoScorpio, também editada porCauso, agora para LemosEditorial, de São Paulo. Acoleção alternará antologiastemáticas com material nacio-nal e estrangeiro, com roman-ces. O primeiro volume estáprogramado para março de1998.

-Axxon, a revista eletrônicado autor argentino EduardoCarletti, que usa de piratariapara publicar grandes nomesda FC anglo-americana, foirecentemente denunciada pelaScience Fiction and FantasyWriters of America. Carlettiprometeu retirar os contospirateados que estavam circu-lando na Internet, e não repetira falta.

- Um dos efeitos da visitade Sterling ao Brasil foi aformação de uma lista inter-nacional de discussão naInternet, a Global ParaliteraryNetwork, que objetiva debatera FC internacional. A lista serámoderada a partir do Brasil edeve contar com assinantes domundo todo.

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Driving Mr. SterlingDriving Mr. SterlingDriving Mr. SterlingDriving Mr. SterlingDriving Mr. SterlingArtigo:

Roberto de Sousa Causo

Sterling adorou o calor do debate,notando mais tarde que “haviahomens chorando na audiência” e queFinisia os “tinha esmagado impie-dosamente”. Na verdade, foi aprimeira discussão pública sobre arepresentação da mulher na ficçãocientífica brasileira, e isso certamentedeixou muitos autores preocupadoscom a forma como estariam condu-zindo suas próprias representa-ções.Preocupação das mais saudáveis.

Sterling também apreciou o painelque reuniu autores brasileiros ativosna década de 1960 (incluindo WalterMartins, Nilson Martello e outros),interessando-se especialmente pelarelação entre autores e fãs com aditadura. Ficou encantado em saberda atuação guerrilheira do escritorAndré Carneiro - e mais ainda aosaber que Carneiro participara deexperimentos com drogas psico-délicas, conduzidos pela Universidadedo Arizona na década de 1970 -“Carneiro is a heavy dude”, disse.

Retomando a São Paulo, novamentecomigo no volante, discutimos estra-tégias para dar maior relevo à ficçãocientífica internacional, diante dapresença esmagadora dos escritoresnorte-americanos e ingleses. Opróprio Sterling se propõe a dedicarparte de seu tempo traduzindo contosestrangeiros, entre outras coisas.Também sugeriu a abertura de umalista de discussão sobre o assunto naInternet (na qual já estamostrabalhando), ou até mesmo a

No carro, a caminho do hotel,conversamos sobre o romance TheDifference Engine (1990), que eleescreveu cor William Gibson, outronome obrigatório do cyberpunk. Nomeu entender, o romance, queapresenta um século XIX alternativoonde computadores movidos a vaportrouxeram um impressionante pro-gresso tecnológico combinado à umapaisagem dickensiana, relativisanossa percepção as vezes positivistado passado histórico apenas como oprocesso “que nos fez chegar até aqui”- como estágios usados de um foguete.Na visão de Sterling, não há progresso- apenas as soluções possíveis dentrode uma realidade histórica emparticular. O passado então se tornaum objeto mais vivo e capaz dedialogar intensamente com a reali-dade do nosso momento. Sterling estáconsciente de que o romance realizaefeito análogo ao da literatura pós-colonial, que sugere que culturas não-ocidentais podem ser vistas numarelação diferente da de inferioridadediante do mundo desenvolvido. Otempo, portanto, também não estariasubmetido ao nosso ponto de vista.

Na convenção, ele deu uma palestrasobre o cyberpunk, respondeuperguntas e participou, de improviso,do painel “A Mulher na FicçãoCientífica e Fantasia”, moderado pelaescritora brasileira Finisia Fideli.Outra autora, Marcia Kupstas, nãopode participar e ele a substituiu comdisposição. O painel foi acalorado e

Bruce Sterling, ideólogo docyberpunk, movimento que revolu-cionou a ficção científica a partir dadécada de 1980, um dos maisimportantes autores de FC neste finalde século XX, recém-vencedor doPrêmio Hugo, apareceu no portão dedesembarque internacional doAeroporto de Cumbica vestindo umacamiseta e jeans e de cabelos cortados.Esse último detalhe foi aliviador - asfotos da cerimônia de entrega do Hugomostravam um sujeito cabeludo comcara de índia velha.

Ele aporta em São Paulo a meuconvite para participar da VInteriorCon, convenção de FCrealizada no interior do Estado, nosdias 8 e 9 de novembro de 1997. Láestávamos Ataide Tartari, autor brasi-leiro de FC, e eu, esperando por ele.Passamos algum tempo no aeroporto,onde Sterling trocou dólares por reaise onde nos sentamos para conversar.Ele havia retornado há pouco daRússia, em missão jornalística aserviço da revista Wired (mas tambémpara participar de um encon-tro deautores russos do gênero), e partilhouconosco suas impressões negativas elamentosas do estado atual do país -“Eles estão todos simplesmentecorrompidos” - e nos revelando que oque anda fazendo sucesso pra valerna Rússia são os filmes indianos e asnovelas brasileiras, que, por algumarazão, “calam fundo nas mulheresrussas”. “E são as mulheres russas”,faz questão de realçar, “que estãomantendo o país em pé”.

Sterling tem 43 anos, um metro e setenta e cinco de altura e um jeito confiante. Seu rosto largoe sorridente e o fato de estar um pouco acima do peso lhe dão um jeito de garoto. O ex-hippie

e atual escritor de sucesso e viajado jornalista internacional se orgulha de ser abordado noslugares mais estranhos do mundo por pessoas que lhe pedem orientações, porque ele “sempreanda como se soubesse para onde está indo”. O jeito brincalhão e despretensioso não esconde

a importância deste que é uma das mais importantes personalidades da FC e da sociedadeglobal, defensor ferrenho da liberdade de informação e da Internet como ponta-de-lança

de uma revolucionária democratização das relações humanas.

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fundação de uma entidade interna-cional semelhante à World SF -fundada em 1976 e que, curiosamente,teria parcialmente se inspirado numsimpósio de FC realizado no Rio deJaneiro em 1969.

Quando comentei que muitosinternautas o consideravam reacio-nário ou conservador por causa do seu“Dead Media Project”, Sterling meentreteu durante uns dez minutosesbravejando contra todos osmotherfuckers e dumb bastards quesão figuras de destaque no mundo dainformática e da inteligência artificial,e estariam mais interessados em seapropriar de mercados do que empermitir que a informação possa fluirlivremente - “A informação quer serlivre”, é um dos principais slogans docyberpunk.

