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\ \ MOVIMENTO DE QUA11TIFICADORES EM :PORTOGUES por ANILCE MARIA SIM0ES Dissertação submetida ao Departa- mento de LíngUistica do Instituto de Filoso:fia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de como parte dos requisitos para o Grau de Mestre em Lingüísti?a• CAMPINAS 1974 UNICAMI"'

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\ \

MOVIMENTO DE QUA11TIFICADORES EM :PORTOGUES

por

ANILCE MARIA SIM0ES

Dissertação submetida ao Departa­mento de LíngUistica do Instituto de Filoso:fia e Ciências Humanas da

Universidade Estadual de Campina~ como parte dos requisitos para o

Grau de Mestre em Lingüísti?a•

CAMPINAS

1974

UNICAMI"'

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Ao prof. Dr. ANTONIO CARLOS QUICOLI , pela orientação segura e supervisão des­ta pesquisa;

A Profa. Dra. ANGELA VAZ LEÃO ,

pelo apoio em minha vida profissional e incentivo constante aos meus estudos;

Ao Prof. Dr. ARYON DALL'IGNA RODRIGUES , pela ajuda inestimável durante

Curso de Mestrado;

Aos colegas de Curso, pelas

o meu

d:iacusaões proveitosas, de que resultaram valiosas sugestões;

A todas as outras pessoas que, direta ou

indiretamente, contribuiram para a rea -lização deste trabalho,

o meu reconhecimento.

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Os meus agradecimentos espec1~s à COORDENAÇÃO DO APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE N!VEL SUPERIOR (CAPES), que, concedendo-me bolsa de estu­

dos (processo nQ. 10 568/71), du­rante meu Curso de Mestrado, tor­

nou possível a elaboração des­ta pesquisa.

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Aos meus pais

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MOVIMENTO DE QUANTIFICADORES EM PORTUGutS

RESUMO

Este trabalho é uma tentativa de descrição e aná­lise da distribuição do quantificador todos (e suas outraa formas) em português, sob o ponto de vista

da gramática gerativa, como esboçada em Chomsky(l965) - Aspects ~ the Theory of Syntax, The M.I.T.Press, Cambridge, Mass. a proposta de

' . Em primeiro lugar~ e exam1nada

Richard Kayne (1969) em ~ Transformational Cycle in French Syntax, The

M.I.T. Presa, Cambridge, Mass - para descrever fatos paralelos do francês. Argumenta-se que, at centrá­rio do que Kayne propõe para o francês, on<'e são ne­cessárias duas regras de movimento, em portug\iês há

motivação para apenas uma: POSPOSIÇÃO DE QUANTIFICA­DOR (POS-Q). A seguir, são feitas várias observa­ções a respeito da ocorrência de todos em diversos tipos de estruturas, para determinar as caracteris ticas de POS-Q. são ainda estudados casos de apare -cimento do quantificador em suas outras formas, as sociado a Adjetivos, Verbos, etc, e as diferenças

• ' t b' semanticas da~ decorrentes. Argumenta-se am em que certos fatos envolvendo estes quantificadores cons -tituem evidência empÍrica em favor da existência de um nivel de Estrutura Profunda, sint~tica, do tipo proposto pela teoria standa~d; além disso, regrasOO

interpretação semântica devem atuar, não apenas le­

vando em conta a Estrutura Profunda(sintática), mas

também ao nivel da Estrutura Superficial, como pro -posto recentemente em Chomsky(l971} "Deep Struoture, Surface Structure and Semantic Interpretation".

Autor: ANILCE MARIA SIMDES Orientador: ANTÔNIO CARLOS QUICOLI

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!NDICE

INTRODUÇÃO 5

NOTAS 8

1- Movimento de Quantificadores em Franc~s 9

1.1- Evidências para R-TOUS 9

1, 2- Evidências para L-TOUS 14

1.3- Semelhanças e Contrastes entre R-TOUS

e L-TOUS 25

NOTAS 29

2- Hl:ovimcnto de Quantificadores em :PortUp.ouês 30

2,1- A Regra R-TOUS

2,2- A Regra L-TOUS

3- A Regra de POSPOSIÇÃO DE QUANTIFICADOR

(POS-Q) em Português

3.1- R-TOUS e POS-Q: uma Análise Compara­

tiva

3.2- POS-Q em Estruturas com Verbos Tran~

sitivos e Intransitivos 3.3- POS-Q em Estruturas com Intensifica-

dores 3,4- POS-Q em Estruturas com C6pnlas

3.5- A Regra POS-Q: Caracterização

NOTAS

4- Problemas Adicionais de Posição do Quanti­ficador em Português

4.1- 'Todos' Associado a Adjetivos

31 42

57

58

67

77 82

90 94

98

98

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4.2- 'Todos' Associado a Verbos 107 4,3- 'Todos•, no Singular 115 4,4- Outros Casos de Posição de 'Todos' 123 4.5- O 'Todo' Indefinido 130 NOTAS 136

CONCLUSÃO 141

BIBLIOGRAFIA 147

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INTRODUÇÃO

Este trabalho é uma tentativa de descrição e a­n~lise da distr·:i..bulção do quantificador todos (e suas

outras formas) em português, dentro da linha gerati­

vo-transformacional.Mais especificamente, será dis -

cutida uma proposta relativa ao mecanismo das trans­fo~mações, dentro do componente sintático da gramátt­ca.Com base no estudo da ocorrência do quantificador tous(fem. toutes) em francês - feito por Richard

Kayne1 ,em uma das seçÕes de sua dissertação- e de­pois de examinar uma série de f atos equivalentes em

português, acabamos por reconhecer a necessidade de se postular, tamb~m nesta língua 1 uma regra de movi­

mento de todos - que convencionamos denominar POSPO­SIÇÃO DE QUANTIFICADOR (POS-Q); a maior parte deste

trabalho se ocupa da investigação de POS-Q, tentando

determinar, em alguns detalhes, seu funcionamento. Além disso, são também explorados outros ~atos en­volvendo o elemento em questão, não abrangidos pela regra, proposta para explicar as várias ocorrências do quantificador gerado como parte da estrutura do determinante de NP's plurais.

No capítulo 1, faz-se uma exposição das linhas básicas da análise de Kayne para o francês, com res­peito à distribuição de tous(~em. toutes); ele for­mula a teoria de que~ para dar conta de estruturas~ perficiais francesas em que aparece dor, tem-se de admitir a exist§ncia

tal quantifica -de duas regras

transformacionais de movimento,u~a para a direita e outra para a esquerda. E já que esta hip6tese é to -mada como ponto de partida para o estudo de fatos do português, preocupamo-nos em apresentar os argumen -

tos que ele encontra para justificar sua posição. Depois de comentar os pontos mais importantes da

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6

análise de Kayne, exa:o.inanws dados do português,pa­

ralelos aos que foram vistos no francês, com o obje­tivo de verificar a possível adequação de tal anâür se para cobrir os casos de sentenças g:ramaticais por­

tuguesas com o quantificador todos. O capítulo 2

discute, assim, a validade da proposta de Kayne pa­ra o :portuguf§s,explorando os fatos relevantes, ten­

tando demonstrar se os argumentos, postulados para

justificar a existência de duas regras de movimento

de quantificador em francês 7 também se seguem no português. Esta investigação traz alguns resultados significativos e torna possível chegar a certas con­

clusões parciais. ~1n primeiro lugar, torna-se evi -dente que também no portugu~s haverá necessidade de se estabelecer uma regra de movimento de todos para

a direita- a ~ue damos o nome de POSPOSIÇÃO DE QUANTIFICADOR (POS-Q) - se ~uisermos explicar ade -quadamente as várias ocorrências do elemento em ~ tenças gramaticais. Por outro lado, não encontramos nenhum paralelo entre o francês e o português, no

que diz respeito ao comportamento das duas línguas com relação à regra L-TOUS ("leftward •tous 1

movement"), que, segundo Kayne, dá conta de casos em que ~ se move para esquerda.

O capítulo 3 detém-se no estudo de POS-Q,procu­rando estabelecer as suas características. Nesta se­

ção, tratamos de sentenças do português não equiva­lentes às que Kayne explora, relevantes para deter­minar aspectos do funcionamento de POS-Q. Assimoon­do, são discutidos diversos tipos de estruturas com o quantificador todos- parte do determinante de NP's plurais- com o objetivo de mostrar suas po~­bilidades de deslocamento em tais estruturas.Termi­namos por sugerir uma possível apresentação de

POS-Q em termos formais. Ainda numa tentativa de explorar o movimento de

todos em sentenças portuguesas, no capítulo 4 são comentados exemplos em que o item de que tra-

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tamos aparece

ao verbo, com radas algumas

7

acompanhando adjetivos, ou relacionado significações diversas. Serão conside­sugestões quanto aos n6dulos sob que

o quantificador será gerado, sem se pretender, no entanto, solucionar os problemas que se levantarem no decorrer do trabalho.

Apenas serão debatidas questões relativas às po-sições várias que o elemento pode ocupar em estrutu­

ras superficiais do português e às diferenças semân­

ticas daí decorrentes. Não é nosso objetivo encon trar soluções definitivas para os problemas q.ue des­

cobrirmos; mostraremos fatos interessantes envol vendo o quantificador todos, quase como um lev~~ta -menta de dados que poderão servir como base para pe~ quisas a serem realizadas futuramente.

A Última seção fará uma síntese dos t6picos mais importantes tratados no decorrer da dissertação,pro~

ctrrando ressaltar as conclusões parciais a que che­garmos, depois do exame dos dados relevantes.

Resta reafirmar que o interesse maior deste tra­balho é o de investigar as possibilidades de deslo .... camento do quantificador todos gerado como parte da estrutura do ,determinante de NP 1 s plurais, em sen­tenças gramaticais portuguesas, com a finalidade de estabelecer uma hip-6tese quanto à formulação de uma

regra transformacional de movimento; tal regra ten -tará explicar a distribuição de to dos em estruturas superficiais da língua.

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8

NOTAS

1Kayne, Richard (1969) ~ Transformational Cycle !ll French §yntax. The M.I.T. Press, Cambridge, Mass. Cap. 1

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9

1- Movimento de Quantificadores em Francês

Em uma das seções de sua dissertação, Richard Kayne (1969) 1 observa e descreve o comportamento do

~uant~ficador ~ (fem. toutes), em uma série de sentonças,do francês, procurando explicar a sua dis­tribuição.

Ele argumenta em favor de uma análise segundo a qual ~ ~ gerado na estrutura profunda como parte da estrutura do determinante de NP's plurais; e para justificar a relativa liberdade de ocorrência do elemento em sentenças do francês, seriam postuladas

duas regras opcionais de movimento: uma para u di­reita- R-TOUS ( 11rightward 'tous 1-movement") - e

outra para a esquerda - L-TOUS ( 11leftward 1 teus'

movement").

l.l- Evidências JL~ R-TOUS

Em seu trabalho, Kayne apresenta vários argumen­

tos em favor de uma regra que desloca o quantifica -dor~ para a direita do nome a que se associa R-TOUS,

A primeira evidência é baseada em fatos como os que se observam em:

(l) ToJ.s les i>arçons

Todos os rapazes

sont partis à la guerre.

partiram para a guerra~

(2) ~ garçons scnt tous partis à la guerre. Os rapazes partiram todos para a guerra.

(3) ~ i>arçons sont partis .!.2l!.!! à la guerre. Os rapazes partiram todos para a guerra.

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lO

-Ele reconhece que sao gramaticais sentenças em

que o quantificador, associado a uma mesma NP sujei­

to, aparece, ora fazendo parte de tal NP - como em

(l) -, ora em outras posiçÕes- como em (2) e (3),em que tous está à direi ta da NP sujei to 'les garçons',

a que se liga. Assim, Kayne afirma que amba~ seriam derivadas de uma estrutura semelhante a (1):

(1) ~ les garçons sont partis à la guerre.

através da aplicação de uma regra de movimento, que desloca o quantificador da NP a que pertence, colo­cru1do-o à direita de sua posição inicial. Tal regra - a ~ue dá o nome de R-TOUS - é de aplicação apeio -nal; assim se explica a gramaticalidade de (1), que apresenta o quantificador :em sua posição básica.

Ainda observando o comportamento de ~ associ­ado a lífP' s sujeito no plural, Kayne indica uma res -

trição a que ele. deve obedecer, para a gramaticali­dade da sentença: se ligado a uma mesma NP, s6 pode ocorrer uma vez, nunca em mais de uma das várias po­

sições nas se~tenças. Assim se justificariam os se -guintes fatos:

( 4) *Tous :l&!l, garçons son t tous partis à la guerre.

*Todos os rapazes todos partiram para a guer-

r a.

(5)*~ les garçons sont partis ~ à la guerre.

*Todos os rapazes partiram todos paraaguerra.

(6)*~ garçons sont tous partis ~ gaarra._

à la

*ÜS rapazes partiram todos todos 'para a guer-

r a.

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ll

Em tais sentenças, · .1!m!! aparece mais dê uma v%, ligando-se à mesma NP 'les garçons'; por isso, são não-gramaticais.

Kayne também se preocupa em estabelecer a ordem de aplicação de R-TOUS com relação a PASSIVA, Isto porque esclarecimentos a respeito serão neces?ários para resolver fatos envolvendo sentenças como:

(7) ~ garçons ont ~ embrassé la fille, Os rapazes abraçaram, todos, a moça.

(B)*La fille a .1!m!! éM em bras sé e ];Dr ~ga:rçgns,

*A moça foi todos abraçada pelos ro;pazes.

Em (7), R-TOUS se aplicou; a sentença é ativa e gramatical, Aplicando-se PASSIVA a (7), obtém-se(B) não-gramatical. O caso (8) comprova que um sujeito de e strutura profunda (~ ~ garçons , no exem­

plo), que foi movido de lugar pela transformação

de PASSIVA, não pode ter o ~uantificador desloca­do de sua posição. Tais fatos levam Kayne a postu -lar que R-TOUS deverá seguir PASSIVA, para impedir resultados não-gramat;icais. Se a ordem é PASSIVA e

depois R-TOUS, (8) não será gerada, Além d.isso, assim se explicariam também:

(9)*La fille a ~ embrassé ~garçons. *A moça todos abraçou os rapazes.

(10) ~ garçons ont tous é'té embrassée" par la fille. Os rapazes foram todos abraçados pela moça.

A sentença (9) é evidência de que uma NP objeto na estrutura profunda não. pode ser associada a um ~ ocorrendo livremente. Mas se se aplica PASSIVA1

esta}~ objeto, agora transformada em sujeito da es­trutura superficial, pode sofrer a ação de R-TOUS e

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12

o resultado é correto. A gramaticalidade de (lO)com­prova tal afirmação.

Kayne aponta ainda que R-TOUS envolve uma gene -ralização interessante, uma vez que poderia ser es -tendida parn ·explicar também a distribuição ae chacWl,

em sentenças do francês.

Ele demonstra que, paralelas a:

(l) Tous les garçons sont partis à la guerre.

(2) Les garçons sont teus partis à la guerre.

(4)*Tous 1.!l.§. garçons sont ~ partis à guerre.

existem:

(ll) Chacun des garçons a embrassé la fille,

Cada um dos rapazes abraçou a moça.

(12) Les garçons ont chacun embrassé la fille, Os rapazes abraçaram cada um a moça.

la

(l3)*Chacug des garçons a chacun ombrassé la fille,

~Cada um dos rapazes abraçou cada um a moça.

As sentenças (11) e (12) provam que, assim como ~' chacun pode ser associado a uma NP sujeito. Em

particular, (12) evidencia que este elemento também pode mover-se para a direita da NP a que se liga. Kayne argumenta,então,que (12) seria derivada de uma

estrutura semelhante a (ll), através da aplicação de uma regra como R-TOUS. Já o exemplo (13) comprova que chacun t~bém deve obedecer a uma restrição básica ,

como ~: só pode ocorrer uma vez, se associado a uma mesma NP. Da.! mais uma razão para englobar ~ e chacun num grupo s6, podendo ambos sofrer a apli -cação de uma mesma regra de movimento, que continua

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13 sendo denominada R-TOUS.

Os fatos observados oo m relação a PASSIVA e

R-TOUS são igualmente paralelos para chacun, confoP.

me se demonstra em:

(14)*La fille a chacun embrassé ~ garçons.

*A moça cada um abraçou os rapazes.

(15) ~ garçons ont chacun éM embrassés par la

fille.

Os rapazes foram cada um abraçados pela moça.

A sentença (14), a exempo de (9):

(9)*La fille a~ embrassé ~garçons.

atesta que, quando chacun se associa a uma NP obje to de estrutura profunda, não terá liberdade de o­

corrência. No entanto, depois que :PASSIVA se apli­ca e tal NP objeto se torna sujeito, então chacun poderá deslocar-se para a direita, através de R-TOUS e o resultado ser·~ gramatical como (15).

Ainda discutindo o aparecimento de chacun em

estruturas francesas, Kayne refere-se a restrições

de seleção que deverão ser estabelecidas para blo­quear a geração de sentenças não-gramaticais, com

verbos que são restritos quanto à natureza da~~

obje~o com que podem ocorrer. Assim,como exe~plo tí­

pico:

(l6)*J?aul .i!; compará chacun dG ces deux auteurs" *Paul comparou cada um destes dois autores.

(17)*Chacun d~ ces deux auteurs ~ été comparé

par Paul. *Gada. um destes dois autores foi comparado

por Paul.

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A sentença (16) será eliminada já ao nível de estrutura profunda, por uma espécie de restrição do seleção, associada ao verbo comparer, dependendo da composição de traços de sua NP objeto. Estas restri~ ções são espelhadas na passiva: então,(l7) será blo­·queada automaticamente como_ passiva de uma estrutura

profunda impossível. E (18):

(18)*Ces deux auteurs 2E1 chacun áté comparós par Paul.

*Estes dois autores foram cada un comparados por Paul •

será também e~cluida, desde que s6 poderia ter sur •

gido através da aplicação de R-TOUS ~ estrutura sub­

jacente ~não gramatieal (17); mas tal estr.utura já terá sido assinalada como incorreta, ao teru~o da in­

serção lexical. Portanto, as sentenças (16)-(18) se­riam evitadas a partir da simples postulação dae res­

triçÕes selecionais de verbos como comparer. Kaync conclui, então, Que há uma regra trans

formacional R-TOUS, que desloca ~ e chacun para

a d:j_rei ta, para fora das NP' s sujei to a CJ.UG perten -cem.

1.2- Evid~ncias LCqr§ L-TOUS

Kayne observa, no ent~nto, que a distribuição de ~ na estrutura superficial não pode ser explicada apenas por uma regra de movimento como R-TOUS, cujo

efeito é mover o quantificador para a direita da NP. Isto porque, em algumas estruturas da língua, estan-do o quantificador associado a NP's objeto, o camcnto se dá para a esquerda, o que não está

deslo-pre

visto por R-TOUS. E o que ele aponta que acontece a:n:

(19) Je voudrais 1§.!! lire .!2.!11!• Eu queria lê-los todos.

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15

(40) Je les ai tous lus.

Eu os li todos.

(21) Je voudrais ~ te les lire. Eu queria lê-los todos para você.

(22) J 1ai tous voulu les lire. Eu ~uis lê-los todos.

A sentença (19) mostra o ~uantificador em sua po­sição básiça: está seguindo o verbo a cuja NP objeto

se associa. Já e~ (20)-(22), ~aparece deslocado para a esquerda. Pretendendo dar conta de tais exem­

plos, Kayne postula uma nova regra:L-T01J:S.."le;ftward

'tous'-movement 11 -, transformação que move~ pa­

ra a esquerda.

Ele observa, no entanto, que, também nestes ca­sos, a ocorrência do quantificador não é inteiramen­te livre, uma vez que deve obedecer a algumas condi­çÕes, relevantes para a gramaticalidade da sentença.

A primeira condição apo~tada ~ semelhante à que se

veri~ica com NP 1 s sujeito: se associado a uma s6 ~ objeto, ~ aparecerá apenas uma vez. Para compro -var, considera os seguintes futos:

(23)*Je voudraiE tous te ~ lire ~· *Eu queria todos lê-los todos para você.

(24)*Jai~ voulu ~ lire tous. *Eu quis todos lê-los todos.

(25)*J'ai ~ voulu ~ les lire. *Eu quis todos todos lê-los.

Em (23)-(25), o ~uantificador ocorre em mais de uma das várias posiçÕes permitidas, ligando-se a uma

mesma NP objeto, o que torna as sentenças não-grama­ticais.

Kayne demonstra ainda uma segnnda restrição a que

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16

deve estar sujeito o quantificador parte de NP 1 s ob­

jeto, para que se produzam apenas resultados empíri­cos corretos, Ele descobre que s6 há liberdade de

ocorr@noia de ~' quando a NP objeto a que perten­ce é um cl·Lti....:o. Se a N:P objeto não foi cli ticizada,

~não pode mover-se de posição, devendo permanecer

ligado a esta NP. Toma como exemplo:

(26) Je voudrais lire ~ les livres. Eu queria ler todos os livros.

(27)*J'ai ~ lu~ livres, *Eu todos li os livros.

(28)*Je voudrais tous lire ~ livres. *Eu queria todos ler os livros.

(29)*J'ai ~ voulu lire les livres. *Eu quis todos ler os livros.

A sentença (26) tem o quantificador como parte da NP objeto, em sua posição básica, e ~ gramatical. .Tá

a s~rie (27)-(29) 6 toda não-gramatical; aí ~ apa­rece em várias posiçÕes diferentes, estando associado a NP's objeto não cliticize.das. E o resultado é não­

gr~~atical, exatamente porque não foi seguida a con -dição relevante nestes casos. A regra L-TOUS deverá ser formulada de modo a permitir o movimento de~ para a esquerda,apenas quando a NF objeto a que per­tence foi antes cliticizada.

Assim, segundo Kayne, as sentenças (20)-(22):

(20) Je les ai ~ lus.

(21) Je voudrais ~ te ill, lire.

(22) J'ai ~ voulu ~ lire.

mas não (19):

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(19) Je voudrais ~ 1ire tous.

seriam derivadas através da aplicação de L-TOUS, de­pois que se deu a cliticização das NPts objeto das referidas sentenças.

Kayne considera também uma importante generali -zação de que L-TOUS dá conta, envolvendo sentenças relativas não-restritivas. Verifica ele que, em tal

contexto, ~' associado a uma NP objeto, pode des­locar-se de sua posição original, para a esquerda ,

tal como acontece com NP's objeto clíticos. Assim:

(30) Les amis de Pier+e, que j'ai ~ connus à

l'âge de 7 ans ....

*Os amigos de Pierre, que ou conheci todos

com a idade de 7 anos •••

(31) Mes frui ts, gue tu as tous mangés •••

*Minhas frutas, que você comeu todas •••

(32) Les fi1ms de Godard, ~ue tu peux voir •••

* Os filmes de Godard, que você pode ver todos •••

Segundo Kayne, a análise de tais exemplos leva a uma interessante.conclusão 1 acerca de L-TOUS. As SEU­

tenças (20)-(22):

(20) Je ~ai tous lus.

(21) Je voudrais ~ te 1es lire.

(22) J'ai ~ voulu les lire.

provam que L-TOUS se aplica somente nos casos em que a NP objeto a que ~ se liga foi antes removida por 'Cli tio-placement 11 • A regra 1 Cli tic-plaoement' é

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uma transformação de movimento que colocapJI"oiJ,o:Cesob-·

jota o.ntos àowrbo,sob certas cond1çÕes.Nas sent0nçus (20)-(22), o objeto clítico está antes do verbo e

então 1-TOUS pôde ser aplicada.

Em (30)-(32), ~apresenta-se também deslocado

da NP objeto a que pertence. Nestes exemplos, a NP

objeto foi antes movida de posição por 1 Wh~posing',

o que criou condiçÕes para o movimento de tous paraa esquerda.

Segundo Kayne, os fatos acima poderão ser expli­

cados por uma generalização, condicionando-se a apli cação de L-TOUS a qualquer ~ isolado, isto 6, a

qualquer tous do qual a NP foi removida. E assim,não há necessidade de se mencionar, na descrição estru tural de 1-TOUS, nem clíticos, nem pronomes relati

vos. São também discutidos casos em 1ue ~ é asso­

ciado a um pronome relativo preposto, precedido de -preposição. De acordo com Kayne, tais sentenças não-gramaticais, para mui tos :falantes, que, então

obse:vam o seguinte contrasto:

sao

( 30) Les amis de Pierre, que j'ai ~âge de 7 ans •••

tous cnnnus -*Os amigos de Pierre, que eu conheci todos

com a idade do 7 anos •••

(33) * Les amis de Picrre, à gu5 j'ai

:po.rlé.'.

