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I Tese apresentada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Aeronáutica e Mecânica, na Área de Física e Química dos Materiais Aeroespaciais. Marciel Guerino UTILIZAÇÃO DE FILMES DE CARBONO TIPO- DIAMANTE NITROGENADOS E FLUORADOS COMO MATERIAIS ELETRÔNICOS Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados: Prof. Dr. Homero Santiago Maciel Chefe da Divisão de Pós-Graduação Campo Montenegro São José dos Campos, SP-Brasil 2008

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I

Tese apresentada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa do Instituto

Tecnológico de Aeronáutica, como parte dos requisitos para obtenção do título

de Doutor em Ciências no Programa de Pós-Graduação em Engenharia

Aeronáutica e Mecânica, na Área de Física e Química dos Materiais

Aeroespaciais.

Marciel Guerino

UTILIZAÇÃO DE FILMES DE CARBONO TIPO-

DIAMANTE NITROGENADOS E FLUORADOS COMO

MATERIAIS ELETRÔNICOS

Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados:

Prof. Dr. Homero Santiago Maciel Chefe da Divisão de Pós-Graduação

Campo Montenegro

São José dos Campos, SP-Brasil 2008

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I

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Divisão de Informação e Documentação Guerino, Marciel Utilização de filmes de carbono tipo-diamante nitrogenados e fluorados como materiais eletrônicos / Marciel Guerino. São José dos Campos, 2008. 119f. Tese de doutorado – Curso de Engenharia Mecânica e Aeronáutica – Física e Química dos Materiais Aeroespaciais – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2008. Orientador: Prof. Dr. Marcos Massi. Co-orientador: Prof. Dr. Ronaldo Domingues Mansano. 1. Carbono. 2. Filmes tipo diamante. 3. Microeletrônica. I. Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Divisão de Ensino Fundamental.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA GUERINO, Marciel. Utilização de filmes de carbono tipo-dimante nitrogenados e fluorados como materiais eletrônicos. 2008. 119f. Tese de doutorado em Física e Química dos Materiais Aeroespaciais – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. CESSÃO DE DIREITOS NOME DO AUTOR: Marciel Guerino TÍTULO DO TRABALHO: Utilização de filmes de carbono tipo-diamante nitrogenados e fluorados como materiais eletrônicos TIPO DO TRABALHO/ANO: Tese / 2008 É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias desta tese e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta tese pode ser reproduzida sem a sua autorização (do autor). ___________________________ Marciel Guerino Rua Maria Tereza de Oliveira, 161- Vila Quitaúna CEP 06190-080 – Osasco – São Paulo - Brasil

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UTILIZAÇÃO DE FILMES DE CARBONO TIPO-

DIAMANTE NITROGENADOS E FLUORADOS COMO

MATERIAIS ELETRÔNICOS

Marciel Guerino Composição da Banca Examinadora:

Prof. Dr. Homero Santiago Maciel Presidente – ITA

Prof. Dr. Marcos Massi Orientador – ITA

Prof. Dr. Ronaldo Domingues Mansano Co-orientador – LSI/USP

Prof. Dr. Argemiro Soares da Silva Sobrinho ITA

Prof. Dr. Carlos Eduardo Viana LSI/USP

Prof. Dr. Victor Pellegrini Mammana CenPRA

ITA

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III

Agradecimentos

Gostaria de agradecer primeiramente à FAPESP pelo suporte financeiro.

À minha família e amigos por todo apoio no decorrer deste projeto de doutorado.

Ao Prof. Marcos Massi pela orientação.

Ao Prof. Ronaldo D. Mansano pela co-orientação.

Ao Prof. Luís da Silva Zambom pela importante colaboração no desenrolar deste projeto

de doutorado.

Ao amigo Samir Munir Rajab pelo companheirismo e pela ajuda no desenvolvimento das

máscaras litográficas.

Agradeço também, à Dra. Lúcia V. Santos, à Dra. Elisabete Galeazzo, ao Dr. Marcel

Dupret e ao técnico Marcos Rodrigues pelas medidas realizadas e pelas valiosas

discussões, e ao Dr. Acácio Luiz Siarkowski, ao Especialista em laboratório Nelson

Ordonez, ao técnico Carlos Araújo, ao Dr. Aristides Pavani, ao Dr. Curt Egon Hennies, ao

técnico Daniel Lara e à Doutoranda Carolina Davanzzo Gomes dos Santos pelo apoio na

realização das partes práticas deste projeto de doutorado.

Agradeço ao ITA por esta oportunidade de realizar meu doutorado e agradeço também a

importantíssima colaboração dos seguintes laboratórios: Laboratório de Sistemas

Integráveis – LSI/PSI/EPUSP, Laboratório Associado de Sensores e Materiais -

LAS/INPE, Centro de Pesquisa Renato Archer – CenPRA, Laboratório de Análise de

Materiais por Feixe Iônico - LAMFI/IFUSP e Laboratório de Microeletrônica da Escola

Politécnica da USP – LME/PSI/EPUSP, os quais disponibilizam os recursos necessários

para a realização deste trabalho.

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IV

Resumo

Este trabalho tem por objetivo principal estudar as alterações que possam vir a ocorrer nas

propriedades eletrônicas do filme de carbono amorfo hidrogenado (a-C:H), em virtude da

incorporação dos aditivos nitrogênio e flúor. A deposição dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-

C:H:F que foram estudados neste projeto de doutorado foi realizada através da técnica de

pulverização catódica (sputtering), por meio de uma descarga elétrica de rádio-freqüência

(RF) com cátodo do tipo magnetron. Os filmes depositados foram caracterizados por meio de:

i) medidas de espessura, para a determinação da taxa de deposição, ii) medidas de RBS

(Rutherford backscattering spectrometry), para o estudo da composição química, iii) medidas

Raman e de infravermelho, para o estudo da estrutura das ligações químicas, iv) medidas de

fotoluminescência, para o estudo da densidade e características dos defeitos existentes nos

filmes, e v) medidas elétricas. Para a realização das medidas elétricas confeccionaram-se os

seguintes dispositivos: i) capacitores do tipo MIS (metal-insulator-semiconductor), dos quais

se obtiveram as curvas de capacitância-tensão (C-V) e corrente-tensão (I-V), e ii) transistores

dos tipos: transistor de filme fino, dispositivo conhecido pela sigla, em inglês, TFT (thin film

transistor) e MESFET (metal-semiconductor field effect) de porta tripla, dos quais se

obtiveram as curvas de corrente de dreno versus tensão de porta (IDS-VGS) e curvas de

corrente de dreno versus tensão de dreno (IDS-VDS). Alguns dos principais resultados das

caracterizações feitas são: a ocorrência de um aumento de 21 at.% a 40 at.% do elemento

nitrogênio na composição química do filme a-C:H com o conseqüente surgimento das

ligações N—H, C=N e C≡N neste material e a ocorrência de um aumento de 0,5 at.% a 20

at.% do elemento flúor na composição química do filme a-C:H com o conseqüente

surgimento das ligações C—F e C—F2. Com os resultados obtidos das caracterizações

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realizou-se uma análise correlacionando as condições de deposição dos filmes a-C:H, a-

C:H:N e a-C:H:F com as características composicionais, vibracionais, fotoluminescentes e

eletrônicas obtidas dos mesmos, de modo a encontrar uma janela de operação no reator de

deposição que possibilite a produção destes filmes com características adequadas para serem

utilizados como materiais alternativos na área de microeletrônica. Além disso, têm-se a

fabricação de transistores com filmes de carbono como sendo a nossa principal vertente de

aplicação, para a qual se busca desenvolver, por exemplo, transistores que possam vir a ser

uma alternativa com relação ao TFT de silício amorfo hidrogenado (a-Si:H TFT), já

largamente utilizado na indústria eletrônica.

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VI

Abstract

The main objective of this work is to study the alterations in the electronic properties of the

hydrogenated amorphous carbon (a-C:H) film, caused by the incorporation of the nitrogen and

fluorine addictives. The deposition of the a-C:H, a-C:H:N and a-C:H:F films that are studied

in this work is accomplished by reactive RF magnetron sputtering technique. The deposited

films were characterized through: i) thickness measurements to determine the deposition rate,

ii) RBS measurements to study the chemical composition, iii) Raman and infrared

measurements to study the chemical bonding structure, iv) photoluminescence measurements

to study the density and characteristics of the defects in the films and v) electrical

measurements. The electrical measurements were made in the following devices: i) metal-

insulator-semiconductor (MIS) capacitors to obtain the capacitance-voltage (C-V) and

current-voltage (I-V) curves and ii) transistors of the following types: thin film transistor

(TFT) and triple gate MESFET of which we obtained VGS-ID and VDS-ID curves. Some of the

main results of the accomplished characterizations are: the occurrence of an increase from 21

at.% to 40 at.% of the element nitrogen in the chemical composition of the a-C:H film with

the consequent appearance of the N—H, C=N e C≡N bonds in this material and the

occurrence of an increase from 0,5 at.% to 20 at.% of the element fluorine in the chemical

composition of the a-C:H film with the consequent appearance of the C—F e C—F2 bonds.

With the results of the characterizations, we accomplished an analysis correlating the

deposition conditions of the a-C:H, a-C:H:N and a-C:H:F films with the compositional,

vibrational, photoluminescent and electronic properties found in these materials in the

intention of finding the deposition condition that makes possible the production of these films

with appropriate characteristics for the microelectronic area. In addition, the transistors

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produced with carbon films is our main application focus. We seek, for instance, the

development of transistors to come to be an alternative regarding the a-Si:H TFT that is

broadly used in the electronic industry.

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VIII

Lista de figuras

Figura 1 – Intensidade de espalhamento Raman para vários materiais: (a) h.o.p.g., (b) grafite

microcristalino, com tamanho de cristalito de aproximadamente 25 Å, (c) a-C:H, depositado

por uma descarga operando no regime luminescente em 25°C, (d) a-C, depositado por

pulverização catódica, e (e) a-C evaporado..............................................................................26

Figura 2 – Representação esquemática das hibridizações sp3, sp2 e sp1

Figura 3 – Distribuição da densidade de estados localizados próximos da extremidade da

banda de condução e da densidade de estados estendidos acima dessa mesma extremidade,

separados pelo limiar de mobilidade para o filme de silício amorfo (a-Si)..............................31

..................................27

Figura 4 – Distribuição da densidade de estados, onde é possível observar as bandas, as

caudas nas bandas e os estados profundos localizados no gap, para o filme a-Si....................32

Figura 5 – Ilustração contrastando os diferentes tipos de defeitos: (a) em uma rede estrutural

cristalina e (b) em uma rede estrutural amorfa..........................................................................34

Figura 6 – Diagrama dos estados localizados nos limiares das bandas do filme a-C(:H).......35

Figura 7 – Distribuição dos estados localizados e estendidos nos materiais: (a) a-Si e

(b) a-C.......................................................................................................................................36

Figura 8 – Possíveis configurações de dopagem do nitrogênio no ta-C e diagramas de orbitais

moleculares, onde os círculos cheios e vazios denotam elétrons provenientes do nitrogênio

(N) e do carbono (C), respectivamente. Um único ponto significa um elétron desemparelhado

enquanto que dois pontos significam um par formado (estado não-ligado).............................43

Figura 9 – Esquema da densidade de estados para com o nitrogênio estando: (a) no diamante,

(b) no ta-C:N, pela dopagem do tipo σ, (c) no ta-C, passivando os níveis de defeitos do tipo-p,

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(d) no a-C:N, pela dopagem do tipo π, e (e) no a-C, pela configuração “não-dopadas” do tipo-

pyridine.....................................................................................................................................46

Figura 10 – Seção transversal e vista superior de um dispositivo TFT, onde é destacado o

dreno (drain), a porta (gate) e a fonte (source). As dimensões W e L representam,

respectivamente, a largura e o comprimento do canal..............................................................52

Figura 11 – Dependência da corrente de dreno para com a tensão de porta para um

dispositivo TFT operando em ambos os modos, canal-p e –n. As flechas indicam as direções

de mudança da tensão...............................................................................................................53

Figura 12 – Característica corrente-tensão de um a-Si TFT e os seus pontos de operação.....54

Figura 13 – Ilustração esquemática do transistor MESFET....................................................55

Figura 14 – Um dispositivo finFET de porta dupla. As dimensões T e H representam,

respectivamente, a espessura e a altura do fin. Enquanto Lg representa o comprimento da

porta..........................................................................................................................................56

Figura 15 – Ilustração esquemática das linhas de cobre (Cu) introduzidas no dielétrico. A foto

mostra uma das seções transversais da interconexão da tecnologia de 90 nm da Intel............58

Figura 16 - Sistema de pulverização catódica: (1) campânula de aço inoxidável, (2) porta

amostra, (3) alvo, (4) eletrodo, (5) válvula gaveta, (6) sistema de vácuo, (7) sistema de RF

composto de uma malha de acoplamento e gerador de RF.......................................................62

Figura 17 - Câmara de deposição: a) parte externa e b) parte interna, em destaque o alvo e o

porta amostra.............................................................................................................................63

Figura 18 – Capacitores MIS confeccionados.........................................................................65

Figura 19 - Representação esquemática e circuito equivalente simplificado do capacitor MIS,

onde CD é a capacitância do material dielétrico e CS é a capacitância equivalente do

semicondutor.............................................................................................................................67

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X

Figura 20 – Seqüência do processo de confecção dos TFTs....................................................68

Figura 21 – TFTs confeccionados............................................................................................69

Figura 22 – Seqüência do processo de confecção dos MESFETs de porta tripla....................71

Figura 23 – MESFETs de porta tripla confeccionados............................................................72

Figura 24 – Taxa de deposição dos filmes a-C:H(:N) em função da porcentagem de N2 no gás

de pulverização catódica reativa...............................................................................................76

Figura 25 – Taxa de deposição dos filmes a-C:H(:F) em função da porcentagem de CF4 no

gás de pulverização catódica reativa.........................................................................................77

Figura 26 – Espectro RBS e simulação SIMNRA do filme a-C:H..........................................78

Figura 27 – Espectros RBS e simulações SIMNRA dos filmes a-C:H:N depositados nas

porcentagens de N2 de: (a) 10%, (b) 20%, (c) 40%, (d) 60% e (e) 80% em carbono vítreo. As

posições dos picos dos elementos carbono, nitrogênio e oxigênio, presentes na composição

química destes materiais, estão assinaladas..............................................................................79

Figura 28 – Espectros RBS e simulações SIMNRA dos filmes a-C:H:F depositados nas

porcentagens de CF4 de: (a) 5%, (b) 10%, (c) 20%, (d) 40% e (e) 60% em carbono vítreo. As

posições dos picos dos elementos carbono, flúor, nitrogênio e oxigênio, presentes na

composição química destes materiais, estão assinaladas..........................................................80

Figura 29 – Variação da quantidade de nitrogênio na composição química dos filmes a-

C:H(:N) em função da porcentagem de N2 no gás de pulverização catódica reativa...............81

Figura 30 – Variação da quantidade de flúor na composição química dos filmes a-C:H(:F) em

função da porcentagem de CF4 no gás de pulverização catódica reativa..................................82

Figura 31 – Espectros Raman dos filmes a-C:H(:N) depositados nas porcentagens de N2 de:

(a) 10%, (b) 20%, (c) 40%, (d) 60% e (e) 80% em silício. As bandas D e G estão

assinaladas.................................................................................................................................83

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XI

Figura 32 – Espectros Raman dos filmes a-C:H(:F) depositados nas porcentagens de CF4 de:

(a) 5%, (b) 10%, (c) 20%, (d) 40% e (e) 60% em silício. As bandas D e G estão

assinaladas.................................................................................................................................84

Figura 33 – Espectro Raman do filme a-C:H, no qual são assinaladas as bandas D e G........85

Figura 34 – Espectro FTIR do filme a-C:H.............................................................................86

Figura 35 – Espectros FTIR dos filmes a-C:H(:N) depositados em silício, para várias

porcentagens de N2 no gás de pulverização catódica reativa....................................................87

Figura 36 – Espectros FTIR dos filmes a-C:H(:F) depositados em silício, para várias

porcentagens de CF4 no gás de pulverização catódica reativa..................................................88

Figura 37 – Espectros de fotoluminescência dos filmes a-C:H(:N), depositados em silício

para várias porcentagens de N2 no gás de pulverização catódica reativa.................................90

Figura 38 – Espectros de fotoluminescência dos filmes a-C:H(:F), depositados em silício para

várias porcentagens de CF4 no gás de pulverização catódica reativa.......................................91

Figura 39 – Curvas I-V dos filmes a-C:H(:N), depositados em silício nas seguintes

porcentagens de N2 no gás de pulverização catódica reativa: 0%, 10%, 20%, 40%, 60% e

80%...........................................................................................................................................93

Figura 40 – Curvas I-V dos filmes a-C:H(:F), depositados em silício nas seguintes

porcentagens de CF4 no gás de pulverização catódica reativa: 0%, 5%, 10%, 20%, 40% e

60%...........................................................................................................................................94

Figura 41 – Curva C-V para o capacitor MIS, tendo o filme a-C:H:F, depositado com 60% de

CF4 no gás de pulverização catódica reativa, como dielétrico..................................................96

Figura 42 – Efeito da porcentagem de N2 no gás de pulverização catódica reativa na

constante dielétrica dos filmes a-C:H(:N).................................................................................97

Figura 43 – Efeito da porcentagem de CF4 no gás de pulverização catódica reativa na

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constante dielétrica dos filmes a-C:H(:F).................................................................................98

Figura 44 – Esquema dos TFTs confeccionados.....................................................................99

Figura 45 – Curva IDS-VDS obtida para os TFTs confeccionados..........................................100

Figura 46 – Representação Simplificada dos MESFETs de porta tripla confeccionados......101

Figura 47 – Curva IDS-VGS obtida para os MESFETs de porta tripla confeccionados com o

filme a-C:H:N depositado na condição de 40% de N2. O valor de VDS foi fixo em 1 V........102

Figura 48 – Curva IDS-VGS obtida para os MESFETs de porta tripla confeccionados com o

filme a-C:H:N depositado na condição de 60% de N2. O valor de VDS foi fixo em 1 V........103

Figura 49 – Curva IDS-VDS obtida para os MESFETs de porta tripla confeccionados. Os

valores de VGS foram variados em 0 V, -2,5 V e -5 V............................................................104

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XIII

Lista de tabelas

Tabela 1 – Valores de algumas propriedades existentes em diferentes materiais

carbonosos.................................................................................................................................19

Tabela 2 – Fluxo dos gases para a deposição dos filmes a-C:H:N..........................................64

Tabela 3 – Fluxo dos gases para a deposição dos filmes a-C:H:F...........................................64

Tabela 4 – Etapas e condições utilizadas na confecção dos capacitores MIS..........................65

Tabela 5 – Etapas e condições de processo de confecção dos TFTs........................................70

Tabela 6 – Etapas e condições de processo de confecção dos MESFETs de porta tripla........72

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XIV

Lista de símbolos

EC , EV Banda de condução, Banda de Valência.