Seu Dead Media Project é um spin-off das pesquisas sobre tecnologias doséculo XIX feitas para The DifferenceEngine. Sterling pede aos internautasque lhe enviem informações sobremídias mortas - formas de comu-nicação que, por um motivo ou outro,deixaram de existir. Tentandoencontrar buracos em seu projeto,perguntei-lhe se ele incluiria “mídias”usadas pelas sociedades de índios eaborígenes - coisas como sinais defumaça e rufar de tambores. Aresposta, para a minha surpresa, foipositiva. Pensei então nos comandosde batalha medievais - de registromuito raro - e eles também estãoincluídos. Até a Grande Muralha daChina se confirma, em sua opinião,como uma mídia, pois grandequantidade de informações eraconduzida por ela, num complexosistema baseado cm flâmulas, de dia,e fogueiras acesas à noite. O DMPdeve resultar em um fascinante livrode não-ficção a ser lançado em futuropróximo, já no século XXI, quepromete ser “o século das mídias”.

No dia 10, em uma pizzaria em SãoPaulo freqüentada pelos membros doClube de Leitores de FicçãoCientífica, enquanto ele autografavauma pilha de revistas de FC comtrabalhos seus, perguntei-lhe como se

sentira ao receber o seu primeiroHugo, pela noveleta “BicycleRepairman”. O prêmio deu um fim auma embaraçosa estatística: Sterlingera o autor de ficção cientifica quemais perdeu Hugos - dez em dozevezes ele havia sido indicado, semnunca levar o ambicionado troféu naforma de um foguete típico da décadade 1950. Muitos o cumprimentaram,dizendo que finalmente uma injustiçade longa data havia sido reparada,mas, mesmo desta vez, seu romanceHoly Fire também estava indicado, enão levou. “Bem, ganhar pelanoveleta é melhor do que nada.”

A caminho do hotel, para a últimanoite dele em São Paulo, perguntei senão gostaria de fazer alguma coisa nodia seguinte, mas ele queria apenasperambular pela cidade e fazercompra para a esposa e as duas filhas.Por algum motivo ele pensou que eupretendia protegê-lo das ameaçascriminosas da metrópole paulistana,e descarregou sobre mim suaexperiência com a segurança do hotelmoscovita em que ficou hospedado -um grupo de pára-quedistas de elitevestindo trajes camuflados e portandoarmas automáticas. Ou o hilarianteepisódio em que um grupo deescritores japoneses o levou até umbar underground de propriedade deum ator mafioso japonês todo tatuado,que, quando Sterling pediu uísque onthe rocks, picou o gelo ali mesmo,atingindo repetidamente uma pedrado tamanho de uma cabeça humanacom um furador-de-gelo, a menos deum palmo do rosto aturdido doescritor americano. Por fimarrematou: “Sou um cyberpunk, souperigoso.“

Na verdade, a auto-ironia é partefundamental de sua personalidade,mas também a afirmação de suacapacidade de sobreviver em ummundo globalizado e em rápidatransformação, o que resume a atitudecyberpunk.

Mas qual é o sentido do cyberpunk,afinal?

Primeiro, o reconhecimento de quea tecnologia não é privilégio de uma

elite de engenheiros ou acadêmicos,que cada vez mais ela se torna de usocotidiano, sendo objeto detransformações não-planejadas eincontroláveis, realizadas pelohomem comum ou marginal. Segun-do, que o ambiente tecnológico cadavez mais se afirma como um novomeio-ambiente sócio-cultural, quetambém promete transformar o serhumano. Por fim, o cyberpunk é umreflexo da própria internacionalizaçãode valores e economias. Do mesmomodo que a Internet como mídiarompe fronteiras, a literatura cyber-punk tem como norma o trânsitointernacional das ações.

Agora estamos novamente acaminho de Cumbica, para acansativa viagem de volta à Austin,Texas.

Sterling se incomoda com o fato deque de lhe perguntarem, a cadaaparição pública, se o cyberpunkmorreu. No seu modo de ver,enquanto ele e seus companheiros demovimento - incluindo WilliamGibson, Rudy Rucker, John Shirley, ePat Cadigan - estiverem escrevendo,o cyberpunk estará vivo econtribuindo para o gênero. Achaestranho pensarem que o gênero estámorto, quando pelo menos ele eGibson têm toda a atenção quepoderiam receber, são celebridadesinternacionais muito além do alcanceàs vezes limitado da audiência de FC,e que ele próprio construiu umaimensa casa em Austin, custando“uma soma absurda de dinheiro”ganho com edições internacionais deseus livros, que, empilhadas, seerguem a nove pés de altura, ou doismetros e meio.

— E você está morto - brinquei.— Eu e meus companheiros

estamos mortos.Ele então me contou anedotas sobre

os outros cyberpunks, todas,infelizmente, impublicáveis.

— Que autores surgirão como deinteresse no futuro? — eu pergunto.

Sterling não poupa elogios a NeilStephenson e a Greg Egan, este últimoum australiano. O inglês Jeff Noon

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também deve ser observado, masSterling acha que ele está sedesgastando pela sanha de fazerdinheiro rápido com seus romances.

— E quanto à próxima grandetendência na ficção científica?

— Não sei, mas suspeito que nãovirá dos americanos. Nesta altura jáestamos com os pés enfiados em umabanheira de cimento.

Pergunto então qual seria a melhorestratégia para dar mais poder para aficção científica internacional,considerando que a FC anglo-americana age quase que como umbloqueador, tamanha a sua difusão.Sterling concorda e compara a FCanglo-americana com a Força AéreaAmericana - “tentar conquistar a FCamericana seria o mesmo que tentarconquistar a USAF. “ Melhor seriatentar conquistar a Rússia - o que asnovelas brasileiras já estão fazendo.O que ele sugere é que as FCsperiféricas se comuniquem entre si,ao invés de cada uma tentar, sozinha,derrubar o “império americano doentretenimento”. Pergunto se aliteratura pós-colonial, tambémconhecida como world literature seriauma boa estratégia.

Trata-se de um fenômenoliterário surgido com a desco-lonização de países da África,Ásia e do Caribe, cujos autorespassaram a escrever naslínguas de suas antigasmetrópoles, conquis-tandoamplo reconhecimento.São nomes como Sal-man Rushdie, KazuoIshiguro e outros auto-res de impacto inques-tionável. Autores queescrevem com uma energianova, surgida da interface entre omundo desenvolvido e o subde-senvolvido, entre a concepçãoocidental da modernidade e osprocessos dolorosos queculturas não-ocidentaissofrem para encontrar seuspróprios caminhos deintegração no mundoglobalizado.