'

à

* Os amigos de Pierrc, a quem eu falei to -dos ....

(34) *L~s amis de Pierre, contre qui je me suis

~ faché ••• *Os amigos de Pierre, com quem eu estou to­

dos zanga C o •••

Aponta, ainda,Kaync,, que, de alguma forma seme.­lhante , para alguns falantes é a distinção entre:

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19

'(35) Je les lirai tous. - -(36)<tJa leur parlerai tous.

' -*Eu lhes falarei tOdos.

Al~m de tais s Gntenças, há, também, grama ti cais:

(37) Je ~ parlerai à ~· Eu lhes falarei a ·todos.

(38) Je illE. ai ! tous parl~. Eu lhes falei a todos.

Pa+a resolver tais casos, Kayne postula o se •

guinte: ~ será sempre gerado, na estrutura pro

funda, çomo parte de alguma ru~. Além disso, subja cente a:

(33)*Les amis de :Pierre, à qui j 'ai teus parlé ••.•.

e a:

(37) Je illE. parlerai ! ~.

haverá uma subcadeia da forma à tous PRO. E, a par -tir daí, duas alternativas se seguirão, para geraras

sentenças corretas: I- Se o pronome é um pronome pessoal, então CL-PL

('clitic-pl~cement 1 ) se aplicará a ele, deixando ~

trás à~. As sentenças, (37) e, derivativ~ente (38) seriam geradas assim:

(37) a- Je parlerai ! ~ EliQ• b- Je ~ parlerai à teus.

(38) a- J'ai parlé b- Je ~ai

c- Je ~ ai

à tous PRO. - -parlé à~· à tous parl~. --

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20

A sentença (38) 'b' surge da aplicação de CL-PL;

já (38)'c' ~ exemplo da aplicação também de L-TOU~ que move a preposição junto com o qtmntificador.

Também se prediz corretamente que um ~ pre -cedido de preposição não pode ser associado a un

clítico acusativo:

(39) Je ill v errai teus. Eu os verei todos. Je les - ai ~ vus.

Eu os vi todos,

(40)*Je k§. verrai § tous, Eu os verei a todos.

*Je les ai à~ vus. Eu os vi a todos.

A sentença (36):

(36)*Je ~ parlerai ~·

s6 seria gerada 9 provavelmente, pela aplicação de alguma transformação posterior, cancelando o ~ sob cortas condições. SegunC..o Kayne~ assim se explica -

ria o !ato de ~ue (36) é gramatical para alguns fa­

lantes.

II- Se o _-pronome é um pronome relativo, 'wh-

preposing1 seria aplicada; em francês, tal regra

deverá mover, junto com o pronome, a preposição.

Deste modo, 'wh-preposing' moverá ~ qui, deixando ~para trds, como em:

(33) Les amis de Pierre, à qui j'ai

parlé •••

Uma restrição independente excluirá (33) para

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21

muitos falantes3. Além disso, tous. não pode ser mo­Vido junto com! gui:

(4l)*Vos amis, ~qui~ j'ai parl~ ••• *Seus amigos, com quem todos eu :falei •••

*Vos arnis, ~ ~ guí j 'ai parlé •••

*Seus amigos, com todos quem eu fal~i •••

Segundo Kayne, haveria ainda um problema a re­solver, para os falantes que aceitam (33). Como Já se disso, subjacente a ~a sentença como esta, exis­tiria a subcadeia da forma à ~ EBQ, Neste caso , 'wh-preposing" teria de se aplicar a uma estrutura

como:

(42)

à JfP

~ tous PRO

I qui

O mesmo argumento permanece, se a estrutura é:

( 43)

PRO

I . Y.•U

tous

O ponto importante é que 1wh-preposing' teria de mover à gui. Mas Kayne aponta os s~guintes fatos,q_ue tornariam impossível tal movimento:

A- ! gui não ~ ooneilituinte, em ne.iliuma das as~

· truturas acima-{42) ou (43);

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22

B- ~ rru~ é interrompido por um n6dulo NP inter­veniente.4

:Para resolver tais problemas,

regra a que chamou 'destacamento ria destacado de sua NP, antes de

ele postula uma de tous r: tous s:>---se aplicar CL-PL

ou 'wh-preposing 1 ; teria a seguinte forma:

[v [tous PRO J ]= >[v tous ~Ro] ] VP NP NP VP' VP NP NP VP

Postular uma regra de destacamento pode exp.iàa:r

o fato de que falantes variam radicalmente em seu julgamento acerca de sentenças como:

(44) Mes amis, ~ gui j'ai ~ donné des livres •••

*Meus amigos, a quem eu todos dcü os li-

vros •••

J?a:ra ex-plicar as diferenças na acei tabilidade de

(44), J{aync apresenta duas possibilidade!? na apli ...

cação da rc~gra de 1 destacamento de ~·:

A- Assume-se, por exemplo, que a regra em ques­tão liga o quantificador ao nódulo imediatamente mais alto. Então, para (44), teríamos:

(45) -p:p

à~ous I

q_ui

Neste caso, ! qui continua não sendo um consti -tuinte c não se espera que ele possa ser movido.

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Assim Kayno explica o fato de que, para algu.ns fa­lantes, (44) G não-gramatical,

B- Postula-se quo a regra de destacancnto Bove

~ intci~anento para fora da FP. Como resultado , obteríauos:

(46)

PP /./'-.....

,. .. ' . " q_lll

tous

Isto. então perrJi tiria que 'wh-proposing 1 se apli -

casse ao constituinte! ~ui, dando origen à sentença (44), granatical para outros falantes,

Segundo Kayne, esta análise tambén daria conta

da diferença entre (44), de uo lado o (47)-(48), de outro:

(44) Mes amis, à gui j ' ai 12.ill!. donnG livres •••

(47) Jean les connai t 12illl.• Jean os conhecia a todos.

(48) Mes amis, ~'il connait ~··· *Meus aoigos, que elo conhecia todos •••

des

As sentenças (47)-(48) são graoaticais, desde que, no caso de un objeto direto, ligar ~ ao nó -dulo ir.1odiatanente n.ais alto assegura que ele esteja sendo rcnovido diretaoente da NP doBinante quo.

Kayne demonstra ainda qu_e L-TOUS taLlbéEJ. rGflete

uma genera+ização mais profunda acerca de sentenças do francês: pode aplicar-se igualBente para explicar

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a distribuição de ~' morfologicamente relacionado

a ~ e que se model~ exatamente como ele. Assim paralelas a (19)-(22):

(19) Jc voudrais ~ li r e tous.

(20) Je ~ ai ~ lus.

(21) Jc voudrais ~te ~ lire.

(22) J' ai ~ voulu les lire. -existem:

(49) Je voudrais lire ~· Eu queria ler .tudo.

(50) J'ai ~ lu, Eu tudo li.

(51) Je voudrais tout lire.

Eu q_ueria tudo ler,

(52) J'ai tout voulu li+e• -Eu tudo qutg l~r.

Para Kayne, haverá possibilidade de se expressar

uma generalização significativa, reunindo L-TOUS,que

se refere a~ isolado, com a regra de outra forma necessária para explicar as ocorrências de ~ nas

sentenças do francês. Há, então, segundo Kayne, uma única regra ~ L-TOUS - que move tous/~, da posi -ção de objeto :para a esquerda.

Depois de todas estas observações, ele estabele-oe a ordem de aplicação correr de seu trabalho:

das regras dicut~. 1as no de -

1- CL-PL ou 'wh~Jreposing'

2- L-TOUS A ordem dada não poderá ser outra, uma vez que

é condição básica para a~licação de L-TOUS que a NP objeto ~ que tous se associa seja antes removida

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25

de alguma forma: por CL-PL ou por 1 wh-preposing 1 .So­

mente deste modo serão geradas as $entenças gramati­cais e evitadas as não-gramaticais.

1.3- Semelhanças ~ contrastes entre R-TOUS e

1-TOUS

Para terminar sua análise àO comportamento de

.i~?..!:!§. em estruturas do francês, Kayne discute as duas

regras - R-TOUS e 1-TOUS -, procurando Nostrar algu­mas de suas características comuns e suas diferenças básicas.

Afiroa ole 9 que, apesar de serem regras de QOVi­

mento, nenhw~a das. duas pode mover~ para antes

de um verbo finito:

(53) ~ ~ ~ partiront. Todos os meus amigos partirão.

(54)*~~~ partiront. Meus amigos todos partirão.

(55) M2§ ~ partiront ~· Meus amigos partirão todos.

Em (53), o 'lUantificador está em sua posição c:r:!.• ginal, parte do determinante da NP sujeito plural 1mes amis 1 ; já (54) é não-gramatical~ uma vez que

R-TOUS se aplicou, deslocando +.~us para antes do

verbo finito; a sentença (55) apresenta o quantifi~

cador fora da NP a que pertence e é gramatical,sen~

do usada para dar ênfase; meste caso, ~não está

antes do verbo finito~ não violando, portan·to, a

condição básica a que ele se refere.

Para demonstrar que, também oon L~~ous, o quan­

ti~tcador não pode ser colocado antes dQ verbo fini­

to, Kayne utiliza os seguintes exemplos~

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(56) Je lirai tous ]&§. li vrE;s,

Eu lerei todos os livros.

(57) Je los lirai tuus. - -Eu os lerei todos.

(5B)*Je los tous -- lirai.-

*Eu os todos lerei.

(59)*Je tous les lirai. --*Eu todos os lerei.

A sentença (57) é gerada pela aplicação de CL-PL a uma estrutura como (56). Neste caso, poderia o

quantificador ser wovido para a es~uerda, por L-TOUS.

Mas o ~ue resulta é não-gramatical: (58)-(59). Isto porque ~ está sendo colocado antes do verbo fini­to -'lirai 1 - 1 o que não é permitido.

Kaync aponta que este f~nômeno é, na verdade ,

parte de um fato mais geral: o"s elementos sujei tos a

R-TOUS e L-TOUS podem ocupar apenas certas posições específicas e esta$ são aquelas em que advérbios o­c orren normalmente:

(60) M2â ~ partiront tous. Meus amigos partirão todos.

Mes amis feront ~· Meus amigos :farão tudo.

Jean ill d6teste ~. Jean os detesta todos.

(61) ~ ~ sont ~ partis. Meus anigos partiram todos.

Mes amis ont ~ fai t. Meus amigos fi zerar:J. tudo •

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27

Jean los a tous lus. --Jean os· leu todos.

Assim:

( 62) Jean chante souvent. Jean canta freqüentemente.

Jean a souvent chanté. Jean cantou freqüent.amente.

*Jean souvent ,chante.

Jean freq_\l.entemente canta.

Dentre as diferenças básicas entre as duas re-

gras de L10Vimen to, Kayne afirma que R-TOUS, . mas

L-TOUS, pode aplicar-se a uma NP preenchida;

(63) ~ ~ ont ~ dit q_ue ••• Meus amigos disseram todos que •••

(64)*Jean a~ vu mes amis. *Jean todos viu neus amigos.

N na o

Em contrapartida, L-TOUS, mas não R-TOUS, aplic~

se a um ~ isolado:

(65) Jean a ~ nang~. Jean tudo comeu.

( 66) Tou t a di sparu, -~udo desapareceu.

Se R-Tous se aplicasse a ~ isolado, segundo -Kayne, deveríamos esperar q_ue 1il 1 aparecesse na po­sição vaga de sujeito, em (66), Mas o resultado é não-gr ara a ti cal:

(67)*Il a ~ disparu.

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28

Estas são as linhas básicas da análise de K&yne,

objetivando explicar os fatos mais importantes en -

volvendo a distribuição do quantifiaador ~ em

sentenças do francês. Na seção seguinte deste trabalho 1 tentaremos de­

monstrar se tal análise se adapta para o portuguôs ,

utilizando fatos semelhantes aos que forrua discuti dos no francês.

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NOTAS

11rayne, R'chard (1969) op c't ' ~ ' . ~ . 2 tr ~ """ A aduçao dos exemplos, neste o~J:a- tulo, vista apenas como um ponto de referência

tor não familiarizado com o francês. Não

29

deverá ser para o lei­

será, por-tanto, rigorosa, uma vez que não nos interessa, no

momento, levantar questões relativas às diferenças de comportamento entre o francês e o português, no que .se refere à distribuição do quantificador tous/

todós. A discussão dos fatos do portuguôs, parale -los aos do frru~cês estudados por Kayne, será feita em detalhes no capítulo 2 desta dissertação.

3Nada gais podemos esclarecer a respeito de tal res­

trição, 'I..U<la vez que, em s eu trabalho, Kayne apenas

formula a hip6tese de que ela dever~ ser postulada,

não entrando, no entanto, em maiores detalhes.

4Kayno não dá as evid~ncias para justificar sua teo­ria de que há um uódulo ~~ interveniente, ~ntorrom­pendo à qui, OQ estruturas como (42) e (43).

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2- Movüaento de Quantificadores 2E! Português

Na seção anterior, examinamos em alguns detalhes a proposta. e e Kayno (1969), para descrever os fenô­

~enos envolvendo o comportanento sintático de tous (fera, toutes) em franc~s,

Segundo esta hip6tese, a distribuição de tal luanti­

ficndor pode ser explicada atrav~s de duas regras transfornacionais de JJ.OVinento:

(68) A-R TOUS ( "rightward 'tous'-oovetlent"), que

teo como efci to no ver o quantificador para

a direita, para fora da NP sujeito plural a

que se liga, Tal regra seria responsável 1 ,

por exemplo, pela derivação de sentenças

francesas como (2) e (3), a partir da estru­

tura subjacente a (1):

(l) Tous ~garçons sont partis à la guerra.

(2) ~ garço~~ sont ~ partis à la guerre.

(3) Les garçons sont partis ~à la guerre.

B-L-TOUS ( 11 leftward 1 tous' -wovemcn t") 1 cujo efei­to é mover o quantificador para a esquerda da

NP objeto plural a que se associa. Tal regra seria responsável, por exemplo, pela derivação dos ontenças como (20) e (21), a pqrtir de os-

trutu.ras como a subjacente a (19):

(19) Je voudrais ~ 1ire ~.

(20) Jo ~ ai ~ lus.

(21) Jo voudrais ~ te ~ 1ire.

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31

Neste capítulo examinaremos fatos do português

envolvendo a distribuição de todos (fem. todas},com o objetivo de verificar se a proposta de Kayne para descrever os dados do Erancês pode ser estendida , sem perda de generalização, para explicar também os f'e:tG$ do português. A discussão será desenvolvida em

duas partes básicas. A primeira visa a comprovar se há ou não motivação para se postular uma regra de

movimento como R-TOUS, em português; a segunda par­te tentará demonstrar se também em português haverá necessidade de se estabelecer uma regra como L-TOU~

para dar conta de fenômenos relativos à distribui --çao do quantificador todos.

2.1- A Regra R-TOUS

Em portuguôs, temos sentenças ~mo:

(69) Todos ~ me~nos tinham ido para a escola.

(70) Os meninos tinham todos ido para a escola.

(71) Os meninos tinham ido todos para a escola.

Note-se que tais sentenças

xemplos do francês, discutidos

-sao paral~?las

por Kayne:

aos 0··

(1) ~ les garçons sont partis à la guerre.

(2) Les garçons sont tous partis à la guerre.

(3) ~garçons sont partis .!2.ill'. à la guerre.

Kayne aponta ~ue (1)-(3) são evidências de ~ue,

em franc~s, ~' quando associado a uma NP sujeito plural - no caso 'les garçons' - tem certa liberda-de de ocorrência, pois pode fazendo parte de tal HP:

-aparecer, nao apenas

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(1) ~ les garçons sont partis à la guerre.

como também em outras posições diferentes:

(2) Les garçons sont tous partis à la guerre,

(3) Les garçon~ sont partis tous à la guerre,

Ele propõe que (2) e (3) são ambas derivadas da estrutura subjacente a (1), através de uma trans formação que moveria o quantificador para fora da

NP sujeito a que se liga, colocando-o à direita de

certos elementos da sentença; a esta transformação, chama Kayne R-TOUS,

Se observarmos (69)-(71), veremos que a -situa­ção é semelhante. As sentenças são gramaticais, têm o mesmo senti~o e todos aparece, ora fazendo parte da NP sujei to:

(69) Todos 2§ meninos tinham ido para a escola.

ora à direita de tal NP:

(70) ~meninos tinham todos ido para a escola.

(71) Q§ meninos ti1~am ido todos para a escola.

Assim sendo, poderíamos aproveitar a proposta de Kayne e explicar tais fatos co~o ele faz com as estruturas superficiais francesas: (69) se aproxi -maria da estrutura profunda, tendo o quantificador como parte da estrutura do detenp.inante da NP sujei­

to plural, em sua posição básica:

(69) Todos os meninos tinham ido para a escola.

e (70)-(71) seriam resultado da aplicação de uma regra como R-TOUS a esta estrutura inicial, seme-

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33 lhante a (69). Chamaremos a esta regra de movimento

do quantificador para a direita em portugu~s, de

POSPOSIÇ!O DE QUANTIFICADOR (POS-Q). E note-se Que, também como R-TOUS, POS-Q desloca o quantificador para fora da NP n que se associa, para a direita:

(70) Os meninos tinham todos ido para a escola.

(71) Os meninos tinham ido todos para a escola.

Esta análise poderia explicar toda uma série de sentenças. do português, exatamente equivalentes a

(69)-(71):

(72) Todos .2.ê.. alunos tinham saído da sala.

(73) Os alunos tinham todos saído da sala,.

(74) Q§. alunos tinham saído todos da sala.

A sentença (72) seria aproximadamente a estru -

tura profunda, com o elemento todos associado .à NP sujeito plural, como parte de seu determin~te~

Já (73)-(74) seriam derivadas através de POS-Q: em ambas, o quantificador está à direita de certos ~ mentos das sentenças, fora do nódulo NP que o domi-

na, Segundo Kayne, R-TOUS em francês é uma regra

opcional, uma vez que sentenças como (1):

(1) ~ kê_ garçons son"t partis à la guerre.

em que R-TOUS não se aplicou, são também gramati

cais. Tal explicação encontra paralelo em português ,

pois vemos que não é obrigatório o emprego de POS-Q, sempre que o quantificador se associa a uma NP su-­jeitQ plural~ Isto explicaria a gramaticalidade de

(69):

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34 (69) Todos os noninos tinham ido para a escola.

o tanbém de (72):

(72) Todos ~alunos tinham saido da sala.

Em tais sentenças, todos aparece em sua posição

original, ligado ao nódulo NP dominante; portanto , POS-Q não se aplicou.

Kayne demonstra que a ocorr~ncia de tous em es­truturas superficiais francesas não é inteiram~nte

livre, devendo obedecer a uma restrição básica: pa­

ra ~ue tais estruturas sejam aceitas como gramati -cais, tous

gad, a wna

pode aparecer apenas uma vez, quandoli­s6 NP sujeito plural. Sua ocorrência em

mais de uma posição nestas condições é motiv9 para

tornar a sentença não-gramatical. Compare-se:

(1) ~ ~ garçons sont partis à la guerre.

(4~t~ ill garçons sont partis ~ à la guerre.

(5)*Tous les garçons sont ~ partis -- à la guerre.

(6)*~ garçons sont .12.ll§ partis ~ à la

guerre.

A sentença (1) é gramatical, pois o Quantifica­dor aparece apenas ~a vez, associado à NP: sujeito plural 1les garçons•. Entretanto, (4)-(6) não são bem formadas, pois nelas se verifica a ocorrência

de~' parte de uma mesma NP sujeito, em mais de uEa posição. Não tendo sido seguida $ condição pos­tulada, o resultado é não-gramatical.

Vemos Que 1 em português, a ~ituação ~paralela. Observem-se as f rases seguintes:

(75)*Todos ~meninos tinham ido todosp31>\ aeooola.

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35

(76)*Todos ~ meninos tinham todos ido para a escola.

(77)*0s meninos tinham todos ido todos para a

escola.

Assim, pode-se dizer que também o português re­jeita sentenças com o quantificador em mais de uma po~ição, quando ligado a uma s6 NP sujeito dominan­te. Portanto, a restrição apontada por Kayne, par~

o franc~s, parece funcionar igualmente no portuguf.s:

o quantificador todos só poderá ocorrer uma vez nunca em mais de uma posição diferente -, quando

associado a uma mesma liP. Kayne explora alguns fatos interessantes en -

volvendo sentenças com tous, em que PASSIVA se apli­ca. Ele contrasta a gra.:q&icalidade de (7), c.orn anão­

gramaticalidade de (8):

(7) &s.!! garçons ont !2ll.ê_ embrasffi la fille,

(B)*La fille a ~ été embrasséepar 1.2.§. garçons.:.

A diferença entre (7) e (8) ó que PASSIVA foi a­

plicada na derivação de (8), mas não na de (7). Kayne argumenta que e ates fatos podem ser explicados, se a ordem de aplicação das regras aí envolvidas for:

(78) l-PASSIVA 2-R-TOUS

A sentença (7) ~ ativa e gramatical, sendo exem­plo do aplicação de R-TOUS; através de PASSIVA, de -riva-se (8), de (7); no entanto, o resultado não é

gramatical. Postulando-se a ordem de aplicação em (78), tal problema será evitado. Esta hip6tese é comprovada por ( 9) e (lO):

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36 (9)*La fille a tous embrassé ill g_arçons.

(lO) Les garçons ont tous é tê' embrass$ par la fille.

O exemplo (9), não-gramatical, mostra que uma

NP objeto de estruturap:r.Qfunda não pode ser associ­

ada a um~ ocorrendo livremente. No entanto,(lO) demonstra que esta mesma NP objeto, uma vez trans formada em sujeito, através de PASSIVA, pode ter o quantificador deslocado para a dircffia, por R-TOUS e o resultado á gramatical. Assim, confirma-se a or

deTI de aplicação postulada em (78). Em portugu~s, as sentenças equivalentes seriEm:

(79) Os rapazeJ!_ tinham todos abraçado a moça.

(80)*A moça tinha todos sido abraçada pelos ~

pazes.

Em (79), nota-se QVD foi usada a re8ra POS-Q • deslocando-se o quantificador de sua posição origi-nal para a dire:t ta._ Como es:trutura subjacente a (79),

teríamos algO_ semelhante a~

(81) Todos .2.§. rapazes tinham al)raçado a moça.

Nesta estrutura inicial, o quantificador ocupa

uma posição determinada, sob o nódulo NP sujeito plural. Para explicar (79), somente com o emprego de P08-Q, Já a sentença (80) seria derivada de (79) através de PASSIVA; mas o resultado é não-gra­

matical, como em francês. Então, parece que, tam -bém em português, um suJei to de estrutura profunda,

deslocado de sua posição original por PASSIVA - no caso, 'todos os rapazes' -, não pode ser associado a um todos ocorrendo livremente. Isto leva a con cluir que a ordem de aplicaç~o das duas regras será,

do mesmo modo que em franc~s:

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(82) l-PASSIVA

2-POS-Q

37

Ainda utilizando o ~esmo argumento de Kayne, ob­servemos a série abaixo:

(83)*A moça tinha todos abraçado ~rapazes.

(84) Os rapazes ti~ham todos sido abraçados pela

moça.

A sentença (83) não é gramatical e o que nela se verifica é a ooorrôncia livre do quantificador as -saciado a uma NP objeto de estrutura profunda. Já

(84) é gramatical e originária de uma estrutura como (85), subjacente a (83):

(85) A moça tinha abraçado todos ~ rapazes.

Para que. seja gerada (84), temos, em primeiro lu­

gar, :PASSIVA:

(86) Todos ~ rapazes tinham sido abraçados pela

moça.

Neste caso,oobjeto da estrutura profunda tornou­se sujeito superficial e então ~possível a aplica­

ção de POS-Q, sem que a sentença resultante seja nãO­gramatical:

(84) ~ rapazes tinham todos sido abraçados pela

moça.

Tudo parece confirmart portanto, a proposta de Kuyne para o francês: os fatos observados do portu -guôs, paralelos aos q_ue foram discutidos em francês,

leVam a concluir ~ue a ordem de aplicação das duaS regras será como em (82):

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(82) l-PASSIVA 2-POS-Q

38

De outra forma não se explicará a geração de (84).