EF Nível de Fermi.

N(E) Densidade de estados.

ρ Resistividade.

RF Rádio-freqüência.

λ Comprimento de onda.

t Espessura do dielétrico.

κ Constante dielétrica.

ε0 Permissividade no vácuo.

A Área.

Cmis Combinação em série da capacitância do material dielétrico e da capacitância

do material semicondutor.

CD Capacitância do material dielétrico.

CS Capacitância do material semicondutor.

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XV

SUMÁRIO

1. Introdução............................................................................................................................18

2. Revisão bibliográfica...........................................................................................................22

2.1. Carbono tipo-diamante (DLC).................................................................................22

2.1.1. Mecanismos de obtenção do DLC......................................................................22

2.1.2. Propriedades vibracionais do DLC....................................................................24

2.1.3. Ligações e redes estruturais do DLC .............................................................. 27

2.1.3.1. A função do hidrogênio na rede estrutural do DLC ................................ 29

2.1.4. Localização dos elétrons nos materiais semicondutores amorfos .................. 30

2.1.4.1. Efeito da desordem na estrutura eletrônica do DLC ................................ 32

2.1.4.2. A função do hidrogênio na estrutura eletrônica do DLC ......................... 37

2.2. DLC nitrogenado .................................................................................................. 38

2.2.1. Processos de incorporação de nitrogênio no DLC ......................................... 38

2.2.2. A função do nitrogênio nas propriedades vibracionais do DLC..................... 39

2.2.3. Ligações e redes estruturais do DLC nitrogenado.......................................... 40

2.2.3.1. A função do nitrogênio na rede estrutural do DLC ................................. 41

2.2.4. A função do nitrogênio na estrutura eletrônica do DLC ................................ 41

2.3. DLC fluorado ........................................................................................................ 47

2.3.1. Processos de incorporação de flúor no DLC .................................................. 47

2.3.2. A função do flúor nas propriedades vibracionais do DLC ............................. 47

2.3.3. Ligações e redes estruturais do DLC fluorado ............................................... 48

2.3.3.1. A função do flúor na rede estrutural do DLC.......................................... 49

2.3.4. A função do flúor na estrutura eletrônica do DLC ........................................ 49

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XVI

2.4. Aplicações eletrônicas do DLC e de suas formas nitrogenada e

fluorada.............................................................................................................................50

2.4.1. TFTs....................................................................................................................51

2.4.2. MESFETs...........................................................................................................54

2.4.3. finFETs...............................................................................................................55

2.4.4. Utilização de dielétricos com alta ou baixa constante dielétrica em circuitos

integrados (CIs) ....................................................................................................... 56

3. Materiais e métodos ....................................................................................................... 60

3.1. Preparação dos substratos .................................................................................... 60

3.2. Sistema de deposição e condições de deposição ................................................... 61

3.3. Confecção dos capacitores MIS ............................................................................ 64

3.3.1. Representação esquemática e circuito equivalente para o capacitor MIS .......66

3.4. Confecção dos TFTs .............................................................................................. 67

3.5. Confecção dos MESFETs de porta tripla ............................................................ 70

3.6. Técnicas de caracterizações .................................................................................. 73

4. Resultados e discussões .................................................................................................. 75

4.1. Taxa de deposição ................................................................................................. 75

4.2. Composição química ............................................................................................. 78

4.3. Estrutura das ligações químicas ........................................................................... 82

4.4. Fotoluminescência ................................................................................................. 89

4.5. Capacitor MIS....................................................................................................... 92

4.5.1. Curvas I-V...........................................................................................................92

4.5.2. Curvas C-V.........................................................................................................96

4.6. TFTs ...................................................................................................................... 99

4.7. MESFETs de porta tripla ................................................................................... 100

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XVII

5. Conclusões .................................................................................................................... 105

6. Produções bibliográficas .............................................................................................. 107

6.1. Artigos ................................................................................................................. 107

6.2. Trabalhos publicados em anais de eventos ........................................................ 108

7. Referências bibliográficas ............................................................................................ 109

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18

1. Introdução

O material denominado carbono tipo-diamante, também conhecido pela sigla, em inglês,

DLC (diamond-like carbon), abrange uma grande variedade de filmes de carbono amorfo,

dentre os quais se destacam: o filme hidrogenado (a-C:H), que contém até 50 at.% de

hidrogênio, e o filme “não-hidrogenado” (a-C), que contém menos que 1 at.% de hidrogênio.

Por sua vez, outro filme bastante estudado é o filme denominado de ta-C (carbono tetraédrico)

que é definido como sendo similar ao filme a-C, porém contendo altas frações de

hibridizações do tipo sp3

O estudo do DLC tem como pioneiros Aisenberg e Chabot[1,2] e Spencer[3], que

produziram um material de diamante microcristalino contendo uma “dura” fase amorfa,

através de uma deposição feita utilizando-se feixes de íons de média energia, sendo que essa

fase amorfa foi denominada, ao longo dos anos, de DLC.

.

A partir da descoberta do DLC, muitos estudos foram feitos de modo a se alcançar o

entendimento de seu mecanismo de crescimento e de suas propriedades físico-químicas,

visando à utilização do mesmo na indústria. Muitos dos resultados obtidos nesses estudos

foram surpreendentes, pois os mesmos revelaram que o DLC possui excelentes propriedades

ópticas, mecânicas, químicas e elétricas[3-9].

Algumas das propriedades mais relevantes observadas no DLC são: transparência óptica na

região de infravermelho[10,11], inércia química[4], alto índice de refração[10], alta

resistividade elétrica, alta dureza[9], baixo coeficiente de atrito[4], baixa rugosidade[4], além

de hemocompatibilidade[12-15] e biocompatibilidade[12-15].

O fator que rege as propriedades físico-químicas do DLC está intimamente relacionado com

a fração de hibridizações (sp3:sp2:sp1) contidas nesse material, as quais possuem, inclusive,

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uma grande influência na massa específica do mesmo. Entretanto, a quantidade de

hibridizações do tipo sp1 no DLC é praticamente desprezível[16], o que faz com que as

propriedades desse material sejam preponderantemente regidas pela razão sp3/sp2. O controle

dessa concentração relativa de hibridizações sp3 e sp2 depende principalmente da

concentração de hidrogênio adicionado ao processo de deposição, da polarização do substrato

e da temperatura de deposição[17].

A fração de hibridizações do tipo sp3

existente em cada tipo de filme de DLC faz com que

os mesmos possam ter propriedades físico-químicas completamente antagônicas, bem como

permite aos mesmos assumirem características de dielétrico ou semicondutor, ter alta ou baixa

dureza. Na tabela 1 é mostrada uma comparação de algumas propriedades existentes nas

diferentes formas que o DLC pode-se estruturar, as quais são comparadas com as do grafite e

diamante[1].

Tabela 1 – Valores de algumas propriedades existentes em diferentes materiais de

carbono[1].

sp3 H (at.%) (%) Gap (eV) Massa específica (g.cm-3 Dureza (GPa) ) Diamante 100 0 5,5 3,52 100 Grafite 0 0 0 2,27 - ta-C 80-88 0 2,5 3,1 80 a-C:H hard 40 30-40 1,1-1,7 1,6-2,2 10-20 a-C:H soft 60 40-50 1,7-4 1,2-1,6 <10 ta-C:H 70 30 2-2,5 2,4 50

As propriedades atingíveis pelo DLC em suas mais diversas formas permitem que esse

material seja aplicado em diferentes segmentos industriais, onde se destacam: o

automotivo[18], o aeronáutico[19], o biomédico[12-15] e o microeletrônico[4,5,20-24], como

se verá adiante.

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Para adequar o DLC às devidas aplicações, esse material vem sendo depositado através de

uma grande variedade de técnicas, dentre as quais se destacam: deposição assistida por

plasma[25], deposição por feixe de íons[2,3,26], deposição por evaporação térmica[25],

deposição por pulverização catódica (magnetron sputtering)[10] e implantação iônica[25].

Trabalhos abordando a incorporação de diferentes elementos químicos no DLC também

vêm sendo realizados, sendo que os resultados obtidos indicam que determinados elementos

químicos causam significativas mudanças nas propriedades físico-químicas e eletrônicas

desse material. Dentre as principais mudanças reveladas por esses trabalhos, à que mais se

destaca é a ocorrência de uma redução na constante dielétrica do DLC, devido à incorporação

de flúor no mesmo[27]. Essa redução é importantíssima, pois qualifica o DLC fluorado para

ser utilizado como material dielétrico na indústria de microeletrônica.

No presente trabalho tem-se por objetivo estudar e aplicar filmes a-C:H nitrogenados (a-

C:H:N) e filmes a-C:H fluorados (a-C:H:F) na área de microeletrônica. Para isso, estes

materiais foram depositados com diferentes níveis de dopagem e as suas propriedades

eletrônicas foram obtidas e analisadas. Além disso, foram confeccionados transistores dos

tipos: transistor de filme fino, dispositivo conhecido pela sigla, em inglês, TFT (thin film

transistor) e MESFET (metal-semiconductor field effect) de porta tripla, como uma forma de

aplicar os materiais estudados, bem como avaliar o comportamento dos mesmos integrados

em dispositivos.

De forma a apresentar este trabalho, os capítulos foram organizados da seguinte maneira.

No capítulo 2 é apresentada a revisão bibliográfica, onde é realizada uma análise de alguns

trabalhos que abordam os diferentes mecanismos macroscópicos e microscópicos envolvidos

na deposição do DLC. Neste mesmo capítulo são discutidas também as propriedades

vibracionais da estrutura das ligações químicas do DLC, bem como algumas características de

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sua rede estrutural. Além disso, são realizadas neste capítulo uma discussão com relação à

localização dos elétrons nos semicondutores amorfos e uma discussão com relação às

modificações impostas pela incorporação dos aditivos nitrogênio e flúor no DLC nas

propriedades vibracionais, estruturais e eletrônicas deste material.

A apresentação dos materiais e métodos utilizados neste trabalho é feita no capítulo 3, onde

são detalhados o sistema de deposição e as condições de deposição dos materiais estudados.

Além disso, neste mesmo capítulo são apresentados também os métodos e processos de

confecção dos capacitores MIS, TFTs e MESFETs de porta tripla, bem como as técnicas de

caracterizações empregadas neste projeto de doutorado.

No capítulo 4 são apresentados os resultados e as discussões sobre as variações ocorridas na

taxa de deposição e nas propriedades vibracionais, fotoluminescentes e eletrônicas do material

a-C:H, em função da quantidade de nitrogênio e flúor incorporada no mesmo.

No capítulo 5 são apresentadas as conclusões finais deste trabalho. Posteriormente, no

capítulo 6, são apresentadas as produções bibliográficas (artigos e trabalhos publicados em

anais de eventos), geradas durante o desenvolvimento desta tese. Por último, no capítulo 7,

são apresentadas as referências bibliográficas.

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2. Revisão bibliográfica

Neste capítulo são discutidos inicialmente os mecanismos macroscópicos e microscópicos

envolvidos na deposição do DLC e as propriedades vibracionais da estrutura de suas ligações

químicas, bem como algumas características de sua rede estrutural e de sua estrutura

eletrônica. Posteriormente são discutidos os processos de incorporação dos aditivos nitrogênio

e flúor no DLC e as modificações impostas por essas incorporações, nas propriedades

vibracionais, estruturais e eletrônicas destes novos materiais.

2.1. Carbono tipo-diamante (DLC)

Neste item é apresentado um detalhamento a respeito dos mecanismos macroscópicos e

microscópicos envolvidos na deposição dos filmes de DLC.

2.1.1. Mecanismos de deposição do DLC

O mecanismo de deposição do DLC pode ser descrito tanto por seus aspectos

macroscópicos quanto por seus aspectos microscópicos. Do ponto de vista macroscópico, a

formação do DLC é atribuída, simplesmente, a uma transição da hibridização sp2 para a densa

e metaestável hibridização sp3

Várias descrições microscópicas têm sido dadas para a formação do DLC.

Weissmantel[30], por exemplo, propôs que a quantidade de hibridizações do tipo sp

[28,29]. O ponto de vista microscópico aborda todo o processo

de colisão entre íons de carbono e a rede estrutural.

3 aumenta

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23

mediante a ocorrência de uma onda de choque térmica (thermal spike shock-wave) causada

pela ocorrência de uma cascata de íons de carbono (ion cascade) na rede estrutural pré-

formada do DLC.

Lifshitz[31] propôs um mecanismo de subimplantação (uma implantação em baixa

energia), no qual os íons de carbono se alojam em posições subsuperficiais na rede estrutural

pré-formada do DLC. Nesse mecanismo de subimplantação proposto por esse autor, é

postulada também a ocorrência de um deslocamento preferencial das hibridizações sp2,

permitindo assim o acúmulo das hibridizações do tipo sp3.

Essa idéia de deslocamento preferencial tem o seu surgimento relacionado a antigas

estimativas dos diferentes limiares de deslocamento das hibridizações sp2 (característica do

grafite) e sp3 (característica do diamante), 25 eV e 80 eV, respectivamente[32,33].

No intuito de validar esse mecanismo de subimplantação, novas medidas foram feitas, onde

foram encontrados valores bem similares para o caso das hibridizações sp2 (35 eV), porém os

valores encontrados para o caso das hibridizações sp3 foram bem diferentes (37 ou 47

eV)[34,35], o que veio a invalidar esse mecanismo como sendo o responsável pela formação

de hibridizações do tipo sp3

Robertson[36] e Davis[37] também propuseram um mecanismo de subimplantação para o

processo de formação do DLC, sendo esse o mais aceito atualmente. Nessa hipótese foi

proposto que as hibridizações atômicas do DLC se ajustam à massa específica local em

condições altamente energéticas de bombardeamento de íons de carbono, ou seja, esses

autores propuseram que haveria de se ter mais hibridizações do tipo sp

.

2, caso a massa

específica da rede estrutural pré-formada do DLC bombardeado fosse baixa, ou mais

hibridizações do tipo sp3, caso a massa específica da rede estrutural pré-formada do DLC

bombardeado fosse alta. Além disso, esses autores propuseram que a massa específica

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resultante do DLC aumentaria, caso os íons de carbono incidentes penetrassem na primeira

camada atômica, onde os mesmos se alojariam em interstícios (posição subsuperficial) e se

religariam aos seus vizinhos de modo a formar hibridizações do tipo sp3.

Segundo Robertson[36] e Davis[37], a massa específica do DLC é também afetada quando

os íons de carbono de alta energia penetram profundamente na rede estrutural pré-formada

desse material. Quando isso ocorre, a massa específica das camadas mais profundas tende a

aumentar em decorrência da formação de hibridizações do tipo sp3. Nesse caso os íons de

carbono de alta energia utilizam somente parte de suas energias para penetrarem na superfície

do DLC, enquanto que a parte restante de suas energias se dissipa rapidamente, por volta de

10-12 s, em um rápido processo térmico (thermal spike), durante o qual a massa específica das

camadas superficiais do DLC tende a relaxar. Conseqüentemente, para esse modelo de

subimplantação, o DLC teria uma alta massa específica, caso o mesmo fosse obtido mediante

uma condição ótima de bombardeamento de íons de carbono, a qual ocorreria de maneira a

maximizar o rendimento de penetração dos íons de carbono sem minimizar a massa específica

das camadas superficiais. Além disso, Robertson[36] e Davis[37] propuseram que os íons de

carbono de baixa energia incidentes não penetram na rede estrutural pré-formada do DLC, os

mesmos somente se fixam na superfície desse material, na qual formam hibridizações do tipo

sp2

.

2.1.2. Propriedades vibracionais do DLC

O espectro vibracional do DLC fornece valiosas informações com relação as propriedades

vibracionais da estrutura de suas ligações químicas. Diferentemente do DLC, os monocristais

de grafite apresentam dois modos ativos Raman, ambos de simetria E2g, um deles, que está

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centrado em 1580 cm-1, é devido ao modo principal, enquanto que o outro, centrado em 42

cm-1, é devido ao modo de vibrações interplanares. No infravermelho, os monocristais de

grafite apresentam também dois modos ativos, o modo principal E1u, centrado em 1585 cm-1,

e o modo fora do plano A2u, centrado em 868 cm-1[38].