A literatura pós-colo-nial busca múltiplas

audiências e múltiplos discursos. Elanão adota postura defensiva deproteção a culturas ameaçadas, masleva essas culturas adiante como armatransformadora de ataque. Não hánela a predominância de discursosnegativos, de bloqueio - ao contrário,seus discursos são positivos, de ação.Sem dúvida, Sterling concorda queessa seria a melhor estratégia para asficções científicas marginais como abra-sileira, que se encontram sitiadaspelo poder onipresente da FC anglo-americana.

Quando ele embarca, fico com a

sentimento de a FC brasileira temmuito ainda que caminhar nesseprocesso de descolonização cultural,mas agora, quando o tamanho daencrenca me pareceainda mais claro, per-cebo que teremos umpoderoso aliado emBruce Sterling. Talvezalguma coisa boa esurpreendente surja detudo isso. Quem sabe,“a próxima grandetendência na ficçãocientífica”.

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Nova: Uma história deNova: Uma história deNova: Uma história deNova: Uma história deNova: Uma história depolêmicas e realizaçõespolêmicas e realizaçõespolêmicas e realizaçõespolêmicas e realizaçõespolêmicas e realizações

Artigo:

por Marcello Simão Branco

A existência de prêmios na ficçãocientífica brasileira está estreitamenteligada ao idealismo de uns poucos fãs.Um prêmio se justifica a partir doinstante em que há uma comunidadede fãs e escritores produzindo ogênero em suas diversas formas, sejaem publicações, histórias, artes eeventos. No Brasil o padrão é este sóque nunca houve um consenso entreos fãs mais influentes da necessidadede uma premiação para as atividadesdo gênero.

Não incluindo o concurso de contos‘Fausto Cunha’, do Clube de FicçãoCientífica Antares (CFCA)1 , o pri-meiro prêmio real do fandom é o maistradicional e ainda o mais repre-sentativo. Criado por Roberto deSousa Causo em 1987 através do seufanzine Anuário Brasileiro de FicçãoCientífica, o prêmio Nova reflete bemas controvérsias que se tem doassunto. Transformou-se várias vezes,sempre se adaptando às característicasda produção do gênero no ambientefã e profissional. Este caráter mutávelé elogiável, mas também reflete, emuma certa medida uma falta deindentidade, não tanto do prêmio, masda própria ficção científica brasileiraem reconhecer a si mesma.

Passou por fases em que premiavaapenas a produção dos fãs, depoisabrindo para as categorias “profi-ssionais” (por vezes nomeada de“geral”) em que se reconhecia a pro-dução no mercado propriamente dito.Se entre os fãs, sua ressonância foidifusa e polêmica, no ambientecomercial ela teve repercussão quasenula, desprezada pelo mainstream,pelo mercado editorial e até pelamídia.

Outra tentativa exemplar da falta decritérios advindos da falta deidentidade do fandom, é a alternânciaentre escolhas colegiadas e populares.

Desde 1992 chegou-se ao meio termo,com os fãs votando nos três melhoresnum “primeiro turno” e um grupo dejurados escolhendo o vencedor final.Apesar da aparência mais equilibrada,respondendo à críticas de “falta derepresentatividade” (na escolhacolegiada) e “vulgarização e conser-vadorismo” (na escolha popular), oprêmio não conseguiu resolvernenhum dos dois problemas apon-tados.

Isso porque um terceiro fator seacrescentou: o fandom literáriooriginal se dispersou, deixou departicipar com o mesmo interesse, eo voto passou a ser dado por fãs maisjovens e descompromissados com aliteratura, muito mais ligados à ficçãocientífica cinematográfica e televisiva.

Uma outra linha de críticos apontouque o prêmio não se justificava porqueo gênero não era suficientementedesenvolvido para merecer umprêmio. Ele viria como conseqüênciado gênero e não como seu fomentador.Esta idéia de estímulo à produção,registro e reconhecimento adaptado àrealidade do gênero tem em Causo seugrande incentivador.

Embora esta linha de atuação tenhaméritos reconhecidos se olharmos ospremiados em retrospecto, ela por orasucumbe à falta de interessegeneralizado em torno do Nova. Tantoque seus organizadores2 (Cesar R.T.Silva e Marcello Simão Branco, quelevavam adiante o Nova sob o selo daSociedade Brasileira de Arte Fantás-tica - SBAF), realizaram uma refor-ma radical diminuindo de 13 paraquatro categorias concorrentes emisturando, de forma inédita, aprodução dos fãs e a comercial emuma só categoria para cada aspectoda produção.

Um problema adicional e funda-mental que o Nova enfrenta atu-

almente é o esvaziamento de suatradição literária. Apesar de existiremcerca de doze fanzines em que oprincipal assunto ainda é relativo àliteratura, somaram-se outros fanzi-nes e publicações semi-profissionaisem que o destaque é dado à séries decinema e TV. Com o desinteresse dosfãs literários em votar, vários fãs decinema e TV passaram a ficarcredenciados a participar. Estamudança veio em decorrência daSBAF, uma associação informal de fãsque embora oriundos da literaturaprocuraram fãs de outras procedênciaspara levar adiante seus projetos porcausa do arrefecimento dos fãsliterários. Chegaram até a ampliar osgêneros, acrescentando trabalhos defantasia e horror como concorrentes,mudando até seu nome, passando de“Prêmio Nova de Ficção Científica”,para “Prêmio Nova de Arte Fantás-tica”. O mérito de acréscimo dafantasia e do horror é importante, poisas linhas entre os gêneros são tênuese secundárias (embora ainda existam),ainda mais em um fandom tãodisperso e ao mesmo tempo,segmentado.

Tapìrài,o contraponto

Se o prêmio Nova é o de maiorvisibilidade e amplitude, o prêmioTapìrài3 (1992-94), foi uma tentativade valorizar a produção fã em ummomento em que o Nova era maisvalorizado nas categorias profis-sionais, depois da efervescência criadaem torno da publicação da IsaacAsimov Magazine (1990-92). Criadopor Marcello Simão Branco naspáginas do seu fanzine Megalon,tinha algumas característicasinovadoras, como a de premiar umeditor fã por seu trabalho e não ofanzine, como é tradição na maior

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parte dos prêmios. Teve umaexpressão eleitoral e prestigiosareduzida, em que pese ter sidoapontado como um contrapontointeressante aos resultados pulve-rizados e conservadores do fã-médioque votava no Nova. O Tapìràirecuperou em certa medida o voto dosfãs que liam e escreviam ficçãocientífica. Pois eles estavam reunidosem sua maioria no Megalon. Tantoque comparando os resultados de umprêmio e outro, notava-se claramenteque o Nova era dado pelo fã-multimídia e o Tapìrài pelo fã-leitor.