Ainda para justificar a sua proposta de que se­rá necessdrio postular uma regra como R-TOUS 1 para dar conta de sentenças gramaticais francesas com o

quantificador, Kayne demonstra que tal regra também servirá para explicar a distribulção de chacun em

estruturas superficiais da língua em estudo. Assim

R-TOUS terá seu âmbito de ação estendido, ~esolven­do também fatos como os que se observam em:

(ll) Chacun ~ garçons a embrassé la fi11e.

(12) Les garçons ont chacun embrassé la fille.

A sentença (11) evidencia que chacun pode apa­

recer na estrutura do determinante de NP's sujeito

no plural, assim como ~; e (12) é prova de ~ue

este mesmo elemento pode igualmente SGrdeslocado

para a direita da NP sujeito que o domina, conser­vando-se a gramaticalidade da frase. A sentença (12) seria derivada de uma estrutura semelhante a (ll) , através de uma regra de movimento, que deslocaria chacun para fora, para a direita, do n6dulo NP re levante. Assim sendo, R-TOUS também se aplicar·ã .. - a sentenças com chacun.

Em português temos:

(87) ~ ~ dos rapazes tinha abraçado a moça.

(88) Q!!. rapazes tinham cada ~ abraçado a moça.

E novamente a situação se adapta: (87)-(88) se­

guem o mesmo es~uema de (11)-(12). Assim como o quantificador todos, cada um pode

deslocar-se de sua posição original - onde aparece

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39 em~?)- sendo levado para a dirsita do n6dulo a que

pertence- como se v~ em (88). Portanto, em portu ~

guês, parece que POS-Q r e sol verá também casos de sen­

tenças em que ocorre o elemento cada ~' erietindo ,

então, a mesna generalização que em francês.

A partir da observação de mais dados, Kayne che­

ga à restrição básica a que deve obedecer o quanti • ficador tous, para que se co~serve a gramaticalidade das se: . .l"tienças em que aparece: quando associado a uma

mesma NP sujei to, pode ocorrer apenas uma vez, nU11-

ca em mais, de urna das várias posições de outra forma

permitidas. Com chacun, dá-se o mesmo fenômeno. E

tal condição que explica, por exemplo, a rião-grama­

ticalidade de (13):

(13)*9hacun des garçons a chacun embrassé la fille.

Em portugu~s,. a sentença relevante seria:

(89)*~ ~ dos raRazes tinha ~ um abraçado

a moça.

O elemento cada ~ aparece ai duas vezes, ligado à mesma NP sujeito. E o resultado á não-gramatical ,

assim como acontece no franc~s. De novo fica cvi dente que a análise de Kayne para o francês parece

adaptar-se perfeitamente aos fatos do portUguês. Kayne ex~na ainda um terceiro aspecto reladb-

nado a R-TOUS: em que ordem tal regra deverá ser a­plicada, considerando-se tambám PASSIVA? Depois de

analisar uma série de dados, ~le chega à conclusão de que PASSIVA precede R-TOUS. E esta mésma ordem tamb~m é a~cquada para justificar certas sentenças

com chactm.. Vejamos agora os fatos do português, equivalen­

tes aos do francês~

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(90)*A moça tinha ~ ~ abraçado ~rapazes.

(91) Qê. ~'fipazes tinham~~ sido abraçados

:p.la moça.

40

Em (90), ~ ~. ligado à NP objeto 'os rapa zos 1 , aparece fora de sua posição original 1 tornando

a sente~ça incorreta. Sua estrutura básica seria al­go como:

(92) A moça tinha abraçado ~ ~ ~ rapaze~.

Se a esta ~?strutura inicial aplicássemos PASSIVA,

teríamos ( 93) :

(93) ~ ~ dos rapázes tinha sido abraçado

pela moça.

Depois que a NP objeto da estrutura subjacente tornou-se NP sujeito, como em (93) , por PASSIVA, o

elemento ~ ].!g p9de mover-se para a direi ta8 E can

isto obté!'l-se ( 91 ) :

( 91) Os rapazes tinham ~ ~ sido abraçados

pela moça.

Assim sendo, também em portugu&s, com relação a ~ um, PASSIVA deve preceder ?OS-Q, para que sejam geradas sentenças corretas e não ~pareçam sentenças

não-gramaticais, como por exemplo:

( 94 )*A moça tinha ~ ~ sido abraçada pelos

rapazes.

A sentença ( 94) s6 poderia surgir se aplicásse­

mos POS-Q antes da PA<)SIVA. Para gerar ( 94), a es -

trutura inicial seria:

( 95 ) ~ ~ dos rapazes tinha .abraçado a mo -

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41 ça.

At;rav6s de POS-Q, seria derivada, a partir de

( 95):

( 9 6_ ) Os rapazes tinham ~ ill!l. abraçado a meça.

Também, ( 96) é gramatical, como (95) • Mas se, a seguir, quiséssemos aplicar PASSIVA, o resultado seria incorreto:

(94) *A moç9 tinha cada ~ sido abraçada polca

ranazes.

Para impedir (94), adota~os a ordem inversa de

aplicação de regras: POS-Q seguirá PASSIVA. Veja-se

que, deste modo, teríamos: de (95), estrutura ini -

cial, através de PASSIVA, conseguiríamos (97):

(95) ~ !Jl!! S!.2.!l. rapazes tinha moça.

abraçado a

(97) A moça tinha sido abraçada por ~ .!E!' s!2.§ rapazes.

E de (97) não poderiamos derivar (94) , porq_ue

não há as condiçÕes estruturais para aplicação de

POS-Q.

De tudo o que foi visto, resta como conclusão o fato de que a análise de Kayne, proposta para dar conta de sentenças gramaticais francesas envolven­

do o movimento de ~ e chacun também se adapta

aos casos equivalentes do portuguôs. Até agora , os dados estudados parecem comproVar inteiramente que teremos necessidade de postular também em por -

tuguês uma regra como R-TOUS - quo estamos deno­minando POS-Q-,se quisermos dar conta do movimento

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42 para a direita, do quantificador todos e de~~'

parte do determinante de NP's plurais, em estruturas superficiais portuguesas. No capítulo 3 deste ·tra-balho, iremos examinar alguns casos mais complexos envolvendo POS-Q.

2,2- A ~egra L-TOUS

Na subseção~ anterior, exploramos a regra de mo­vimento R-TOUS postulada por Kayne (1969), para ox­plicar a distribuição de tous (fem. toutes), en

francês, numa tentativa de verificar se uma regra

semelhante tambémd aria conta de esclarecer fatos,

paralelos do português, com o quantificador todos.

Em seu trabalho, Kayne, no entanto, aponta qu~

embora a gramática do francês deva conter uma regra R-TOUS, cujo efeito é mover o quantificador para a

direi ta, para fora do nódulo NP dominante, esta r e •

gra não é suficiente para cobrir çertos casos de

sentenças menta que tii'icador

francesas contendo tous. E assim ele argu--R-TOUS não justificaria a posição do q_ua.n-

em:

(20) Jc ~ ai 1Q.lJê lus.

(21) Je vouâ~ais ~ te ~ lire.

(22) J'ai 1Q.lJê voulu les lire.

Nos exemplos acima, o quantificador aparece des­locado de sua posição original; tal deslocamento, no entanto, se dá para a esquerda, o que torna R-TOUS

inadequad~ para explicar a distribuição de ~ em

(20)-(22). Segundo Kayno, nas sentenças (20)~(22), 1Qlli!, as­

sociado a NP's objeto no plural, move-se para a es -q_uerda de certos elementos da sentença. Ele prop~e 1

então, para gar conta destes casos, uma outra regra

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43

de movimento: L-TOUS ( 11 leftward 'tous '-movemen t")

cujo efeito seria deslocar o quantificador para

esquerdÇJ., observadas, no entanto, certas restriçÕes básicasb

• a

A primeira de tais condiçÕes pode ser evidencia­

da tomando-se por base a série (20)-(22). Nos trôs

casos, a NP objeto a que tous se associa ~ um clíti­

co. Kayne atenta para a relevância de tal fato, uma

vez que, quando o quantificador aparece fazendo par­

te de uma !IP objeto ainda não cliticizada, a sua po­sição é uma só, isto é, não pode mover-se para a es­

querda, como acontece em (20)-(22). Assim se expli­caria a gramaticalidade ou não de:

(26) Je voudrais lire ~ 1&§ livres.

(27)*J'ai !21!& lu~ livres.

(28)*Je voudrais ~ lire ~livres.

(29)*J'ai tous voulu lire ~ livres.

Kayne examina as sentenças acima e aponta o fa­

to de que apenas (26) ~ gramatical, justamente por -que, em tal exemplo~ ~ocorre associado a uma N:P

objeto não cliticizada, em sua posição original. Já

on (27)-(29), o quantificador deslocou-se para a es­querda, conservando-se a NP objeto sem cliticização. E o resultado são sentenças não-gramaticais. Deste modo, para Kayne, a regra L-TOUS devorá ser postula­da levando-se em consideração o fato de que sua arJi­cação s6 se dará ap6s a cliticização da NP objeto a que se liga o quantificador.

Admitindo, com Kayne 1 que L-TOUS é uma regra dó francês, a questão é saber se há motivação para se

postular uma regra semelhante para o português. E a análise dos fatos relevantes parece comprovar que,

em portu~uôs, a distribuição de tcdos não segue as

mesmas linhas da de ~' no que se refere a L-TOUS.

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44 Veja-se, por exemplo:

(98)*Eu 2§ tinha todos lido.

(99)*Eu queria todos ~ ler para voe&.

(lOO)*Eu tinha todos querido 2§ ler.

As sentenças (98)~ ~00) mostram características semelhantes às verificadas em (20)-(22),.isto é, o quantificador está deslocado de sua posjção original,

à esquerda de certos elementos da se~ta~ça, assocj­ádo a NP's objeto no plural, clíticos:

(20) Je los ai ~ lus.

(98)*Eu 2§ tinha todos lido.

( 21) Je voudrais ~ te 1!r!r lire.

(99)*Eu queria todos 2§ ler para voe@.

(22) J'ai ~ voulu +es lire.

(liD)*Eu tinha todos querido 2§ ler.

Veja-se, no entanto, que, ao contrário do quo a­oo:n.Gcce no francês, (98)-(100), são não-gramaticais.

Assim sendo, o primeiro argumento utilizado por Kayne para mostrar a necessidade de se postular L-TOUS - regra de movimento que explicaria a ocor -róncia do quantificador à esquerda de certos elemen­tos da sentença, quando este quantificador está li -

gado a uma NP objeto, no plural, cliticizada- -na o

é válido para o portugu~s, uma vez que não se dá o

movimento de to dos para a esquerda, em situações e -quivalentes às do francês. Em português, todos,par­te de wna NP objeto plural clítico, não pode dcslo -car-se para a esquerda de sua posição inicial; tal Tiovimcnto torna a sentença não-gramatical; é o que

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45

se comprova em (98)-(100). Assim, como conclusão parcial, parece não haver motivação pQ.ra se post'l:.ilnr

uma regra como L-TOUS em português.

Continuando com o raciocínio de Kayne, examina -remos fatos do português, para discutir a primeira

condição a que L-TOUS deve obedecer. Mas veja-se qu~ depois determos comprovado que a distribuição do

quantificador associado a ~~'s objeto em português é diferente da do francês, uma vez que todos não pode

mover-se para a esquerda, mesmo quando a NP objeto a que se liga foi antes clitioizada, torna-se ainda

mais improyável que o deslocameuto ~e dê 1 quando a

NP objeto permanecer inalterada.

Assim, considercm~se os seguintes exemplos:

(101) Eu queria ler todos -ºli livros.

(l02)*Eu tinha todos lido 2.ê. livros.

(l03)*Eu queria todos ler Q.ê. livros.

(l04)*Eu tinha todos querido ler .Q..§. livros.

A seq~ência.de sentenças acima é equivalente à s6rie (26)-(29):

(26) Je voudrais lire ~ les livres.

(27)*J 1 ai tous lu les livres.

(28)*Je voudrais ~ liro les livres.

(29)*J 1 ai ~ voulu lire ~livres.

e a correspondência em gramaticalidado é também per­feita: (26) é gramatical; (27-(29) não o são; domes­mo modo, (101) é gramatical, enquanto (l02)-(l04)não;

acontece, no entanto, que, apesardop:U:alelismo'\m'i­

ficado entre o francês e o português, considerando -

se as seqQências (26)-(29) e (l0l)-(l04),não po-

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46 demos utilizar este paralelismo aparente para pro­por uma regra como L-TOUS 1 em português. As sw.ten­

ças (26)-(29) serviram para argumentar quo, em frnn­

cês, L-TOUS s6 pode aplicar.:se depois g_ue houve a

cliticização da NP objeto a que o quantificador

se liga, isto é, ~ s6 pode mover-se para a es­

querda, se a NP objeto é um clítico. Assim se e xpli­

ca a gramaticalidade de (26) e a não-gramaticalida -de de (27)-(29).

Já e~ português, no entanto, a justificativa pa­ra o fato de g_ue (101) é gramatical:

(101) Eu queria ler todos ~ livros,

e (102)-(104) não o -sao:

(l02)*Eu tinha todos lido ..9..§. livros.

(l03)*Eu g_ueria todos ler ~ livros.

(l04)*Eu tinha todos g_uerido ler ~ livros.

é bem outra: uma vez comprovando-se que não pode ha­

ver o movimento de todos para a esquerda, mesmo se

a NP objeto é um clítico, compreende-se g_ue (102) (104) não sejam gramaticais, já que, em tais senten­

ças, o quantificador aparece deslocado de sua posi -ção original, para a esquerda e a NP objeto não está cliticizada. Portanto, parece q_ue (102)-(104) não são gramaticais, simplesmente porque não 6 permitido o movimento de todos para a esquerda em português. Tal é a conclusão a que se chega, considerando-se os

dados até agora vistos. Kayne refina ainda mais a sua regra L-TOUS, a­

pontando outras restriçÕes relevantes para a grama -ticalidade de sentepças em que se dá o movimento de ~ para a esquerda. Ele demonstra que, assim como ocorre com NPts sujeito, também quando~ se asso-

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47 cia a NP's objeto no plural, pode ocorrer a-penas uma vez, se a NP objeto é una. só. Deste modo ele explica a não gramaticalidade de:

(23)*Je voudrais ~ te ~ lire tçus,

(24-)*J'ai tous voulu lcs liro tous. - -(25)*J'ai tous voulu tous les lire. - --Como se observa, em (23)-(25), a NP objeto plu­

ral - 'lcs' - aparece ligada a mais de um quantifi­cador e as três sentenças são não-gramaticais. Os

fatos correspondentes do português mostrarão o mes­mo. Assim, são incorretas sentenças em que todos o­

corre em mais de uwa posição, se associa~o a uma sJ NP objeto. ··::g o que se podo comprovt:r em:

(105)*Eu queria todos os ler todos para voe~. -(106)*Eu tinha todos querido ~ ler todos,

(107)*Eu tinha todos querido todos 2§ ler.

A semelhança de comportamento do quantificador nas duas línguas em estudo, apontada nos casos aci­ma - compare-se (23)-(25) com (105)-(107) -, pode -ria levar a que se considerasse a possibilidade de que tamb6m em português haverá necessidade de se postular uma regra como L-TOUS, uma ve3 que Kayne

utiliza (23)-(25) para mostrar uma condição a que tal regra deve obedecer e o português parece campo~ tar-se do mesmo modo •. E :importante, no entanto não se esquecer do fato de que já examinamos es tru turas superficiais portug u~sas em que :o movi menta de tQdos para a esquerda, quando associado

'

a

NP 1 s objeto no plural Cliticizadas- principal ar­gumento para propor L-TOUS em francês -, não 6 per­mitido; sob pena de se tornar não-gramatical a es -

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48 trutura. Tal fato ficou evidente em:

(9B)*Eu os tinha todo~ lido.

(99)*Eu Queria todos ~ ler para você.

(lOO)*Eu tinha todos querido 2§. ler.

Neste caso, se o fato crucial apontado por

Kayne, que o leva a propor uma regra como L-TOUS

para o francês é invalidado no português, causa estranheza, pelo menos, que dados menos rele -

vantes sirvam para formar a hip6tese de que have -rá também no português uma regra QUe justifique o

movimento do quantificador para a esquerda. Deve-

ríamos, então, encontrar uma outra explicação para a não-gramaticalidade de sentenças como (105)­(107). ~adernas resolver o problema fazendo refe ~

rência aqui à subeeção anterior - 2.1 - em que fo­ram discutidos dados a respeito da regra de movi­menta do quantificador para a direita, tanto no

francês (R-TOUS) como no português (~OS-Q). Lá se evidenciou o fato de que, nas duas línguas em ques­

tão, o quantificador, se associado a uma s6 NP su­jeito, pode aparecer apenas uma vez, para que as sentenças sejam gramaticais; tal fato poderá ser aproveitado.para explicar a não-gramaticalidade de (105)-(107): quantificadores, tanto em francês , quanto em português, devem ocupar apenas.U!IIfLdns vn:­

rins JPS1ições permli:tidas nns duas ~uos,se estão ligados a uma mesma 1-IP, seja ela sujei to ou· objeto. Assim conseguiremos, inclusive, captar uma generalização.

;!,'ortanto, (105)-(107) não são gramaticais porque , nelas, o quantificador aparece mais de uma vez, e está associado a uma s6 NP, objeta. Mas isto não significa que será necess~rio postular uma regra

como 1-TOUS para o português. Além disso, (105) ó07) são não-gramaticais também porque apresentam

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4-9 um dos quantificadores associados à NP objeto des­

locado de sua posição original, à esquerda;

(105)*Eu queria todos ~ ler oê.

todos para vo-

(l06)*Eu tinha todos querido ~ ler todos.

(l07)*Eu tinha todos querido ~~ .9.§ ler.

E já se comprovou que tal movimento para a es­querda não é possível em português. De tudo o que se discutiu, resta como conclusão o fato de que

parece não haver evidências em português para que

se postule uma regra como L-TOUS nesta lingua. Mas será interessante verificar se tal conclusão se

mantém, considerando-se, a seguir, outros dados do portugu~s, comparando-os a fatos do francês anali­sados por Kayne em sua apresentação de L-TOUS.

Kayne reconhece uma importante generalização de que a regra L-TOUS consegue dar conta em fran -cês. Ele mostra que tal regra também se aplica a

sentenças em que ocorrem relativas não-restritivas. Neste contexto, se ~ está associado a uma NP objeto, também pode haver o movimento do q uantif'i­

cador para a esquerda. Então, a distribuição de

~ligado a NP's objeto está est~tamente rela­cionada a duas outras regras do franc~s:

t ali tic-placement' e 'Wh-preposing'.

Sentenças como (20)-(22) provam que L-TOUS em francês s6 pode aplicar-se depois de 'cli tio-

placemcnt', isto é, depois que aNJ? objeto a 'lue

~ se associa foi antes transformada em clíticoe re~ovida de posição, sendo colocada antes do ver­bo:

(20) Je ~ ai ~ lus.

(21) Je voudrais ~ te ~ liTG ,

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50 (22) J 1ai tous voulu les lire. - -Se a NP objeto não é um clítico, o movimento de

~para a esquerda não é permitido;

(27)*J'ai ~lu les livres,

(28)*Je voudrais ~ lire ~livres.

(29)*J'ai ~ voulu lire ~ =l=i~vr~e~s.

Tais argumentos de que, em francês, pois do CL-PL.

acabam por levar à conclusão L- TOUS sé d eve aplicar-se de -

Kaync nponk também que 1wh-preposing 1 é igualmente relevante para explicar

a distribuição de~ ligado a NP 1 s.objeto. Assim, ele atenta para asseguintresentenças:

(30) Les amis de Pierre, que j'ai à l'âge de 7 ans •••

tous connus -(31) Mes fruits, que tu as~ mangés •••

(32) Les films de Godard, que tu peux voir •••

Em (30)-(32), ~está deslocado de sua posi­ção, à esquerda e a NF objeto a que se liga foi an­tes removida por 'wh-preposing'. A partir de tais exemplos, Kayne estabelece uma generalização para

L-TOUS em francês: s6 pode aplicar-se a ~ isola­dos, isto é, a qualquer tous associado ~ uma NP ob­jeto que foi antes removida de posição, Deste mod~ não há necessidade de se mencionar, na descrição

estrutural de L-TOUS, nem clíticos, nem pronomes relativos.

Será interessante verificar se em portuguªa,com 1 wh-preposing 11 , o qgantificador poderá mover-se pa­ra a esquerda, co~o em francês. Vejam-se as se­guintes sentenças:

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51 (108)* Os amigos de Pierre, gue eu ~· conhe­

ci com a idade de 7 anos •••

(l09)*Minhas frutas, que você tinha todaa co -mido •••

(llO)*Os filmes de Godard, gue você pode todos ver •••

Os exemplos (108)-(110) apresentam relativas não-restritivas e o quantificador está à esquerda

de sua posição original; ,mas as sentenças não

são gramaticais, o que as torna diferantes do fran­cês. Parece, portanto, confirmar-se a hip6tese de

que não será postulada uma regra como .L-TOUS em

português, já que, mais uma vez, não é permitido o movimento do quantificador para a esquerda, agora com 11 wh-preposing'. Assim sendo, não há nenhum paralelismo -;entre francós e português, no que se refere ao comportamento ·do quantificador asso -ciado a NP's.objeto, considerando-se os dados até agora vistos.

Em francês, sentenças em que ~se liga a um

pronome relativo precedido de préposição são de gramaticalidade fluida, segundo Kayne. Ele, então, discuto tais casos, apresentando uma solugão para os mesmos. Kayne postula que, subjacente a senten­ças em que o quantificador faz parte de uma NP ob­jeto precedida de preposição, haverá uma ·subca -

deia da forma ~ tous ~· Se o pronome é um pro ~ nome pessoal, aplica-se CL-PL e à.~ será deixa­da para trás. Assim se derivariam;

(37) a- Je parlerai ! ~ RBQ. b- Je leur parlerai à tous. - --

(38) a- J'ai parlé à tous rn,Q. b- Je ~ ai parlá!, ~· c- Je ~ ai à .t2.l1§. parl4.

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52 Se o pronome - da subcadcia à teus PRO - é um

pronome relativo, aplica-se 'wh-prcposing', que mo­ve, junto com o p~onome, a proposição. Para Kayne é o que acontece em:

(33) Les amis de Pierre, à gui j'ai

parlé •••

tous -

Para os qu.e não aoei tam sentenças como ( 331), uma

restrição independente será formulada, para impedir que sejam geradas.

O problema no português parece bem diferente.Em primei~o lugar, já comprovamos o fato de que uma regra como L-TOUS não poderá aplicar-se mesmo a

sentenças em que se dá 1wh-preposing' a NP's não

precedidas de preposição, Casos e~uivalentes a (33) do f:ç-ancês são claramente não-gramaticais em portu­

guês:

(lll)*Os amigos d8 Pierre, ~ guem eu tinha 12 .ill2..§!. falado •••

Então, tudo parece prender-se ao fato inicial de qUe não é permitido o movimento para a esquerda do quantificador, em português. Em conseqttência,ve­mos novamente confirmada a teoria de que não haverá uma regra como L-TOUS nesta ·língua, pois não en­

contramos evid@ncias de que todos, associado a NP's objeto no plural~ possa deslocar-se de sua posição original, para a esquerda. O que está claro até a­gora., considerando.:.ee os ±'atos discutidos, é que a distribuição do quantificador parte de NP's obje­to no plural é bastante diferente nas duas línghas em estudo, pois o que é gramatical em francês,não

o é em português. O exame de dados adicionais do

português poderá levar à conclusão de ~ue também neste língua o quantificador é passível de movimen

mente para a esquerda. Se for este o caso, no

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53 entanto, a regra que deverá ser postulada para dar conta de tal deslocamento, nada terá em comum com L-LOUS, além do fato de ~ue o movimento se deupa­ra a es~uerda. Em português,CL;;.,pL.ca 'wh-preposing 1 ,

ao contr~rio do que ocorre em francês, parecem não ter nada a ver com o movimento do quantificador p3t­

ra a esquerda.