No DLC não há conservação do espalhamento, devido à estruturação de suas ligações

químicas não possuir uma ordem a longa distância, conseqüentemente todos os modos

vibracionais são permitidos no mesmo.

O espectro Raman do DLC é correlacionado com a rede estrutural do grafite, ou seja, a

banda G, centrada no espectro Raman do DLC em aproximadamente 1550 cm-1, fica próxima

do modo principal do grafite e bem acima de qualquer modo de freqüência possível para uma

rede estrutural de hibridizações do tipo sp3. Enquanto que a banda D, centrada no espectro

Raman do DLC em aproximadamente l350 cm-1

Na figura 1 é mostrada uma comparação entre os espectros Raman dos materiais a-C e a-

C:H e os espectros Raman de alguns materiais carbono grafiticos[40]. Como é mostrado na

figura 1(a), o espectro do grafite pirolítico altamente orientado, material conhecido pela sigla,

em inglês, h.o.p.g. (highly-oriented pyrolytic graphite), exibe somente o modo E2g da rede

estrutural de grafite ideal. Enquanto que a amostra de grafite microcristalino que é mostrada

na figura 1(b) apresenta, além desse modo E2g, o modo de desordem de microcristais de

grafite posicionado em 1350 cm

, é atribuída ao modo A1g (modo desordem

dos microcristais de grafite). Fora isso, o espectro Raman do DLC é caracterizado pela

presença de uma larga banda luminescente na região do visível que é devida aos sinais de

fotoluminescência ocasionados quando o laser incidente é parcialmente absorvido pelo DLC,

sendo que essa banda aparece como uma linha de base[39].

-1. Assim como para os microcristais de grafite, os espectros

Raman dos materiais a-C:H, depositado por uma descarga operando no regime luminescente

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(glow) em 25°C, a-C, depositado por pulverização catódica, e a-C, depositado por

evaporação, que são mostrados nas figuras 1(c), 1(d) e 1(e), respectivamente, também

apresentam o modo E2g e o modo de desordem de microcristais de grafite. Entretanto,

observa-se nos espectros desses materiais que o modo de desordem de microcristais de grafite

se encontra bem mais acentuado do que o mesmo estando na amostra de grafite

microcristalino [Fig. 1(b)], o que é justificado pelo fato desses materiais possuírem uma rede

estrutural de hibridizações sp2 mais desordenada.

Figura 1 – Intensidade de espalhamento Raman para vários materiais: (a) h.o.p.g., (b) grafite

microcristalino, com tamanho de cristalito de aproximadamente 25 Å, (c) a-C:H, depositado

por uma descarga operando no regime luminescente em 25°C, (d) a-C, depositado por

pulverização catódica, e (e) a-C evaporado[40].

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27

2.1.3. Ligações e redes estruturais do DLC

Um átomo de carbono pode adotar três diferentes tipos de hibridizações, que são: sp3, sp2 e

sp1, como são mostradas na figura 2[40]. Na hibridização do tipo sp3, cada um dos quatro

elétrons de valência do carbono é atribuído a um orbital híbrido sp3 direcionado

tetraedricamente, formando uma ligação do tipo σ com o átomo de carbono adjacente. Na

hibridização do tipo sp2, três dos quatro elétrons de valência do carbono são atribuídos a um

orbital híbrido sp2 direcionado trigonalmente, formando ligações do tipo σ no plano, enquanto

que o quarto elétron restante se posiciona em um orbital pz (pπ), situado normal ao plano das

ligações do tipo σ. Esse orbital pπ forma ligações do tipo π com os orbitais pπ adjacentes. Na

hibridização do tipo sp1, somente dois dos quatro elétrons de valência do carbono formam

ligações do tipo σ, cada um deles formando uma ligação σ direcionada ao longo dos lados

positivo e negativo do eixo x, enquanto que os outros dois elétrons entram em orbitais pπ nas

direções y e z.

Figura 2 – Representação esquemática das hibridizações sp3, sp2 e sp1

[40].

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28

Uma ligação do tipo σ entre dois átomos é representada por uma única linha e é chamada

de ligação simples. Enquanto que um par de ligações do tipo σ e π entre dois átomos é

representado por duas linhas e é chamada de ligação dupla. Um hidrocarbono contendo

somente ligações simples é chamado de saturado.

Os sistemas insaturados podem ter a forma de um sistema de ligações duplas separados em

estruturas olefínicas, tal como a do etileno (H2C=CH2), ou podem ter a forma de sistemas de

ligações π conjugadas ou delocalizadas, tal como a dos anéis de seis membros aromáticos do

benzeno (C6H6) e tal como a do grafite.

No decorrer dos anos, têm sido propostos diferentes modelos de redes estruturais para o

DLC. O modelo mais simples se baseia na razão sp3/sp2 e na razão hidrogênio/carbono (H/C).

Nesse modelo, a rede estrutural do DLC é constituída por uma rede estruturalmente aleatória

possuindo átomos de carbono hibridizados de forma sp3 e sp2, sendo algumas dessas

hibridizações formadas por ligações C—H[41,42]. Além dessa, outras redes estruturais mais

heterogêneas têm sido propostas para o DLC.

Mackenzie[43], por exemplo, propôs que a rede estrutural do DLC pode conter duas fases

não-cristalinas, constituídas de regiões de hidrocarbono aromático policíclico interconectados

por átomos de carbono hibridizados de forma sp3. Enquanto Smith[44] propôs que o DLC é

estruturalmente constituído de uma rede estrutural multi-fásica composta de regiões grafíticas

amorfas, regiões de átomos de carbono hibridizados de forma sp3

Robertson e O’Reilly[45]

e regiões poliméricas, sendo

que para essa rede estrutural espera-se uma distribuição mais heterogênea do hidrogênio em

função das diferentes frações de átomos de carbono existentes na mesma.

criaram o modelo de cluster no intuito de modelar a rede

estrutural do DLC. Para criar esse modelo, esses autores se basearam na seguinte premissa:

“As hibridizações dos tipos sp3 e sp2 tendem a se arranjarem de forma a minimizar a energia

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total do equilíbrio químico local na rede estrutural do DLC”. O surgimento dessa premissa foi

fundamentado no comportamento da rede estrutural do silício amorfo hidrogenado (a-Si:H),

onde as ligações tendem a seguir a ligação principal do equilíbrio químico local[46].

O modelo de cluster criado por Robertson e O’Reilly[45] propõe que a energia de ligação π

não-local tende a criar condições para que as hibridizações do tipo sp2 formem os primeiros

pares, com a posterior formação de ligações C—C, tal como a do etileno. Em seguida, essas

ligações C—C se recombinariam para formar anéis hexagonais planares, tal como o do

benzeno, e finalmente esses anéis se aglomerariam para formar clusters grafíticos aromáticos

dentro de uma matriz de hibridizações do tipo sp3. Contudo, esse modelo não é válido quando

o DLC é obtido mediante processos de bombardeamento de íons, em virtude do mesmo

introduzir uma considerável desordem na rede estrutural do DLC, o que faz com que o

ordenamento das hibridizações do tipo sp2 não atinja realmente a condição de mínima energia,

válida para o a-Si:H[47].

Frauenheim[48] também estudou o ordenamento das hibridizações do tipo sp2 do DLC e, a

partir desse estudo, esse autor descobriu que as hibridizações do tipo sp2

preferem se

organizar em pequenos clusters de cadeias olefínicas ao invés de clusters de anéis aromáticos.

2.1.3.1. A função do hidrogênio na rede estrutural do DLC

Vários estudos mostram que o hidrogênio pode ser encontrado no DLC ligado aos

clusters[49-51]. Nessa função, o hidrogênio pode ser encontrado formando grupos CH, CH2 e

CH3 e assim, pressupõe-se que o hidrogênio possa reduzir as ligações cruzadas (cross-linking)

carbono-carbono, sendo que essa redução no número de ligações cruzadas carbono-carbono é

dada como sendo a causadora de uma forte redução na massa específica do DLC[52].

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Continuando-se neste mesmo tema, Dischler[42] estudou um filme de a-C:H contendo

cerca de 35 at.% de hidrogênio e obtido a partir do benzeno mediante uma descarga operando

no regime luminescente alimentada por uma fonte de RF. A partir desse estudo, esse autor

propôs, mediante a análise da banda vibracional C—H, que 60% do hidrogênio presente nesse

material estava ligado como monohidreto e que 40% estava ligado como dihidreto.

Nadler[53] também realizou um estudo focado no tema deste item, tendo sido revelado

nesse estudo que dois terços dos átomos de carbono presentes na composição do a-C:H

estavam ligados com o hidrogênio fazendo ligações hibridizadas de forma sp3, enquanto que o

um terço restante estava hibridizado de forma sp2. Esse estudo evidencia que o hidrogênio

induz preferencialmente a formação de hibridizações do tipo sp3

A teoria de Bohr revela que os elétrons estão restritos em níveis de energia discretizados no

interior dos átomos. Grandes gaps existem dentro de uma escala de energia na qual não

existem estados de energia disponíveis. De um modo similar, os elétrons nos materiais

semicondutores cristalinos estão restritos em certas energias, não sendo permitida a

permanência deles em outras energias.

A diferença básica entre o caso de um elétron estando em um átomo isolado e um elétron

estando em um material semicondutor cristalino é que no material semicondutor cristalino o

elétron dispõe de uma banda de energia para se localizar. Assim, os níveis de energia

discretizados de um átomo isolado se espalham dentro das bandas de energia.

.

2.1.4. Localização dos elétrons nos materiais semicondutores amorfos

No material semicondutor cristalino as funções de onda dos elétrons se sobrepõem as

funções de onda dos átomos vizinhos, assim, um elétron não está necessariamente localizado

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em um átomo particular. Desse modo, por exemplo, o elétron na camada mais externa de um

átomo sente a influência das funções de onda de seus átomos vizinhos e a sua função de onda

total é alterada.

A desordem (defeitos), tais como a existente na rede estrutural dos materiais

semicondutores amorfos, causa a localização da função de onda dos elétrons, ou seja, os

elétrons ficam confinados espacialmente na vizinhança de um átomo[54]. Isto se torna

particularmente importante no limiar de banda (band edge) onde o transporte eletrônico

ocorre.

O limiar de banda de condução é o próprio limiar de mobilidade (mobility edge) que separa

os estados localizados dos estados estendidos (não-localizados), como é mostrado na figura 3.

O termo limiar de mobilidade deriva do fato que na temperatura de 0 K, somente os

portadores de carga posicionados acima de EC possuem mobilidade e contribuem para a

condução macroscópica.

Figura 3 – Distribuição da densidade de estados localizados próximos da extremidade da

banda de condução e da densidade de estados estendidos acima dessa mesma extremidade,

separados pelo limiar de mobilidade para o filme de silício amorfo (a-Si)[55].

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2.1.4.1. Efeito da desordem na estrutura eletrônica do DLC

A presença da desordem (defeitos) na estrutura eletrônica de um material semicondutor

amorfo causa a formação de caudas (tails) nas bandas de valência e de condução e causam

também a formação de estados profundos (deep states) no gap, como é mostrado na figura 4.

O gap sendo “imperfeito” recebe o nome de pseudogap ou mobility gap (gap de mobilidade)

devido os estados localizados não possuírem mobilidade em 0 K[55].

Figura 4 – Distribuição da densidade de estados, onde é possível observar as bandas, as

caudas nas bandas e os estados profundos localizados no gap, para o filme a-Si[55].

As propriedades eletrônicas dos materiais semicondutores amorfos dependem

sensivelmente da distribuição da densidade de estados, N(E), sendo conveniente dividir N(E)

dentro de três distribuições de energia; a principal, nas bandas de valência e de condução, e as

outras duas, uma na região dos limiares das bandas e a outra nos estados profundos.

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Os estados que dão origem às caudas nas bandas se originam devido às variações da

estruturação das ligações químicas a curta distância, sendo que essas variações podem ser

devidas à ocorrência de distorções no ângulo e no comprimento das ligações. Os efeitos

causados pela desordem no sistema de ligação σ do filme a-Si são bem conhecidos[40]. Sabe-

se que o desordenamento da estruturação das ligações químicas a longa distância nesse

material leva à formação de caudas nos dois extremos das bandas.

Com relação aos estados profundos no gap, os mesmos supostamente se originam devido

aos defeitos na rede estrutural. Esses defeitos são atribuídos a presença de ligações

incompletas (dangling bonds), e são conhecidos como defeitos de coordenação, sendo que um

agregado de defeitos de coordenação é chamado de void, os quais possuem dimensões

menores que 10 nm (um agregado de voids é chamado de poro). A superfície dos voids é

formada por ligações insatisfeitas[54].

Para o filme de silício amorfo hidrogenado (a-Si:H), por exemplo, a origem dos estados

profundos se deve às ligações incompletas provenientes das hibridizações trivalentes do

silício[55]. Além disso, a introdução de impurezas (dopagem) é também responsável pela

criação dos estados profundos no interior do gap. O ouro, por exemplo, é uma das principais

impurezas que introduz os estados profundos no interior do gap do filme a-Si:H[55].

Esses defeitos acima citados determinam algumas das muitas propriedades eletrônicas

existentes nos materiais semicondutores amorfos, pelo fato deles controlarem a eficiência da

dopagem e também pelo fato deles serem responsáveis pela ocorrência de recombinações e

armadilhamentos.

Na figura 5(a) são mostrados alguns defeitos contidos em um cristal real, tais como a

vacância e o átomo intersticial, e na figura 5(b) é ilustrada uma rede estrutural amorfa

contendo um defeito de coordenação.

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Figura 5 – Ilustração contrastando os diferentes tipos de defeitos: (a) em uma rede estrutural

cristalina e (b) em uma rede estrutural amorfa[55].

Na figura 6 é mostrado o diagrama de bandas do filme a-C(:H), onde se pode observar que

esse material é composto de um gap σ—σ* largo e um gap π—π* estreito, sendo que há

vários estudos que mostram que os estados π estão altamente localizados no interior do σ

gap[1]. Essa forte localização dos estados π é devida a desordem no ângulo diedro (dihedral

angle) dos orbitais π[1]. Além disso, é também mostrado nesse diagrama da figura 6 que os

limiares de banda do filme a-C(:H) são formados pela banda π* (banda de condução) e pela

banda π (banda de valência) e não pelas bandas σ* e σ, conforme ocorre para o filme a-Si.

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Figura 6 – Diagrama dos estados localizados nos limiares das bandas do filme a-C(:H)[1].

Na figura 7 é mostrado que os estados no gap de mobilidade dos filmes a-C e a-C:H estão

mais profundamente localizados próximos dos limiares das bandas de valência e de condução

do que para os mesmos estando no filme a-Si[1].

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36

Figura 7 – Distribuição dos estados localizados e estendidos nos materiais: (a) a-Si e (b)

a-C[1].

A ocorrência de um pseudogap entre os estados estendidos está condicionada a ocorrência

de uma retenção de uma ordem a curta distância por parte da rede estrutural do material

semicondutor amorfo[40].

Os efeitos da desordem no sistema de elétrons π do DLC têm sido estudados mediante um

ponto de vista teórico[56]. Os estudos feitos revelam que apesar do gap π—π* possuir uma

ordem a curta distância definida, o mesmo pode variar entre 0 e 5eV, devido às correlações de

ordem a média distância entre os estados π, sendo que essa dependência é uma característica

particular dos sistemas π.

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O pseudogap do filme a-C é bastante estreito (entre 0,4 e 0,7 eV) e as caudas em suas

bandas de valência, π, e de condução, π*, se superpõem no centro do gap e,

conseqüentemente, elas também superpõem os estados profundos[40], sendo que essa

superposição também é esperada para o caso do filme a-C:H. Entretanto, o gap do filme a-

C:H tem sido dado como sendo mais largo[1].

A rede estrutural do DLC é muito complexa e em virtude disso os defeitos criados no DLC

são bem complexos. Desse modo, no DLC, um defeito pode ser criado pela quebra de uma

ligação σ ou pela quebra de uma ligação π e não apenas pela quebra de uma ligação σ, como

ocorre para o caso dos filmes de silício amorfo. Além disso, em decorrência da ligação π ser

mais fraca do que a ligação σ, é esperado que os defeitos π devam possuir uma baixa energia

de criação, o que os tornariam predominantes no DLC. Fora isso, os defeitos π podem se

delocalizar mais facilmente se associados a um sistema de elétrons π conjugado[40].

2.1.4.2. A função do hidrogênio na estrutura eletrônica do DLC

A função do hidrogênio na estrutura eletrônica do DLC é de fundamental importância, pois

o mesmo passiva (neutraliza) os estados eletrônicos que estão localizados nos níveis de

defeitos no interior do gap desse material. Essa redução nos níveis de defeitos é

importantíssima, pois faz com que seja possível produzir mudanças no nível de Fermi pela

introdução de dopantes. Portanto, é possível obter filmes de DLC do tipo-p ou –n, similar ao

proposto para o filme a-Si:H[55,57]. Com isso exposto, fica claro que o gap do DLC não

possui uma dependência direta com a concentração de hidrogênio, mas somente um efeito

implícito no qual o hidrogênio preserva o ordenamento a curta distância da estruturação das

ligações químicas desse material, devido esse elemento relaxar as tensões localizadas[57].