Desgastado com críticas dos setoresconservadores do fandom4 , com avinculação excessiva do prêmio àfigura do seu criador — “o prêmio doMarcello” —, e também com a tímidareceptividade dos premiados, Brancocancelou o prêmio. A repercussão foipequena. Apenas alguns críticosdefenderam a importância do Tapìràinas páginas do Megalon ou emencontros de fãs. Esta batalha osvetustos “cardeais” do Clube deLeitores de Ficção Científica (CLFC)tinham vencido.

Estes críticos foram os mesmos quenão viam importância no MovimentoAntropofágico da FCB — defendendouma FC mais “universal”5 ao invésda busca por uma FC com tradiçõespróprias ao Brasil. São eles tambémque a uma certa altura passaram a nãoreconhecer o mérito dos fãs em darprêmio a quem quer que seja. Diziamque somente intelectuais e professoresuniversitários poderiam fazê-lo.Mesmo que não tivessemconhecimento de ficção científica. Aisso argumentavam que nãoimportava o sujeito não conhecer FC,mas sim reconhecer um trabalho demérito literário independentementedo gênero a ele associado.

Ninguém melhor do que aquelesque lêem sobre determinado assuntopara falar por ele com conhecimentode causa. Ainda mais de umaliteratura tão particular — comtradições, histórias e convençõespróprias — como a ficção científica.De qualquer forma a crítica em si podeter tido algum efeito no esvaziamento

do interesse de vários leitores deficção científica, especialmente depoisdo fim do Tapìrài, vendo neste supostoinsucesso a reafirmação de seusargumentos.

Talvez o Nova e a idéia de umprêmio para a ficção científicabrasileira tenha tido um caminho tãocontroverso por causa do caráter nãooficial do Nova. Isso porque ele nuncafoi ligado ao projeto de um clube emparticular, mas sim à iniciativaindividual de fãs que por maisinfluentes, não representam o centrodominante das atividades do gênero.Nos dias atuais isso não é maisrelevante, mas enquanto o CLFC eraimportante fez diferença. A principalassociação da FCB careceu de umprêmio para dar mais uniformidade eimportância ao seu projeto de divulgare desenvolver a FC no Brasil — notebem no e não do Brasil. Mesmo oMovimento Antropofágico sofreu suasmaiores resistências nos setorescentrais do CLFC, nos anos em queele era importante para o fandom(refiro-me aos anos de 1987 a 1991).Esta falta de compromisso com umafc com raízes brasileiras foi umamarca de uma entidade que não temBrasil nem no nome, e nunca sedesvinculou de ser um clube deenciclopédicos e colecionadores e nãode escritores e fãs militantes.

Acredito que os problemas que osprêmios brasileiros enfrentam não sãoexclusivos de nosso fandom. Nãorefletem apenas as controvérsias etransformações que nossacomunidade tem atravessado, apesardas especificidades aludidas do casobrasileiro. Estou envolvido naorganização destes prêmios há unsseis ou sete anos e creio que eles sãoviáveis e defensáveis. Problemas devotação em bloco, falta deconhecimento do eleitor, desinteresse,sujeito que vence pela popularidade,premiação de trabalhos maistradicionais não ocorrem só no Brasil.Estes problemas são inerentes aqualquer prêmio que existe por aí nocenário internacional. Sem sair doambiente da ficção cientifica é sóolhar para o fandom americano — o

maior e mais poderoso do mundo —que estes problemas se repetem, sóque em escalas astronômicas nonúmero de seus eleitores e em seualcance comercial. Dito de outromodo, os caras são conservadorestambém, mas a quantidade é enormee assim até injustiças são mini-mizadas. Isso sem contar que osprêmios são estimulados por umaverdadeira indústria editorial, que usaos Hugos, Nebulas, Locus, Philip K.Dicks e outros como meios depropaganda e venda dos livros de seusescritores contratados. Outro fatoradicional de sustentação dos prêmiosé que eles existem em grandequantidade e para vários segmentos.Assim é possível prêmios populares(Hugo), prêmios daqueles queescrevem (Nebula), lêem (Locus), atéos dados por acadêmicos emuniversidades (John CampbellMemorial). E ninguém por lá, diz quetal prêmio é desnecessário e presta umdesserviço. Cada um à sua maneiraajuda a legitimar e corrigir asdeficiências do outro.

A esta altura quando o Novacompleta dez anos, é ridículo quererdiscutir se ele deveria ou não existir.Ele é hoje uma instituição da ficçãocientífica brasileira. Deixou de ser oprojeto idealista de uns tantos fãs,apesar deles continuarem a seimportar e manter o prêmio mais doque o desejo e interesse do fandom emsi. Um dado adicional do Nova (eposso generalizar) é o carater de auto-estima que ele confere. De umacomunidade reconhecer e premiar osseus melhores, de conferir uma auraàquilo de que gostam. O prêmio estáaí e em uma década tem uma históriada ficção científica brasileira paracontar. Com todas as suasidiossincrasias é um retrato exemplardas fases e percalços que o gênero tempassado nesta sua Segunda Geração.É resultado do sonho de uns poucosidealistas que continuam levando suahistória adiante.

Continuo acreditando que o Novafoi (e é) um benefício para odesenvolvimento — senão do gênerocomo um todo — ao menos para as

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tradições e identidades da comuni-dade de fãs. O Nova foi um catalisadorde produções do gênero. Os fanzinesmelhoraram muito seu conteúdo evisual estimulados pelo prêmio — oMegalon é o exemplo mais evidente,tendo vencido o Nova em seteoportunidades — e alguns atésurgiram com o desejo de levar otroféu para casa. Também nos contose ilustrações houve uma melhorasubstancial nos trabalhos premiados.De contos ingênuos, curtos etematicamente tradicionais, passamosgradativamente a trabalhos levemente

experimentais, maiores, mais bemestruturados e com uma ênfase àrealidade social do Brasil. Tantoestimulou e revelou que a maior partede seus vencedores — mesmo os dosprimeiros anos — já publicaramtrabalhos profissionais, alguns atélivros próprios, alguns incluindo atéos contos vencedores do Nova. Aqueda da produção comercial e amelhora substancial da produção fãlevou os organizadores atuais aequipararem igualmente ascategorias.