Segundo Kayne, a sentença (33) apresenta ainda um problemat pois, para explicar a sua gramati­calidade, 1wh-preposing 1 teria de $OVer ~ gui,dei­xando ~ para trás, inicialmente. Mas este movi­mento não seria possível, uma vez que ~h-pBposing' teria de aplicar-se a uma estrutura subjacente on­de à g_ui não seria um. constituinte e haveria umn~

dulo NP interveniente. Para solucionar a questão , Kayne postula uma regra denominada 'destacamento de .i9.:Jlê.', aplicável antes de CL-PL, ou de 'wh-preposing', que removeria o quantificador para fora do nódulo NP dominante. Assim, no, caso de fa­lantes ~ue aceitam sentenças como (33):

(33) Les amis de Pierre, ~ gui j'ai parlé •••

tous -

'destacamento de tous 1 move o quantificador intei­ramente para fora de PP, tornando-se então possí -vel que 'wh-preposing' des~oque §qui, agora um

constituinte, como em (46):

(46)

pp tous

à~ Uma vez ~ue,no:P>:ttuguês, sentenças como ( 33) são

claramente não-gramaticais:

(lll)*Os amigos de Pierre, ~ guem eu tinha ~-

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54-~ !alado •••

não vemos necessidade de se propor uma regra como 'destacamento de ~~ também para esta língua. Tal regra tornou-se indispensáVel, em francês, para justificar como 'wh-preposing' se aplicaria a. à.91f!t inicialmente e 1 em seguida, L-TOUS deslocaria o

q_uÇUltificador, já isolado de sua NP, para a esquer­

da. Em português, no entanto, já se estabeleceu que

uma regra como L-TOUS não deverá ser postulada;mais uma razão, portanto, para que também 'destacamento de teus' não seja necessária. -

Uma última importante generalização a regra L-TOUS consegue captar, em franc~s, segundo Kayne: ela também daria conta de explicar o movimento de

~' elemento que se modela como ~ e é mor~olo­gicamente relacionado ao quantificador. Kayne de­monstra este fato, através das seguintes sentenças, em que se observa a semelhança de comportamento entre tous/~

(19)

(4-9)

(20)

(50)

(21)

(51)

Je vou:drnie les lire ~·

Je voudrais lire tout.

Je les ai 1.9.!lê. lus.

J'ai ~ lus.

J'e voudrais tous te lcs lire. --Je voudrais .12.ll.1 lire.

(22) J•ai ~ voulu ~ lire.

(52) J'ai ~ voulu lire.

As sentenças (19) e (4-9) apresentam tous/tout em sua posição inicial, isoladQ.s; em (19), a NP ob­jeto, do que~ faz parte, já foi removida por

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55 CL~:PL; (20)-(22) são exemplos da aplicação ae L .. !Pous. ap6s ·CL-:PL; e (50)-(52) comprovam o movimento de ~ para a esquerda, exatamente como ocorre com

~. em (20)-(22). Kayne estabelece, então, que L-TOUS é a regra dnica que desloca tous/tout da po­sição de objeto para a esquerda.

Em português, temos fatos como:

(112) Eu queria ler .!illi!.9..

(113) Eu .tinha .!illiJ.9. lido.

(114) Eu queria ~ ler.

(115) Eu tinha tudo querido - ler.

O exemplo (112) apresenta o item .!illiJ.9. em sua posição original, não sendo caso de deslocamento;já (113)-(115) evidenciam que tal elemento pode mover­se para a esquerda. Como ficamos então? Até agora

tudo levava a crer que no português L-TOUS não te -ria razão de ser, uma vez que o argumento base uti­lizado por Kayne para propor tal regra em francês -ou seja, o movimento para a esquerda do quantifi -cador associado a NP's objeto no plural - não é vá­lido.no português, onde tal movimento não é permi -tido. Agora, no entan~o, encontramos um paralelismo entre as duas línguas: ~,como o !2ll! franc~s,po­de aparecer à esquerda de sua posição original. Mas apenas este fato não ~ suficiente para justificar que se postule uma regra como L-TOUS em português. Em primeiro lugar, há uma diferença básica entre o quantificador todos aqui discutido e o elemento

~· Todos os exemplos comentados mostravam o quantificador como fazendo parte da estrutura do do­

terminante de N:P•s plurais,; ~á as sentenças (112)­(115) evidenciam que tudo não ó determinante de NP 1 s plurais e sim. uma NF como qualquer outra. Ve­ja-se, por exemplo:

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(116) a-Eu vi .Q. carro • b-Eu vi tudo.

(117) a-Paulo disse mentiras a Maria. b-Paulo disse .!lli!.2. a Maria.

(118) a-A situação está sob controle. b-Tudo está sob controle. -

As sentenças (116)-(118) comprovam ~ue .!lli!..Q. po­de ocupar posições pr6prias de NP's. Por conseguin­te, sua distribui~ão não é a mesma do ~uantificador todos, em questão neste trabalho. Assim, o fato de que ~ move-se para a esquerda da posição de ob­

jeto- e as sentenças resultantes são gramaticais deverá ser explicado lente a 1-TOUS, ~ue

português,

por outra regra, não equiva -já se provou desnecessária em

O quantificador todos, determinante de NP'splu• rais, não pode deslocar-se para a esquerda de sua posição original, como acontece em francês. Somente isto já é suficiente para se considerar que o movi­mento de ~ não se justificará por uma regra como -L-TOUS e sim por uma outra regra qualquer, que nao nos interessa discu~ir aqui, por estar fora do âm -

bito deste trabalho. Assim sendo, depois de examinados os fatos do

português equivalentes aos que foram analisados por Kayne, em francês, resta como conclusão o fato de que as duas línguas têm comportamentcsQiferentes,no

que se refere ao movimento do q.lB.ntificador associa­

do a NP's objeto no plural; em português, não há evidências empíricas para que se postule uma regra como L-TOUS, que explicaria o deslocamento para

esquerda, de tal quantific~dor; o todos que parte do determinante de NP's objeto no plural

a

faz -na o pode mover-a~ para a esquerda, oomo o equivalente

~francês.

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57 3. ! Regra ~ POSPOSIQXO DE QUANTIFICADOR(POS-Q)

~ Português

No capítulo anterior, procuramos analisar as duas regras sintáticas de movimento - R-TOUS e L-TOUS - postuladas por Kayne para o francês, com o objetivo de verificar se tais regras seriam tam­bém nocess~ias para explicar a distribuição do quantificador todos em estruturas superficiais por­tuguesas. Foram comentados apenas os casos parale -los aos do francês discutidos por Kayne e restaram como conclusão os seguintes fatos:

A- Em português, assim como em francês, o quan­tificador todos, parte do determinante de NP's sujeito no plural, pode deslocar-se de sua posição inicial, colocando-se à direita de certos elàmentos da sontença, para fora

do n6dulo NP dominante; como conseqüência , teremos necessidade de propor uma regra de

movimento semelhante a R-TOUS, tamb~m para o português. Convencionamos denominá-la ?OS­POSIÇÃO DE QUANTIFICADOR (POS-Q);

B- Não foram encontradas evid~ncias que mos~ sem o movimento de todos para a esquerda de sua posição original, quando associado a NP's objeto no plural; ao contrário do fran­cês, tal deslocamento parace não ser permi ~

tido em português; assim sendo, uma regraco­

mo L-TOUS, como postulada por Kayne, não te­ria razão de ser em português.

Neste capítulo vamos procurar examinar mais de­tidamente dados adicionais do português, com vistas

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58 a uma possível caracterização de POS-Q, em Mevmos diferentes de R-TOUS, uma vez que a distribuição do quantificador todos poderá apresentar certas parti-cularidades especiais, não correspondentes àm

de ~' em francôs. Terminaremos por apresentar uma sugestão de

formalização de POS-Q, depois de analisar os dados relevantes e descobrir como tal regra devorá fun cionar, para dar conta de acplicar o comportamento do quantificador em sentenças portuguesas.

3.1- R-TOUS ~ POS-Q: ~ análise comparativa

E baseado no fato de que~ em francês, t~,as -

saciado a NP's sujeito no plural, pode aparecer em várias posiçÕes nas sentenças, sem que se altere seu significado, que Kayne acaba por reconhecer a necessidade de que se postule uma regra transforma­cional de movimento do quantificador para a direit~ a que ele chamou de R-TOUS. Tal regra obedeceria a uma série de importantes restriçÕes e daria conta

de explicar a distribuição de ~ em estruturas su­perficiais francesas, quando ligado a NP's sujeito no plural.

Na seção 2.1 examinamos R-TOUS e vimos que,tam­bém em português, haverá necessidade de se propor uma regra semelhante, uma voz que todos, parte de NP's sujeito no plural, pode deslocar-se de sua po-sição inicial, explicariamos, ficador em:

movendo-se para & direita. Assim por exemplo, a ocorrência do quanti-

(69) Todos ~meninos tinbam ido para a escola.

(70) ~ meninos tinham todos ido para a escola.

(71) Os meninos tinham ido todos para a escola.

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59 A sentença (69) apresenta o quantificador asso­

ciado à NP sujeito 9lura1, fazendo parte da es­

trutura do determinante desta N1?; já (70)-(7l)mos­

tram todos à direita de certos elementos da sen tença, fora do n6dulo NP relevante. Seguindo o racioOÍ!íi.o do Kayno,

como estrutura subjacente algo (69)-(71) teriam .scmolhaa te a (69):

(69) Todos os meninos tinham ido para a csco --la.

e (70)-(71) surgiriam da aplicação de uma regra de

movimento do quantificador para a direita -POS-Q­

a esta estrutura inicial:

(70) Q§. meninos tinham todos ido para a escola.

(71) Os meninos tinham ido todos para a escola.

-Tais fatos sao exatamente equivalentes aos que

se observam em sentenças do francês discutidas por Kayne, que o levaram a postular R-TOUS.

Em francês, R-TOUS seria capaz de explicar o

movimento para a direita do quantificador parte do determinante de NP's sujeito no plural; este movi­mento obodedh no entanto, a certas restrições e,em sua formulação, R-TOUS deve levar em conta tais EestriçÕos, para que não sejam geradas sentenças incorretas. Assim ~ que, por exemplo, R-TOUS des­loca o quantificador para a direita, para fora ~ n6dulo ,NF ~ que ~ associa. Esta condição precisa

ser estabeleci~a, uma voz que não são gramaticais sentenças como:

(119)*~ garçons ~ sont partis à la gue:rn:>o

em que ~s está à direi ta de 'les garçons 1 , 1mas

ainda fazendo parte de tal NP, A regra de movimen-

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60 to coloca o quantificador à direita, fora do nÓdulo NP relevante;éisto que JUstifica o ·fato de que (l!l<,J)

rtãó é gramatical, enquanto (2)-(3) o são:

' ( 2) Les garçons sont ~partis a la guerre.

' ( 3) Les garçons sont .paBtis ~ a la guerre.

As sentenças (2)-(3) seriam derivadas de uma es­trutura semelhante a (1):

' (l) ~ ~ garçons sont partis a la guerre.

através da aplicação de R-TOUS - regra de movimento que tira o quantificador do nÓdulo NP a que perten-

' ce e o coloca a direita de certos elementos da sen-

tença. Já em português, casos equivalentes a (]l9·) são

gramaticais. Compare-se:

(119)*~ garçons ~ sont partis à la guerre.

(120) Os meninos todos tinham ido para a escola~

O exemplo (120) mostra o quantificador desloca-- ' do de sua posiçao original, a direita, fazendo par-

' te da NP a que se associa e e gramatical. Assim, em português, teremos de refinar POS-Q, de modo a co­brir casos como (120). Para dar conta de ~plicar a distribuição de todost em português, a primeira a­daptação que POS-Q - equivalente a R-TOUS - deverá sofrer é a seguinte: o deslocamento de todos - ge -rado na estrutura do determinante de NP's sujeito no plural - para a direita pode dar-se mesmo dentro

' do nodulo NP a que pertence o quantificador. ' Assim terl.amos:

(69) Todos os meninos tinham ido para a escola~

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61

(70) ~ menings tinham todos ido para a escola,

(71) ~ meninos tinham ido todos para a escola.

(120) ~meninos todos tinham ido para cola.

a es -

As quatro sentenças acima teriam a mesma estru­tura profunda, que se aproximaria de (69): o quan~

tificador está dentro do nÓdulo NP sujeito plural, fazendo parte da estrutura de seu determinante.

as sentenças (70),l7l) e (120) seriam resultado aplicação de uma -regra transformacional a esta

, Ja da

estrutura; tal regra moveria todos para a direita de sua posição inicial, podendo, no entanto, perma­necer9 o quantificador, ainda fazendo parte da NP a que se liga, como se comprova em (120).

• r Em portugues 9 portanto, poder1amos formular ,

POS-Q, considerando-se apenas os dados ate agora vistos 9 da seguinte maneira~

(121) O quantificador todos, gerado na estrutu­

ra do determinante de NP's sujeito no plu­

ral, pode deslocar-se para a direita de sua posição original, permanecendo ou não como parte de tais NP's.

POS-Q será de aplicação opcional, uma vez que sao gramaticais sentenças como:

(69) Todos os meninos tinham ido para a escola.

(72) Todos os alunos tinham saÍdo da sala.

(122) Todos~ soldados morreram.

que mostram o quantificador em sua posição original. Observem-se agora as seguintes sentenças:

(123) Encontrei todos ~ ~ amigos.

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62 (124) Encontrei~~ amigos todos.

A sentença (123) apresenta o item todos fazendo

parte da NP objeto plural; já (124) evidencia que ' este mesmo elemento pode tambem mover-se para a

direita, permanecendo ainda associado à NP objeto 'os meus amigos•. Assim como (123)-(124) modelam-se muitas outras sentenças do português. Vejam-se, por exemplo:

(125) Maria ganhou todos aqueles presentes.

(126) Maria ganbou aqueles presentes todos.

(127) Paulo e eu vimos todos 2.§.. acidentes.

(128) Paulo e eu vimos~ acidentes todos.

Como se pode verificar,(l25 1 -.(:06) e (127)~6)apre­sentam as mesmas caracteristicas de (123)-(124):(12$ e (127) têm o quantificador como determinante de NP 's

objeto no plural; (126) e (128) demonstram o movimen­to para a direita, deste quantificador, que, em am~

bos os casos, continua .fazendo parte de NP a que se liga. E não se pode negar o paralelismo do comporta­mento de todos nas sentenças (123)-(128), com a dis­tribuição do quantificador que aparece associado a

NP's sujeito no plural. Compare~~e, por exemplo,qu~­quer uma das séries (123)-(124), (125i-(126)ou (127)­(128) com:

~9) Todos os meninos tinham ido para a escola.

(120) Os meninos todos tinham ido para a escola.

(72) Todos ~ alunos tinham safdo da sala.

(129) Os alunos todos tinham saido da sala.

Em (69) e (72) reconhecemos a presença do quanti-

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63 ficador como determinante de suas NP's sujeito plu­ral; (120) e (129) seriam derivadas de (69) e (72), respectivamente, através de POS-Qt que modifica a posição do quantificador, colocando-o• à direita; nas sentenças (120) e (129), todos conserva-se ain­da dentro da NP a que se associa;

(120) ~meninos todos tinham ido para a escola.

(129) Os alunos todos tinham saido da sala.

Considerando-se a semelhança entre a distribui­ção do quantificador que é ,gerado na estrutura do determinante de NP's sujeito plural e a • ocorren cia deste mesmo elemento, quando ele se prende a

NP's objeto também no plural, poderiamos tentar re­formular POS-Q, estendendo seu âmbito de ação, de

modo a cobrir fatos como os que se revelam em (123~ (128),

Assim sendo,(l21) sofreria uma primeira altera-ção. Para englobar todos os casos vistos, em que ' numa estrutura subjacente, o quantificador aparece

fazendo parte de NP's plurais, suponhamos que (121) tomasse a seguinte forma:

(130) O quantificador todos, gerado na estrutu­ra do determinante de NP's plurais, pode deslocar-se para a direita de sua posição or:~:ginal, permanecendo ou não como parte de tais NP's.

Substituindo-se a expressão 1NP 's sujei to no plu­ral' (cf. (12l)l,por 'NP's plurais' (cf. (130)),es­tariamos assim admitindo que POS-Q pode aplicar-se a qualquer NP, seja ela sujei to ou o-bjeto. Observe­se, no entanto, que (130) ainda não é a forma ideal para POS-Q. Se, por um lado, conseguimos com apenas uma regra, tentativamente, explicar o deslocamento do quantificador ligado a NP 1 s tanto sujeito quanto

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objeto, por outro lado ficamos com uma regra 64

gujo âmbito de ação é muito grande, Assim, por exemplo , em primeiro lugar, não sabemos ainda se é possivel que todos, quando se situa dentro de uma NP objeto, possa destacar-se para fora desta NP a que per ~

tence, uma vez,que, nas sentenças examinadas, mesmo depois de removido de sua posição original, o quan­tificador continua sob NF:

(124) Encontrei os~ amigos todos.

(126) Maria ganhou aqueles Fresentes todos.

(128) Paulo e eu vimos os acidentes todos.

Além disso, mesmo no que se refere a NP's suje~ to 1 restam ainda outros pontos importantes a serem explor·ados, como por exemplo; o movimento do quan-

' tificador para a direita e inteiramente livre? POS-Q pode colocar o quantificador em qualquer po­sição na sentença, desde que seja à direita de sua posição original? Estas são algumas das questões que exigem uma resposta, se pretendemos es~ecer o problema da distribuição de todos em estruturas su­perficiais portuguesas.

Assim, examinem-se as seguintes sentenças:

(131) Todos ~ ~ amigos partiram.

(132) ~~amigos todos partiram.

(133) ~ ~ amigos partiram todos.

Em comparação com o francês, a série (131)-(TWJ revela uma particularidade interess~te.As três sentenças são gramaticais. O exemplo (131} se a­proximaria da estrutura profunda:

(131) Todos ~ ~ amigos partiram,

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65 e (l3Z)-(133) surgiriam da aplicação de POS-Q a es­ta .estrutwa eubiiacente:

(132) ~~amigos todos partiram.

(133) Os~ amigos partiram todos.

Em francês, no entanto, a situação é diferente:

(53) ~ ~ amis partiront.

(54)*~ ~ ~ partiront.

(55) Mes amis partiront tous.

-As sentenças acima sao utilizadas por Kayne pa-ra comprovar uma outra restrição a que R-TOUS deve obedecer: nunca se poderá colocar o quantificador

' antes de 'verbos finitos', isto e, antes de verbos

em sua forma simples. 1 Em (54),~' deslocado de sua posição ·original (c f. (53)), aparece antes do verbo finito 'partiront' e o resultado é não-grama­tical. De (53), por R-TOUS, sÓ poderá surgir (55) , em que o quantificador passa para depois do verbo , situando-se em posição final na sentença.

Já o português comporta-se diferentemente. Não há necessidade de se estabelecer uma restrição des­te tipo para POS-Q, uma vez que são gramaticafusren­tenças em que todos ocorre antes de verbos fini+ tos conforme se pode reconhecer em (132):

(132) Os ~ amigos todos partiram.

At6 agora, todas as sentençns eL~ninadas tinhan

o verbo em formas compostas; (131~-(133) são exem plo s em que o verbo se apreserl.ta em for111a simples.

Verenos se tal pormenor é relevante em português,par­

ra o estabelecimento de restriÇões, a :PoS-Q.Compa.-Cem­

se, então, as seguinteS seqüências:

(69} Todos ~ meninos tinham ido para a escola.

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66 (70) ~ meninos tinham todos ido para a e se o la.

(71) (..<;; .::eninos tinham ido todos para a escola.

(1Al) ~ meninos todos tinham ido para a escola.

( 134) Todos os meninos foram para a escola.

( 135) Os meninos foram todos para a escola.

(136) Os meninos todos foram para a escola.

A partir da análise compara ti vá do primeiro gru­

po de sentenças - (69)-(71) e (120) -, com (134 ) -(136), pode-se chegar à conclusão preliminar de que nenhuma restrição especial precisará ser formulada,

para dar conta do movimento de~ para a direi ta,

quando este aparece em sentenças com os verbos em formas simples ou em .formas compostas; evidentemen­te1 deve-se levar em conta o fato de que todos po­derá ocupar uma posição a mais, quando o verbo tem a forma composta; é o que a sentença (70) ilustra. No entanto, em linhas gerais, POS-Q deslocará o quantificador para as mesmas posiçÕes básicas, nos dois casos em discussão. Esteja o verbo em forma simples ou composta, todos aparecerá antes ou de-

• pois dele, sem maiores conseq~encias para POS-Q. ' Com isto, chegamos .ja a definir, de modo umpou-

co mais restrito, o âmbfuto de ação de POS-Q: tal re-' gra muda de lugar o q-g.antificador, colocando-·o a

direita da NP a que se liga; este mesmo quantifica­dor pode, então, situar-se ainda dentro da NP oufb­ra dela, ocorrendo antes ou depois do verbo da sen­tença, ou entre o auxiliar e o verbo principal, no caso de formas compostas.

Com aanálise dos dados nesta subseção, acredi~ tamos ter explorado os pontos mais significativos

numa comparação entre R-TOUS. e PlilS-Q, demone.trando algumas das caracteristicas de POS-Q, diferentes de R-TOUS. Trataremos, a seguir, de fatos adicionais

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67 • do portugues, para esclarecer novos detalhes ares-

peito do funcionamento de :POS-Q.

3.2- POS-Q ~ Estruturas com Verbos Transiti -vos e Intransitivos

Na subseção anterior, dissemos que POS-Q, como uma possibilidade, coloca o quantificador depois do verbo da sentença; as frases seguintes mostram is ~

to:

(71) ~meninos tinham ido todos para a escola.

(133) Os meus ami~os partiram todos.

(135) Os meninos foram todos para a escola.

Examinando mais atentamente os exemplos dados, reconhecemos que (133) ilustra ainda um ponto in -teressante, relativo à colocação de todos em es­truturas superfidais portuguesas: além de demons -trar que o quantificador pode, por uma regra de

movimento, passar para depois do verbo, evidencia também o fato de que este mesmo quantificador tem

a possibilidade de aparecer em final de sentença,o - . ' que nao tinha s~do ate agora comprovado em nenhum

dos exemplos vistos. Ai está, então, mais um aspe~ to a ser explorado, no que diz respeito ao âmbito de ação de POS-Q. Considerem-se, deste modo, osfu­tos abaixo:

(137) Todos os fatos surpreenderam Raul.

(138) Os fatos todos surpreenderam Raul.

(139)*~ fatos surpreenderam ~~Raul.

(140)*~ fatos surpreenderam Raul todos.

A seqüência (1?7)-(140) deveria ser eauivalente

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68 a outras, já anteriormente indicadas: (137) se a­

proximaria da estrutura profunda e {138)-{140) se­riam derivadas atraVés da aplfuaÇão de POS-Q; as posiçÕes em que o quantificador se encontra nos

tr;s casos são perfeitamente admíssiveis, podendo­se justificar tal afirmativa por meio de sentenças já discutidas. Em {138), à semelhança de {132):

{13S~ Os meus amigos todos partiram.

todos é deslocado de sua posição inicia+, para a direita, situando-se ainda dentro da NP de que faz parte e antes de um verbo em forma simples.E {138), como {132), é gramatical. Mas {139) e {140), estra­nhamente, são não-gramaticais, ao contrário de qqa seria de se esperar. Veja-se, por exemplo, que {139) mostra o quantificador depois do verbo em forma finita, simples e deveria, portanto, sergre­matical, como (135):

(135) Os meninos foram todos para a escola.

No entanto, (139) não é aceita como gramatical:

( 139l*~ fatos surpreenderam todos Raul.

E a sentença (140) também se afasta do que foi visto até agora: todos aparece em posição final na sentença, como em (133), por exemplo:

(133) ~~amigos partiram todos.

Mas, ao contrário de (133), (140) nao é grama­tical:

(140)*2! fatos aa~preandenam Raul todos.

Torna-se,então, necessário um exame mais acurado dos dados, para tentar descobrir porque nao se ob-

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69 serva o paralelismo esperado~ Assim, compare-se:

(135) ~meninos foram todos para a escola.

(139)*~ fatos surpreenderam todos Raul.

As duas sentenças acima revelam particularida des em comum: os verbos estão em forma simples e o

' quantificador encontra-Se imediatamente a sua

direita. Por outro lado, (135) e (139) não são exa­tamente idênticas. Aproximadamente, teriamos, sub -

' . jacentes as duas, as seguintes estruturas respectl-

vas:

(134) Todos os meninos foram para a escola.

(137) Todos os fatos surpreenderam Raul.

Em (134), o verbo da sentença é intransitivo; em (131), ele é transitivo. Esta poderia ser a !1a­zão para a diferença de comportamento dos exemplos dados, em relação a Pos-Q. Vejamos outros casos , -para comprovaçao;

(141) Todos~ slunos safram da sala.