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2.2. DLC nitrogenado

Neste item é dado o prosseguimento desta revisão bibliográfica com a introdução de tópicos

abordando o processo de incorporação de nitrogênio no DLC e as modificações impostas por

essa incorporação nas propriedades vibracionais, estruturais e eletrônicas desse material.

2.2.1. Processos de incorporação de nitrogênio no DLC

Os efeitos causados pelo bombardeamento de íons de nitrogênio na rede estrutural do DLC

são em grande parte correlacionados aos efeitos balísticos ocorridos durante esse

bombardeamento, similar ao proposto pelo modelo de subimplantação relativo ao mecanismo

de obtenção do DLC, descrito no tópico 2.1.1, onde é proposto que a densificação da rede

estrutural do DLC é causada pelo aumento da quantidade de hibridizações do tipo sp3

Baseando-se nos efeitos causados pelo bombardeamento de íons de carbono no DLC,

Torng[59] propôs que o bombardeamento de íons de nitrogênio causa a quebra das

hibridizações sp

.

Entretanto, existem outros estudos que revelam que a densificação da rede estrutural do DLC

pode ser atribuída a uma diminuição da concentração de voids[58]. Nesse caso, o uso de uma

energia de bombardeamento de íons de carbono não adequada pode causar danos à rede

estrutural do DLC, fazendo com que a massa específica desse material tendesse a diminuir

enquanto que a quantidade de voids na rede estrutural do mesmo aumentaria.

2 ocasionando a estabilização das hibridizações sp3, o que proporciona um

caráter mais do “tipo-diamante” para o DLC nitrogenado. Além disso, Torng[59] também

propôs que o bombardeamento de íons de nitrogênio no DLC causa o deslocamento dos

átomos de carbono, causando um aumento na desordem da rede estrutural desse material,

sendo que a desordem na rede estrutural do DLC, causada pelo bombardeamento de íons de

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nitrogênio, já foi descrita, por exemplo, por Kaukonen e Nieminen[60] e Tamor e Wu[61].

2.2.2. A função do nitrogênio nas propriedades vibracionais do DLC

A incorporação do nitrogênio no DLC tem uma forte influência na estruturação das ligações

químicas desse material. Desse modo, a presença do nitrogênio na composição química do

DLC causa significativas mudanças no espectro Raman desse material.

Uma dessas significativas mudanças ocorre na intensidade e na largura da banda D-

(“desordem”) do espectro Raman do DLC, ou seja, a banda D se torna mais intensa e mais

larga. Por sua vez, a posição da banda G (”grafitica”) no espectro Raman do DLC se desloca

em direção a números de onda menores[39] ou maiores[62], sendo que essas duas hipóteses

dependem das propriedades físico-químicas do DLC que é utilizado como base para a

realização da dopagem com nitrogênio.

O espectro Raman do DLC nitrogenado mostra também outras duas bandas adicionais com

relação ao espectro Raman do DLC, sendo que uma delas é centrada em aproximadamente

2200 cm-1 enquanto que a outra é centrada em aproximadamente 690 cm-1

A presença da banda centrada em aproximadamente 2200 cm

.

-1 é atribuída a ligação nitrila

(ligação C≡N)[63]. Já a banda centrada em aproximadamente 690 cm-1 não é claramente

identificada na literatura, sendo que existem diversas hipóteses em torno de sua existência,

dentre as quais não existe nenhuma que seja a mais aceita. Algumas dessas hipóteses são: i)

Chowdhury[63], assim como Kumar e Tansley[64], atribuem essa banda a uma influência das

hibridizações do tipo sp3 sobre as hibridizações do tipo sp2, ii) Neuhaeuser[39] atribui essa

banda a uma desordem na rede hibridizada sp2 causada pela formação de átomos de carbono

hibridizados de forma sp3, sendo que isto implicaria que a incorporação de nitrogênio no DLC

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fosse capaz de suportar a formação de hibridizações do tipo sp3[59], iii) Merkulov[65] propôs

que essa banda é causada pelo movimento de flexão (bending) dos átomos de carbono

hibridizados de forma sp2 com alguma possível contribuição das hibridizações do tipo sp3 e,

finalmente, iv) Cheng[66] propôs que essa banda é devida ao movimento de flexão dos

átomos de carbono hibridizados de forma sp3, com alguma possível contribuição das

hibridizações do tipo sp2

2.2.3. Ligações e redes estruturais do DLC nitrogenado

A rede estrutural do DLC nitrogenado é muito similar a do DLC. Entretanto, como é

mostrado no próximo item, a principal função do nitrogênio é a de se ligar nas três

configurações de hibridizações, sp

. Além disso, é importante ressaltar que essas duas bandas adicionais

só são encontradas no DLC nitrogenado contendo altas quantidades de nitrogênio[67].

1, sp2 e sp3, presentes no DLC, dentre as quais se destaca o

nitrogênio configurado na hibridização sp1, onde o mesmo se apresenta ligado como C≡N.

O papel dessa ligação C≡N na rede estrutural do DLC pode ser explicado da seguinte

forma: uma vez que a valência química do nitrogênio é normalmente três, o nitrogênio

triplamente ligado se encontra na posição términa de uma rede estrutural ligada atomicamente

em três-dimensões[68]. Além disso, outros estudos revelam que essa ligação reduz as

interconexões dos clusters presentes no DLC[69], sendo que para isso ocorrer os átomos de

carbono nos clusters sp2 aromáticos devem ser substituídos por átomos de nitrogênio.

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41

2.2.3.1. A função do nitrogênio na rede estrutural do DLC

Após o nitrogênio estar incorporado na rede estrutural do DLC, o mesmo é encontrado

quimicamente ligado ao carbono em três configurações de hibridizações: i) C≡N (nitrila),

como carbono hibridizado de forma sp1, ii) C=N (imina), como carbono hibridizado de forma

sp2, e iii) C—N, como carbono hibridizado de forma sp3[58,67,68]. Além disso, é possível

encontrar o nitrogênio ligado ao hidrogênio (ligação N—H) quando houver uma alta

quantidade desse elemento na composição química do DLC nitrogenado[69,70].

Um estudo feito através da espectroscopia de infravermelho revelou um aumento da banda

da ligação N—H e uma diminuição da banda da ligação C—H sp1 no filme DLC nitrogenado.

Esses resultados mostram que os átomos de hidrogênio estão ligados aos átomos de carbono

e/ou nitrogênio e que o número de átomos de hidrogênio ligados aos átomos de nitrogênio

aumenta quando a quantidade de nitrogênio adicionado ao processo de deposição do filme de

DLC nitrogenado também aumenta[69]. Fora isso, a incorporação de nitrogênio no DLC pode

ter a função de favorecer a formação de hibridizações do tipo sp3

2.2.4. A função do nitrogênio na estrutura eletrônica do DLC

Referindo-se especificamente ao filme ta-C, tem-se que esse material é dado como sendo do

tipo-p com um nível de Fermi fixado (pinned) entre 0,26 e 0,31 eV acima do limiar de

mobilidade da banda de valência, devido a existência de uma grande quantidade de defeitos

na rede estrutural desse material[71,72].

, conforme proposto por

Torng[61]

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A adição do nitrogênio na composição química do filme ta-C passiva os níveis de defeitos

do tipo-p existentes nesse material. Inclusive, a presença de uma grande quantidade de

nitrogênio na composição química do ta-C pode causar um deslocamento do nível de Fermi

em direção à banda de condução. Desse modo, seria possível obter um filme ta-C do tipo-n ou

um filme ta-C fracamente dopado, possuindo ainda características do tipo-p[72].

A eficiência da dopagem em materiais semicondutores amorfos é baixa, como é o caso para

o DLC, isso ocorre em decorrência de que a maioria dos átomos dopantes costuma adotar as

suas ligações químicas que lhes são mais convenientes, de modo a alcançar o equilíbrio

químico local no interior da rede estrutural.

Referindo-se particularmente ao filme ta-C, Robertson e Davis[72] propuseram algumas

das possíveis causas da baixa eficiência da dopagem com nitrogênio para com esse material.

Esses autores propuseram que somente uma pequena fração dos átomos de nitrogênio

incorporada ao ta-C forma coordenações de dopagem N4 substitucional (posição onde o

nitrogênio substitui um átomo de carbono na rede tetraédrica), como mostra o painel superior

(N4σ) da região de dopagem (dopagem tipo σ) da figura 8. Contudo, esses autores também

propõem que a maioria dos átomos de nitrogênio forma coordenações N30 não-dopadas, onde

o subscrito denota a coordenação e o superscrito denota a carga.

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Figura 8 – Possíveis configurações de dopagem do nitrogênio no ta-C e diagramas de orbitais

moleculares, onde os círculos cheios e vazios denotam elétrons provenientes do nitrogênio

(N) e do carbono (C), respectivamente. Um único ponto significa um elétron desemparelhado

enquanto que dois pontos significam um par formado (estado não-ligado)[72].

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Essa coordenação N30 do nitrogênio não é dopagem, uma vez que todos os níveis de

valência do nitrogênio estão preenchidos, ou seja, como o nitrogênio possui cinco elétrons de

valência, o mesmo estando nessa coordenação N30 forma uma hibridização do tipo sp2 com

três de seus elétrons de valência, enquanto que os seus dois outros elétrons de valência

formam ligações do tipo π com os orbitais pπ adjacentes (Fig. 8, painel superior da região de

“não-dopadas”).

Alternativamente, Street[73] propôs que os átomos de nitrogênio coordenados de forma N4σ

estão passivando os estados profundos no gap. Nesse caso, os átomos de nitrogênio se

encontrariam em uma posição coordenada tetraédrica ionizada, N4+

Nessa configuração de dopagem do tipo N3π (dopagem tipo π), o nitrogênio usa três de seus

cinco elétrons de valência para formar ligações do tipo σ, enquanto que um dos seus outros

dois elétrons de valência preenche um estado π, enquanto que o outro entra no estado π*.

, com o seu elétron de

valência restante fazendo uma doação para um estado eletrônico do carbono que está

localizado em um nível de defeito próximo ao meio do gap. Conseqüentemente, o nível

doador do nitrogênio estaria vazio, enquanto que o estado eletrônico do carbono estaria

preenchido, com um elétron proveniente do nitrogênio e um elétron proveniente do carbono,

como mostra o círculo aberto no painel superior da região de passivado da figura 8. Nessa

mesma região da figura 8 é possível observar também que o nível de Fermi, EF, se posiciona

acima do meio do gap, dando um fraco efeito de dopagem[1,74].

No caso do nitrogênio estar substituindo um átomo de carbono na rede trigonal do ta-C, o

nitrogênio doparia o ta-C pela doação de elétrons π[72], cuja configuração é mostrada no

painel inferior da região de dopagem da figura 8. Nessa mesma região da figura 8 é possível

observar também que os dois elétrons de valência restantes do nitrogênio dopam o ta-C pela

entrada de um deles em um estado π*.

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Desse modo é esperado que o nitrogênio possa dopar o ta-C pela dopagem do tipo σ, caso

esse material tenha uma baixa quantidade de nitrogênio em sua composição química, e pela

dopagem do tipo π, caso o mesmo tenha uma alta quantidade de nitrogênio. Entretanto, é

esperado também que essa dopagem do tipo π ocorra para o caso de haver baixas quantidades

de nitrogênio na composição química do ta-C, pois há nesse material cerca de 20% de

hibridizações do tipo sp2. Fora isso, é esperado que a maioria dos átomos de nitrogênio adote

as configurações sp2 “não-dopadas”, tal como a configuração desse elemento nos anéis

aromáticos pyridine e pyrrole[72], como é mostrado na figura 8.

Na figura 9 é mostrada a distribuição da densidade de estados, N(E), das possíveis

coordenações do nitrogênio na rede estrutural do filmes ta-C, a-C e também do diamante.

Conforme mencionado anteriormente, Robertson e Davis[72] propuseram que o nitrogênio

pode dopar o ta-C estando o mesmo configurado em uma coordenação N4 substitucional na

rede tetraédrica, sendo que esses autores propuseram isso baseados no fato do nitrogênio

ocupar uma posição substitucional na rede estrutural do diamante. Além disso, esses autores

propuseram também que o nitrogênio estando na coordenação N4 substitucional, seria um

dopante raso (shallow dopant) com relação à banda de condução π* do ta-C, já que o gap

desse material é estreito em virtude da presença dos estados π e π* provenientes das

hibridizações do tipo sp2, como é mostrado na figura 9(b).

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Figura 9 – Esquema da densidade de estados para com o nitrogênio estando: (a) no diamante,

(b) no ta-C:N, pela dopagem do tipo σ, (c) no ta-C, passivando os níveis de defeitos do tipo-p,

(d) no a-C:N, pela dopagem do tipo π, e (e) no a-C, pela configuração “não-dopadas” do tipo-

pyridine[72].

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2.3. DLC fluorado

Neste tópico é abordado o processo de incorporação de flúor no DLC e as modificações

impostas por essa incorporação nas propriedades vibracionais, estruturais e eletrônicas desse

material.

2.3.1. Processos de incorporação de flúor no DLC

Sabe-se que o mecanismo de fluoração no DLC promove a substituição dos átomos de

hidrogênio pelos átomos de flúor na rede estrutural desse material[75]. Essa proposição foi

evidenciada mediante um estudo feito através da espectroscopia de infravermelho no filme de

DLC fluorado, que revelou a ocorrência de um aumento na intensidade da banda C—F e uma

diminuição na intensidade da banda C—H no espectro de infravermelho desse material[76].

Em termos de processo de deposição, a liberação do hidrogênio da rede estrutural do DLC

é facilitada pelo uso de uma alta energia de bombardeamento, em virtude da ligação C—H ser

mais fraca do que a ligação C—F[77], entretanto, é provável que os átomos de flúor que

estiverem fracamente ligados sejam expelidos também[78].

2.3.2. A função do flúor nas propriedades vibracionais do DLC

A incorporação de flúor no DLC modifica fortemente a estrutura das ligações químicas

desse material. Estudos revelam que, caso a quantidade de flúor exceda a quantidade de 10

at.% na composição química do DLC, a banda D (“desordem”) desse material se torna mais

intensa e mais larga[79].

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48

Esse aumento na intensidade da banda D ocorre devido às hibridizações sp2 formarem

clusters sp2

2.3.3. Ligações e redes estruturais do DLC fluorado

Estudos revelam que a rede estrutural do DLC fluorado é constituída por estruturas em

anéis de ligações C—C, C—H e C—F, conectadas pelo grupo C—F2 e terminadas pelo grupo

C—F3 em uma matriz de hibridizações sp

aromáticos[79]. Portanto, o DLC se torna mais grafítico com a presença de altas

quantidades de flúor em sua composição química. Já o alargamento da banda D, é resultado

da alteração do comprimento e do ângulo das ligações C—C nos anéis hexagonais que

compõem os clusters[1].

Outra significativa mudança no espectro Raman do DLC haverá de ocorrer quando a

quantidade de flúor em sua composição química exceder a quantidade de 25 at.%, ou seja,

acima de 25 at.% haverá a ocorrência de um aumento na intensidade da banda luminescente.

Como causa desse aumento na intensidade da banda luminescente, tem-se a ocorrência de

uma transição sofrida pela rede estrutural do DLC, ou seja, a rede estrutural do DLC sofrerá

uma transição para uma rede estrutural do tipo polimérica[80].

3[81]. Além disso, podem existir também

terminações com o grupo C—F2 (F2C=C), caso o flúor se ligue nas estruturas olefínicas do

carbono[82].

A formação dos grupos C—F3 pode ser reduzida pela utilização de altas temperaturas de

deposição (350°C)[81]. As altas temperaturas de deposição produzirão também estruturas

com um maior número de ligações cruzadas carbono-carbono, as quais melhorariam a

estabilidade térmica do DLC fluorado, sendo a mesma considerada deficitária[82].

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Essa estabilidade térmica deficitária do DLC fluorado é devida a redução da quantidade de

ligações cruzadas carbono-carbono, sendo que estudos revelam que, além do grupo C—F3, o

grupo C—F2 também causa uma redução na quantidade de ligações cruzadas carbono-

carbono[83]. Como exemplo, pode-se citar que o filme de DLC fluorado com uma quantidade

de flúor em torno de 67 at.% possui uma “pobre” estabilidade térmica[83].

2.3.3.1. A função do flúor na rede estrutural do DLC

Após o flúor estar incorporado na rede estrutural do DLC, o mesmo se encontra

quimicamente ligado nos grupos C—F, C—F2 e C—F3 e nas ligações duplas C=C, onde o

mesmo se encontra configurado nos modos F2C=CF, F2C=C[78,83] e também no modo

HFC=C, para o caso dos filmes de DLC fluorados contendo altas quantidades de

hidrogênio[83].

Estudos também revelam que os átomos de flúor “preferem” se ligar a hibridização do tipo

sp3 ao invés de se ligarem a hibridização do tipo sp2, tal que 75% das hibridizações do tipo sp3

são fluoradas, enquanto que somente 30% das hibridizações do tipo sp2

2.3.4. A função do flúor na estrutura eletrônica do DLC

apresentam essa

fluoração[90]. Fora isso, o flúor substitui o hidrogênio na rede estrutural do DLC[76],

conforme já mencionado no item 2.3.1.