O prêmio Nova deve continuar. Pela

sua própria tradição continuarámutável, registrando a produção dogênero e suas características. Ofandom é pequeno, mas está sesegmentando com o surgimento denovos grupos — Perry Rhodan, StarWars — ou o crescimento de outros,como os trekkers. É legítimo que cadaum deles tenham seus meios dereconhecimento próprio. E é legítimoque o Nova (ou qualquer outro prêmioque venha a existir no futuro)continue premiando e registrando ahistória da produção brasileira deficção científica.

Atenção para as seguintes notas:1 - Existiu na primeira metade dos anos 1980,numa homenagem ao escritor e críticoFausto Cunha, e pelo seu próprio perfil deconcurso, foi de reduzida expressão nofandom como um todo (também devido aoseu caráter regional — gaúcho — e a critériosde premiação até hoje pouco claros).2 - Eles deixaram a organização do prêmioem 1997, devolvendo-o ao seu criadorRoberto de Sousa Causo, que passa àlevá-lo adiante a partir de 1998.

3 - O nome Tapìrài é como os índios tupis-guaranis chamavam a Via Láctea em sualíngua. Uma tradução literal seria “caminhodas antas”. Branco nspirou-se claramente noMovimento Antropofágico para justificar umnome aparentemente estranho aos padrõesda ficção científica.4 - No dia que apresentou o prêmiooficialmente ao fandom em uma reunião doCLFC, Branco ouviu a seguinte observaçãodo presidente do CLFC da época: “Isso éuma bobagem. Não vai durar dois anos”. Um

comentário vindo do presidente de umaentidade que, antes de mais nada, deveriazelar pelo crescimento da ficção científicabrasileira...5 - Embora nunca tenham se preocupadoem fundamentar o que seria isso, dando aentender sem o menor constrangimento deapenas levar adiante a tradição americanada FC e reconhecer no centro culturaldominante seu caráter “universal”.

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Natal CósmicoNatal CósmicoNatal CósmicoNatal CósmicoNatal CósmicoConto:

por Dora Incontri

Estamos no fim de mais um ano e o Somnium lembra também neste retorno, a mais importante data cristã: oNatal. Dora Incontri é uma antiga fã de Star Trek, educadora renomada e jornalista, que estréia em nossas

páginas mostrando que os ideais de Cristo transcendem o plano de nosso ínfimo planeta,e que Seus princípios podem aparecer da maneira mais inesperada possível.

J á fazia tantos anos que eu estava em meu posto, que praticamente já assimilara os costumes locais. Fizera amigos, aprendera a ganhar dinheiro — principal atividade do planeta — e me locomovia com facilidade no meio social, sem que ninguém me adjetivasse de estranha. Para levar ao extremo minha experiência num

corpo feminino (que escolhera por causa de suas mais amplas potencialidades psíquicas), adotara uma menina, comofilha legítima. Interessavam-me os chamados instintos maternos. Annie tinha cinco anos. Era um belo exemplar doque a espécie humana tem de melhor: as crianças. Muito inteligente, afetiva e sensível. Tudo aquilo de que eu estavaprecisando para recompor minha energia mental algo perturbada desde a ruptura da comunicação.

Há precisamente dois Natais que eu perdera contato com Relt-Deets. Nenhuma mensagem de lá para cá. Nem omais leve pensamento. Temia que isso pudesse estar relacionado com um agravamento da situação da Terra. Massentia que neste Natal, alguma coisa tinha de acontecer. Não era possível que ninguém tentasse se aproximar de mim,pelo menos para me tranqüilizar. Dividida entre essa perspectiva e os arranjos para a ceia de Natal, meu pensamentooscilava entre Relt e a Terra. Olhei a árvore enfeitada na sala de visitas e imaginei o sorriso de Annie, recebendo omeu presente.

Analisei: já incorporara vários arquétipos terrenos, sobretudo os relacionados ao Natal. Fixei na memória minhapreparação nas vizinhanças da atmosfera terrestre, antes de aportar em São Paulo, ponto exato da minha residênciaplanetária, na personalidade de Cybelle. Meus instrutores fizeram com que eu me embrenhasse na selva das correntesmentais que embrulham esse mundinho perdido no confim da galáxia. Em questão de dias, apanhei tempestadesvermelho-escuras, com figuras bizarras, uniformizadas, no meio de veículos gigantescos, que disparavam fogo. Sufoqueientre ondas de perfume enjoativo, com camas e rendinhas de mau gosto, com mulheres e homens rolando no espaço,enovelados como caracóis. Vi imagens de estátuas coloridas, de velas e gestos rituais desbotados pelo tempo. Monstrose deuses, asas e chifres, fadas e duendes, me espreitavam e no lugar dos olhos havia furos escuros.

A região de tempo mais delicada era a do Natal. Claro, havia alguns perus assados, uma certa ressaca pesava emminha sensibilidade olfativa. Era um recanto de excessos, mas ainda muito ligado à mente infantil da Terra. Por issohavia árvores bonitas, anjinhos graciosos, animais inocentes, uma mãe com um filho, um velhote simpático, de barbabranca e outros detalhes agradáveis.

Espantei-me, sem dúvida, quando vi o Irmão Terreno no meio de tantas figuras. Ele que nos visitava em Relt ecombinava com meus instrutores várias missões de socorro ao planeta que dirigia. Naturalmente, nessas imagensatmosféricas, não apareceria tão belo, como o conhecíamos em Relt. Não se poderia mesmo esperar que os humanoschegassem a projetá-lo com realismo. De qualquer modo, achei que era um sinal positivo a presença dele em algumlugar. Explicaram-me depois, que Natal é justamente o dia em que se comemora o seu nascimento na Terra.

A noite se aproximava, enchendo de brilho os olhinhos de Annie. Estava mais alvoroçada que eu. Já me alvejaracom todas as combinações possíveis de perguntas, sobre o presente, sobre a ceia, sobre o Natal... Era o primeiro quepassávamos juntas. Eu estava na cozinha, terminando a maionese, quando ela surgiu na porta:

— Cy, papai noel veio de terno e gravata! Ele está aí na sala e quer falar com você! Fiquei um momento parada, sem entrar em sintonia com as palavras de Annie. Mas ela me puxou pela mão e eu

fui até a sala. De fato, havia um homem velho, de cabelos e barbas brancas, sentado no sofá. Muito bem vestido numterno azul, com colete e todos os outros apetrechos. Annie tinha razão. Parecia um papai noel engravatado. Ele sorriuadoravelmente ante meu olhar esquadrinhador:

— Foi o corpo que eu consegui arranjar mais facilmente. Por essa época, há milhares desses modelos, vagandono espaço. Você sabe disso, Sam-Tsi!