(142) Os alunos sa{ram todos da sala.

(143) Todas as crianças comeram o bolo.

(144)*~ crianças comeram tcdas o bolo. 2

As séries acima parecem confirmar a hipÓtese levantada anteriormente: (142), que tem o ver­bo intrans~tivo , admite a aplicação de POS-Q,si­tuando-se o quantificador logo apÓs o verbo; g4 (144), em que o verbo é transitivo, não permite que POS-Q desloque todos para depois deste verbo. Observem-se os seguintes fatos:

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70 (145) Todos os homens gostam de futebol,

(146) ~odos os eleitores acreditaram no sena -

dor.

(147) Todos ~ empregagos obedeciam a seu che­fe imediato.

(l48)*0s homens gostam todos de futebol.

(149)*~ eleitores acremtaram todos no senador.

(150)*0s empregados f e imediato)

obedeciam todos

A partir da análise de (135) e (139):

a seu che-

(135) Os meninos foram todos para a escola.

(l39)*0s fatos surpreenderam todos Raul.

procuramos estabelecer uma restrição ao movimento do quantificador para a direi ta, em' português, de modo a dar conta dos casos gramaticãis, deixando de

lado os não-gramaticais: todos poderá deslocar-se

para depois do verbo da sentença, se este for .in­transitivo. Os exemplos (142) e (144) confir~ a hipÓtese, uma vez que (142) é gramatical, tendo o

quantificador depois do verbo intransitivo, en­

quanto (144), em que POS-Q se aplicou, situando 12= ~ em seguida a um verbo tra~sitivo, não é gra­

matical~

(142) Os alunos sairam todos da sala.

(l44)*As crianças comeram todas o bolo.

Usando as sentenças (148)-(150), vemos mais uma vez apoiada a teoria de que, com verbos .transiti~

~Q \não poderá deslocar o quantificador para de-

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71 pois destes mesmos verbos. Em (148)-(150), os ver--bos sao todo? transitivos indiretos e as sentenças -na o sao b.em, formadas:

(148)*~ aomens gostam todos de futebol.

(l49)*0s eleitores acreditaram todos no senaa dor.

(l50)*0s empregados obedeciam todos a seu che­fe imediato.

Parece, portanto, que a condição a ser estabe~ lecida em POS-Q deverá levar em conta o tipo de

' verbo da sentença: se ele e intransitivo, o quanti-ficador poderá ser colocado depois dele; se, no en­

tanto, é transitivo, seja direto ou indireto, não se permitirá o movimento do qUantificador para fo­ra do nÓdulo NP a que pertence. Assim, conside rando-se as seguintes estruturas subjacentes:

(137) Todos os fatos surpreenderam Raul.

( 143) Todas as crianças comeram o bolo.

tl45) Todos os homens gostam de futebol.

(146) Todos os eleitores acreditaram no sena -dor.

(147) Todos 2§ empregados obedeciam a seu che­fe imediato.

só serao geradas as seguintes sentenças, através da aplicação de POS-Q:

(138) Os fatos todos surpreenderam Raul.

(151) As crianças todas comeram o bolo.

(152) Os homens todos gostam de , fute·bol.

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72 (153) Os eleitores todos acreditaram no sena -

dor.

(154) Os empregados todos obedeciam a seu che­fe imediato.

Isto porque, com verbos ~ transitivos, o mo -vimento de todos para a direita só se dará dentro do nÓdulo NP a que pertence o quantificador. Deste

' modo, fica ja excluida

partir de (137), seja matical como:

a possibilidade de que, a

gerada uma sentença não gra-

(140)*0s fatos surpreenderam Raul todos.

Em (140), o quantificador ocupa a posição fi­nal de sentença e deveria ser gramatical, conside• rando-se o fato de que são corretas sentenças .em

que isto aconte~e, como por exemplo:

(133) ~ ~ amigos partiram todos.

No entanto, ~ri ~133) o verbo é intransitivo e POS-Q pode, então, mover todos para fora da NP a que se associa o quantificador, colocando-o logo em seguida ao verbo. Tal movimento não é permiti­do em casos com verbos ·transitivos; quando o ver­bo é transitivo, não se poderá deslocar o quanti -ficador para a direita, para fora do nódulo- NP a que pertence. Assim se explicará, portanto, a gra­ma ti c a lidade de ( 133):

(+33) Os meus amigos partiram todos.

e a não-gramaticalidnde de (140):

(l40)*0s fatos surpreenderam Raul todos.

E assim se impedirá a formação de outras sen~

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73 ' tenças mas, tais como:

(155)*~ crianças comeram o bolo todas.

(156)*~ homens gostam de futebol todos.

(l57)*0s eleitores acreditaram no senador to-

dos.

(158)*~ emprc~ados obedeciam a seu chefe imediato todos.

Estas sentenças serão bloqueadas através da

condição que estabelecemos para FOS-Q: com verbos transitivos, só se poderá aplicar POS-Q~ deslo cando-se o quantificador para a direita de sua posição original, dentro do âmbito da NP a que se liga tal elemento.

Veja-se que, utilizando a condição acima, nãô estaremos impedindo a geração de sentenças boas, com verbos intransitivos como:

(133) Os meus amigos partiram todos.

(135) ~meninos foram todos para a escola.

(142) Os alunoz sairam todos da sala.

As sentenças acima não estarão sujeitas àres-- . . triçao imposta, uma vez que tem verbos intr~ti-' vos; POS-Q, podera, assim, mover o quantificador

para a direita, tirando-o do nÓdulo NP relevante. Portanto, parece confirmar-se a hipÓtese que le -vantamos: para a aplicação de POS-Q, deve-se le ~ var em conta o verbo da sentença; todos poderá ser deslocado para fora da NP a que pertence,ap~~ nas quando o verbo da sentença é intransitivo.

Entretanto, surge um outro problema, se a-ceitamos tal hipÓtese. Note-se que, do mesmo modo que daremos conta de sentenças boas como, por e-

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74 xemplo:

(133) ~ ~ amigos partiram todos.

(135) Os_meninos foram todos para a escola.

(142) Os alunos .sairam todos da sala.

por outro lado, a limitação estabelecida não blo-' queara sentenças como:

(l59)*0s meninos foram para a escola todos.

(160)*~ alumoa sairam da sala todos,

-que nao sao boas. O que se verifica em tais casos ' . ' e a ocorrencia de todos, fora do nodulo NP a que pertence, em posição final de sentença. Já vimos que~ com verbos intransitivos, o movimento do quantificador para a direita não precisa ficar res­trito ao âmbito da NP relevante. Mas agora estamos comprovando que 1 mesmo com verbos intransitivos, POS-Q deverá obedecer a uma condição qualquer,para impedir (159)-(160) e outros casos semelhantes.

Conseguiremos excluir tais casos da gramática, se postularmos que, com verbos intransitivos,POS-Q poderá deslocar o quantificador para fora àa NP a

que se· associa, apenas colocando-o imediatamente ' apos o verbo. Deste modo, POS-Q faria algo como:

( 161) Q X - vi

1 2 3

> r,;! 2 3+1

Assim se justificará o fato de que (133) ' e gramatical ' f:mquanto (159) e (160) não são:

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75 (133) Os ~ amigos partiram todos.

(159)*0s meninos foram para a escola todos.

(160)*0s alunos sa{ram da sala todos,

A

Os tres exemplos têm em comum o ·aparecimento de todos no final das sentenças; _em ( 133), no

entanto, este elemento ocorre logo em seguida ao

verbo; já em (159~(160) isto não acontece. Veja­se ainda, que, propondo POS-Q como em (161), para

' verbos intransitivos, estaremos tambem explicando

a gramaticalidade de (135) e de (1~2):

(135) Os meninos foram todos para a escola.

(142) Os alunos ' sa1ram todos da sala.

' alem de, por exemplo:

(162) Meus primos viajaram todos.

(163) Os gatos correram todos para a carne,

entre outros, que se modelam como os casos já di~ cutidos.

Como um sumário do que foi visto até agora, com relação às caracferfsticas de POS-Q em portu-­guês, poderemos dizer o seguinte:

' . A- Com verbos transitivos de qualquer espec~e,

o movimento do quantificador para a direi­ta sÓ poderá dar-se dentro do âmbito da NB a q~e se liga este quantifioadmr, Assim , a partir de:

(164) Todos os filhos amam os pais.

(165) Todos os homens assistiram ao jogo.

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76 (166) IDodos os espectadores ganharam

mias dos patrocinadores.

... pre-

' so podemos derivar:

(167) Qg filhos todos amam os pais.

(168) Os homens todos assistiram ao jogo.

(169) Os espectadores todos ganharam prêmirn dos patrocinadores.

B- Com verbos intransitivos, POS-Q poderá mo­ver o quantificador para fora da NP a que se associa; neste caso , no entanto, o quan­tificador será colocado imediatamente em seguida ao •Verbo da sentença. Assim, apli­

cando-se POS-Q às seguintes estruturas sub­jacentes:

( 170) Todos os ratos morreram.

(171) Todos os velhos passeiam pela praça.

( 172) Todas as cartas chegarão amanhã.

terão origem:

( 173) Os ratos todos morreram.

(174) Os velhos todos passeiam pela praça.

(175) h§. cartas todas chegarão amanhã.

e ainda:

~176) ~ #~tos morreram todos.

( 177) Qg velhos passeiam todos pela praça.

(178) As cartas chegarão todas amanhã.

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77 -E serao automaticamente bloqueadas:

(179)*~ velhos passeiam pela praqa todos,

(l80)*As cartas chegarão amanhã todas.

3.3- POS-Q ~Estruturas~ Intensificadoree.

Nesta subseção iremos examinar alguns proble~ mas que ocorrem quanto à distribuição de todos em sentenças com advérbios. Observe-se que POS-Q pode aplicar-se, e mover o quantificador para junto de um advérbio em posição posverbal, como em:

(181) Ag~elas pessoas trabalham todas aqui,

(182) As crianças dormiam todas tranqailamente,

(183) Os jogadores chegaram todos hoje.

Em tais exemplost temos verbos intransitivos acompar~ados de advérbios de espécies variadas e,

com a aplicação de POS-Q, o quantificador, parte da NP sujeito plural, é deslocado para depois do

verbo. O resultado são sentenças gramaticais, como se previa pela condição B. Esta também prevê que serão não-gramatic&is:

(184)*Aquelas Eessoas trabalham aqui todas.

(185)*~ crianças dormiam tranq~ilamente ~·

(186)*~ jogadores chegaram hoje todos,4

Em (184)-(186), o quantificador se destaca da NP sujeito plural a que se liga, situando-se em posição final na sentença, depois dos advérbios. Sabemos, porêm, que não será possível realizar tal movimento, bloqueado pela condição B, que permite a colocação do item todos, quando fora de sua N.P,

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78 apenas à direita do verbo intransitivo. Não há ne­

cessidade, portanto, de especificar que a regr,a POS-Q não deve se aplicar movendo o quantificador por cima .de advérbios, como os que se apresentam em ( 184 )-(186).

Observe-se agora a seqüência abaixo:

(187) Todos ~ alunos estudaram muito.

(188) Durante o espetáculo, todas ~ pessoas riam bastante.

(189) No festival, todos E§ corais cantam bem.

Às estruturas acima, pode-se aplicar POS-Q. Em suas NP's sujeito aparece um quantificadhr,cu­ja posição poderá variar, justamente através de

POS-Q. Considerando as caracter{sticas de tal re­gra, até agora discutidas, de (187)-(189) serão

derivadas:

(190) Os alunos todos estudaram muito.

(191) Durante o espetáculo, as pessoas todas riam bastante.

(192) No festival, ~ corais todos cantam bem •

• Nestes tres exemplos, todos foi movido de sua

posição original para a direita, continuando como parte da NP a que pertence. E são gramaticais. A­inda através de POS-Q, desta vez levando em conta a condição B, seriam geradas:

(193)*~ alunos estudaram todos muito.

(194)*Durante o espetáculo, as pessoas riam todas bastante.

(l95)*No festival, ~ coraiB cantam todos bem.

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79 ' ' Ha, a1, no entanto, um problema: as sentenças

resultantes são não-gramaticais, ao contrário do que se deveria esperar. Veja-se que (193)-(195) se modelam como (181)-( 183):

(181) A~uelas Eessoas trabalham todas aqui.

(182) ~ crianças dormiam todas Tanq~ilamente.

(183) ~ joeadzres chegaram todos hoje.

em que a regra de movimento do quantificador par& a

direita tira-o fora da NP relevante e o coloca i­

mediatamente apÓs o verbo, intransitivo. Deste mo­do, (193)-(195) obedecem às cond:iÇÕ:éiL para a gra­maticalidade de sentenças a que se aplicará POS-Q~

porém, não são gramaticais. Como explicar tal fa-•

to? ~xaminando os tres casos em detalhes, veri

fica-se que, nas estruturas subjacentes a eles,os - ' verbos intransitivos sao seguidos de adverbios do tipo intensificador, como: muito, bastante, bem.5

E pode-se comprovar que, sempre que verbos in­transitivos são acompanhados de advérbios desta espécie, não é permitido o deslocamento do quanti­ficador, de sua NP para depois do verbo. Nestas circunstâncias, POS-Q terá seu âmbito de ação li-

' ' mitado: so movera o quantificador para a direita, dentro da NP a que se liga. Veja-se então:

(196)*~ cronistas desportivos falam todos mui to.

(l97)*Para o sucesso da campanha, as equipes trabalharam todas demais.

(l98)*0s turistas passearão todos mais, na-prÓxima excursão a Roma.

John Bowers faz uma análise interessante des -tes advérbios intensificadores em inglês, acampa--

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80

~ando adjetivos e outros advérbios, no trabalhoinn ti tu lado 11Adjectives and Adverbs in English 11 •

6 En -

contra vários argumentos sintáticos para considerar

~' ~' enough, ~' etc, como elementos de uma espécie particular, que podem ser "especificadores"

de frases adjetivas ou adverbiais, cuja estrutura interna será semelhante à de frases nominais.As ob­servaçÕes de Jdhn .Bawers são relevantes para o nosso trabalho, apenas na medida em que evidenciam a necessidade de se considerar tais itens como uma classe determinada, diferente de outros advérbios. E isto poderia servir de explicação para a diferen­

ça le comportamento de POS-Q, quando ela se a­

plica a sentenças com verbos intransitivos, segui­dos ou não de advérbios intensificadores.

De qualquer modo, resta como conclusão o fato ~ , . .

de que~ em portugues, havera necess~dade de diStLD-guir elementos como muito, bastante, mais, pouco , bêm, etc, de outros advérbios,para impedir a gera-- - , çoo de sentenças nao-gramaticais, atraves de POS-Q. Poderemos refinar (161), de forma a cobrir os ca-aos discutidos;

( 161) Q X vi

1 2 3 =>

~ 2 3+1

Assim, di r{ amos, por exemplo: com verbos ;~ in­transitivos, POS-Q poderá mover o quantificador para fora da NP a que pertence, apenas quando ,os verbos não estüo,-scompal':lbndo:s d:e advérbios intensifi -

cadores; nos casos em que o movimento é permitido, no entanto, o quantificador sÓ ocupará a posição imediatamente depois do verbo .•

Então:

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81

(199) Q ~ X ~ vi z Condição:

1 2 3 4

~ Z f Adv.Int. 2 3+1 4

Com isto, explicar{amos, dentre outros, os se­guintes exemplos:

(177) Os velhos passeiam todos pela praça.

(181) Aquelas Eessoas trabalham todas aqui.

(190) ~ alunos todos estudaram muito.

(179)*0s velhos passeiam ~€la praça todos.

(184)*Aquelas pessoas trabalham aqui todas.

(193)*~ alunos estudaram todos muito.

(200)*~ alunos estudaram muito todos.

As sentenças (177), 0 (181) e (190) são grama-, ticais; nas duas pri~ina~,o quantificador esta_

deslocado para a direita, para fora de sua NP, si­tuado imediatamente depois de verbos intransitivos não acompanhados de advérbios intensificadores; em (190), o quantificador está à direita de sua posi­ção original, mas ainda fazerido parte de sua NP.

Já (179), ~184), (193) e (200) não são gramati­cais; as frases (179), (184) e (200) violam a regra que diz: com verbos intransitivos, se o quantifica-

, , dor for tirado do nodulo NP a que se associa, so

' -podera vir imediatamente depois do verbo; a .~ao-

gramaticalidade de (193) é explicada pelo fato de que, quando temos verbos intransitivos acompanhados de advérb~às intensificadores, POS-Q tem sua ação limitada ao âmbito da NP em que está o quantifica~ dor.

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62 3.4- POS-Q ~ Estruturas ~CÓpulas

Nas subseções imediatamente anteriores, exami ,­namos certas restriçÕes envolvendo o movimento do quantificador para a direita em português, em sen­tenças com verbos intransitivos ou transitivos.Nes­

ta subseção •iremos investigar como será o funcio­namento de POS-Q, se a estrutura em que o quantifi­cador aparece apresenta um verbo de ligação ou có­pula. Atente-se, então, para:

(201) Todas as crianças ficaram molhadas.

(202) Todas as roupas estão limpas.

(203) Todos aqueles balÕes são azuis.

De (201)-(203), removendo-se todos de sua posi­ção original, serão derivadas:

(204) As crianças todas ficaram molhadas,

(205) As roupas todas estão limpas.

(206) Aqueles balÕes todos são azuis.

Note-se, que, em (204)-(206), o quantificador, embora deslocado de sua posição original para a di­reita, continua fazendo parte da NP sujeito e o re­sultado é gramatical. Explorando ainda outras possi-

• bilidades na distribuição de todos em portugues, de

(201)-(203) seriam originàdas:

(207) As crianças ficaram todas molhadas.

(208) As rouEas estão todas limpas,

(209) Aqueles balÕes -a ao todos azuis.

-As sentenças acima sao bastante interessantes.Em

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83 primeiro lugar, podc··riam ser vistas como resultado

da aplicação de POS-Q às estruturas subjacentes respectivas, semelhantesa (201)-(203):

(201) Todas as crianças ficaram molhadas.

(202) Todas as roupas estãó limpas.

(203) Todos aq,ueles balÕes são azuis.

Neste caso, ' estar1amos comprovando que POS-Q fúnciona de modo aproximado em sentenças com verbos intransitivos e com cÓpulas. Veja-se ,que, em (207r (209), o ~uantificador foi destacado de sua NP e colocado logo em seguida ao ve1·Jo de ligação, exa­

tamente como acontece com :intransitivos. Compare:se,

por exemplo:

(176) Os ratos morreram todos.

(177) Os velhos passeiam todos pela praça.

(178) As cartas chegarão todas amanhã.

(207) As crianças ficaram todas molhadas.

(208) As ~upas estão todas limpas.

(209) Aqueles balÕes são todos azuis,

Para confirmar esta primeira hipÓtese, consi..,,

derem-se os seguintes casos:

(210) As crianças ficaram todas meio molhadas.

(211) ~ roupas estão todas bem limpas,

(212) Aqueles balÕes são todos muito azuis.

Observe-se que, nos exemplos acima citados, mais claramente se percebe a relação existente en-

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84 tre o quar' ificador e a NP sujei to plural; e ai também se evidencia a possibilidade de ocorrência de todos, fora da NP a que se liga, em seguida ao verbo de ligação. Assim sendo, até agora tudo pa -rece sustentar a hipÓtese de que o movimento do ommtificador associado a NP 's sujei to no plural

obe_deo.e;ruil às mesmas condiçÕes, para sentenças

laJlll verbos iniransi ti vos e para sentenças em qú.e ' aparece uma copula.

Quando foram examinados os casos em que exis­tiam verbos intransitivos, ficou patente o fato de que, fora de sua NP, a única posição permitida ao quantificador é a de imediatamente seguinte ao ve~ bo. A colocação de todos em qualquer outro lugar na sentença, torna-a. não-gramatical. Vejamos se o mesmo é verdade para exemplos com cÓpulas:

(213)*~ crianças ficaram molhadas todas.

(214ry*~ roupas estão limpas todas.

(215)*AQueles balÕes são azuis todos.7

Mais uma vez se verifica o paralelismo de fun­cionamento de POS-Q, quando estão envolvidos ver -bos intransitivos e dà ligação ; também são incor­retas as sentenças (~13)-(215).

Conseqüentemente, a formulação de POS-Q como em (199), que se tornou necessária para dar conta de gerar apenas sentenças gramaticais com verbos intransitivos, agora servirá também para explicar sentenças com verbos de ligação:

(199) Q X vi z roondição:

1 2 3 4::::;> Z f Adv.Int.

2 3+1 4

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85 É- evidente que a consideração a respeito de ai­

vérbios intensificadores não irá vigorar para cÓ pulas, que se acompanham de frases predicativas. Em (210)-(212), estas frases predicativas apresen­tam um advérbio intensificador relacionado com o adjetivo:

( 210) As criança§!. .ficaram todas meio molha -

(211) As roupas estão todas ~ limpas.

(212) Aqueles balÕes são todos muito azuis,

A situação ferente da que

, das sentenças acima e, portanto,di-

se reconhece em (193)-{195), por e-, xemplo, onde os adverbios intensificadores refe-rem-se aos verbos, intransitivos:

(193)*0s alunos estudaram todos muito,

(194)*Ilurante o espetáculo, as pessoas -riam todas bastante.

(195)*No festival, os corais cantam todos ~·

Assim, para cobrir os casos de movimento de :.t?.:e.:­dos para a direita, em sentenças com verbos in­transitivos e com cÓpulas, EOS-Q seria algo co­mo (216), considerando-se o que discutimos até o momento:

( 216) Q X

1 2

2

3

3+1

z Condição:

Z I Adv.Int.

4 ~

4

Vejamos agora um segundo tipo de problema en -

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lló

volvendo a ocorrência de todos em estruturasooonaÓ­pulas. Considerem-se novamente sentenças como:

(207) ~ crianças ficaram todas molhadas.

( 208) As roupas estão todas limpas.

(209) Aqueles balões são todos azuis.

Ao examinarmos mais atentamente (207)-(209) , vemos que são ambiguas. A priméira leitura que po­der{amos reconhecer para elas é a que as relaciona a (201)-(203), de onde se derivariam através de POS•Q:

(201) Todas as crianças ficaram molhadas.

(207) As crianças ficaram todas molhadas.

( 202) Todas 2.!!. roupas estão limpas.

(208) ~ roupas estão todas limpas.

(203) Todos aqueles ·balÕes são azuis.

(209) Aqueles balÕes são todos azuis.8

Nos três grupos acima, a prim~ira estrutura se aproximaria da subjacente, mostrando o quantifica­dor em sua posição original, como parte do deter -minante das NP's sujeito no plu~al; já a sentença seguinte seria originária da anterior, através da aplicação de POS-Q, regra de movimento do quanti­ficador para a direita, que, nos casos em questão, desloco o todos para fora da NP a que se associa, situando-o logo em seguida ao verbo de ligação. Deste modo, todos, em (207)-(209), está ligado à NP sujeito, significando 'totalidade, conQunto 1 •

Mas há uma segunda leitura para (207)-(209),qus nno está relacionada a (201)-(203). Nessa leitura,

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87 ~ ' todos se aaaocia nao a NP sujeito, mns ao adjetivo

que se :he segue, com o significado de 'inteira-mente, completamente,, Assim, (207)-(209) teriam essencialmente o sentido de:

(217) As crianças ficaram inteiramente molhada~

(218) As roupas estão inteiramente limpas.

(219) Aqueles balÕes são intetramente azuis.

A explicação que os fatos imediatamente apontam ' e que:

A- Todos pode ser gerado ora como parte do de -terminante de NP's plurais, ora como parte de 'frase adjetiva 1 (AP);

• B- A diferença entre os dois casos sera devida à atuação das regras de interpretação semân­tica, que darão uma ou outra leitura, confo~ me este;a o quantificador dominado por NP ou por AP.

Então, por exemplo, quando (207):

(207) ~ ~nças ficaram todas molhadas,

se relaciona a (201):

(201) Todas as crianças fiMram molhadas.

' ter1amos, na estrutura subjacente, algo como:

(220)

~ Q~ ~t

I I Todas as

N

crianças

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88 ' Ja Quando (207) tem a leitura que essencialmente

corresponde a (217):

(217) As crianças ficaram inteiramente molhadas.

a estrutura subjacente seria semelhante a:

( 221)

Adj

I molhadas

' ' A força desta hipotese depende, e claro, de se encontrar motivação independente para propor estru­turas sintáticas em que mdos seja dominado por AP e não por NP. Na verdade, vemos que há evidências para isto.