A substituição do hidrogênio pelo flúor na rede estrutural do DLC causa um aumento na

quantidade de defeitos de coordenação[84]. Esse aumento ocorre pelo fato do diâmetro

atômico do flúor ser maior do que o do hidrogênio[84]. Fora isso, o flúor ao ser incorporado

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ao DLC causa um aumento no gap, pelo fato da energia de ligação entre um átomo de

carbono e um átomo de flúor ser maior do que a energia de ligação entre dois átomos de

carbono[84]. Um exemplo bem conhecido de aumento de gap por esse mesmo motivo ocorre

para o caso do filme a-Si, ou seja, quando o hidrogênio é incorporado nesse material, o gap do

mesmo aumenta, devido à energia de ligação da ligação Si—H (3,4 eV) ser superior que a da

ligação Si—Si (2,2 eV)[55].

2.4. Aplicações eletrônicas do DLC e de suas formas nitrogenada e fluorada

Um grande número de aplicações eletrônicas envolvendo materiais amorfos com

características de materiais semicondutores tem sido proposto ou colocado em prática desde

que Spear e Le Comber (1976) postularam a possibilidade do filme de silício amorfo

hidrogenado (a-Si:H) se tornar um semicondutor do tipo-p ou –n em função do tipo de

dopante. Além disso, em muitos casos, os materiais amorfos têm sido utilizados como

elemento passivo em dispositivos eletrônicos. Por exemplo, o nitreto de silício (Si3N4) é

utilizado como material dielétrico em TFTs.

Especificamente para o caso dos materiais estudados neste projeto de doutorado, a uso dos

mesmos tanto na função ativa como na passiva, tal como para as aplicações que serão

abordadas a seguir, é bem possível, em vista do grande dinamismo que estes materiais

possuem. Entretanto, essa aplicabilidade é muito dependente da engenharia de integração

empregada na confecção dos dispositivos, podendo a mesma ser um fator limitador.

A seguir é abordado o uso do DLC em aplicações que visam o aproveitamento de ambas as

funções, ativa e passiva, desse material.

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2.4.1. TFTs

TFT é o dispositivo de chaveamento que é parte integrante da tecnologia de visor de cristal

líquido de matriz ativa, tecnologia conhecida pela sigla, em inglês, AMLCD (active-matrix

liquid crystal display). O TFT tem por função chavear rapidamente os elementos de imagem

(pixels) da posição on (ligado) para a posição off (desligado).

Essa tecnologia AMLCD tem como principais características o fornecimento de uma ótima

qualidade de imagem e um menor tempo de resposta. Há atualmente uma demanda

considerável por visores planos de grandes áreas para serem utilizados, por exemplo, em

monitores de lap-tops ou em outras aplicações que requeiram o máximo em definição. Além

disso, essa tecnologia está sendo adotada em pequenos visores para a próxima geração de

celulares e produtos portáteis.

O filme de silício amorfo (a-Si) é o mais utilizado na produção dos TFTs, em virtude do

mesmo poder ser depositado em baixas temperaturas (300 a 400°C), o que torna possível a

sua deposição em substratos de vidro, por exemplo. Uma ilustração de um TFT tendo o

material a-Si como elemento ativo é mostrada na figura 10.

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Figura 10 – Seção transversal e vista superior de um dispositivo TFT, onde é destacado o

dreno (drain), a porta (gate) e a fonte (source). As dimensões W e L representam,

respectivamente, a largura e o comprimento do canal[85].

Aplicando-se uma tensão positiva de porta, VG, no TFT ilustrado na figura 10, ocorrerá o

encurvamento das bandas do filme a-Si para baixo, havendo assim a acumulação de cargas

negativas na interface a-Si/Si3N4, o que leva a um aumento da condutância na superfície

(modo canal-n). Para a polaridade negativa de VG, cargas positivas serão induzidas na

interface e assim haverá a formação de uma camada de depleção; para valores suficientemente

grandes de VG, uma camada de inversão é produzida com a acumulação (modo canal-p), o que

leva também a um aumento da condutância.

Na figura 11 é mostrada a dependência da corrente de dreno para com VG em um

dispositivo a-Si TFT operando em ambos os modos, canal-p e –n. A mobilidade de efeito de

campo, μFE, para elétrons e lacunas obtidas para tais dispositivos é da ordem de 10-1 e 10-3 V-

1s-1

, respectivamente.

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53

Figura 11 – Dependência da corrente de dreno para com a tensão de porta para um

dispositivo TFT operando em ambos os modos, canal-p e –n. As flechas indicam as direções

de mudança da tensão[54].

Quando um grupo TFT LCD (o grupo TFT LCD consiste em um conjunto de dois

substratos, um contendo TFTs e o outro contendo um filtro de cores) está operando sob

condições reais de uso, a tensão de porta é ajustada em 20 V para o chaveamento na posição

on e em – 5 V para o chaveamento na posição off, como é mostrado na figura 12. Sob essas

condições de operação, o a-Si TFT é um ótimo dispositivo de chaveamento com uma razão de

corrente on/off maior do que 106.

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Figura 12 – Característica corrente-tensão de um a-Si TFT e os seus pontos de operação[85].

2.4.2. MESFETs

O transistor MESFET (metal-semiconductor field effect) é muito similar ao transistor de

efeito de campo metal-óxido-semicondutor, dispositivo conhecido pela sigla, em inglês,

MOSFET (metal-oxide-semiconductor field effect). Na estrutura MOSFET, uma camada

dielétrica é colocada entre a camada semicondutora e a camada metálica do contato de porta.

Enquanto que na estrutura MESFET não há essa camada dielétrica, sendo a camada metálica

de porta colocada em contato direto com a camada semicondutora, conforme é mostrado na

figura 13.

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Figura 13 – Ilustração de transistor tipo MESFET.

O contato elétrico entre o metal de porta e o semicondutor deve ser do tipo Schottky,

devido esse tipo de contato criar uma região de depleção na superfície da camada

semicondutora, sendo que o contato elétrico entre os metais de dreno e fonte e o semicondutor

deve ser do tipo ôhmico[46].

Os MESFETs são comumente aplicados nas áreas que envolvem comunicação em sinais de

freqüência de micro-onda e radar, sendo os mesmos produzidos para operarem em freqüências

de até 30 GHz.

2.4.3. finFETs

O finFET é um transistor de porta dupla, no qual a porta fica envolvida em torno de um fino

corpo vertical em forma de “fin”, criando-se dois canais condutivos ao longo das paredes do

fin.

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56

A utilização de duas portas e um corpo fino fornece ao finFET uma capacidade mais efetiva

de controlar os efeitos de canal curto e, conseqüentemente, as correntes de fuga, tornando esse

dispositivo atrativo para aplicações que requeiram baixa potência[86]. Na figura 14 é

apresentado o finFET, onde as dimensões do fin destacadas determinam as dimensões de

canal efetivo desse dispositivo.

Figura 14 – Um dispositivo finFET de porta dupla. As dimensões T e H representam,

respectivamente, a espessura e a altura do fin. Enquanto Lg representa o comprimento da

porta.

2.4.4. Utilização de dielétricos com alta ou baixa constante dielétrica em

circuitos integrados (CIs)

A tendência de se melhorar o desempenho dos CIs, já vem desde algumas décadas atrás e

essa melhora tem sido alcançada, em grande parte, pelo aumento da velocidade dos

transistores em decorrência da redução no tamanho dos mesmos. Em duas décadas, o tamanho

do transistor foi reduzido de 1 μm para 90 nm, ocasionando um aumento de 66 MHz para

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57

4 GHz na freqüência de operação dos microprocessadores. Para que essa tendência de redução

no tamanho dos transistores continue é necessário utilizar nos CIs dielétricos que possuam

uma constante dielétrica, κ, tanto alta quanto baixa, sendo o κ do óxido de silício (SiO2), que é

3,9, a referência para que se determine essa característica do dielétrico. Desse modo, um

dielétrico com κ > 3,9 é referido como dielétrico de alto κ, enquanto que um dielétrico com κ

< 3,9 é referido como dielétrico de baixo κ.

Nos CIs, o dielétrico de alto κ é empregado para se manter uma capacitância

suficientemente alta na estrutura MOS [metal (porta)-oxide (dielétrico)-semiconductor

(silício)] do transistor, pois a capacitância nessa estrutura vem sendo constantemente reduzida

em função da diminuição do comprimento de canal (L), o que faz com que a área da porta seja

conseqüentemente reduzida[87]. Já o dielétrico de baixo κ é utilizado nas interconexões entre

os transistores como uma forma de eliminar os retardos de sinais no CI.

Retardos de sinais, causados pelas interconexões entre os transistores, aumentam a cada

redução no tamanho dos transistores e podem limitar em breve o desempenho global do

sistema integrado. Em um chip pode-se representar uma cadeia de resistores como sendo as

linhas de metal e os capacitores como sendo o dielétrico entre essas linhas, conforme é

ilustrado na figura 15, sendo que uma boa figura de mérito para se caracterizar essas junções é

a resistência-capacitância (RC), que tem dimensão de tempo.

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Figura 15 – Ilustração esquemática das linhas de cobre (Cu) introduzidas no dielétrico. A foto

mostra uma das seções transversais da interconexão da tecnologia de 90 nm da Intel[88].

Um sinal se propagando através das linhas de metal experimenta um retardo RC. A

diminuição da seção transversal dessas linhas causa um aumento na resistência das mesmas,

além do que a aproximação entre as mesmas faz com que a capacitância entre elas aumente,

ou seja, o retardo RC aumenta quando o tamanho do transistor diminui. Vale lembrar que tem

sido antecipado que o retardo RC excederá, em breve, a velocidade do transistor, tornando-se

uma séria limitação no desempenho dos CIs[88].

A substituição de materiais no processamento de CIs requer muita pesquisa,

desenvolvimento e engenharia de integração. Para substituir o SiO2 por um outro dielétrico

que tenha um alto ou baixo κ, há a necessidade que o dielétrico substituto satisfaça as

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condições impostas pelo projeto de engenharia. Por exemplo, para substituir o SiO2 por um

dielétrico de baixo κ, há a necessidade que o dielétrico substituto seja hidrofóbico e

termicamente estável em temperaturas tão altas quanto 450°C, bem como o mesmo deve

possuir: um baixo stress, uma boa adesão, uma baixa corrente de fuga, um campo elétrico de

ruptura maior do que 2 MV/cm e uma baixa reatividade com condutores metálicos em

temperaturas elevadas. Para substituir o SiO2 por um dielétrico de baixo κ, a indústria

primeiro utilizou o SiO2 fluorado, mas há um limite inferior para o seu κ. Além disso, vários

materiais tendo o carbono como elemento principal têm sido testados, tais como o a-C:H, o a-

C:F e o a-C:H:N. O objetivo é encontrar materiais que possuam valores de κ entre 1,5 e

2,1[1].

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3. Materiais e métodos

Descreve-se neste capítulo, a metodologia de preparação dos substratos utilizados na

deposição dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F, bem como o sistema e as condições

utilizadas na deposição destes materiais. Descrevem-se também os métodos e os processos

empregados na confecção dos capacitores MIS, TFTs e MESFETs de porta tripla e as técnicas

de caracterizações empregadas neste projeto de doutorado

3.1. Preparação dos substratos

Neste trabalho foram utilizados dois tipos de substratos para a deposição dos filmes a-

C:H, a-C:H:N e a-C:H:F. O substrato mais utilizado foi o de silício monocristalino do tipo-p

em formato de lâminas de 3 polegadas de diâmetro e 280 µm de espessura com orientação

cristalográfica <100> e resistividade na faixa de 1-10 Ω.cm. O segundo tipo de substrato

utilizado foi o de carbono vítreo em forma de discos com 635 µm de espessura, polidos nos

dois lados, que foi utilizado apenas para a realização da medida RBS.

Os substratos de silício foram submetidos à limpeza do tipo Piranha, sendo que antes das

deposições, estes substratos foram mergulhados em uma solução de ácido fluorídrico (HF)

diluído para a retirada do óxido “nativo”. Já os discos de carbono vítreo foram limpos

imediatamente antes das deposições por um banho em ultra-som utilizando-se o detergente

neutro da marca Extraan como desengordurante e, em seguida, os discos foram lavados em

álcool ISO-propílico. A seguir, é mostrada a descrição completa destes procedimentos de

limpeza:

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• Etapas de limpeza das lâminas de silício (limpeza Piranha)

a- 5 minutos em água DI (H2O de resistividade ρ ≈ 18 MΩ.cm) corrente;

b- 10 minutos em solução de ácido sulfúrico: 1 H2O2 + 4 H2SO4;

c- 5 minutos em água DI corrente; e

d- Alguns segundos em solução de ácido fluorídrico: 20 H2O + 1 HF.

• Etapas de limpeza dos discos de carbono vítreo

a- Limpeza em ultra-som com água DI aquecida na temperatura de 40°C durante 10

minutos;

b- Limpeza em ultra-som com o detergente neutro Extraan aquecido na temperatura de

40°C durante 20 minutos;

c- Limpeza em ultra-som com água DI aquecida na temperatura de 40°C durante 10

minutos;

d- Lavagem em álcool ISO-propílico; e

e- Secagem com jato de N2.

3.2. Sistema de deposição e condições de deposição

O equipamento utilizado na deposição dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F é um sistema

de pulverização catódica (magnetron sputtering) composto por uma câmara de

aproximadamente 210 mm de diâmetro. O alvo utilizado é constituído de carbono com

99,999% de pureza e possui 150 mm de diâmetro, o mesmo fica localizado na parte inferior

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da câmara, enquanto que o substrato fica localizado na parte superior. O sistema de vácuo é

composto por uma bomba turbo-molecular com vazão nominal de 180 l/s acoplada a uma

bomba mecânica auxiliar. Uma ilustração do equipamento utilizado é mostrada na figura 16.

Figura 16 - Sistema de pulverização catódica: (1) campânula de aço inoxidável, (2) porta

amostra, (3) alvo, (4) eletrodo, (5) válvula gaveta, (6) sistema de vácuo, (7) sistema de RF

composto de uma malha de acoplamento e gerador de RF.

Com o sistema de vácuo descrito na figura 16 é possível atingir uma pressão residual

(pressão de fundo) de 2,6 x 10-4 Pa (2 x 10-6 Torr). O vácuo primário na câmara é monitorado

por medidores do tipo membrana capacitiva (modelo 1570 da Edwards) que medem desde a

pressão atmosférica até 0,1 Pa (7,5 x 10-4 Torr). Enquanto que o alto vácuo é monitorado por

um medidor do tipo cátodo quente, também da marca Edwards, que mede a faixa de pressão

entre 0,1 e 1.10-7 Pa (7,5.0-4 e 7,5.10-10

Neste equipamento só é possível realizar deposições à temperatura ambiente, pois o

Torr).

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substrato não conta com um sistema para aquecê-lo. Além disso, o substrato não rotaciona,

mas a sua altura pode variar em até 100 mm com relação à superfície do alvo.

As entradas dos gases ficam na parte inferior da câmara, sendo que é possível de se

trabalhar com até 3 tipos de gases. O controle da vazão dos gases é feito através de

controladores de fluxo de massa (mass flow controlers). Na figura 17 é mostrado o sistema de

pulverização catódica utilizado.

Figura 17 - Câmara de deposição: a) parte externa e b) parte interna, em destaque o alvo e o

porta amostra

Para a realização das deposições dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F, posicionou-se o

alvo no cátodo, enquanto que a câmara e o porta substrato foram aterrados. O porta substrato

foi mantido a 100 mm à frente do alvo durante as deposições.

O filme a-C:H foi depositado utilizando-se apenas o gás CH4 em um fluxo de 11,7 sccm. A

incorporação do aditivo nitrogênio neste material foi realizada pela adição do gás N2, nas

porcentagens de 10, 20, 40, 60 e 80%, ao gás CH4, como é mostrado na tabela 2. Enquanto

que a incorporação do aditivo flúor no mesmo foi realizada pela adição do gás CF4, nas

porcentagens de 5, 10, 20, 40 e 60%, ao gás CH4, como é mostrado na tabela 3.

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Tabela 2 - Fluxo dos gases para a deposição dos filmes a-C:H:N.

Fluxo total (sccm) Porcentagem de N2 (%) CH4 N2

10 23,2 6,8 20 20,0 9,7 40 15,0 15,6 60 8,9 22,1 80 7,6 24,8

Tabela 3 – Fluxo dos gases para a deposição dos filmes a-C:H:F.

Fluxo total (sccm) Porcentagem de CF4 (%) CH4 CF4

5 23,6 6,4 10 23,1 8,5 20 21,1 13,9 40 18,0 23,1 60 11,0 34,5

Para todas as deposições feitas foram utilizados os seguintes parâmetros: i) descarga

operando em RF (13,56 MHz) numa potência fixa em 150 W, ii) pressão de trabalho de 0,66

Pa (5 mTorr) e iii) temperatura de substrato nunca superior a 50°C.

3.3. Confecção dos capacitores MIS

A confecção dos capacitores MIS foi realizada através de uma evaporadora da marca

Edwards (modelo 306), de alumínio com 99,9% de pureza sobre os filmes a-C:H, a-C:H:N e

a-C:H:F, estando os mesmos previamente depositados em suas respectivas lâminas de silício.

O intuito desta evaporação é obter cilindros de 1 mm de diâmetro e 500 nm de comprimento

para formar o contato de porta, sendo que estes cilindros são obtidos mediante a utilização de

máscaras mecânicas. Na figura 18 são mostrados os capacitores MIS confeccionados.

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Figura 18 – Capacitores MIS confeccionados.

Dando-se seqüência na confecção destes capacitores, na parte não-polida das lâminas de

silício foi evaporado também um filme de alumínio de 500 nm de espessura para a formação

do contato elétrico do substrato. Na tabela 4 são mostradas as etapas e as condições utilizadas

no processo de confecção destes capacitores.