Estremeci ao ouvir o meu nome, que nenhuma pessoa na Terra conhecia. Sentei-me, com as pernas vacilantes.Annie se aninhou no meu colo, contagiada pela minha insegurança. Seria mesmo quem eu estava esperando? E sefosse um ser mistificador, que se materializaram para me enganar?

O velhote respondeu em voz alta: — Sam-tsi! Desconfiada como uma terrena. Ponha a mão no meu peito! Estendi a mão num gesto tradicional de Relt, quando queremos nos unir na mesma emanação de sentimento.

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Imediatamente, revi meu lar, vi-me inundada pela vibração de Relt. Reconheci Suah-Elsch! Mas ali não havia comotranspormos os corpos da Terra, para nos enlaçarmos como em casa. Tivemos de recorrer a um longo abraço à modaterrena. Espontaneamente — sem pedir nenhuma explicação — Annie também o abraçou.

— Por quê?! — perguntei por fim. — Você estava certa. As condições estão piorando. Quando olhamos a Terra de Relt-Deets, vemos apenas uma

camada espessa e escura. Antes, você se lembra, eram manchas descontínuas. Agora, é algo por inteiro. Não hábrechas de entrada. No Natal, você sabe, há alguns pensamentos fraternos, algumas preces, desejos esparsos de paz...Foi numa dessas aberturas que eu passei.

— Concordo que a comunicação se torna quase impossível nessas circunstâncias, mas sempre se pode virpessoalmente. É claro, com esforço e sacrifício, — disse eu e reclamei mentalmente pelos dois anos de abandono.Depois perceberia que essa era uma queixa injusta.

Mas naquele momento, Suah-Elsch apenas sorriu compreensivo: — Por isto, estou aqui! De repente, levei a mão à cabeça. Ocorrera-me que em poucos minutos, meus amigos da Terra começariam a

chegar para a ceia. Suah-Elsch falou: — Não se aflija! Eles são especiais... De fato, se eu os escolhera como amigos, eram especiais. Mas, de qualquer forma, terráqueos. A campainha

tocou, exatamente nessal altura. Era Bruna, atrás de seus olhos verdes e contemplativos, de mãos dadas com Muriloe seu vago sorriso. Murilo fora o único humano por quem eu sentira a tentação de um envolvimento mais produndo.Mas me detive a tempo. Ainda era na época das comunicações com Relt-Deets. Eles me avisaram que ele tinha umcompromisso com Bruna e a minha tarefa seria prejudicada se me ligasse a quem quer que fosse.

Logo em seguida, entraram Gustavo e sua esposa japonesa, Kimiko. Os dois filhotes, gracinhas semi-orientais,passaram correndo entre nossas pernas e se uniram a Annie, pulando de contentamento.

Depois, veio Cláudio, meu amigo cantor e negro, de uma sensibilidade estelar. E, por último, recebi Jeanny,atrasada como sempre, em sua alegria contagiante. A humana mais fora dos padrões humanos que conheci.

Sua-Elsch se refugiara na cozinha. E quando todos já estavam acomodados, atacando os canapés que eu puseraem cima da mesa, ele apareceu na sala, em camisa e colete. Antes que eu pudesse vasculhar na memória algum nomee ensaiar uma apresentação, aconteceu o que eu não esperava. Ele disse mansamente:

— Schói mib red benli! Era a saudação reltiana. Jeanny avançou, com seu sorriso de criança: — Sua-Elsch! Você aqui! Desdobrou-se a cena de reconhecimento. Bruna, Murilo, Kimiko e Cláudio tocaram espontânea e sucessivamente

o peito de Sua-Elsch. Em menos de um minuto, descobri que todos so meus amigos eram de Relt-Deets! A partir daí, a conversa se desenrolou sem palavras, enquanto as crianças brincavam alheias, ao pé da árvore de

Natal. Vimos o Irmão da Terra, que conhecemos por Ie-Shui, em conferência com os instrutores de Relt. Uma imensa

assembléia em nosso planeta, com representantes de Taus, Irgo, Hassin e Menpu. Ie-Shui exalava beleza e melancolia.Discutiu-se a situação da Terra; estratégias de auxílio foram propostas. À certa altura, Ie-Shui explicou que, naquelemomento, na Terra, era Natal. Pediu com suavidade a operação Smen. Fez-se silêncio. E nós, em meu apartamentoem São Paulo, também nos colocamos em posição mental. Começou a irradiação Relt-Deets-Terra, para diluir asemanações sombrias dos incautos terráqueos. Vimos um raio condensado de luz azul e farpas douradas derramando-se, infiltrando-se entre as nuvens densas da Terra. Terminamos a tentativa, encerrando nosso contato com Relt.

Voltei ao que me cercava e lembrei-me das crianças. Elas continuavam brincando e Suah-Elsch me falou: — Elas são mesmo da Terra, mas vão colaborar conosco! Chamei Annie. Vieram os três. — Annie, preciso lhe contar uma coisa... — Não precisa, Sam-Tsi! Eu já sei. Você é minha mãe de outro planeta! Fiquei boquiaberta. Mas entendi que a missão de socorro havia efetivamente se iniciado.

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Um pouco do que rolaUm pouco do que rolaUm pouco do que rolaUm pouco do que rolaUm pouco do que rolana Internetna Internetna Internetna Internetna Internet

Listserver:

O Listserver do CLFC é um forum aberto de debates sobre FC, fantasia e horror, em português,via e-mail, na Internet. Um serviço gratuito, financiado pelo CLFC, disponível para todos os sócios

e não-sócios do Clube. Polêmico e informativo, já se tornou para o fã brasileiroe mesmo português, que estão na Internet, praticamente indispensável. Para assiná-lo basta

mandar uma mensagem vazia para [email protected] com a palavra subscribe como tópico.Para você que ainda não se conectou a rede, estaremos publicando, em cada edição do Somnium,

trechos selecionados dos debates, como os exibidos a seguir, realizados através de mensagenspostadas nos meses de outubro e novembro de 1997.

Subject: caboclos querendo ser inglesesE ainda tem gente que acha que são os professores

universitários que deveriam dizer aos fãs o que é bom ouruim em matéria de FC/F. (...)

CausoTem gente, quem, cara-pálida? ;-)GersonEu me referia aos acadêmicos e jornalistas culturais, e

não os citados — embora eles também busquem essa vozautoritativa.