Em português, a exemplo do que Kayne aponta para o francês, 9 não pode haver dois todos ligados à mes­ma NP. Assim, não podemos ter sentenças como:

(75)*Todos ~meninos tinham ~~o to~os para a escola.

(76)*Todos ~ meninos tinham todos ido para a escola.

(77)*~ meninos tinham todos ido todos para a escola.

-Entretanto, sao gramaticais sentenças em que se verificam duas ocorrências de todos e apenas uma NP:

(2~) Todas as crianças ficaram todas molhadas.

(22l) Todas ~ roupas estão todas limpas.

(224)Todos agueles balÕes são todos azuis.

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89 Se, em (222)-(224), todos só pudesse estar as -

saciado à NP sujeito, as sentenças seriam não-gra maticais, pois, então, terÍamos dois quantificado -

' ' res sob o mesmo nodulo NP, o que ja se comprovou não ser permitido em português (cf. (75)-(77) ),

Assim sendo, em (222)-(224h há um todos relaciona­do ao adjetivo e não à NP sujeito.

Um segundo argumento a favor da hipÓtese acima pode ser encontrado tomando-se por base as seguin -tes sentenças:

(225)*Muitos alunos todos prestaram exame.

(226)*Alguns todos amigos não apareceram.

(227)*Várias pessoas compueceram algumas.

A não-gramaticalidade dos exemplos acima pare­ce comprovar o fato de que, em português, não pode­mos ter mais de um quantificador, quaisquer que eis sejam, associado a uma só NP. Isto poderia ser evi­tado de modo nat~al, se as regras de base permi tissem apenas um

Mas veja-se

' nodulo Q,

que temos dominado por NP. sentenças como:

(228) Algumas crianças ficaram todas molhadas.

(229) várias roupas estão todas limpas.

(230) Muitos daqueles balÕes são toàos azuis.

Nos casos acima 1 o todos não poderia ser domi ~ nado por NP, pois apenas um quantificador será ge rado sob tal nÓdulo e, em (228)-(230),está posição já está _preenchida por algumas, várias e muitos, respectivamente,

~ ' Logo, a conclusao e a de que todos pertEc .~.ce a um o:tu-

tro nÓd~~o. E estamos ' admitindo que este sera AP, ba­

adje-seando-nos no fato de que todos concorda tive que e l'1e segue, ~o qúe constitui

com o

forte evi-

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90 dência de que ambos - Q e Adj - estão dominados pelo mesmo nÓdulo.

Se a explicação aqui dada for correta, ela tem implicações importantes para a ~oria lingüÍsti­ca. Veja-se que estamos formulando a hipÓtese de que todos pode ser gerado como parte do determi ,­nante de NP 1 s plurais, com a significa~ão de 'tota­lidade, conjunto' e também ser dominado por AP,ten­do, então, o sentido aproximado de 'inteiramente , com~letamente'. Ora, se é verdade que as regras

A

semanticas interpretam diferentemente o todos, con-forme esteja ele dominado por NP ou ·por AF, se -

gue-se que a estrutura sintática em que todos o-' A

corre e relevante .para a interpretação semanti-ca. E isto eldza,i;~i!li

se constitui em evidência em favor. da

do. ni vel de 'estrutura profunda', pro -pos~a na 'teoria standard'.

3.5- A Regra POS-g: Caracterização

Nas subseções anteriores, procuramos explorar dados adicionais do português, não paralelos aos que foram examinados por Kayne, em francês, com o objetivo de apontar as caracteristicas da regra de de movimento do q~ntificador para a direita, ten-

A

tando explicar, assim, as ocorrencias de todos em estruturas superficiais portuguesas.

Assim chegamos a POS-Q, caracterizada da se -guinte maneira:

I- Regra de movimento que desloca o quantifica­dor - gerado na estrutura do determinante de NP's plurais - para a direita de sua posição original l

II- De aplicação opcional;

III - PosiçÕes em que POS-Q pode colocar o Q:

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91 A- Dentro do nÓdulo NP relevante, o Q pode

B-

' sempre aparecer a direita do N; , . Fora do nodulo NP relevante, devem ser ob-

servadas algumas condiçÕes. Quando o l:j.

faz parte de uma NP sujei to, considere""E'e'::

a- Com verbos transitivos, não é permiti-,

do o movimento do Q para fOr~ do nodu-lo NP a que se liga;

• b- Com verbos intransitivos, o Q devera seguir imediatamente o verbo, se este não for acompanhado de um advérbio in­

tensificador; c- Com verbos de ligação, o Q deverá apa­

recer logo em seguida ao verbo.

A caracterização acima sempre poderá ser ar.res­cida de novos detalhes, a partir do exame de outros dados. Assim, por exemplo, não se explorou ainda a

- 'd possibilidade de deslocaçao do Q para fora do no u-lo NP relevante, quando a NP é objeto. Atente-se ,

então, para:

(231) Eu li todos ~ livros ontem.

(232) Euli~ livros todos ontem.

(233)*Eu li os livros ontem todos.

Em (231) temos o quantificador em sua posição báSüm:;.la sentença (232) já apresenta este mesmo

' . quantificador a direita, movido atraves de POS-Q, mas ainda fazendo parte da NP objeto a qUe se asso-cia na estrutura subjacente; já (233), em que o

quantificador foi deslocado para fora de sua NP

não é gramatical. Assim sendo, parece não ser pos­s{vel remover o quantificador para fora da NP ob­jeto a que perteneG. Outros exemplos servirão para , confirmar a hipotese estabelecida:

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92 (234) Maria falou a todas as crianças no parque.

(235)*Maria falou às crianças no parque todas.

(236) Aquele homem deu todos os brinquedos para o filho.

(237)*Aquele homem deu os brinquedos para o fi­lho todos.

A não-gramaticalidade de (235) e (237) vem de­monstrar, mais uma vez 1 que, tratando-se de NP's objeto, POS-Q tem sua ação .limitada ao âmbito des­ta mesma NP a que se liga o quantificador.

Como uma tentativa de formalização de POS-Q, ' considerando-se os fatos discutidos, poder1amos su-

gerir:

( 238) X

l

1

Não se tentativa de

Q

2

N

Y- ter have

ir

.. .

... 3 4

3 4+2

z

Condição:

Z ~ Adv.Int •

5

5

' deve esquecer de que est~ e apenas uma apresentação de POS-Q em termos for -

mais. Evidentemente, há ainda outros pontos impor­tantes a serem investigados, para que se determine a adequação real desta apresentação. Sabemos, por exemplo, que, formulada deste modo, a regra é muito poderosa. Estamos, no entanto, supon­do que condiçÕes gerais sobre transformaçÕes -~­jeito es~ecifiàad~ lexicamente, Tensed-S, A-sobre-A,

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93 etc - agiriam sobre ela, impedindo assim a formação de sentenças más. Além disso, também revelaria de ~ talhes significativos a respeito de POS-Q a análise

des.:llltregra:em!Xel.açiíooo ciclo transformacional. Mas es­~~d õdu aspectos que serviriam de motivo para um outro trabalho.

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94 NOTAS

1A sentença (54) é não-gramatical em francês:

(54)*Mes ~ ~ partiront •

• Kayne explica tal fenomeno postulando que

R-TOUS não pode deslocar o quantificador para an -tes de um verbo finito, exatamente o que ocorre em (54). No ente.~to, ainda mesmo dentro da proposta

de Kayne, poderia ser o~tra a explicação para a

não-gramaticalidade de (54). Ele argumenta que R-TOUS só poderá deslocar o quantificador para a

direita, colocando-n fora do nÓdulo NP a que per­tence, ou o resultado será incorreto. Ora, em (54), ~' movido para a direita, continua fazendo par­te da NP a que se associa, Assim sendo, (54) já seria não-gramatical, mesmc não se estabelecendo a restrição de que R-TOUS não pode mover o quanti­ficador para antes de verbos finitos.

2Alguns falantes aceitam a sentença (1A4):

(144)*As crianças comeram todas o bolo.

mas a entonação deverá modificar-se, de alguma for-• ' ma - dando-se enfase, atraves de uma pausa, por e --xemplo, ao elemento todcs. Assim sendo, nao nos in-

teressa discutir este fenômeno, uma vez que estará fora do âmbito de nosso trabalho. ~repomo-nos a estudar uma regra transformacional de movimento, dentro do componente sintático da gramática; portarr to, só será motivo de discussão mais detalhada a -penas o que puder ser explicado por meio de argu menta sintáticos; fatos que necessitarem de refe -rência aos outros _componentes da gramática - se­mântico e fonolÓgi~~ - não serão usados como argu -

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95 -mentes, embora se possa fazer mençao a eles.

3no mesmo modo que (144), as sentenças (148}-(150) são aceitas, se se utiliza , uma entonação especial,

enfatizando-se o quantificador todos:

(144}*~ crianças comeram todas o bolo.

(148)*~ homens gostam todos de futebol.

( 149-)*0s eleitores acreditaram todos no senador.

(150)*~ empreBados obedeciam todos a seu chefe imediato.

Como já se disse antes, tal fato não será consi­

derado um problema a ser resolvido por este traba -lho que tentará usar apenas argumentos sintáticos para decidir entre hipÓteses levantadas.(cf. nota anterior).

4A série (184)-(186) também revela o fen~meno já ci­tado~ com uma entonação especial - usandÓ-se a pa~­Sa, Pot exemplo - as sentenças tornam-se gramati -cais. Assim, por exemplo:

(184')Aquelas ~essoas trabalham aqui, todas.

(185')As crianças dormiam tran~llamente,todas.

(186')0s jogadores chegaram hoje, todos.

Já esclarecemos, no entanto, que tais casos,não serãodiscutidos neste trabalho.

5A gramática tradicional classifica tais elementos como advérbios de intensidade. Veja-se, por exemplo:

~'-"""=~-

Cunha, Celso (1970) Gramática <!2_Português Contem-

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-~~eo, Bernardo Alvares, Belo Horizonte. 369.

6Para maiores detalhes da argumentação de JOhn

Bowers, veja-se:

p.

Bowers, J ohn (1910) "M;ieo.~:L:I'es and Adv:erbs :i,n

English" · M •. I. T., ·ix)édi ti>. J;(epr'oduced by

Indian~ lj'niv:ersit;v I>in~Zuistic Olub'- Dec. 1971.

O objetivo básico do autor é mostrar as simi­laridades existentes entre a estrutura interna de frases adjetivas e adverbiais e a estrutura inter­na de frases nominais. Para o nosso trabalho,por­tanto, a discussão de Bowers tem interesse apenaé

até certo ponto.

7Novamente não vamos considerar a~ui o fato de que sentenças como (213)-(215) são gramaticais e têm o mesmo sentido de (201)-(203):

(201) Todas ~~ crianças ficaram molhadas.

(202) Todas as rou~as estão limpas.

(203) Todos aqueles balÕes são azuis.

se uma pausa, por exemplo, destaca dos do resto da frase. Assim:

o elemento to--(213 1 ) As crianças ficaram molhadas.,..todae"

(214') As roupas estão limpas, todas.

(215') Aqueles balÕes são azuis, todos.

. , Como o fenomeno sera explicado usando-se o

componente fonolÓgico da gramática, não será as­sunto deste trabalho.

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8neve-se apontar aqui 97

que, para alguns falantes ,

esta primeira leitura possivel, para sentenças com

mo (207)-(209), na verdade só é encontrada, se se modifica a entonação, enfatizando:se o quantifica­

dpr de alguma forma, como por exemplo ~em:

(207') ~crianças ficaram, todas, molhadas.

(208') As roupas estão, todas, limpas.

(209') Aqueles balÕes são, todos, azuis~

Neste caso, então, já não seriam relevantes para este trabalho. E deixariam de ser ambÍguas não se originando em (201)-(203):

(201) Todas ~ criansas ficaram molhadas.

(202) Todas~ roupas estão limpas.

(203) Todos aqueles balÕes são azuis.

9cf, Kayne, Richard ( J 969 J !!!'ª T.i'ilXJ,.Sf!JF!)\anunal Cycle !n French Synt~, op. cit, P• 8

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4- Problemas Adicionais

cador ~-

de Posição Português

98 do fluan tifi-

No Capítu~o anterior, exploramos as possibili -dades de movimento do quantificaJ.or todos para a di­

reita1 numa tentativa de caracterizar a regra POS-~ responsável pela geração de sentenças gramaticais portuguesas com o elemento em questão sendo gerado como parte da estrutura do determinante de NP's ~ rais.

Neste capítulo procuraremos discutir algumas questões relacionadas às posiçÕes em que o quantifi­

cador todos pode ocorrer, não abrangidas pela regr~ postQlada para dar conta do deslocamento de todos

parte de NP's plurais. Tentaremos, portanto, exami­nar novas estruturas em que aparece o todos, pr~

do que ele seja gerado sob outros n6dulos diferen tes, baseando~s em mudanças de significação rela -cionadas às posiçÕes diversas, ocupadas pelo quan

tificador em sentenças da língua.

4.1- 1 Todos' Associado~ Adjetivos

Na subseção 3.4 1 do capítulo anterior1 , exami­namos estruturas em que o quantificador aparece as­sociado a NP 1 s sujeito no plural, sendo o verbo das sent~nças uma o6:pula. Assim, a+ente-se novamente para:

(201) Todas ~ crianças ficaram molhadas.

(202) Todas~ rouQas estão limpas.

(203) Todos agueles balões são a'zuis.

Através de POS-Q 1 como ~a possibilidade, de

(201)-(203) seriam derivadas:

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99 (207) ~ crianças ficaram todas molhadas.

(208) As ~oupas estão todas limpas.

(209) Aaueles balÕes são todos azuis.

Depois de considerar mais atentamente as aen-tenças acima, acabamos por reconhecer o fato de que sua significação pode ser outra, associando-se o quantificador ao adjetivo e não à NP sujeito plu­

ral; neste caso, (207)-(209) teriam uma origem di -ferente de (201)-(203), O elemento todos estaria reforçando a noção expressa peJo adjetivo, tendo o sentido de 'inteiramente, completamente•. Na estru­tura subjacente, portanto, este todos não é gerado como parte do determinante de NP 1 s plurais; há ne -cessidade de postular que ele aparecerá sob um ou­tro n6dulo, nestas circunstâncias.

Uma vez que, em (207)-(209) e em outros exem plos equivalentes, o todos está acompanhando o ad -jetivo que se lhe segue, seria plausível propor qu~

então, seja gerado sob AP, isto é, como parte da~

~ adjetiva. E sua posição básica seria justamente como em (207)-(209), isto é, antecedendo o adjetivo; assim, por exemplo:

(221) AP

Q~d· I I J

todas molhadas

~artindo~ee deste pressuposto, será interessanOO

verificar as possibilidades de movimento do todos parte da AP. Agora admitindo que (207)-(209) se aproximam da es­trutura subjacente, em que todos se associa ao ad -jotivo, antecedendo-o, se fosse permitido deslocar de posição, para a direita, este elemento, seriam

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100 derivadas:

(239)*As crianças ficaram molhadas todas.

(240)*As roupas estão limpas todas.

(24l)*Aqueles balÕes são azui§ todos.

As sentenças resultantes são não-gramaticais ; assim sendo, parece que a mudança de posição deste elemento par~ a direita não 6 possível. Vejamosrnr

tros exemplos:

(242) Gosto de casas todas brancas.

(243) Os jardins todos floridos anunciavam a

chegada da primavera.

(244) Com o trabalho, os homens ficaram todos sujos.

Vamos supor, como ponto de partida, que todos , parte de AP, está sujeito às mesmas condições que

o todos, parte de NP, quanto às probabilidades de moyimento. Assim sendo, (242)-(244) seriam a fonte

de:

(245)*Gosto de casas brancas todas,

(246)*0s jardins floridos todos anunciavam a

chegada da primavera.

(247)*Com o trabalho, os homens ficaram sujos todos.

Mas acontece que o resultado de tal variação é

não-gramatical. Portanto, não se justifica a prem~

sa de que os dois todos possam deslocar-se obede -­cendo a restrições id~nticas.

No capítulo anterior, apontamos que é sempre

UNICAMP

illlUOTECA U:.NTRAL

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101 permitido ao ~uantificador gerado sob o nódulo NP

mover-se para a direi ta do N, contimando sob u. domínio de NP. Assim se _justificaria a gramati -calidade, por exemplo,de:

(120) Q§ meninos todos tinham ido para a esco­

la.

(124) Encontrei ~ ~ amigos todos.

(132) ~ ~ amigos todos partiram.

(138) Q§ fatos todos surpreenderam Raul.

(204) ~ crianças todas ficaram molhadas.

As sentenças acima são, tod~s, gramaticais e

exemplos da aplicação de POS-Q.: o quantificador aparece deslocado de sua posição original, à di­reita do N, ainda dentro do nódulo NP a ~ue per­

tence. Se admitimos que o

posição do mesmO jeito

todos gerado sob AP muda de o outro, deveríamos su­al tcração como a que 1Se

~ue

por que seria possível ~a

verifica em (245)-(247):

(245)*Gosto de casas brancas todas.

(246)*0s jardins floridos todos anunciavam a chegada da primavera.

(247)*Com o. trabalho, os homens ficaram sujos

todos.

Nestas sentenças, temos o todos imediatamente à direita do adjetivo, ainda fazendo parte de AP ; no entanto, como já se reconheceu, elas não são

bem formadas. Conclui-se, então, que não é v4lido admitir-se que os dois todos - um, -parte de NP e outro, parte de AP- estão sujeitos às mesmas res-

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102 tríçÕes, quanto às possibilidades de movimento. E

mais uma vez confirma-se a teoria de que o desloca­mento de todos pertencente a AP deve ser p~oibido, para impedir sentenças más como (245)-(247).

Uma outra suposição poderia ser feita, a par tir da análise dos dados até ago .. ca vistos. Estes

dados comprovaram que não é permJ tido mover-se .o

todos, que significa 'inteiramente, completamente', para a direita, dentro do nódulo AP. Mas isto não

~ suficiente para se alegar que tal elemento deve permanecer sempre na mesma posição, sem sofrer qull­quer espécie de mudança. Vamos admitir, por exem­plo, que ele possa destacar-se para fora de AP, pa­

ra a direi ta. Assim:

(243) Os jardins todos floridos anunciavam a

chegada da primavera.

(248) As roupas todas brancas ficaram sujas.

(249) Os gatos todos malhados correram para o abrigo.

(250) A~ueles homens todos pintados gostam de carnaval.

Removendo-se todos da AP em que se encontra obteríamos:

'

(25l)*Os jardins floridos anunciavam todos a chegada da primavera.

(252) As roupas brancas ficaram todas sujas.

(253) Os gatos malhados correram todos para o abrigo.

(254)*A~ueles homens pintados gostam todos de

carnaval.

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103 A série acima á bastante interessante. Em

primeiro lugar, (251)-(254) não parecem derivadas

de (243), (248)-(250), uma vez que, em (251)-(254), a -Astamos em pr9sença do quantificador associado

NP e não a AP. As sentenças (251) e 254) não sao gramaticais, a não ser que se modifique a entona­

ção, enfatizando-se o quantificador. Elas seriam

origin~ias de algo semelhante a:

(255~ Todos ~ jardins floridos anunciavam a chegada da primavera.

(256) Todos agueles homens pintados gostam de carnaval.

Aí temos o quantificador ligado a uma NP plu­ral, traduzindo a i::léia de r totaJ idade, conjpnto l E como as sentenças t~m verbos transitivos, não re­

rá permitido removê-lo para a direita, para fora

de sua NP. Daí a não-gramaticalidade de (251) e (254):

(251)*2§ jardin~ floridos anunciavam todos a chegada da primavera.

(254)*Agueles homens »intados gostam todos de carnaval.

O exemplo (252) se modela como (207):

(252) As roupas brancas :ficara.Jn todas .sujas.

(207) ~ crianças ficaram todas molhadas.

isto é, apresenta ambigüidade 2• Podo ser derivada

de:

(257) Todas ~roupas brancas ficaram sujas.

atravás de POS-Q, que, com verbos de ligação pode

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104 destacar o _quantificador para fora de sua NP, colo­

cando-o imediatamente em seguida ao verbo. Mas (252) tamb6m pode ter outra origem, com o

elemento todos fazendo parte da AP que acompanba o

verbo de ligação. Neste caso, a significaqão de ~ ~ é a d~ 'inteiramente, completamentct.E sua po­sição, om (252), seria a posição original 9 isto é, antecedendo o adjetivo:

(252) As roupas brancas ficaram todas sujas.

Então, (252) não é resultado da aplicação de~ nhuma regra de movimento, uma vez que se aproxima -

ria da estrutura subjacente, com o quantificador~

rado sob o nódulo AP. A sentença (253) é gramatical, mas não seria

derivada de (249):

(253) Os gatos malhados correram todos para o abrigo.

(249) Os gatos todos malhados correram para o

abrigo.

A origem de (253) seria algo como:

(258) Todos ~~tos malhados correram para o abrigo.

Como (258) tem o verbo intransitivo, o quanti­ficador, parte do detorminante da NP sujeito plura~

seria passível de deslocamento para depois deste verbo, pela aplicação de POS-Q. E assim obteríamos

(253). Da análise de (251)-(254):

(25l)*Os jardins floridos anunciavam todos a

chegada da primavera.

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105

(252) As roupas brancas ficaram todas sujas.

(253} Os gatos malhados correram todos para o abrigo.

(254)*Aquelcs homens pintados gostam todos de carnaval.

restou como conclusão, mais uma vez, que todos par­te de AP não parece ser um elemento capaz de sofrer aplicação de qualquer regra de movimento. Somente as sentenças (243) ,(248)-(250), em que todos está antes do adjetivo a que _se associa, são gramaticais,

admitindo a leitura de 'inteiramente, completamen ~

~~,para todos~

(243) Os jardins todos floridos anunciavam a chegada da primavera.

(248) As roupas todas brancas ficaram sujas.

(249) Os gatos todos malhados correram para o

abrigo.

(250) Aqueles homens todos pintados gostam de carnaval.

Então, novamente fica provado que todos gerado soP AP não pode ser movido do posição, para a dire~

ta. Para concluir que este item não muda de lugar

nas sentenças em que aparece, vamos, antes, testar as possibilidades de r;novimen to para a esquerda. To-

memos, por exemplo:

(242) Gosto de casas todas brancas.

(243) Os jardins todos floridos anunciavam a chegada da primavera.

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106 (244) Com o. trabalho, os homens ficaram todos

sujos.

Admitindo o movimento para a esquerda, seriam derivadas:

(259)*Gosto de todas caaas brancas,

(260) Todos os jardins floridos anunciavam a

chegada . da primavera.

(261) Com o trabalho, os homens todos ficaram sujos.

Veja-se que estas são algumas das possíveis sen­

tenças que surgiriam, se fosse permitido o movimen­

to para a esquerda. Acontece, no entanto, que . .ne­

nhuma delas comprova a validade da hip6tcse. Em

primeiro lugar, (259) não 6 gramatical:

(259)~Gosto de todas casas brancas.

E (260)-(261), embora gramaticais t~m outro SEn­

tido, isto é, não são transformações de (243)-(244):

(243) Os jardins todos floridos anunciavam a chegada da primavera.

(260) Todos os jardins floridos anunciavam a chegada da primavera.

(24'4-) Com o trabalho, os homens ficaram todos sujos.

(261) Com o trabalho, os homens todos ficaram sujos.

Em (260)-(261) temos a presença do quantifica -dor parte de NP e não do todos gerado sob AP, cujas

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107 possibilidades de movimento estamos verificando.Re-conhecemos, então, que, na verdade, este todos 6 passível de qualquer espécie de deslocamento.

At~ o momento, sustentamos que a mobilidade

-na o

do quantificador todos s6 se manifesta para a direita, obtendo confirmação de tal hip6tcse através da aná­lise de dados relevantes; o fato de tambóm não se

admitir o movimento de todos, parte de AP, para a esquerda vem, portanto, corroborar a teoria estabe­lecida anteriormente, com base em dados que revelam partic~aridades da distribuição de todos associaêG a NP 1 s.

4.2- 1 Todos 1 Associado § Verbos

Foi através das sentenças (207)-(209) que pela primeira vez reconhecemos que o elemento todos po -deria ser gerado sob AP, estando associado ao adje~

tivo que se lhq segue, significando 'inteiramente,

comnletamentc':

(207) As crianças ficaram todas molhadas,

(208) As roupas estão todas sujas.

(209) Aqueles balÕes são todos azuis.