Tabela 4 – Etapas e condições utilizadas na confecção dos capacitores MIS.

Etapas de processo Condições de processo

Limpeza Piranha Ver tópico 3.1.

Deposição dos filmes a-C:H,

a-C:H:N e a-C:H:F.

Ver tabelas 2 e 3

Deposição do Al Evaporação: Corrente: 20-40 A e pressão de

fundo: 7,9 x 10-3 Pa (6 x 10 – 5 Torr)

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66

3.3.1. Representação esquemática e circuito equivalente para o capacitor MIS

A capacitância MIS, Cmis, é representada por uma combinação em série da capacitância do

material dielétrico (no caso os filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F), CD, e a capacitância do

material semicondutor (no caso o substrato de silício), CS, como mostra a equação (1)[89]. Na

figura 19 é mostrado a representação esquemática e o circuito equivalente simplificado do

capacitor MIS.

SD

SDmis CC

CCC+

=

(1)

em que, CD é dado pela equação (2):

tACDκε 0=

(2)

sendo ε0, a permissividade no vácuo (ε0 = 8,85 x 10-12 F/m), κ, a constante dielétrica do

material dielétrico, A, a área do capacitor MIS e t, a espessura do material dielétrico.

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Figura 19 - Representação esquemática e circuito equivalente simplificado do capacitor MIS,

onde CD é a capacitância do material dielétrico e CS é a capacitância equivalente do

semicondutor [89].

3.4. Confecção dos TFTs

Na figura 20 é mostrada a seqüência do processo de confecção dos TFTs. A confecção dos

mesmos é iniciada com o processo de oxidação feito na temperatura de 1150oC.

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Figura 20 – Seqüência do processo de confecção dos TFTs.

O processo de oxidação teve um tempo de duração de 4 horas e ocorreu sob um fluxo de

oxigênio de 2 litros por minuto. Após este período, o fluxo de oxigênio foi cortado e em

seguida foi estabelecido um fluxo de nitrogênio de 2 litros por minuto durante 20 minutos

para a passivação do óxido.

Após o crescimento de 310 nm de um filme de SiO2, depositou-se nas lâminas um filme de

silício policristalino (Si-Poly) com 650 nm de espessura para formar o contato de porta dos

TFTs.

Após a deposição do Si-Poly, realizou-se a dopagem do mesmo, sendo que esta dopagem

surtiu efeito, pois a mesma levou a resistividade deste filme de um valor não antes detectável

(por ser muita alta) pelo equipamento quatro pontas para um valor de 0,2 Ω.cm.

Após a dopagem do Si-Poly, realizou-se a definição (fotolitografia e corrosão) deste filme e

em seguida depositou–se, sobre o mesmo, o filme a-C:H (dielétrico) e o filme a-C:H:N

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(semicondutor) nas condições de 40% de N2 e 60 % de N2, conforme a tabela 2. Assim,

estudou-se dois diferentes filmes de a-C:H:N para um mesmo dispositivo, os quais foram

escolhidos com base nas características eletrônicas destes materiais, onde os mesmos

apresentaram redes estruturais como sendo mais ordenadas, conforme é apresentado no

capítulo de resultados.

Posteriormente a estas deposições, realizou-se a fotolitografia e corrosão de ambos,

dielétrico e semicondutor, para a formação da região ativa.

Esta região ativa foi projetada de forma que tivessem três diferentes comprimentos de canal

de modo a estudar a variação deste parâmetro, os três comprimentos são: 50, 100 e 200 µm,

para uma mesma largura de canal (0,5 mm), conforme é ilustrado na figura 21. Após a

formação da região ativa, evaporou-se um filme de 500 nm de alumínio para formar os

contatos de fonte e dreno. Na tabela 5 são mostradas as etapas e as condições utilizadas no

processo de confecção destes dispositivos, sendo que num todo foram confeccionados 150

dispositivos.

Figura 21 – TFTs confeccionados.

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Tabela 5 – Etapas e condições de processo de confecção dos TFTs.

Etapas de processo Condições de processo

1- Limpeza Piranha Ver tópico 3.1.

2- Crescimento do SiO2 Oxidação: 1150oC, gás O2, 4h.

3- Deposição do contato de porta

Si-Poly.

Pulverização catódica: 250 W, 5 mTorr, gás Ar.

4- Dopagem do contato de porta Si-

Poly.

Difusão de SOG a 1150oC, gás (95,5% N2 + 4,5%

O2), 2h.

5- Definição do contato de porta Si-

Poly dopado.

Corrosão por plasma: 100 W, 50 mTorr, gás SF6.

6- Deposição do a-C:H. Pulverização catódica:

150 W, 5 mTorr, gás CH4.

7- Deposição do a-C:H:N. Ver condições de 40% e 60 % de N2 na tabela 2.

8- Definição do a-C:H e a-C:H:N. Corrosão por plasma: 50 W, 50 mTorr, gás O2.

9- Deposição do Al. Evaporação: 20-40 A, 6 x 10 – 5 Torr.

10- Definição do Al. Corrosão úmida:

175 H3PO4 + 15 HNO3 + 70 H2O.

3.5. Confecção dos MESFETs de porta tripla

Na figura 22 é mostrada a seqüência do processo de confecção dos MESFETs de porta

tripla. A confecção dos mesmos é iniciada com o processo de oxidação, cujo procedimento foi

descrito no item anterior.

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Figura 22 – Seqüência do processo de confecção dos MESFETs de porta tripla.

Após o crescimento de 310 nm de um filme de SiO2 no processo de oxidação, depositou-se,

sobre o mesmo, o filme de a-C:H:N nas condições de 40% de N2 e 60 % de N2, conforme a

tabela 2. Assim, conforme feito para os TFTs, estudou-se dois diferentes filmes de a-C:H:N

para um mesmo dispositivo.

Após estas deposições, realizou-se a fotolitografia e a corrosão destes filmes a-C:H:N, para

a formação da região ativa.

Da mesma forma como feito para os TFTs, a região ativa destes dispositivos foi projetada

de forma que tivessem três diferentes comprimentos de porta, que são: 50, 100 e 200 µm, para

uma mesma espessura de fin (0,5 mm), conforme é ilustrado na figura 23. Após a formação da

região ativa, evaporou-se um filme de 500 nm de alumínio para formar os contatos de porta,

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fonte e dreno. Na tabela 6 são mostradas as etapas e as condições utilizadas no processo de

confecção destes dispositivos, sendo que num todo foram confeccionados 150 dispositivos.

Figura 23 – MESFETs de porta tripla confeccionados.

Tabela 6 – Etapas e condições de processo de confecção dos MESFETs de porta tripla.

Etapas de processo Condições de processo

1- Limpeza Piranha Ver tópico 3.1.

2- Crescimento do SiO2 Oxidação: 1150oC, gás O2, 4h.

3- Deposição do a-C:H:N. Ver condições de 40% e 60% de N2 na tabela 2.

4- Definição do a-C:H:N. Corrosão por plasma: 50 W, 50 mTorr, gás O2.

5- Deposição do Al. Evaporação: 20-40 A, 6 x 10 – 5 Torr.

6- Definição do Al. Corrosão úmida:

175 H3PO4 + 15 HNO3 + 70 H2O.

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3.6. Técnicas de caracterizações

As espessuras dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F foram medidas através de um

perfilômetro da marca Dektak 3030 Step Height Meter. Enquanto que a composição química

destes materiais foi caracterizada pela técnica RBS, utilizando-se íons de hélio, 4He+, com

uma energia de 3 MeV provenientes de um acelerador do tipo Pelletron, sendo os mesmos

detectados em um ângulo de retroespalhamento de 170°.

A estrutura das ligações químicas dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F foi verificada

mediante a obtenção de espectros Raman, obtidos através de um sistema Renishaw com laser

de argônio, Ar+, de comprimento de onda, λ, de 514,5 nm, e espectros de infravermelho,

obtidos através de um sistema Bio-RAD FTS 40 Fourier Transform Infra Red (FTIR).

As medidas de fotoluminescência dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F foram realizadas

por um espectrômetro HR460 da marca Jobin Yvon constituído por um monocromador

HR460 e um fotosensor CCD que trabalha em temperaturas abaixo de 140 K. As amostras

foram excitadas em um comprimento de onda de 488 nm proporcionada por um laser Ar+ em

uma potência de aproximadamente 1 mW e um tempo de integração de 0,2 s. Estas medidas

nos forneceram informações a respeito da densidade e das características dos defeitos

existentes nos filmes.

Medidas de resistência de folha foram especificamente feitas no material Si-Poly (antes e

após a dopagem) que é utilizado como contato de porta nos TFTs confeccionados. Estas

medidas foram feitas através de um medidor quatro pontas da marca FTP 5000 Veeco

Instruments.

O comportamento elétrico dos capacitores MIS foi verificado através de curvas de

capacitância-tensão (C-V), das quais se obteve a constante dielétrica dos filmes a-C:H, a-

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C:H:N e a-C:H:F. Estas curvas C-V foram medidas através de um medidor C-V de alta

freqüência (1 MHz) da marca HP (modelo 4280) em temperatura ambiente. Através destes

mesmos capacitores foram feitas medidas de curvas corrente-tensão (I-V) pelas quais se

obteve os mecanismos de condução existentes nos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F. Estas

curvas I-V foram medidas através de um picoâmperimetro/tensão DC da marca HP (modelo

4140A) em temperatura ambiente.

O comportamento elétrico dos transistores TFTs e MESFETs de porta tripla foi verificado

através da extração de curvas corrente de dreno versus tensão de porta (IDS-VGS), para a

verificação das regiões de corte, triodo e saturação, e curvas corrente de dreno versus tensão

de dreno (IDS-VDS), para a verificação de alterações no valor da corrente IDS em decorrência

da variação da tensão de porta. Estas curvas foram obtidas através do equipamento HP4156C

Semiconductor Parameter Analyzer. Ressaltando-se que ambos os transistores, além de

servirem para se obter estas curvas características de transistores, serviram também para se

averiguar a capacidade que os filmes estudados neste trabalho têm em se integrarem a outros

materiais, no caso o alumínio e o Si-Poly.

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4. Resultados e discussões

Materiais semicondutores amorfos podem ser utilizados como elemento ativo ou passivo

em dispositivos eletrônicos. Entretanto, existem várias dificuldades técnicas que limitam a

utilização desses materiais, tais como: a obtenção de uma concentração adequada de

elementos químicos, a obtenção de uma baixa desordem estrutural e a obtenção de um contato

elétrico adequado entre metal de contato/material semicondutor amorfo. Por exemplo, para o

caso dos TFTs, a formação de um contato do tipo ôhmico no dreno e na fonte, possibilita o

correto funcionamento desse dispositivo[55]. Por isso, é imprescindível um estudo detalhado

a respeito das propriedades de novos materiais amorfos para que se determine sob quais

condições de deposição são atingidas as características desejadas para uma dada aplicação.

Neste intuito, são apresentados neste capítulo os resultados obtidos das técnicas de

caracterizações realizadas neste projeto de doutorado.

4.1. Taxa de deposição

O aumento na porcentagem de N2 na mistura gasosa usada para a pulverização catódica

reativa possui uma grande influência na taxa de deposição do filme a-C:H, ou seja, a taxa de

deposição do filme a-C:H aumenta de 13 nm/min para 34 nm/min quando a porcentagem de

N2 no gás de pulverização catódica reativa é aumentada em até 80%, como é mostrado na

figura 24.

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76

0 20 40 60 8010

15

20

25

30

35

Taxa

de

depo

sição

(nm

/min

)

Porcentagem de N2 (%)

Figura 24 – Taxa de deposição dos filmes a-C:H(:N) em função da porcentagem de N2 no gás

de pulverização catódica reativa.

Este aumento na taxa de deposição mostrado na figura 24 deve estar relacionado ao

aumento da densidade do plasma em decorrência da presença de N2, para as condições de

operação do sistema de deposição utilizadas.

A ocorrência deste aumento na densidade do plasma tende a causar um aumento na taxa de

pulverização do alvo, assim haveria de se ter uma maior taxa de retirada de átomos de

carbono do mesmo. Conseqüentemente, haveria de se ter mais átomos de carbono reagindo

com os íons de nitrogênio reativos e os íons de CxHy presentes no plasma[36].

Da mesma forma que foi verificado para o caso da incorporação do nitrogênio, o aumento

na porcentagem do CF4 no gás de pulverização catódica reativa também possui uma grande

influência na taxa de deposição do filme a-C:H, conforme é mostrado na figura 25.

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77

0 10 20 30 40 50 6010

15

20

25

30

35

Taxa

de

depo

sição

(nm

/min

)

Porcentagem de CF4 (%)

Figura 25 – Taxa de deposição dos filmes a-C:H(:F) em função da porcentagem de CF4 no

gás de pulverização catódica reativa.

Credita-se este aumento inicial na taxa de deposição do filme a-C:H, conforme é mostrado

na figura 25, a um efeito causado pelo aumento da quantidade de carbono no plasma, sendo

este carbono originado do gás CF4. Além disso, é mostrado na figura 25 que a taxa de

deposição do filme a-C:H diminui quando a porcentagem de CF4 no gás de pulverização

catódica reativa é aumentada para valores acima de 20%.

Pelo que se sabe, esta diminuição citada pode ter sido causada por um processo simultâneo

de deposição e volatilização do filme, sendo essa volatilização causada pela formação de

moléculas de HF no plasma em decorrência da reação entre os íons de flúor e os íons de

hidrogênio[90].

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78

4.2. Composição química

Através do programa de simulação SIMNRA que é utilizado para análise de espectros RBS,

foram realizadas simulações para se obter a concentração percentual relativa dos elementos

químicos presentes na composição química dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F.

Estas simulações mostraram que o filme a-C:H tem em sua composição, além do carbono,

uma quantidade não esperada de 13,5 at.% de nitrogênio, conforme é mostrado na figura 26,

sendo o nitrogênio neste caso caracterizado como um contaminante. Fora isso, todos os filmes

apresentaram uma pequena quantidade do contaminante oxigênio na faixa entre 2 e 4 at.% em

suas composições. A presença destes contaminantes deve estar relacionada ao fato da

superfície do substrato de carbono vítreo os ter absorvidos durante a limpeza. Assim, acredita-

se que na formação dos filmes ambos contaminantes tenham migrado da interface

substrato/filme para o interior dos filmes.

200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

Composição do filme:- 83,3 at.% de C- 13,5 at.% de N- 3,3 at.% de O

ONC

Cont

agem

Canal

espectro RBS simulação do SIMNRA

Figura 26 – Espectro RBS e simulação SIMNRA do filme a-C:H.

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79

Nestas simulações é mostrado também que os filmes a-C:H:N são compostos

principalmente de carbono e nitrogênio e que os filmes a-C:H:F são compostos de carbono e

flúor e também do contaminante nitrogênio. Os espectros RBS dos filmes a-C:H:N e a-C:H:F

e as suas devidas simulações são mostrados nas figuras 27 e 28, respectivamente.

Figura 27 – Espectros RBS e simulações SIMNRA dos filmes a-C:H:N depositados nas

porcentagens de N2 de: (a) 10%, (b) 20%, (c) 40%, (d) 60% e (e) 80% em carbono vítreo. As

posições dos picos dos elementos carbono, nitrogênio e oxigênio, presentes na composição

química destes materiais, estão assinaladas.

200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

(a)

Composição do filme:- 76,3 at.% de C- 21 at.% de N- 2,7 at.% de O

CNO

espectro RBS simulação do SIMNRA

Cont

agem

Canal 200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

(b)

Composição do filme:- 69,7 at.% de C- 28 at.% de N- 2,3 at.% de O

ONC

espectro RBS simulação do SIMNRA

Cont

agem

Canal

200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

(e)

ON

CComposição do filme:- 56 at.% de C- 40 at.% de N- 4 at.% de O

espectro RBS simulação do SIMNRA

Cont

agem

Canal

200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

(c)

ONC

Composição do filme:- 61,5 at.% de C- 35 at.% de N- 3,5 at.% de O

espectro RBS simulação do SIMNRA

Cont

agem

Canal

200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

(d)

ONC

Composição do filme:- 70,1 at.% de C- 36,5 at.% de N- 3,4 at.% de O

espectro RBS simulação do SIMNRA

Cont

agem

Canal

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80

Figura 28 – Espectros RBS e simulações SIMNRA dos filmes a-C:H:F depositados nas

porcentagens de CF4 de: (a) 5%, (b) 10%, (c) 20%, (d) 40% e (e) 60% em carbono vítreo. As

posições dos picos dos elementos carbono, flúor, nitrogênio e oxigênio, presentes na

composição química destes materiais, estão assinaladas.

200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

(a)

F

ONC Composição do filme:

- 91 at.% de C- 0,5 at.% de F- 5,5 at.% de N- 3 at.% de O

espectro RBS simulação do SIMNRA

Co

ntag

em

Canal 200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

(b)

F

ON

C Composição do filme:- 90,3 at.% de C- 1,2 at.% de F- 6 at.% de N- 2,5 at.% de O

espectro RBS simulação do SIMNRA

Cont

agem

Canal

200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

(c)

F

ONC Composição do filme:

- 87,5 at.% de C- 1,7 at.% de F- 6,8 at.% de N- 4 at.% de O

espectro RBS simulação do SIMNRA

Cont

agem

Canal

200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

(d)

FON

C Composição do filme:- 77,3 at.% de C- 5,2 at.% de F- 13,7 at.% de N- 4 at.% de O

espectro RBS simulação do SIMNRA

Cont

agem

Canal200 400 600

1

2,71828

7,38906

20,08554

54,59815

148,41316

403,42879

(e)

F

ONC Composição do filme:- 66 at.% de C- 20 at.% de F- 10 at.% de N- 4 at.% de O

espectro RBS simulação do SIMNRA

Cont

agem

Canal

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81

Nas simulações feitas é mostrado também que a quantidade de nitrogênio na composição

química do filme a-C:H teve um aumento de 21 at.% para 40 at.%, em decorrência da

variação de 10 até 80% na porcentagem de N2 no gás de pulverização catódica reativa, como é

mostrado na figura 29.