(...) o fato é que eles transmitem uma impressão deautoridade sobre o assunto literatura, e outros setoresacabam se reportando a eles. São caboclos querendo seringleses. Essa questão da autoridade é de fato perigosa,sobretudo para as pessoas que preferem que outros digampara elas o que é bom ou ruim ao invés de julgar por sipróprias (...)

O próprio fato deles pretenderem assumir uma posturade autoridade já as desqualifica per si para tecerem juízocrítico em relação aos trabalhos do gênero. A suspeitade que eles pretendem manipular a vontade e os gostosdo fandom sempre lhes pairará sobre a cabeça.

Pra você e para mim, talvez não para a maioria — quese quedou muda, quando, por exemplo, André Carneirodisse abertamente que os fãs brasileiros não tem cabeçapara entender a sua obra, ou que os seus talentos de críticoestão tão acima da produção nacional que pedir para queele criticasse os seus colegas seria o mesmo que pedir aum mecânico de F-1 que preparasse o motor de um fuscapara um racha de fim de semana.

Olhe em torno e me diga que massa de leitores é essa,e em que instâncias o fandom decide a qualidade. Seráque há tanta circulação de opiniões críticas nos fanzinese reuniões — eu pessoalmente vejo uma apatia e falta deopiniões próprias de entristecer.

A grande questão é: quem canoniza? Quem determinao que tem valor e o que não tem? São organismos extra-fandom, como a academia e o jornalismo cultural — que,repito, não estão olhando para a FCB. Você diz que o que

Subject: Alta(?) Literatura x FC(...) que é o que acontece na maioria dos movimentos

artísticos – seja em literatura, pintura, etc. Mas quandochega a vez da fc, essa regra é misteriosamenteabandonada. Cito como exemplo um estudo que o MunizSodré escreveu lá pelos idos de 70, chamado *A Ficçãodo Tempo*, publicado pela Vozes e mencionado peloBráulio Tavares na bibliografia de *O Que é FicçãoCientífica*. Mas o livro do Sodré, em que pese se tratarde um dos mais conceituados teóricos da comunicação demassa no Brasil e não sei que mais, é uma decepção.Tendencioso, mal-informado, cheio de erros inclusivefatuais (...). E autocontraditório. Ele diz que o quediferencia a ficção científica da alta literatura (os termossão dele) é que a ficção científica não inova na forma, nãofaz experiências com a linguagem, que seria umacaracterística definidora da alta literatura (afirmaçãodiscutível, levando em conta autores como GrahamGreene, p. ex., mas deixemos estar). Aí, quando chega omovimento new wave, que como todo mundo sabe foimarcado pela experimentação literária radical, o autor*continua* insistindo que fc é indústria cultural e nãoliteratura. Como ele escapa dessa contradição? Simples:diz que o movimento new wave não passa de um*pastiche*, uma imitação industrial da alta literatura. Foinesse ponto que eu joguei o livro de lado, ler até o fimestava além das minhas forças.

Lúcio Manfreddi

Notas de auxílio à leitura:A variação de tipologia entre normal e itálico, determina que o

interlocutor mudou. Alguns dels, entretanto, nao puderam seridentificados.

Por uma questão de incompatibilidade entre computadores dosusuários, recomenda-se aos participantes dos listservers em geralque não utilizem acentuações, intraduzíveis por alguns sitemasoperacionais. As mesagens foram mantidas conforme foramremetidas (alguns missivistas não observaram a norma).

As mensagens foram reduzidas, por motivo de espaço, massem alterar o seu conteúdo.

por Dario Alberto de Andrade Filho

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lhe importa é a opinião dos seus pares, mas quantos nãovoluntariam suas opiniões? Mesmo aqui, há um beco semsaída.

Quem canoniza? Ninguém precisa canonizar ou sercanonizado. Cada leitor inteligente e consciente sóprecisa decidir se aquilo que leu é bom ou ruim, se ésignificativo ou medíocre, se lhe disse algo ou não, se foidivertido, intenso, ou simplesmente palatável, ou nemisto...

O problema é que muitas pessoas não têm opiniãoprópria e precisam que outros lhes digam o que é bom ouruim... A academia que se dane. Precisamos é de leitores!Não sei quanto aos outros autores nacionais... já converseisobre o assunto com o Fábio Fernandes e ele me disseque o seu sonho é ser um grande escritor de literaturaponto. Por mim, pretendo me tornar apenas um bomAUTOR DE FC & HA. Não pretendo seduzir o mainstreamou conquistar os críticos do jornalismo cultural que, rarasexceções, sequer lêem e entendem o que criticam.Pretendo sim, estimular o público consumidor potencialde FC&F, que, imagino, não deve ser tão pequeno assim,a se tornarem consumidores reais.

(...) anedota verídica: quando a editora da FundaçãoPeirópolis disse que pretendia publicar *A Descronizaçãode Sam Magruder*, ela foi aconselhada por seus colegasa não investir em FC. Portanto, reconhecer as entidadesque canonizam e ganhar controle ou poder de interferênciasobre elas significa também afetar o mercado. Aconteceunos States, em medida relativa.

Subject: querelas lusitanasPrezados sócios do CLFC e simpatizantes:deparamo-nos neste fim de semana com o que pode se

tornar o princípio de mais um bate-boca para animar onosso fandom. E, mais divertido ainda, desta vez o quebra-pau nos chega até aqui de lá do outro lado do Atlântico:uma discussão originalmente do fandom português deFC&F irradiada diretamente para cá graças às maravilhastecnológicas da Internet (o que seria da fofoca sem elaneste final de milênio, não é mesmo?)

P.S. - Todos os membros mais antigos do fandombrasileiro sabem tão bem quanto eu o quão debilitantesessas querelas costumam ser para a comunidade comoum todo. Quantos membros valiosos (não citarei nomes,vocês se lembram deles) não perdemos por nossasexplosões de egos? Depois do leite derramado, de queimporta afinal quem estava certo ou errado, não é?

Gerson Lodi-Ribeiro

Subject: Presidente Negro...gostaria de discutir com os demais membros desta

list a questao racial na FC. Ateh onde personagens negrossao discriminados ou realmente importantes nas historiasde FC (ateh hoje soh li aquelas duas noveletas de MikeResnick, Kirinyaga e Bwana, na IAM) e como o negro ehtratado pelos autores brasileiros em suas obras (desde queLobato escreveu O Presidente Negro). Tambem gostaria

de saber se ha algum outro autor negro na FCB alem deJulio Emilio Braz (que ainda nao fez nada explorando aquestao) e quais autores estrangeiros sao negros . Cesar.