Os outros exemplos discutidos até agora doou

mentaram, todos, a ocorr~ncia deste item acompa­nhando adjetivos. Mas observem-se os seguintes casos:

(262) Todos Q§ soldados se lavaram no rio.

(263) Todos ~ mo~nos se molhavam com a man -

gueira.

(264) João leu todos Q§ livros ontem.

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108

A série (262)-(264) atesta o aparecimento de

todos, gerado na estrutura do dutorminante de NP's

plurais e poderia servir para demonstrar as possi ~ bilidades de movimento do quantificador, assim como outros exemplos já comentados. Estas sentenças seriam semelhantes a estruturas profundas e dariam origem, por exemplo, a:

(265) Q§ soldados todos se lavaraB no rio.

(266) Q§ meninos todos se molhavam .com a man­gueira.

(267) João leu ~ livros todos ontem.

Nos casos acima temos mais uma vez comprovada a gra.L.1.aticalidade de sentenças em que o deslocamen­

to do quantificador se dá para a direita, dentro do

nódulo NP relevante. Até aí, nenhuma novidade, Mas vejamos:

(268) Os soldados se lavaram todos no rio.

(269) Os meninos se molhavam todos com a man -gueira.

Atravós do exame do casos eqtdvalentes a (268)­( 269), ficou evidente IJ!l.O ffio ·á permitido destacar o

todos; parto do determinante de NP 1 s, para fora de tal nódulo, quando o verbo da sentença é transi:tivo. Somente modificando-se a entonação, com ~nfase no quantificador, é que serão aceitas as frases em q_ue se observa este movimento. Partindo-se, então, do pressuposto de ~ue (268)-(269) são derivadas de

(262)-(263), rcospectivamcnto, elas deveriam ser não­gramaticais.

Em (262)-(263), a reflexivização aplicada a

NP's objeto ~ a responsável, aí, pela presença do

reflexivo ~:

U N ! t .. /-"- •'\Jí f-'

1/.lllliOTHA U:NTUl

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(262) Todos Jl.!! soldados se lavaram no rio ..

(263) Todos ~meninos se molhavam com a man guoira.

109

De qualquer modo, interessa dizer quo os verbos de tais sentenças são transitivos e isto tornaria impossível a ocorr~ncia de todos fora da NP a q_ue

se associa. Se, no entanto, se realizasse esta o­peração, teríamos como resultado o aparecimento de

(268)-(269), conseq_Qentemente não-gramaticais.

Ao contrário do que se esperava, porém, elas aão gramaticais. Para explicar o fenômeno há pelo menos duas 'àlternativas plausíveis.

A primeira delas seria admitir que a reflexivi-zação de N1? 1 s objeto possibilita a do alocação do

quantificador para depois do verbo transitivo. Até o momento ainda não haviam sido examinados exemplos

com reflexivos. Esta 6, portanto, uma hipótese acei.­tável. Torna-se necessário confirmá-la.

Antes de mais nada, entretanto, ser~ interes~

te analisar (268)-(269) em outros detalhes, Para começar, pergunta-se: o elemento que aparece aí é realmente o todos parte do determinante das NP's sujeito? Ou melhor, (268)-(269) têm mesmo origem em (262)-(263)?

(262) Todos .Q.!! soldados se lavaram no rio.

(263) Todos ~meninos se molhavam mangueira.

com

(268) Os soldados se lavaram todos no rio,

(269) Os meninos se molhavam todos com a

gueira.

a

man-

A resposta a estas perguntas constitui a sGgun­da alternativa plausível para dar conta da gramati-

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110 calidade de (268)-(269). Observando-se mais atenta­

mente as duas sentenças, verifica-se que a id6ia que o item todos, a! presente, traduz é a de 'inta­ramcntc, completamente•, isto é, em (268)-(269),nã0 temos o ~uantificador gerado como parte do NP, cuja noção 6 a de 1 totalidadc, conjunto'.3

Vruwos supor quo esta segunda alternativa á mais

adequada para esclarecer os fatos apontados. Se, em

(268)-(269), todos significa 'inteiramente, comp~ t0mentc', estamos diante da ocorrôncia do todos não associado a l~'s, pois, neste caso, ele tem o sen­

tido de .'totalidade, conj.nnto•. Resta-nos, ontão,um

problema: considerando os exemplos citados, conven-cionamos.. que o todos cuja significação é a de

'inteiramente, completamente' seria gerado sob AP

(frase adjetiva), uma. vez que ele sempre aparecia acompanhando adjetivo~. Agora vemos casos em que todos traduz esta mesma noção, mas não so liga a

um adjotivo; como conseqüência, poderá ele ser ge rado sob AF?

Um exame acurado das sentenças que, aí, todos está intonsifican~o pelo verbo, tal qua~ um advérbio;

em e studo revela H

a noçao expressa

(268) Os soldados se lavaram todos no rio.

(269) Os meninos se molhavam gueira.

todos com a man-

V&~os então admitir que o nódulo Adv.Ph.(frase adverbial) serviria para encabeçar este elemento. Veja-se que tal nódulo deverá ser gerado depois da

NP objeto, sob VP, uma vez que parece ser esta a única posição ~ue todos ocupa~ nestas condiçÕes.

Assim, teríamos algo como:

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111 (270)

Adv. Ph.

I Q

I todos

Note-se QUO a sentença (267) comprova o Qesmo:

(267) João leu~ livros todos ontem.

Em primeiro lugar, ela é aobígua. Poderia ter origem em (264), através de.POS-Q; e o todos Que aí ocorre é parte da NP objeto:

(264) João leu todos 2§ livros ontem.

Mas (267) pode ter outro significado, derivando, portauto, de (264); este outro

-nao se

signifi -oado +esulta da interpretação diversa que se dará a todos. A sQntença (267) teria mais ou menos o mesmo sentido de:

(267) João ~ os livros todos ontem.

(271) João ~ os livros inteiramente.

~nesta situação que reconhecemos a existência do um todos relacionado ao verbo da sentença, sig -nificando 'inteiramente, completamente'. VaQos su­por que ele seja gerado sob Adv.Ph., em seguida à NP objeto, para dar conta de casos como os de (26';}­

(269). V~Já~~e QUO é possível justificar Que, em tais sentenças, o todos se relaciona ao verbo, ten­do o sentido de 'inteiramente, completamente', uti­

lizando-e~ um recurso de que já se lançou mão ~nte­riormente. Assim, comparem-se as edries abaixo:

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112

(267) João ~ os livros todos ontem.

(268) Os soldados se lavaram todos no rio.

(269) Os meninos se molhavam todos com a man-guoira.

(272) Alguns livros, João leu todos ontem. 4

(273) Alguns soldados se lavaram todos no rio.

(274) Mui tos meninos se molhavam todos com a r:J.angucira.

A gramaticaliéado de (272)-(273) atesta q_ue, em (267)-(269), a q_ue se relacionam, o item todos não se associa à NP, em uma de suas leituras. Se isto

fosse verdade, isto é, se, em (267)-(269), todos estivesse sempre relacionado a uma NP - objeto, em

(267) e sujeito, en (26~(269) -, (272)-(274) deve­riam ser não-gramaticais, pois, então, teríamos dois

quantificadores associados à mesma NP; e já foi~o­

vado que isto não~ permitido em português, se qui­

sermos ter apenas sentenças boas:

(275)*João leu vários todos os livros ontem. -(276)*llluitos todos Qg soldados se lavaram no

rio.

(277)*Todos ~ meninos algur1s se molhavam com a mangueira.

A s6rie dada acima demonstra, mais uma vez, que não é possível gerar dois quantificadores ligados ao mesmo nódulo NP, em português. Neste caso, tere­mos de admitir q_ue, em (272)-(274), um dos dois quantificadores está associado a uma NP e o outro , o todos, relacionado ao verbo. Em (272), o q_uanti­ficador alguns ~ gerado sob o n6dulo NP objeto:

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113 (272) Alguns livros, João leu todos ontem,

Em (273)-(274), alguns e muitos, respectivamen­te, associam-se à NP sujeito:

(273) Alguns soldados se lavaram todos no rio.

(274) Muitos meninos se molhavam todos com a

mangueira.

E o quantificador todos que aí aparece fica re­lacionado aos verbos das sentenças. Testaremos, a­

gora, as suas possibilidades de deslocamento. Con -siderem-se:

(267) João ~eu os livros todos ontem,

(268) Os soldados se lavaram todos no rio,

(269) Os meninos se molhavam todos o.cm a manguei-

r a.

Estamos supondo que o quantificador, em

(267)-(269), está em sua posição original, isto é, na posição eu que ele apareceria na estrutura pro -funda. Assim, admitindo-se que todos, relacionado

ao verbo, possa movimentar-se para,a direita, de (267)-(269) surgiriam, por exemplo:

(278)*João ~ os livros ontem todos.

(279)~0s soldados se lavaram no rio todos,

(280)*0s meninos se molhavam com a mangueira~

Nenhuma das sentenças é gramatical. Com uma pau.

sa, enfatiz~~do-se o quantificador, elas se tor -nam boas; no entanto, deixa de haver relação entre

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114 as duas s~ries- (267)-(269) e (278)-(280). Com. a pausa, teremos o quantificador associado a NP 1 s:

(281) João 1eu ~ livros ontem, todos.

(282) ~ soldados se lavaram no rio, todos.

(283) ~meninos se molhavam com a mangueira , todos.

Assim coao (278)-(280), muitos outros exe~plos poderiam ser citados. Parece, portanto, que o !Q= .9:.Q..ê. relacionado ao verbo, que estamos admitindo ser

gerado sob Adv.Ph., também não pode mover-se para a direita, do mesmo modo que o todos associado a

adjetivo$, gerado sob AP, cuja significação é id~ tica1 1 intairamente, comJ2letam.ente 1• Resta vo­

rifio~T se para a esquerda a situação 8 diferente. Então, de (267)-(269), poderiam ter origem (284)­(286):

(267) João l!lli os livros todos ontem.

(268) Os soldados se lavaraa todos no rio.

(269) Os meninos se nolhavam todos COTh a man -gueira.

(284) João leu todos os livros ontem.

(285) Os soldados todos se lavaram no rio.

(286) Os meninos todos se molhavam com a man­gueira.

As três sentenças - (284)-(286) - são gramati­cais; nenhuma delas, no entanto, se relaciona com (267)-(269); o todos ~ue aparece e~ (284)-(286)es­tá associado a NP 1 s e não aos verbos. E not~-se ainda que estas são apenas algru11as das sentenças

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115

~ue poderiam surgir, supostaBente, de (267)-(269),

com o movimento de todos para a esquerda. Na ver -dade, nenhuma delas serd derivada através de tal

úperação. Sua origem será diferente:

(264) João leu todos ~ livros ontem.

(262) Todos ~ soldados se lavaram no rio.

(263) Todos os meninos se molhavam com a man­gueira?

Conforme se .pode verificar, estaiJos diante do

todos parte de NP. Então, mais uma voz se comprova

quo todos, gerado sob Adv.Ph., não é passível de qualquer espécie de movimento.

Levando-se em conta a similaridade na distri buição de todos relacionado ao verbo e de todos associado a adjetivos, e ainda considerando-se que

ambos têm o mesmo significado, poderíamos pensar na possibilidade de que são ma s6 elemento, sendo gerados sob um.n6dulo único. Resta decidir ~ue nó­dulo sará este: AP ou Adv.Ph? A questão ser4 re -

solvida através do exame de novos dados, atentan­do-se t~mb~m para certos critérios, tais como,por

exemplo: que descrição será mais econômica, dará conta de maior número de fatos, etc.

4.3- 1 Todos', a2 Singular

As estruturas a que nos referimos até agora a­presentaram, todas, o quantificador no plural. Se­

rd interessante explorar sentenças em que o mesmo elemento aparece no sing~ar.

Veja...,se, por exemplo:

(287) Maria viu ~ ~ ~·

(288) Todo 2 lenço ficou sujo.

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116 (289) 1si2 s leite se estragou.

Para começar, torna-se necessário definir o e­lemento ora em estudo. Nas três sentenças, ocorre acompanhando um nome, como parte do determinante

de uma NP, agora no singular; sua. significação é semelhante à de todos parte de AP;tinteiro'•

Evidentemente, nenhuma frase com o item no singu­

lar será ambígua com relação ao sentido de ~' uma vez que, nestas circunstâncias, ficará sempre excluída a possibilidade de que i2i2 traduza a

noção de 'totalidade, con.junto'. Quanto ao movimento, observe-se:

(290) Maria viu~~ toda.

(291) O lenço ~ ficou sujo.

(292) O leite~ se estragou.

São grauaticais, as sentenças em que !.Q.QQ des­

loca-se para a direi ta, permanecendo ainda como ];BX­

te da NP a que se associa. Note-se, então, que, no singular, é permitido mudar o elemento de posição , ao contrário do que acontece com o todos relaciona­

do a adjetivos e a verbos. Atente-se, em seguida, para;

(293) O lenço ficou todo sujo.

( 294) O lei te se c stragou iQ.i!s.

Os e xcmplos (293)-(294) seriam outras possíveis transformações de (288)-(289), com o destacamento de !ili!.Q. da NP a que s c liga:

(288) 1si2 s lenço ficou sujo.

(289) Todos leite se estragou.

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No entanto, exaLúnando (293)-\294) em

percebe-se Que, em (293), todc -

117 detalhes,

está relacionado ao adjetivo que se lhe segue e, em (294),

ele se relaciona ao verbo. Neste caso, (293)-(294) não se derivari~ de (288)-(289) e teríamos compro­

vado o fato de que o movimento de~ é limitado: só pode deslocar-se para a direita, dentro da NP a

que pertence. Além desta conclusão, os dados acima também demonstram q~e o todos relacionado a adjeti­vos e o todos associado a verbos ~êm singular, com­portando-se como no plural. Assim:

(295)*0 lenço ficou sujo todo.

(296)*0 leite scestragou com o calor~·

As sentenças (295)-(296), não-gramaticais, de­monstram quG não se pode mover i2.fu2., quando este se relaciona a um adjetivo ou a um verbo, exatamente como ocorre com o plural; e a significação é a

mesma nos trOs casos. Podemos, portanto, admitir que estamos diante. de um elemento s6, ora no singu­lar, ora no plural. Resta, ainda, decidir qual será o n6dulÇJ dominante, sob o qual aparecerá o i tem em

questão. Torna-se também necess~rio analisar um pouco

mais 9 jQQQ que documentamos nas sentenças (287)

(289):

(287) Maria viu~ Q ~·

(288) ~ 2 lenço ficou Sujo.

( 289) Todo o lei te se estragou. --Aí, ele parece fazer parte de uma NP: objeto ,

em (287) e sujei to, em (288)-(289). 'rem o sentido de 1 inteiro 1 • E pode mover-se para a direita, den­tro da NP a que pertence. VaQos supor que o n6dulo

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llól AP donine este ~. Para apoiar esta hip6tese, te­

mos o fato de que ele acompanha um nome, modifican­do-o, assim como. faz ur..1 adjetivo. E também admite o

diminutivo, como;

(297) Maria viu a casa todinha.

(298) O lenço _todinho ficou sujo.

(299) O leite todinho se estragou.

Estas são características próprias de adjetivo~, o que vem corroborar a teoria de que :tQ2.Q. , no sin­

gular, ~companhando um nome, seja gerado sob o n6 -dulo AP .E imavez q1e admi times o movimento para a di­

reita, este nódulo AP aparecerá~ na estrutura sub­jacente, ant?s do artigo, como nas sentenças (287)­

(289). Assim:6

(300) NP

~~ Al? Det N

I I ~odo

Considerando-se, no entanto, outros fatos, po -deríamos supor que a posição original em que ocor -rerá 9 elemento ser~ depois do nome, como em (290)­

(292):

(290) Maria viu a casa toda. --(291) O lenço ~ ficou sujo.

(292) Q lei te ~ se estragou.

Como justificativa para esta hipótese, veja-se 1

por oxemplo, q_uo o diminutivo s6 é possível q_\lando todo está no final da NP. Não são gramaticais: -

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ll9 (30l)*Maria viu todinha ~ ~·

(302)*Todinho 2 lenço ficou sujo.

(303)*Todinho 2 leite re estragou.

Além disso, sentenças como (287)~289)não são tão naturais quanto (290)-(292), em que~ aparc­-co numa posiçao normalmente ocupada por adjcti vos:

(287) Maria viu ~ ~ ~·

(288) .E!lo 2 lenço ficou sujo.

(289) Todo o lei te se estragou. --(290) Maria viu ,g ~ toda._

(291) Q. lenço ~ .ficou sujo.

(292) Q. leite todo se os tragou. -Veja-se, por exemplo, para mostrar

(290)-(292), o quantificador ocupa ~a pria de adjetivos, a seguinte série:

(304) Maria viu g. ~ grand-"•

(305) O lenço branco ficou sujo.

( 306) Q. lei te norno BJ estragou.

como, em

posição pr6-

Mas se adotarmos a segunda hip6tese - gorar o n6dulo AP depois do nome -,terinmos de postular uma

regra de movimento de ~ para a esquerda, expli -cando deste modo a gramaticalidade de sentenças co­mo (287)-(289); c isto não será econômico, pois até aqui aindn não surgira nenhuma motivação para uma

regra como esta. Gerar t.odo sob o nódulo AP, fazendo parte de

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120 uma NP, em posição inicial, é, portanto, mais coe -rente eom outros fatos já discutidos, Aldm disto , note-se que existem argumentos para separar todo de -adjetivos como os que ocorrem etl (304)-(306), o que poderia servir para reforçar u teoria de que a de­rivação de tal e~emento, na estrutura profunda, se~

rá como em (300):

(300)

Um primeiro argumento, que comprova a diferença entre 1Q2Q e outros ~djetivos, pode ser levantado a

partir da análise de:

(307) Maria viu a casa que é grande.

(308)*Maria viu a casa que é toda, -('09) O lenço que é branco ficou sujo.

(310)*0 lenço que é ~ ficou sujo,

(311) O leite que estava morno se estragou,

(312)*0lei te que estava ~ se estragou,

As três séries ,de sentenças acima demonstram que todo yomporta-se de modo diferente de outros adjetivos: não se admite a fornação de uma relati­

va com o ~ como ndclão, ao contrário. do que se verifica com ~rande, branco, morno, etc.

Além disto, compare-se:

(289) Maria viu . toda a casa. ---

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121

(313)*Maria viu grande ~ casa.

(288) ~ Q lenço ficou sujo.

(314)*Branco o lenço ficou sujo.

(289) Todo .9. lei te se e e tragou.

(315)*Morno S! lei te se estragou.

Como se observa, não são gramaticais as estru -turas eB quo os adjetivos do tipo de grande, branco,

morno, etc., ocorrem om posição inicial na NP a que se associam. Fatos como estes podem levar a que se considere 19A2. um tipo especial de adjetivo, gerado

sob AP, em posição inicial na NP a que pertcnce;as­sim se exclui a necessidade de postularmos uma re

gra de movimento de ~ para a esquerda. Recapitulando tudo o que foi investigado até o

momento, chegamos à seguinte caracterização~

(316) Há um item todos ~uo acompanha adjetivos, no plural, tendo o sentido de 'inteira·

mente, com]letamente'. Não pode mover-se nem para a direita, nem para a esquerda. Pode assumir a forma singular.

(317) EXiste illü todos, também plural, ~ue acon­panha verbos e traduz a noção de 'intei -ramente, csn:1Rletamente 1 • Não ~ passível de qualquer espécie de movimento. Admito

também a forma singular.

(318) Há uo ~. sempre no singular, ~ue faz parte de NP's e significa 'inteiro'. Po­de mover-se para a direita, apenas den­tro da NP a que pertence.

Há algo em comum entre (316)-(318); poderíamos

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122 tentar gerá-los sop un nódulo único: AP, Era (316) teríamos algo como:?

(319)

Cop. AP

~ Q Adj

I Todo( s)

Para (317) a caracterização seria mais ou menos a seguinte: 8

( 320)

v AP

! I

Todo(s)

Já (318) poderia ser semelhante a9:

(321)

AP N

I Q

I Todo

Veja-se que, em (319) e (320), AP aparece domi­nada por VP, enquanto, eu (321), AP faz parte de NP, isto poderia servir para justificar a diferença de

comportanento entre (316) e (317), de um lado <>

(318), do outro, quanto às possibilidades de movi­manto do item todo(s}, gerado sob AP.

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123 4.4- OutrQS Oaeos ~Posição~ •Todo(s)'

a No capítulo 2 deste trabalho, foi discutida

ordem de aplicação de PASSIVA em relação a POS-Q '

tendo-se chegado à conclusão de que, para dar conta de sentenças graoaticais 9 e apenas estas, PASSIVA

devorá preceder POS-Q. Esta discussão levanta um problema interessante, que será agora retomado.

Assim, observo-se, por .exemplo:

(322) João pintou ~ § casa.

Se admitimos que, truabém co~~' as regras se apl±nriam na ,mesna ordem ~ada, de (322), através de PASSIVA, se ·derivaria:

(323) Toda "-.casa ·foi pintada por João.

Em s~guida, movendo-se todo para a direita, ob­teríamos:

(324) A casa~ foi pintada por João.

Segundo as conclusões a que chcganos a respeito do movimento de .!9..S!..Q. para a direita, (324) seria a única sentença de~ivada do (322), indiretamente a­

través de PASSIVA:

(322) João .pintou ~ ~ ~·

(323) ~ § ~ foi pintada por João.

(324) A casa~ foi pintada por João.

LeTibre-se que verificatlos ser :wes:fvàl o deslocaí­

mcnto de todo para a direita, somente dentro do -ll.mbi to da NP <\ que·plrtence, corao acontece era (324). No entanto, notQ-se que existe também a sentcn-

ça:

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124 (325) A casa .foi ~pintada por João.

Em (325) 1 aparece UB !Q9Q à direita da NP sujei­to; UL1D. vez, no entanto, que reconhecemos não ser pernitido um movimento deste tipo, teremos de admi­

tir ~ue (325) não é derivada de (322); além disso,a interpretação do significado de (325) mostra a di -

ferença entre as duas sentenças em questão:

(322) João pintou toda a casa, ---(325) A casa foi ~ pintada por João.

Em (325), ~associa-se ao adjetivo; como ron­seqü~ncia, aí está oais c,uma prova de que realmente

apenas (324) se derivaria de (322) 1 através de PAS­SIVA e éle movimento de .iQ.9..g_ para a direi ta:

(322) João pintou~§ casa.

(324) A~~ foi pintada por João,

Neste caso, pord'Iil, outra sentença será a ori -gem de (325), Vamos supor ~ue a estTutura subjacen­te a (325) seja semelhante a (326):

(325) A casa foi ~ pintada por João,

(326) João pintou a casa toda. -Então, tenos o ~gerado sob AP, associado ao

verbo, como em (320):

(320) v----c!--AP I Q

I todo(s)

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125 Aplicando-se PASSIVA a (326), o resultado será:

(321)*A casa foi pintada toda por João.

Em primeiro lugar, ·uma sentença como (327) só será gramatical se se modifica a entonação, enfa~i­

zando-se o ~' colocando-o entre pausas, por e­

xemplo. Mas meSL10 se admitíssemos a grama ticalidado

do (327), fica o problema de explicar (325); para derivar (325) de (327), teríamos de mover o todo -para a esquerda, o que ainda não havia sido neces­

sário ató o momento:

(327)*A casa foi pintada ~por João.

(325) A casa f{JJi ~ pintada por João.

A explicação para (325) e eQuivalentes pode -ria estar em se admitir interpretação semântica não apenas ao nivel de estrutura profunda, mas também

em estrutura superficial. Desta forma, problemas

como os de !QQQ, Rressuposicão, ~nfase, etc, se riam resolvidos ao nível de estrutura superficial;o E casos como os de (325) envolveru. ônfase, foco,ctc;

(325) A casa foi~ pinta~ por João.

Podem ser citados muitos outros exemplos en

que fica em questã9 o escopo do quantificador. Ano­te-se, por exemplo:

(328) ~~~está suja.

(329) ! ~~está suja.

(330) A casa está ~ suja.

J~ forarl exploradas sentenças equivalentes a

(328)-(330). De acordo coo as conclusões a que che-

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126 gamos, (330) não teria origcn em (328), uma vez que, em (330) , todo parece associar-se ao adjetivo e não a NP sujeito, como acontece en (328) e (329);na verdade, o que parece estar envolvido é uma questão

de !s22: em (328)-(329) enfatiza-se, como o 1292, o fato de~ casa inteira estar suja; já en (330), o

~reforça a noção expressa pelo adjetivo 's,uja 1•

Assim sendo, apresenta-se, como um fator relevante para a interpretação semântica das sentenças, a po­sição de um elemento na estrutura superficial.