0 20 40 60 8010

15

20

25

30

35

40

45

Qua

ntid

ade

de N

nos

film

es (a

t.%)

Porcentagem de N2 (%)

Figura 29 – Variação da quantidade de nitrogênio na composição química dos filmes a-

C:H(:N) em função da porcentagem de N2 no gás de pulverização catódica reativa.

Na figura 30 é mostrado que a quantidade de flúor na composição química do filme a-C:H

teve um aumento de 0,5 at.% para 20 at.% em decorrência da variação entre 5 e 60% na

porcentagem de CF4 no gás de pulverização catódica reativa.

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82

0 10 20 30 40 50 60

0

5

10

15

20

25

Qua

ntid

ade

de F

nos

film

es (a

t.%)

Porcentagem de CF4 (%)

Figura 30 – Variação da quantidade de flúor na composição química dos filmes a-C:H(:F) em

função da porcentagem de CF4 no gás de pulverização catódica reativa.

4.3. Estrutura das ligações químicas

A estrutura das ligações químicas dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F foi estudada

através das espectroscopias Raman e FTIR. Os espectros obtidos por meio da técnica de

espectroscopia Raman são mostrados nas figuras 31, 32 e 33. Conforme o esperado, os

espectros dos filmes a-C:H:N e a-C:H:F mostrados nas figuras 31 e 32, respectivamente, são

muito parecidos com o correspondente espectro do filme a-C:H que é mostrado na figura 33,

sendo possível de se observar, nos espectros obtidos, a presença de uma larga banda

luminescente na região do visível. Essa banda que aparece como uma linha de base é devida

aos sinais de fotoluminescência ocasionados quando o laser incidente é parcialmente

absorvido[39], conforme mencionado na revisão bibliográfica, sendo que a presença dessa

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83

banda tem relação com a quantidade de hidrogênio na composição química dos filmes a-C:H,

a-C:H:N e a-C:H:F.

Figura 31 – Espectros Raman dos filmes a-C:H(:N) depositados nas porcentagens de N2 de:

(a) 10%, (b) 20%, (c) 40%, (d) 60% e (e) 80% em silício. As bandas D e G estão assinaladas.

1000 1200 1400 1600 1800

6x109

7x109

8x109

9x109

1x1010

1x1010

1x1010

G

D

(a)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)1000 1200 1400 1600 1800

3x109

4x109

5x109

6x109

7x109

8x109

G

D

(b)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

1000 1200 1400 1600 18004x109

5x109

6x109

7x109

8x109

9x109

1x1010

G

D

(c)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

1000 1200 1400 1600 1800

8,0x109

1,0x1010

1,2x1010

1,4x1010

1,6x1010

1,8x1010

G

D

(d)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)1000 1200 1400 1600 1800

8,0x109

1,0x1010

1,2x1010

1,4x1010

1,6x1010

1,8x1010

2,0x1010

2,2x1010

G

D

(e)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

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84

Figura 32 – Espectros Raman dos filmes a-C:H(:F) depositados nas porcentagens de CF4 de:

(a) 5%, (b) 10%, (c) 20%, (d) 40% e (e) 60% em silício. As bandas D e G estão assinaladas.

1000 1200 1400 1600 18006,0x108

8,0x108

1,0x109

1,2x109

1,4x109

1,6x109

G

D

(a)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)1000 1200 1400 1600 1800

2,5x109

3,0x109

3,5x109

4,0x109

4,5x109

5,0x109

5,5x109

G

D

(b)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

1000 1200 1400 1600 18003x109

4x109

5x109

6x109

7x109

8x109

9x109

G

D

(c)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

1000 1200 1400 1600 18006,0x109

8,0x109

1,0x1010

1,2x1010

1,4x1010

1,6x1010

1,8x1010

2,0x1010

G

D

(d)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)1000 1200 1400 1600 1800

6,0x109

8,0x109

1,0x1010

1,2x1010

1,4x1010

1,6x1010

1,8x1010

2,0x1010

G

D

(e)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Deslocamento Raman (cm-1)

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85

1000 1200 1400 1600 18001,5x109

2,0x109

2,5x109

3,0x109

3,5x109

4,0x109

4,5x109

5,0x109

In

tens

idad

e (u

.a.)

G

D

Deslocamento Raman (cm-1)

Figura 33 – Espectro Raman do filme a-C:H, no qual são assinaladas as bandas D e G.

Nos espectros Raman obtidos dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F é também possível de

se observar a presença das bandas G- (“grafitica”) e D- (“desordem”). Entretanto, essas

bandas não se apresentaram muito bem definidas em virtude da presença da banda

luminescente. Assim, realizou-se um ajuste Gaussiano para que essas bandas aparecessem de

forma mais evidente, sendo que através deste ajuste pode se realizar uma análise

correlacionando a largura da banda D do espectro do filme a-C:H com a quantidade de

nitrogênio e flúor incorporado neste filme.

Como resultado dessa análise tem-se que a incorporação de até 40 at.% de nitrogênio no

filme a-C:H causa um aumento de até 10% na largura de sua banda D, enquanto que a

incorporação de até 20 at.% de flúor neste filme causa um aumento de até 20% na largura da

banda D. Isso só vem a comprovar a teoria colocada na revisão bibliográfica, onde é

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86

estabelecido que tanto a incorporação do nitrogênio quanto a do flúor causam um aumento na

largura da banda D do filme a-C:H.

O espectro obtido do filme a-C:H por meio da técnica de espectroscopia de FTIR é

mostrado na figura 34. Esse material é caracterizado pela presença da banda de estiramento

sp1 C—H, centrada em aproximadamente 3300 cm-1, e pela presença da banda de estiramento

sp2/sp3 C—H, centrada em aproximadamente 2900 cm-1. Neste espectro é também verificada

a presença da banda de estiramento N—H, compreendida na faixa de 3200-3380 cm-1, em

virtude de haver 13,5 at.% de nitrogênio neste material, sendo que a presença dessa banda

acabou mascarando a presença da banda sp1 C—H no espectro.

2500 3000 3500 4000

(290

0 cm

-1)

(338

0 cm

-1)

sp2 e

sp3 C−H

N−H

Abso

rbân

cia (u

.a.)

Número de onda (cm-1)

Figura 34 – Espectro FTIR do filme a-C:H.

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87

Mudanças no espectro FTIR do filme a-C:H são observadas quando a porcentagem de N2

no gás de pulverização catódica reativa aumenta, como é mostrado na figura 35. Algumas

dessas observáveis mudanças são: i) o aumento da banda de estiramento N—H, centrada em

aproximadamente 3380 cm-1, ii) aumento da banda de absorção sp2 C=N, centrada em

aproximadamente 1620 cm-1, e iii) aumento da banda de absorção C≡N, centrada em

aproximadamente 2200 cm-1, a qual surge somente a partir da condição de 20% de N2. O

surgimento dessa banda é devido às vibrações de estiramento dos compostos contendo a

ligação nitrila.

0 1000 2000 3000 4000 5000Número de onda (cm-1)

Abs

orbâ

ncia

(u.a

.)

0%

10%20%

40%

60%

80%

N−H

C≡N

C=N↓(2

200

cm-1

)

(1620 cm-1)

Figura 35 – Espectros FTIR dos filmes a-C:H(:N) depositados em silício, para várias

porcentagens de N2 no gás de pulverização catódica reativa.

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88

Mudanças também ocorrem no espectro FTIR do filme a-C:H quando a porcentagem de

CF4 no gás de pulverização catódica reativa aumenta, como é mostrado na figura 36. Algumas

dessas observáveis mudanças são: i) surgimento da banda C—F, centrada em

aproximadamente 1030 cm-1, e ii) surgimento da banda de estiramento simétrico, C—F2

centrada em aproximadamente 1160 cm-1.

0 1000 2000 3000 4000 5000Número de onda (cm-1)

Abs

orbâ

ncia

(u.a

.)

0%5%

10%20%

40%

60%

↓↓C−F (1030 cm-1)

C−F2 (1160 cm -1)

F2C=C↓

Figura 36 – Espectros FTIR dos filmes a-C:H(:F) depositados em silício, para várias

porcentagens de CF4 no gás de pulverização catódica reativa.

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89

Todas essas alterações observadas vêm a confirmar a crescente incorporação dos aditivos

nitrogênio e flúor no filme a-C:H. Fora isso, é bom que se diga que tanto a realização da

caracterização RBS quanto a realização das caracterizações Raman e FTIR são muito

importantes, pois elas nos auxiliam na realização de uma análise mais completa com relação

às mudanças ocorridas nas propriedades fotoluminescentes e eletrônicas do filme a-C:H em

virtude da incorporação dos aditivos nitrogênio e flúor no mesmo, sendo as mesmas

abordadas a seguir.

4.4. Fotoluminescência

Nas condições que foram feitas as medidas de fotoluminescência dos filmes a-C:H, a-

C:H:N e a-C:H:F, foi possível obter um espectro apresentando duas bandas, uma centrada em

aproximadamente 600 nm e a outra centrada em aproximadamente 650 nm, como é mostrado

nas figuras 37 e 38. Estas duas figuras mostram também que ambos, o aumento da quantidade

de nitrogênio e o aumento da quantidade de flúor, na composição química do filme a-C:H,

fazem com que a banda centrada em aproximadamente 650 nm tenha a sua intensidade

aumentada. Além disso, é possível observar nestas duas figuras que essas duas bandas se

deslocam em direção aos altos comprimentos de onda (menores energias) em decorrência do

aumento da quantidade de nitrogênio ou flúor na composição química deste material.

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90

500 600 700 800 900Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

0%

10%

20%40%

60%

80%

Figura 37 – Espectros de fotoluminescência dos filmes a-C:H(:N), depositados em silício

para várias porcentagens de N2 no gás de pulverização catódica reativa.

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91

500 600 700 800 900Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

0%

5%

10%

20%

40%

60%

Figura 38 – Espectros de fotoluminescência dos filmes a-C:H(:F), depositados em silício para

várias porcentagens de CF4 no gás de pulverização catódica reativa.

O aumento na intensidade de apenas umas das bandas em função do aumento da quantidade

de nitrogênio ou flúor na composição química do filme a-C:H, evidencia a existência de dois

processos distintos, um para cada banda, de emissão de fótons.

Acredita-se que a origem da banda centrada em aproximadamente 600 nm esteja

relacionada com a recombinação dos elétrons nos estados localizados na cauda da banda de

valência. Enquanto que a origem da banda centrada em aproximadamente 650 nm deve estar

relacionada com a recombinação dos elétrons nos estados profundos do gap.

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92

Partindo-se destas duas premissas, verifica-se que tanto a presença do nitrogênio quanto a

do flúor, tenha alterado apenas esse último processo de recombinação, ou seja, a presença de

ambos aditivos cria condições para que haja um aumento na quantidade de emissão de fótons

para um mesmo processo de recombinação de elétron.

Verifica-se também que o deslocar dessas duas bandas deve estar relacionado com a

questão do aumento da densidade de estados localizados na cauda da banda de condução do

filme a-C:H, ocasionado pelo aumento da desordem estrutural deste material em virtude da

incorporação dos aditivos nitrogênio e flúor. Conseqüentemente, este aumento na desordem

estrutural deste filme faz com que a energia da distância espacial que separa os estados

localizados no interior da cauda da banda de condução seja diminuída, ocasionando assim um

maior efeito de termalização para o elétron excitado.

4.5. Capacitor MIS

Neste item são apresentadas as curvas I-V, das quais se obteve os mecanismos de condução

existentes nos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F, e as curvas C-V, das quais se obteve a

constante dielétrica dos mesmos.

4.5.1. Curvas I-V

As curvas I-V obtidas dos filmes a-C:H(:N) e a-C:H(:F) são mostradas nas figuras 39 e 40,

respectivamente. Estas curvas foram deslocadas verticalmente para uma melhor clareza.

Observa-se nestas curvas, a ocorrência de subidas e descidas abruptas da corrente quando a

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93

tensão imposta é aumentada, podendo este comportamento ser relacionado com a ocorrência

de tunelamentos de portadores de carga livres na banda de condução.

0 0.4 0.8 1.2 1.6 Tensão (V)

Cor

rent

e (A

)

0%

10%20%

40%

60%80%

tunelamento deportadores livres

efeito de espalhamentopor fônons

Figura 39 – Curvas I-V dos filmes a-C:H(:N), depositados em silício nas seguintes

porcentagens de N2 no gás de pulverização catódica reativa: 0%, 10%, 20%, 40%, 60% e

80%.

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94

0 0.4 0.8 1.2 1.6 Tensão (V)

Corre

nte (

A)

0%5%

10%20%

40%

60%

tunelamento deportadores livres

efeito de espalhamentopor fônons

Figura 40 – Curvas I-V dos filmes a-C:H(:F), depositados em silício nas seguintes

porcentagens de CF4 no gás de pulverização catódica reativa: 0%, 5%, 10%, 20%, 40% e

60%.

Analisando-se o comportamento da corrente em relação ao comportamento da

condutividade quando a tensão imposta é aumentada, verifica-se que para baixas tensões (0 a

0,4 V), a condutividade é constantemente aumentada, apesar de suas repentinas subidas e

descidas abruptas, conforme é mostrado nas curvas plotadas das figuras 39 e 40.

Posteriormente, com um maior aumento da tensão, temos que a condutividade começa a

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95

atingir a saturação, cujo fenômeno pode estar relacionado com a diminuição da velocidade

dos elétrons livres em função de uma maior incidência do mecanismo de espalhamento por

fônons, ou seja, quando a tensão é aumentada, a energia térmica na estrutura atômica dos

filmes, na forma de vibrações atômicas, aumenta, tornando a interação portador de carga-

fônon mais freqüente. Portanto, o aumento na vibração atômica fornece uma força muito

próxima ou até mesmo maior do que a do movimento dos portadores de carga livres.

Após a condutividade ter atingido a saturação, verifica-se que a mesma começa a declinar.

Após este declínio, verifica-se que a condutividade começa a aumentar novamente. Este novo

aumento da condutividade pode ser explicado pela ocorrência da emissão Poole-Frenkel.

A emissão Poole-Frenkel se deve ao aumento da excitação térmica dos portadores de carga

armadilhados na banda de condução[91]. Esse efeito somente ocorre em altas tensões, pelo

fato que a energia requerida para a fuga desses portadores de carga ser diminuída.

A condução pela emissão Poole-Frenkel é usualmente observada em materiais amorfos

com altas densidades de estados localizados no gap. Em virtude disso, espera-se que os filmes

que apresentaram um maior declínio de suas condutividades, com um conseqüente maior

retardamento da ocorrência da emissão Poole-Frenkel, devam possuir uma rede estrutural

mais ordenada. Analisando-se as figuras 39 e 40, temos que estes filmes são: o filme

depositado com 40% de N2 e o filme depositado com 60% de CF4. Além disso, estes dois

filmes devem possuir uma densidade de estados localizados, em seus respectivos gaps, mais

baixa do que a dos outros filmes. Assim, é possível que estes dois filmes tiveram um melhor

arranjo dos aditivos incorporados em suas redes estruturais.

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96

4.5.2. Curvas C-V

Mediante a obtenção das curvas C-V, tal como a mostrada na figura 41, foi possível obter,

através do uso da equação 2, a constante dielétrica dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F.

-5 0 5 10

2,0x10-11

4,0x10-11

6,0x10-11

8,0x10-11

1,0x10-10

1,2x10-10

1,4x10-10

1,6x10-10

Capa

citân

cia (F

)

Tensão (V)

Figura 41 – Curva C-V para o capacitor MIS, tendo o filme a-C:H:F, depositado com 60% de

CF4 no gás de pulverização catódica reativa, como dielétrico.

Neste estudo da constante dielétrica, teve-se o cuidado de depositar os filmes a-C:H, a-

C:H:N e a-C:H:F com aproximadamente a mesma espessura (130 nm), no intuito de descartar

qualquer influência que possa haver neste estudo com relação às diferenças de espessuras.

Deste modo, é possível afirmar que as constantes dielétricas obtidas estão diretamente

relacionadas com o bulk dos materiais em estudo.

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97

Conforme é mostrado na figura 42, a constante dielétrica do filme a-C:H aumenta de 4,1 até

7,1, quando a porcentagem de N2 no gás de pulverização catódica reativa é variada entre 10-

80%. Este aumento pode ser atribuído a dois fatores: (i) aumento da desordem na rede

estrutural e (ii) formação de ligações C≡N, que causam um aumento no gap pela redução dos

interlinks dos clusters sp2[92,93]. Além disso, essa ligação C≡N possui uma grande

polarizabilidade eletrônica, maior do que a da ligação C≡C, o que contribui também para o

aumento da constante dielétrica[94].

0 20 40 60 80

3,03,54,04,55,05,56,06,57,07,5

Cons

tant

e di

elét

rica

Porcentagem de N2(%)

Figura 42 – Efeito da porcentagem de N2 no gás de pulverização catódica reativa na

constante dielétrica dos filmes a-C:H(:N).