Curiosamente, os tupinipunks como você costumamusar muitos personagens negros — vide o inspetor de*Silicone XXI*, mas um outro personagem negro em*Santa Clara Poltergeist*, e o seu (também não esquecerda mulata). Roberto de Sousa Causo

Subject: HeinleinComo todos nós sabemos, a partir dos STARSHIP

TROOPERS (Soldado no Espaço) a desgraça foicompleta... Depois de afirmar a pés juntos que o cidadãosó tem direito de voto em democracia quando cumpriu oserviço militar e degolou com as próprias mãos um piolhoextra-terrestre, Heinlein tornou-se no autor de cabeceira(assim dizem as más línguas e eu até acredito nelas) dopróprio Charles Manson. A verdade é que o assassino daSharon Tate, chegou mesmo a afirmar a quem o quis ouvir,que fundamentara toda a sua religião no grokar do órfãomarciano. Seja esta lenda verdadeira ou falsa, a fama jáninguém lha tira... Vá-se lá saber as alteraçõesneurológicas que o ESTRANHO EM TERRAESTRANHA provocou naquela alma sensível e em tantasoutras, que o foram lendo ao longo de todos estes anos...Barreiros

Caro colega Barreiros, como diz um amigo meu muitodo vernáculo, eu “disconcordo” da sua avaliação sobreo Heinlein, acho que ela foi um pouco severa. Faz algumtempo que eu venho prometendo pro Angelo um artigosobre isso (“Um dia, Angelo. Um dia...”), mas o fato éque não me parece que o Heinlein possa ser rotuladopura e simplesmente de fascista. É claro que a obra deletem esse aspecto, sim, *Starship Troopers* éprovavelmente o livro mais reacionário que a fc jáproduziu. Mas, se olharmos a obra do Heinlein numaperspectiva diacrônica (ops!), veremos que essa tendênciaestá em permanente conflito com outra que vaiexatamente em sentido contrário - e da qual um dosmarcos é bem *Um Estranho Numa Terra Estranha*: umHeinlein onde o darwinismo social e a glorificação domilitarismo passam para um segundo plano bem apagadoe ganha espaço a idealização de comunidades familiares,tipo clãs, que ele mesmo classifica de “comunistas” -com uma ironia que acaba se voltando contra elepróprio.(....) Lúcio.

Subject: Re: Midia sensacionalista e a FC(...) eu me pergunto: seria a Frota Estelar a verdade do

Brasil em termos de FC?Em termos de midia, para o bem e para o mal, Star

Trek esta’ anos-luz a frente dos outros grupos de Fc noBrasil. Exemplos: a) na Tv, quando aparecem fas, so’aparecem fas de ST. b) na TV aberta so’ ha’ Jornada eArquivo X. c) livros publicados de Fc: praticamente so’os de Jornada e Arquivo X. d) nas raras revistas que falamalgo de Fc, boa parte do espaco e’ dedicado a Star Trek...

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Conseguem, sim. Mas, a que preço? Bancando os idiotasuniformizados? Indo para programas medíocres (ou outrosnem tanto) e sendo ridicularizados? Publicando livros quese venderão sozinhos pelo título na lombada independenteda qualidade, ao invés de tentar elevar o nível deapreciação do público leitor?

Para mim, os líderes dessa Frota venderam a alma aodiabo? E o pior é que nem foi por muito dinheiro não :-)Venderam-se por uma piscadela de olho da mídia...

Mas, o que estávamos discutindo é se Star Trek é ounão FC.

Olha, tirando a série clássica, eu espero sinceramenteque não. Para o bem da FCB...

Gerson.

Subject: Star Trek X Babylon 5Sou Fabio Milan, 26 (...). Venho aqui declarar minha

apreciacao irrestrita em relacao ao seriado BABYLON 5(...) , considero B5 superior, mesmo em relacao a StarTrek. E digo porque: (...)

Em ST a sociedade e perfeita, nao existe corrupcao,pobreza, miseria, classes; ninguem fala palavroes ou temcomportamentos indignos. Coisa difente ocorre em B5,onde existe corrupcao no governo, existe pobreza e miseriana sociedade humana, as pessoas se drogam e muitas vezessao imorais. (...) Ja em B5, a humanidade possui todos osdefeitos e limitacoes atuais, mais uma inferioridade emtermos tecnologicos perante todas as outras grandes racas,ate mesmo perante os decadentes Ceintauri. (...)

O terceiro aspecto que, em minha opiniao, torna B5mais interessante que ST e que, no primeiro, a organizacaoque a humanidade encabeca, a Earth Aliance, nao e amais avancada em termos tecnologicos, ao contrario, e amais atrazada. Se mantem precariamente no cenariogalatico, tendo que pedir licenca e desculpas a todasas outras grandes nacoes do espaco, muito mais antigase desenvolvidas que a humanidade (....)

Subject: Asimov nos 80Consideremos os seguintes pressupostos que levaram

Asimov aos píncaros da fama: Estilo? Nuncaninguém disse que o bom do doutor era um mestrena arte da escrita. E realmente nao o era,mas dai aser chamado de pesado e monocordic e um exagero,quanto aos romances dos anos 80 se levarmos emconta o material limitado que ele tinha em maos (comovoce mesmo falou,as series ja estavam fechadas) eleconseguiu no minimo escrever romances agradaveis quese nao tinham a mesma vitalidade dos antigos naoconseguiu ferir sua reputacao de escritor como aconteceucom Clarke (quem nao concordar por favor leiam “Ofantasma das grandes banquisas”de Clarke) forcacao debarra mesmo foi tentar prolongar a serie Fundacao masninguem e $$$perfeito$$$$

Ramon Bacelar.

Subject: Manifesto II-A MissaoSer leitor de ficção científica em Portugal é aceitar com

passividade as más traduções, as publicações ocasionais,as encadernações baratas, as capas de mau gosto, as obrasdatadas e quase esquecidas, a ignorância dos editoresrelativamente ao que de moderno se está a fazer lá fora, acondição de isolamento, as livrarias que se recusam a tero material, e o franzir desdenhoso do intelectual de caféquando nos descobre a praticar o pecado da leitura porprazer.

Alguem poderia me dizer como e ser um leitor de FiccaoCientifica no Brasil?

Barreiros.Aqui nao temos mas traducoes, capas ruins,

encadernacoes baratas, editores preconceituosos, e muitomenos LIVROS DE FICCAO CIENTIFICA.

Ramon Bacelar.

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