Há ainda outros fatos interessantes, envolvendo todo(s), ligados a estruturas nais conplexas, entre outros fatores. Assim, a título de ilustração 1 atente-se para:

(331) Honcro pintou toda ~ ~ de azul,

(332) Honero piniru a casa~ de azul.

Note-se que, em (332), todo pode associar-se à lTI? 1g ~1 , sendo, portanto, derivada de (331) 1 ~­

trav6s do movimento de todo para a direita. Assimfl -( 33:;>) VP

v NP pp

~. AP Det N

1 \ pintou toda a casa._ de azul

rJias, Gm (332) t todo pode tarabéru relacionar-se :-r2 àPP 'de azul 1 • Entao:

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127

(334) VP

v Nl' AP

~~p /~

Prep. Adj.

I I I pintou a casa toda de azul

Dependendo disto, iremos interpretar ou explicar sentenças como:

(335) A casa ~oi pintada ~ de azul.

(336) A casa foi ~ pintada de azul.

Parece que, quando~ se associa à PP '22. ~'1 não. se pode separá-los ou mesmo deslocá-los de posi­ção. Veja-se que não temos;

(337)*Homero pintou de~ a casa ~

(338)*A casa foi ~ ~ ~ pintada.

A sentença (337), para ser gramatical, não deve­rá ser interpretada como se pretende açima, isto é , com o item todo ligado à PP '~ ~~. Isto prova

que não será possível separar os elementos de '~ ~ ,~',quando '~'e'~~~ estiverem rela­cionados como eo (334):

(334)

v Nl' AP

Q~PP I /'\

toda é<l azul

Já (338) s6 será aceita, colocando-se os elemen­tos em questão entre pausas e mesmo assim não será

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128

natural; este fato vem demonstrar que parece mesQo não ser permitido neo mesmo deslocar de posição

•tod~ ~ ~·, QUando estiverem sob um nódulo ú­nico.

Se vamos aceitar como válida tal hip6tese -não

se pode separar ou mover '~ ~ ~~ , quando seus elementos estão sob o mesmo nódulo AP"'":' , en­tão (335) só será vibta como derivada do algo se­melhante a:

(335) A casa foi pintada ~ ~ ~·

(332a•)Homoro pintou a casa~ ,~ ~·

isto é, (335) seria a PASSIVA de uma estrutura em que '~ ~ ~~ é gorada sob um n6dulo s6, co­

mo ec1 (334):

(334)

v NP AP

~~ toda de azul

E, como conseQÜência também, (336) se relacio­nará a (332 b.):

(336) A casa foi ~ pintada de azul.

(332 b.) Homero pintou~~~ de azul.

isto é, a unn estrutura cano:

(333) VP

v

pintou toda a casa de azul

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129 Mas veja-se ~ue (336) apresenta uu problena j~ apon­tado <;mtes, Aplicando-se PASSIVA a (333), poderim.ws obter:

(339) ~ ~ ~ foi pintada de azul,

A partir de (339), Bovendo-se o~ para a di­reita, teria origem:

(340) A~~ foi pintada de azul,

Mas do (339) não poderiruuos derivar (336), pois, neste caso, o ~ está fora dn ~~ a que pertence, o que verificaraos não ser permitido:

( 336) A casa foi ~ pintada de azul.

Alén disso, GQ (336), todo parece relacionar-se ao adjetivo e não à NP sujeíto. Então, a estrutura

subjacente para (336) deverá sor outra, diferente

de (333). Se admitirtws algo como:

( 341)

v N:P AJ? J?l?

L D p:irrlxm a oasa

I Q

I toda de azul

encontrexenos dificuldades eo explicar a posição de

~em (336), pois, neste caso, ele terá sido movi­do para a esquerda. Como já dissemos antes, fatos

deste tipo, observados em sentenças como (336) e e­quivalentes, poderia@ talvez ser explicados pela te­oria que aceita interpretação semântica ao nível de estrutura superficial, quando estão envolvidas ques­tões cano ~' ênfase, etc.

De qualquer modo, não pretendemos encontrar so-

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luções definitivas para problemas como este. 130

Nosso

objetivo foi apenas apontar alguns casos interessan­tes da ocprrência do elemento todo(s), em sentenças da língua,

4.5- Q. ·~· Indefinido

Nas seções anteriores, comprovamos a exist~ncia

de todos, determinante de NP's e também de todo(s)

relacionaàO a adjetiyos ou verbos. Mas veja-se que temos sentenças como:

(342) Toda criança precisa de pais,

(343) ~homem gosta de algum esporte,

Nos dois exemplos acima, verifica-se a ocorrên­cia de um ~ ainda não identificado anteriormenta

faz parte de uma NP, tem uma significação aproxima-

da de 'Qualquer' e

ção que este ~

não aparece com o artigo. A no­traduz é genérica, indefinida,e,

na verdade, ele se comporta como o artigo. Veja-se:

(344)~ Criança ~ precisa de pais.

(345)*Homem todo gosta de algum esporte,

Como se documenta, o todo com sentido de 'qual~

quer' não pode mover-se para a direita, nem mes~o dent+o da NP de que faz parte, exatamente como o ar--tigo. Pode-se mesmo afirmar que a este ~ nao se aplica nenhuma regra de moviQento. Assim, tanbém não são gramaticais:

(346)* Criança precisa ~ de pais,

(347)*Criança precisa de pais~·

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131

(348)*Homem gosta~ de algUL1 esporte.

(349)*Homem gosta de algum esporte ~.

E do mesmo modo que as séries de sentenças aei ~a, nuitos outros exemplos podem ser citados, para

confirmar a teoria de que 19.ª-Q. de sentido genérj_oo

não é passível de qualquer espécie de movimento. Aí temos, então, fuais um todo , que desta vez será ge -rado sob o nódulo Det, ocupando a mesma posição. do

N

artigo, com o qual nao pode ·oooaorrer. Veja-se:

(342) ~ criança precisa de pais.

(350)*~ ~ criança precisa de pais.

(343) Todo homem gosta de algum esporte. -(351)*~ ~homem gosta de algum esporte.

Note-se que as sentenças (350)-(351) não são gra­

maticais; mesmo quo fossem, no entanto, o ~ que nelas aparece não é o mesmo que está em (342)-(343). Assim sendo, para este e~emento teríamos na estrutu­ra subjacente algc como:

(352) NP

~ Det N

I Q

I ~o do

~ interessante observar que, quando este todo aparece em NP's objeto, a sentença só será gramati­

cal se um elemento qualquer acompanhar tais NP's indefinidas, passando a determiná-las. Atente-se Pa-

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r a;

(353)*João viu ~ ~·

(354) João viu~~ QUO encontrou à venda.

A frase (353) não é gramatical c nela se verifi­ca a ocorrência de .!Q.9..2. indefinido na NP objeto; já

(l54), QUO apresenta uma relativa acompanhando a NP

objeto, cujo Det é este 1gQQ , é gramatical.

Como (353)-(354) se modelam muitas outras sen~n­ças; parece, portanto, que pode~os realmente aceitar a hipótese de que existe um ~' com a significação de 'qualquer', gerado sob o nódulo Det e ao qual não se deverá aplicar nenhum.a regra de movimentot WJ.a

vez que sua posição é fixa, antecedendo o none que determina. Assim:

(352)

Outro fato interessante a ser apontado com rela­ção a este iten é que ele não admite pl~al, somente existindo na forma singular, Observe-se:

(355)*Todas crianças precisam de pais.

(356)*Todos homens gostam de algum esporte.

As sentenças acima não são gramaticais e seriaQ consideradas o plural correspondente a ( 342)-(343), respectivanente~

(342) ~ criança precisa de pais.

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133

(343) ~homem gosta de algum esporte.

Comprova-se, então, o que se disse anteriormen ·­te: .:Jill.Q.Q. indefinido não tem plural. Note-se, ainda, que já~ se p:de afirmar uma semelhança senântica bas

tante grande entre as sentenças com. o todo indefi -nido e aquelas que apresentam a ocorr~ncia do quan­

tificador todos, parte do determinante de NP's plu­rais, significando 'totalidade, conjunto'. Compare-

se:

(342) Toda criança precisa de pais.

(357) Todas~ crianças precisam de pais.

(343) ~homem gosta de algum esporte.

(358) Todos ~ homens gostrun de algum esporte.

Se, por um lado, será justificável mostrar a se­melhança semântica entre os dois elementos, por ou -tro lndo não se deve deixar de apontar as várias di­

fercnç~s que manifestam quanto ao comportamento sin­tático. Assim, por exemplo, enquanto o todos deter -minante de NP 1 s plurais vem sempre acompanhado de artigo (ou outro elemento quo ocupe a meswa pos~ção) e pode deslocar-se para a direita, através de POS-Q, o ,1Q-ª.Q. indefinido mmca aparece com o artigo, está sempr~ no singular e não pode mover-se na sentença.

Então:

(359) Todos ~ ~ vizinhos viajaram.

(360)*Todos ~vizinhos viajaram,

{361) Q§ ~vizinhos todos viajaram.

(362) Os ~ vizinhos viajar~ todos.

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134 ( 363) !9.QQ anioal dorow.

(364)*!9.QQ Q animal dorme.

(365)*Aniroal ~ doroe,

(366)*Animal dorme ~·

Os exemplos (359)-(360) mostram q_ue todos deter­minante de NP's plurais deve vir acompanhado de ar~ tigo; já com o~ indefinido a situação é inversa; a presença do artigo torna a sentença não-gramatica~

como se pode comprovar em (363)-(364), Os casos 06~­(362) demonstram a mobilidade do elm:wnto todos,en­quanto (365)-(366) atesta~ que todo com a significa--ção de 'qualquer' deve permanec«ram posição fixa,não se deslocando para a direita. Aí estão, portanto , alguns arguoentos que docuocntam o fato de que, ape­

sar dn scnolhança semântica apontada e~ sentenças com todos e ~' ambos provavelmente serão gerados difcr.entemente, sob nódulos distintos*.

Depois de analisar os fatos acioa, pensamos ter detorninado os principais tópicos referentes à dis­tribuição de todo(s) em português. Como já declara­mos antes, não foi nosso objetivo explicar todos os casos de novinento de todo(s), mas tão somente os quo envolviam o quantificador no plural, parte do determinante do NP's, cuja noção ~ a de 'totalidade, conjunto'. Neste capitulo pretendemos apenas chaoar a atenção para outTos fatos interessantes relaciona­dos ao itchl todo(s), não nais gerado como parte de N?'s plurais e con novas acepções. Desta forma, a­

credi ta.t1os ter oxaoinado uma sárie de dados relevan­tes, que .. poderão servir como ponto de partida para pesquisas futuras.

A análise mais acurada dos problemas aqui levan­tados, bem como a utilização de fatos adicionais da

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135 língua, envolvendo o elemento en estudo, poderá levar

a conclusões bastante diferentes daquelas que sugeri­

mos neste trabalho.

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136 NOTAS

1cf. p. 82-90, deste trabalho.

2Dcv0-se apontar aqui o fato dG que~ para alguns fa­lantes, a sentença (252):

(252) As roupas brancas ficaram todas sujas.

não é ambígua, una vez que tais falantes não consi·~

deram que, neste exemplo, todos se relacione à NP sujuito plvxal. Souente COD juma pausa, dando-se ên­fase ao q1,1.antificador, ele terá a- noÇão-oo 1 totalidade, conjunto':

(252 1 ) As roupas brancas ficaram, todas, sujas.

3Algure falantes consideram ambíguas as fraaes(268)­(269):

(268) Os soldados se lavarao todos no rio.

(269) Os neninos se molhavam gucira.

todos cou a man -

:Para e:Lea,-~ ianto pctle significar 1 totalidadeJ .2.211 junto', quanto 'inteiramente, completamente', en tais sentenças. Para explicar a gramaticalidade dos exemplos com o quantificador associado às NP's su~­to, adota-se a teoria de que a entonação deve vari~ atTavés de um recurso qualquer, tal coMo a pausa,por exew:plo, depois do verbo. Isto elimina a necessidade do encontrar uma outra justificativa para os q_ue a­ceitam (268)-(269) com o todos significando 1 totali­~,conjunto1.

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137 4Há falantes ~ue consideraQ (272) uma sentença i~co­mum e não a usariam, embora consigam entendê-la :

(272)? Alguus livros, João leu todos ontem.

O mesmo acontece com:

(272 1 )? João leu alguns livros todos ontem.

De qualquer modo, no entanto, aceitam a sentença (267) como ambígua e é isto que nos interessa, pois

então teremos comprovado a existência de UD todos a­companhando o verbo;

(267) João leu os livros todos ontem,

" :>com relação a estas estruturas, o que nos interessa

é essencialmente a constituição da NP sujei to plur?].:

em seu determinante, aparece o quantificador todos:

(262) Todos ~ soldados se lavaram no rio.

(263) Todos 2§ meninos se molhavam com a manguei­ra.

EstaLJ.os deixando de lado fatos como, por exemplo, a

reflexivi.,ação daNPobjefuem (262)-(263), não-relevan­tes no momento. Sabemos 1 assim,que a série dada não representa exatamente nenhUiila estrutura profilllda.Para

a discussão presente, é significativa ape~1as a posi-N

çao do quantificador na NP sujeito plural.

6o ncsmo poderíawos dizer, se a estrutura fosse, além

do (300) , algo como:

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ou:

( 300)

(A) N.P

~ Ilot N

~

1 Art

Q

I Todo

138

N

(B) N.P

~ Al? N.P

I A Q Ilet N

I Todo

?Note-se qu~ esta caracterização já havia sido fei­ta eo (221):

(221) Al?

~ Q Ad · I I J

Todas molhadas

Em (319) apenas se acrescentaram alg~s clemen -tos para tornar nais completa a descrição:

(319)

Co~~ Q Adj

I Todo(s)

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139 8Do mesmo modo, (320) é a roformulação do (270):

(270) VP ( 320) ~ v~. Ph, V (NP) AP

I I Q Q

I Todo(s) ~ódl(e)

Com (320) estamos eliminando a necessidade de se

postular um outro nódulo - Adv.Ph. - que domine o

quantificador. Al~m disso, colocamos a NP objeto co­mo opcional, para cobrir casos como os de:

a- Cou a chegada da priuavora, as flores rarn todas.

abri-

9outras caracterizações para (321) poderiam ser:

(A) NP

/'---.-Dot N

AP~t I Q

I

(B~ NP

~NP I~ Q Dot N

I Todo

Todo

10Para maiores detalhes a respeito, veja-se:

Chonsky, Noam (1971) "Deep Structure, Surfaco Structure and Senantic In+.11ruretation 11 " in~

Steinbcrg, D.D.andJakobovits, L.A.,eds.Semantics; an interdisciplinary reader in Philosophy , Linguistics and Psychology. Canbridge Univorsity Press, Cambridge, Mass. P, 183-236

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140 11Veja-se que a estrutura subjacente pa.raaNP objeto de (331):

(331) Homero pintou~~~ de azul.

tanb6m poderia ser:

(A) (B) NP

~ ÃN AP cArt

I Q I

Toda a casa

12Not~-sc que a estrutura subjacente para a VP de

(332):

(332) Homero pintou a casa~ Q&~.

que poderia ser como (334):

(334)

é, em.dltima an~Jisc, aquela que determinamos em

(320):

(320) VP

v (NP) AP !

~ Toda

pois, a!, o quantificador é gorado sob o n6dulo AE, indiretamente dominado por VP.

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141 CONCLUSÃO

~artindo da análise da distribuição do ~ (fem.toutes), em francês, feita por Richard Kayne,

em uma das seções de sua dissertação - ~

Transformational Cycle in French Syntax -, foi ob­jeto de estudo deste trabalho o elemento todos, quantificador correspondente em português.

Em primeiro lugar, consideranos relevante ex por a proposta de Kayne em seus detalhes mais sig­

nificativos, uma vez que tal proposta seria poste­riornente retomada nuwa tentativa de explicar a

ocorrência de todos em estruturas superficiaispor­tuguesas. Assim sendo, no capítulo 1 deste traba -lho, foi feita a apresentação dos argunentos pos -

tulados por Kayne para confirmar sua teoria. Obs~ vando uma s~rie de fatos da sintaxe francesa, en.­volvendo .:!:.9.ll.§., com o objetivo de explicar sua_ .dis­tribuição, ele estabelece uma hip6tese Que pode

ser resumida em dois itens básicos:

12-~ será gerado como parte da estrutura

do determinante de NP 1 s pluraisl

2Q- Sua relativa liberdade de ocorrência e~

sentenças da língua será explicada pela aplicação

opciona~ do duas regras transfornacionais de o~

vioento: A- R-TOUS ("rightward •tous 1-l!lovenent"), CJ.Ue

daria conta dos casos em que o quantificadoroo move para a direita das NP's sujeito a que per­tence~

B- .0.-;(JJ01JS("leftward •tous 1-novcnent"), CJ.Ue se­ria responsável pela geração de sentenças

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142 gt'amaticais francesas em que tous sei move para. -a esquerda da N~ Objeto plüral a que se associa.

Con o objetivo de verificar a possível adequa -ção da hipótese de Kayne para o português, procura­nos, eu seguida, no capítulo 2, ostubêlecer um pa -ralolo entro tous/todos. E depois de oxploll~ os ca.­

sos relevantes, chegamos a duas conclusões :em por­tuguôs, o quantificador todos pode taobéo mudar de

posição, deslocando-se para a direita de sua NP, a­

través de ULJ.a regra de novioento senelhante a

R-TOUS e que convencionawos denominar POSPOSIÇÃO TIE QUANTH'ICAroR (POS-Q); não ,encontramos, no entan­

to, notivação alguga para postular una regra como -L-TOUS em português, una vez que todos nao parece oovioentar-se para a esquerda de sua posição origi­

nal.

Já no capítulo 3, conprovawos a necessidade de

adaptar a proposta de Kayne, refinando-a en certos aspectos, para que se pudesse dar cobertura a fatos do português envolvendo todos, não correspondentes aos comentados na língua francesa. .Ereocupa~o-nos,

aSsin, on explorar dados adicionais do português, para chegar a ~a tentativa de forBalização de POS-Q, apontando suas principais características,de modo a dar conta da distribuição de todos, associa­

do a NP's plurais, em sentenças da língua. No capítulo 4, forahl ainda considerados outros

pontos referentes ao elenonto em estudo, mostrando­se diferenças sendnticas relacionadas a diferenças de cor.1portancnto sintático de todos. Em função da análise do tais pontos, termina:c.1os por apresentar uua sugestão quanto às possibilidade$ do derivação de to~o(s} em estruturas subjacentes, Assim, chega-

DOS a:

I- O quantificador todos poderá ser · gerado co~ no parte da estrutura do dcterninante de NP 1 s plu-

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143 r ais, significando, então, 'totalidade 1 conjnnto'. Adotando tal posição, estarenos seguindo a hipóte~

so de Kayne. Para este ~tem , teríanos, por exen­plo, una estrutura co~o:

~N Q Art 1 I I

Todos os meninos

Note-se que tal elemento deverá estar sempre no

plural, aconpanhado de um determinante qualquer,

do tipo do artigo. QuanQo o quantificador é assio gerado, podo des-

locar-se para a direita, seguindo certas restri ções. Para explicar e1,3te movimento, postulanos a

regra POS-Q, quej par~ que sejan derivadas apenas sentenças corretas do portuguOs, tomaria a seguin-

te forma:

X Q y

1 2

1 3

haver ir

vi

Cop •

• • • • • •

4

4 + 2

- z Condição:

Z I Adv.Int.

5

-Cuwpre ressaltar, no entanto, quo nao foi nos-so objetivo esgotar todas as possibilidades de a­nálise da distribuição .do ~uantificaél.or elti por­tuguês; deixamos do lado, por exemplo, as discus -sões a respeito de condiçÕes gerais sobre trans-

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144 fornações 1 tais como Tense.d..,S , Sujei t<?, especifica­~ loxice,nente, A-sobro-A, etc. Verificar d-e que

maneira POS-Q 8e comporta, com relação a estes princípios gerais, será um trabalho interessante,

que poderá levar, inclua i ve, a ur:1a reformulação da

regra que postulamos.

II- O i tem todo( s'l pode aparecer ta.c1bém acom -

panhando adjetivos. Sua significação, neste oaso,é a de 'inteiramente, co~pletaQente 1 • Como una su­

gestão, levantamos a hip6tese de que ele seja ge~

do en portu~uôs sob o nódulo AP, por sua vez dooi nado por VP. Assin, teríanos a seguinte caracteri -

~ zaçao:

VP -----------Cop AP

I Q-----Adj I I

estar todo(s) sujo(s)

Note-se que este eleraento to.m tambéiJ. a forna no

singular, o que não acontece con o quantificador parte do determinante de :NP's, que deverá estar' seru.pre no plural, para traduzir a noção de 1 to ta--lidac1c, conjunto'. Alétl disto, com.provaruos o fa-

to de ~ue este todo(s) gorado sob AP, aconpanhando adjetivos, não sofro a aplicação de qualquer regra de :Lloviocn to, quer para a direi ta, quer para a es­querda, ?evcndo permanecer om sua posição fixa, na

sentença.

III- Todo(s) pode tac1bé@ relacionar-se a veP­bos, significando 'inteirawonte, completanente 1 •

Sugerimos que ele seja gorado sob AP, por sua vez pertencente ao nódulo VP, co:rao na estrutura ~t:e:

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145 VP

v

I (Nl') AP

I Q

I ler todo(s)

Observe-se a semelhança entre esta estrutura e a que postulamos em Ir, para o todo(s) que acompa­

nha adjetivos. Tal semelhança encontra justifica ~

tiva no fato de q_ue aLJ.b'Os, além de ter a nosoa

significação - 'inteiramente, complet~~onte'-,coD­

portml-se de mo~o igual, quanto às possibilidades do deslocamento: não podem mover-se do sua posição inicial, nem para a esquerda, nem para a direita.

Foram encontrados alguns problemas, adoitindo­se como correta a caracterização acioa,para expli­car a distribuição do elenento em alguoas estrutu­ras da lÍngua. Numa tentativa do solucionar tais

questões, sugerioos a hip6toso de que a interpre­tação scnântica de sentenças com quantificadores

soja foi ta não apenas na estrutura profunda, Das truab~m na superficial, adotando-se, então, o pon-to de vista de Chomsky em seu trabalho 11 Deep Structuro, Surface Structure arid :S.emantic Intorpretation11 •

IV- Há uo ~' cuja forma é sehlpre singular e quo apa+ece fazendo parte de lTI? 1 s. Ton como sig­nificação: 'inteiro'. PostulaDos , cor.to hipQtese,

quo truabé~~ seja gorado sob AP, desta forma:

J\1'..----JR J I

Todo o livro

Ele pode novor-se para a dir8itu, apenas den­tro da NP a que pertence. Note-se que, neste case,

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146 o n6dulo AP 6 dominado por NP e não por VP, como em II e III. Assim se justificariam, possivelmcn -te, as diferenças de comportagento entre este i tem

e os que apontamos em II e III, tamb6m gerados sob AP.

v~ Existe ainda um~ que faz parte do NP's. Tnnbém adnite aponas a forma singulare Sua signi fi cação é a de 1 qualquer'. Seria gerado como em:

NP

Dc~N I Q

I Todo homem

Veja-se que ele ocupa a uosna posição do arti­go ou de outros determinantes do tipo, com os qu~

não pode, portantqooocorrQr. Como consoqüôncia,não muda de lugar na sentença.

Do tudo o ,quo foi visto acima, ressaltamos

duas cJnclusões maie importantes:

A- Constatamos que, eg português, todos, parte da estrutura do determinante de NP's plurais, no -vc-sc para a direita da posição en que aparece

na estrutura subjacente. Pretendendo dar conta de sentenças em. quo se dá este deslocamento, postu­lamos UJ.Lla regra do movimento do quantificador para a direita, a que chanamos POS-Q e que procuramos

caracterizar.

B- Depois da análise de outros fatos relevan­tes, envolvendo o item em quostão, acabamos por recorilioccr o relacionamento estreito entre con­

portancnto sintático c interpretação semântica de todo(s). E isto poderia ser visto cono un argumen­to em favor da existência do. nivcl de .'estru.tura proftmdd,proposta na "·t.eord.n, standard'.

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