Como é mostrado na figura 43, a variação entre 5 e 60% na porcentagem de CF4 no gás de

pulverização catódica reativa tem também uma grande influência na constante dielétrica do

filme a-C:H.

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0 10 20 30 40 50 60

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

Cons

tant

e di

elét

rica

Porcentagem de CF4(%)

Figura 43 – Efeito da porcentagem de CF4 no gás de pulverização catódica reativa na

constante dielétrica dos filmes a-C:H(:F).

Tem-se por hipótese que a causa deste aumento ocorrido de 1,57 a 2,67 na constante

dielétrica, conforme é mostrado nessa figura 43, esteja relacionada a um estudo que revela

que a polarizabilidade eletrônica é alta para materiais possuindo elétrons mais fracamente

ligados[94]. Este estudo nos leva a crer que o flúor pode favorecer a delocalização do elétron

na rede estrutural do filme a-C:H, causando assim um aumento na constante dielétrica deste

material. Essa proposição contraria a maioria dos estudos apresentados na literatura, os quais

revelam que a dopagem do a-C:H com flúor somente causa uma redução na constante

dielétrica deste material, devido às ligações C—F possuírem uma polarizabilidade eletrônica

relativamente menor do que a da ligação C—H[95]. Por sua vez, essa redução esperada

somente ocorreu até a porcentagem de 10% de CF4, conforme é mostrado também na figura

43, sendo que para as condições de deposição de 5% e 10% de CF4 as constantes dielétricas

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99

encontradas foram de 1,76 e 1,57, respectivamente, o que satisfaz a condição de baixo κ

necessária para que estes materiais sejam utilizados em CIs.

4.6. TFTs

Com base nas caracterizações realizadas, optou-se por utilizar o filme a-C:H como

dielétrico nos TFTs, pois para este dispositivo não há a necessidade de se utilizar um

dielétrico com baixo κ, haja visto que o κ do filme Si3N4, que é utilizado para se confeccionar

TFTs na indústria, é de 7,5. Além disso, optou-se por utilizar como semicondutor nos TFTs os

filmes depositados nas condições de 40% de N2 e 60% de N2, pelo fato dos mesmos terem

apresentado redes estruturais como sendo mais ordenadas e pelo fato também de se poder

realizar uma comparação mais efetiva em virtude de se ter dois materiais com características

parecidas. Na figura 44 é apresentado uma representação dos TFTs confeccionados, onde se

detalha os materiais utilizados neste dispositivo.

Figura 44 – Esquema dos TFTs confeccionados.

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Apesar de todo empenho na confecção dos TFTs, as medidas obtidas dos mesmos não

foram conclusivas, pois as mesmas apresentaram uma série de “ruídos”, tal como mostra a

curva IDS-VDS que é apresentada na figura 45. O principal motivo para este resultado pode ser

vinculado a uma oxidação sofrida pelo contato (superfície) do Si-Poly, assim a solução para

se eliminar estes ruídos seria substituir o Si-Poly por outro material ou fazer o contato do Si-

Poly com alumínio.

0 1 2 3 4 5

0,00E+000

2,00E-010

4,00E-010

6,00E-010

8,00E-010

1,00E-009

1,20E-009

VGS = 3 V

I DS (A

)

VDS (V)

Figura 45 – Curva IDS-VDS obtida para os TFTs confeccionados.

4.7. MESFETs de porta tripla

Optou-se por utilizar como semicondutor nos MESFETs de porta tripla os filmes

depositados nas condições de 40% de N2 e 60% de N2 pelas mesmas razões apresentadas para

a escolha dos filmes utilizados como semicondutor no TFTs.. Na figura 46 é apresentado o

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esquema dos MESFETs de porta tripla confeccionados, onde se detalha os materiais utilizados

neste dispositivo, bem como o esquema elétrico utilizado nas medições.

Figura 46 – Representação simplificada dos MESFETs de porta tripla confeccionados.

Nas figuras 47 e 48 são mostradas as curvas IDS-VGS obtidas dos MESFETs de porta tripla

confeccionados com os filmes a-C:H:N depositados nas condições de 40% de N2 e 60% de

N2, respectivamente. Nessas curvas é verificado o surgimento de uma corrente (IDS), sendo

que os testes realizados, nos quais se variou as tensões VDS e VGS, mostram que o surgimento

dessa corrente é proporcional a tensão VDS, ou melhor, IDS tem uma relação tal que: IDS =

c.VDS, onde a constante de proporcionalidade, c, depende da tensão VGS aplicada, bem como

da dimensão que separa tanto o dreno da porta quanto o dreno da fonte. Além disso, é possível

de se observar nessas curvas que a corrente IDS tende a ser “cortada” quando a tensão VGS

tende a ser mais negativa, sendo que isso ocorre devido a expansão do canal. Comparando-se

os semicondutores utilizados, tem-se que o MESFET de porta tripla com o filme depositado

na condição de 40% N2 apresenta, na tensão de VGS = 0 V, uma corrente IDS de 0,77 nA que é

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maior do que a de 0,71 nA observada para o filme depositado na condição de 60% N2, este

ganho a mais apresentado por este filme depositado na condição de 40% N2 tem relação com

a condição de rede mais ordenada apresentada pelo mesmo.

-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0

0,01,0x10-10

2,0x10-10

3,0x10-10

4,0x10-10

5,0x10-10

6,0x10-10

7,0x10-10

8,0x10-10

VDS = 1 V

I DS (A

)

VGS (V)

Figura 47 – Curva IDS-VGS obtida para os MESFETs de porta tripla confeccionados com o

filme a-C:H:N depositado na condição de 40% de N2. O valor de VDS foi fixo em 1 V.

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-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0

0,0

1,0x10-10

2,0x10-10

3,0x10-10

4,0x10-10

5,0x10-10

6,0x10-10

7,0x10-10

8,0x10-10

VDS = 1 V

I DS (A

)

VGS (V)

Figura 48 – Curva IDS-VGS obtida para os MESFETs de porta tripla confeccionados com o

filme a-C:H:N depositado na condição de 60% de N2. O valor de VDS foi fixo em 1 V.

Na figura 49 são mostradas as curvas IDS-VDS dos MESFETS de porta tripla

confeccionados. Nessas curvas é possível de se observar a não expansão do canal quando VGS

foi polarizado em -5 V, ficando essa expansão limitada até a tensão de -2,5 V. Além disso,

verificou-se nessas curvas que o comportamento inicial de IDS para com VGS de -2,5 V e -5 V

deve estar provavelmente relacionado ao fato de haver uma corrente de fuga pela junção do

dreno.

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-0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0-4,0x10-9

-3,0x10-9

-2,0x10-9

-1,0x10-9

0,0

1,0x10-9

I DS (A

)

VDS (V)

VGS = 0 V VGS = - 2,5 V VGS = - 5 V

Figura 49 – Curva IDS-VDS obtida para os MESFETs de porta tripla confeccionados. Os

valores de VGS foram variados em 0 V, -2,5 V e -5 V.

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5. Conclusões

Este projeto de doutorado tem por objetivo principal estudar as alterações que ocorrem nas

propriedades eletrônicas do filme a-C:H, em virtude da incorporação dos aditivos nitrogênio e

flúor. A deposição dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F foi realizada através da técnica de

pulverização catódica (sputtering), por meio de uma descarga elétrica de RF com cátodo do

tipo magnetron. Com o objetivo de estudar as características dos novos filmes de forma a

utilizá-los como material dielétrico ou/e semicondutor em transistores, os mesmos foram

submetidos a uma série de técnicas de caracterizações, tais como RBS, FTIR, espectroscopia

Raman e análises de curvas I-V e C-V, sendo que as principais conclusões obtidas a partir

dessas caracterizações são:

i) A ocorrência de um considerável aumento na quantidade de nitrogênio e flúor na

composição química do filme a-C:H.

ii) Os aditivos nitrogênio e flúor causam grandes modificações na estrutura das ligações

químicas do filme a-C:H, das quais pode-se citar: o surgimento das ligações N—H, C=N e

C≡N em decorrência da incorporação de 21 at.% a 40 at.% de nitrogênio e o surgimento das

ligações C—F e C—F2 em decorrência da incorporação 0,5 at.% a 20 at.% de flúor.

iii) No estudo das propriedades eletrônicas dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F, se destacou

as propriedades encontradas em dois filmes, o filme a-C:H:N depositado na condição de 40%

de N2 e o filme a-C:H:F depositado na condição de 60% de CF4, pois os mesmos

apresentaram redes estruturais como sendo mais ordenadas.

iv) Conforme verificado pelas medidas de fotoluminescência, a incorporação dos aditivos

nitrogênio e flúor causa um aumento na densidade de estados localizados na banda de

condução do filme a-C:H fazendo com que a energia da distância espacial que separa os

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estados localizados no interior da mesma seja diminuída, o que faz com que a condução via

saltos (hop) aumente. Isso por conseqüência acaba tornando os filmes a-C:H:N e a-C:H:F

mais condutores do que o filme a-C:H. Esta afirmação é embasada no comportamento das

curvas I-V, nas quais se pôde observar que a condutividade dos filmes a-C:H:N e a-C:H:F,

antes da ocorrência da saturação, teve um maior incremento do que a do filme a-C:H.

v) No estudo da constante dielétrica tem-se como destaque o aumento ocorrido na mesma em

decorrência da incorporação de flúor no filme a-C:H, sendo que este aumento teve início a

partir da condição de deposição de 10% de CF4. Este aumento não era esperado, ou seja, em

virtude do que é exposto na literatura, esperava-se que a constante dielétrica do filme a-C:H

fosse diminuindo à medida que a quantidade de flúor na composição química deste material

fosse aumentando. Sendo assim, conclui-se que existe um limiar de concentração de flúor que

separa a obtenção de filmes a-C:H:F possuindo baixas constantes dielétricas e filmes a-C:H:F

possuindo elétrons firmemente ligados, pois conforme verificado, a incorporação de flúor no

a-C:H causou a delocalização dos elétrons, sendo essa delocalização a causa desse aumento

na constante dielétrica.

vi) Os transistores MESFETs de porta tripla, confeccionados como uma forma de se avaliar o

comportamento de nossos filmes integrados em dispositivos, apresentaram uma expansão de

canal até a tensão de -2,5 V. Este resultado está relacionado com a capacidade que o metal

alumínio tem em criar uma porta Schottky que consiga formar um canal condutor que ligue a

região da fonte com a região do dreno.

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6. Produções bibliográficas

Desde o inicio do presente trabalho foi possível dar origem à seguinte produção

bibliográfica:

6.1. Artigos

1. Marciel Guerino, Marcos Massi, Ronaldo D. Mansano. The influence of nitrogen and

fluorine on the dielectric constant of hydrogenated amorphous carbon (a-C:H) films,

Microelectronics Journal, v. 38, p. 915-918, 2007.

2. Marciel Guerino, Ana P. Mousinho, Marcos Massi, Ronaldo D. Mansano. Electrical

Conduction Mechanisms of Nitrogenated Amorphous Carbon Films Deposited by High-

Density Plasma Chemical Vapor Deposition, Plasma Processes and Polymers, v. 2, p. 454-

457, 2005.

3. Marciel Guerino, Marcos Massi, Homero Santiago Maciel, Choyu Otani, Ronaldo D.

Mansano, Patrick Verdonck, Juliano Libardi. The influence of nitrogen on the dielectric

constant and surface hardness in diamond-like carbon (DLC) films, Diamond and Related

Materials, v. 13, p. 316-319, 2004.

4. Juliano Libardi, Kornelly Krigorov, Marcos Massi, Choyu Otani, Sérgio P. Ravagnani,

Homero Santiago Maciel, Marciel Guerino, Juan M. Jaramillo Ocampo. Comparative studies

of the feed gas composition effects on the characteristics of DLC films deposited by

magnetron sputtering, Thin Solid Films, v. 489, p. 282-285, 2004.

5. Ronaldo D. Mansano, Ana P. Mousinho, Luís S. Zambom, M. S. de Medeiros, Patrick

Verdonck, Marciel Guerino e Marcos Massi. The influence of additives on electrical

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108

characteristics of DLC films deposited by reactive sputtering, Proceedings - Electrochemical

Society, v. 3, p. 339-344, 2004.

6.2. Trabalhos publicados em anais de eventos

1. 19th Symposium on Microelectronics Technology and Devices/SBMicro, Porto de

Galinhas-PE, 2004, com o trabalho “The influence of additives on electrical characteristics of

DLC films deposited by reactive sputtering”, cujos autores foram Ronaldo D. Mansano, Ana

Paula Mousinho, Luís S. Zambom, M. S. Medeiros, Patrick Verdonck, Marciel Guerino e

Marcos Massi.

2. X Encontro de Iniciação Científica e Pós-graduação do ITA – ENCITA, São José dos

Campos-SP, 2004, com o trabalho “Estudo sobre a influência dos aditivos nitrogênio e flúor

nas propriedades estruturais, eletro-ópticas e elétricas do material carbono tipo-diamante

(DLC)”, cujos autores foram Marciel Guerino e Marcos Massi.

3. 16th International Vacuum Congress – IVC, Veneza, Itália, 2004, com o trabalho “Electrical

conduction mechanisms of nitrogenated amorphous carbon films deposited by high density

plasma chemical vapor deposition”, cujos autores foram Marciel Guerino, Ana Paula

Mousinho, Marcos Massi e Ronaldo Domingues Mansano.

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109

7. Referências bibliográficas

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[7] Bubenzer, A.; Dischler, B.; Brandt, G.; Koidl, P. Rf-plasma deposited amorphous

hydrogenated hard carbon thin films: preparation, properties and applications. Journal of

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titanium biomedical alloy. Thin Solid Films, v. 270, p.275-278, 1995.

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120

FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO

1. CLASSIFICAÇÃO/TIPO

TD

2. DATA

14 de julho de 2008

3. REGISTRO N°

CTA/ITA/TD-009/2008

4. N° DE PÁGINAS

119 5. TÍTULO E SUBTÍTULO: Utilização de filmes de carbono tipo-diamante nitrogenados e fluorados como materiais eletrônicos

6. AUTOR:

Marciel Guerino 7. INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES): Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA 8. PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:

Carbono; Diamantes; Silício; Espectroscopia Raman; Pulverização catódica; Microeletrônica 9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:

Carbono; Filmes tipo diamante; Materiais amorfos; Silício; Espectroscopia Raman; Pulverização catódica; Microeletrônica; Ensaios de materiais; Engenharia de materiais

10. APRESENTAÇÃO: X Nacional Internacional

ITA, São José dos Campos. Curso de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Aeronáutica e Mecânica. Área de Física e Química dos Materiais Aeroespaciais. Orientador: Prof. Dr. Marcos Massi; co-orientador: Prof. Dr. Ronaldo Domingues Mansano. Defesa em 06/06/2008. Publicada em 2008. 11. RESUMO: Este trabalho tem por objetivo principal estudar as alterações que possam vir a ocorrer nas propriedades eletrônicas do filme de carbono amorfo hidrogenado (a-C:H), em virtude da incorporação dos aditivos nitrogênio e flúor. A deposição dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F que foram estudados neste projeto de doutorado foi realizada através da técnica de pulverização catódica (sputtering), por meio de uma descarga elétrica de rádio-freqüência (RF) com cátodo do tipo magnetron. Os filmes depositados foram caracterizados por meio de: i) medidas de espessura, para a determinação da taxa de deposição, ii) medidas de RBS (Rutherford backscattering spectrometry), para o estudo da composição química, iii) medidas Raman e de infravermelho, para o estudo da estrutura das ligações químicas, iv) medidas de fotoluminescência, para o estudo da densidade e características dos defeitos existentes nos filmes, e v) medidas elétricas. Para a realização das medidas elétricas confeccionaram-se os seguintes dispositivos: i) capacitores do tipo MIS (metal-insulator-semiconductor), dos quais se obtiveram as curvas de capacitância-tensão (C-V) e corrente-tensão (I-V), e ii) transistores dos tipos: transistor de filme fino, dispositivo conhecido pela sigla, em inglês, TFT (thin film transistor) e MESFET (metal-semiconductor field effect) de porta tripla, dos quais se obtiveram as curvas de corrente de dreno versus tensão de porta (IDS-VGS) e curvas de corrente de dreno versus tensão de dreno (IDS-VDS). Alguns dos principais resultados das caracterizações feitas são: a ocorrência de um aumento de 21 at.% a 40 at.% do elemento nitrogênio na composição química do filme a-C:H com o conseqüente surgimento das ligações N—H, C=N e C≡N neste material e a ocorrência de um aumento de 0,5 at.% a 20 at.% do elemento flúor na composição química do filme a-C:H com o conseqüente surgimento das ligações C—F e C—F2. Com os resultados obtidos das caracterizações realizou-se uma análise correlacionando as condições de deposição dos filmes a-C:H, a-C:H:N e a-C:H:F com as características composicionais, vibracionais, fotoluminescentes e eletrônicas obtidas dos mesmos, de modo a encontrar uma janela de operação no reator de deposição que possibilite a produção destes filmes com características adequadas para serem utilizados como materiais alternativos na área de microeletrônica. Além disso, têm-se a fabricação de transistores com filmes de carbono como sendo a nossa principal vertente de aplicação, para a qual se busca desenvolver, por exemplo, transistores que possam vir a ser uma alternativa com relação ao TFT de silício amorfo hidrogenado (a-Si:H TFT), já largamente utilizado na indústria eletrônica. 12. GRAU DE SIGILO: (X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO