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Apresentamos o pôster idealizado pelo nosso artista, o jovem irmão Peter Le Duoc sdb.

A nova Cruz missionária salesiana recorda-nos que, como Salesianos de Dom Bosco eFamília Salesiana, somos chamados a ser missionários dos jovens. Nossos corações sãomodelados segundo o Bom Pastor, o nosso Senhor Jesus Cristo, que é a fonte da nossaalegria, da nossa fé, da nossa esperança e do nosso amor.

A luz radiante dourada que desce do alto e que continua como um suave fluxo de água ao fundo significa a presença do Espírito Santo, que orienta e ilumina constan-temente o missionário salesiano ao longo da sua vida de serviço. O fluir tranquilo daágua sussurra suavemente a vida, indicando-nos a metodologia do Primeiro Anúncio,marcada pela paciência serena, discreta e respeitosa, que ao mesmo tempo comunica a Boa-Notícia.

A fotomontagem sobreposta de jovens dos nossos centros salesianos de formaçãoprofissional representa o nosso campo de trabalho nos países asiáticos, numa sociedade, às vezes, marcada pelo contraste entre riqueza e pobreza. Encontramos na Ásia jovens de diferentes pertenças culturais, religiosas e econômicas. Com paciência,gentileza e doçura nós os acompanhamos e instruímos na formação ao trabalho, para crescerem como honestos cidadãos e bons cristãos ou filhos de uma fé diferente,que contribuem para a sociedade – experimentando a verdadeira alegria nesta vida e na futura.

O itinerário visual do pôster leva-nos a concluir com uma foto de Dom Bosco sentadoem seu aposento ao lado de um mapa-múndi que nos recorda os sonhos missionáriosdo nosso pai. Ele convida os seus filhos a irem ao mundo todo, levando a Boa-Notícia aos jovens. Através da nossa presença fraterna e das ofertas educativo-pastorais criamosambientes de família e promovemos a digna inserção dos jovens na sociedade. Nesse ambiente, são comunicados com “palavrinhas ao ouvido” sussurros de alegria, fé, esperança e amor; ou melhor, o sussurro do Evangelho.

EXPLICAÇÃO DO PÔSTERDO DIA MISSIONÁRIO SALESIANO 2018:

SUSSURRANDO O EVANGELHO

Dia Missionário Salesiano 2018

ÁSIA

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ÍNDICE

Sussurrando a Boa-Notícia. Explicação do Pôster da DMS 2018.................................................. 2Índice ................................................................................................................................................................................................ 3Carta do Reitor-Mor ............................................................................................................................................................. 4Carta do Conselheiro para as Missões Salesianas..................................................................................... 5Dia Missionário Salesiano: Uma tradição que continua ...................................................................... 6Tema Geral para este sexênio: o Primeiro Anúncio ................................................................................. 8Sussurro de brisa suave.................................................................................................................................................... 11Sussurrando o Evangelho na Ásia Sul.................................................................................................................. 14Salesianos na Ásia (Índia e China) ........................................................................................................................... 18O Método Missionário do Padre de Nobili ...................................................................................................... 21Formação Profissional Salesiana na Ásia........................................................................................................... 25

Dom Bosco........................................................................................................................................................................... 25Quadro Referencial ....................................................................................................................................................... 26Índia e ‘Don Bosco Tech’ na Ásia Sul ................................................................................................................ 27Formação Profissional Salesiana na Ásia Leste .................................................................................... 29A recente presença no Laos ................................................................................................................................. 31

Três Salesianos missionários em “mangas de camisa” na Formação Profissional ......... 33Roberto Panetto (Camboja) .................................................................................................................................. 33Andrew Tran (Mongólia) .......................................................................................................................................... 36Luigi Parolin (Filipinas)............................................................................................................................................... 37

Ecclesia in Asia: Santos...................................................................................................................................................... 40São Kuriakose Elia Chamara ......................................................................................................................................... 42Projeto DMS 2018.................................................................................................................................................................. 43Oração ............................................................................................................................................................................................ 44

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Dia Missionário Salesiano 2018

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ussurrando o Evangelho na Ásia” é tão eloquente e ao mesmo tempo tão salesiano. É um tema que fala do que somos e também do que já fazemos entre os jovens do emo-cionante continente asiático. É um argumento que, ao mesmo tempo, indica claramente

o caminho a seguir.O nome salesiano do sussurro evangélico é, antes de tudo, a presença educativa salesiana.

Mesmo sem dizer uma palavra, a nossa presença gentil, inteligente e crente entre os jovensmais pobres já é um anúncio muito incisivo. A nossa presença como irmãos, pais e amigos nãoé neutra: leva, mesmo com a discrição pedida pela Ásia, uma mensagem de amizade educativa.

Através da discreta presença educativa, conseguimos dar ainda mais clareza e mais lumi-nosidade a muitos dos belos valores que os povos asiáticos conservam e transmitem. E, entreesses valores, gosto de evidenciar os da paz e do trabalho. Como Salesianos, vivemos e traba-lhamos entre muitos povos da Ásia que são sobretudo pacíficos e operosos. O Sistema Pre-ventivo de Dom Bosco ao encontrar esses valores dá-lhes ainda mais profundidade e beleza.

A presença educativa salesiana “sussurra o Evangelho”, também mediante a construção deespaços enriquecidos pela cultura do encontro, da reciprocidade e da solidariedade. Com DomBosco, muitos jovens asiáticos descobrem e forjam as relações humanas, que são ainda maisricas e mais duradouras. Os nossos jovens nas casas salesianas comem juntos, estudam juntose trabalham juntos. Na diversidade cultural e religiosa, criam ligações profundas e duradourasde verdadeira amizade. Sentem-se em casa. Cada um dos nossos ambientes educativos é cha-mado a “sussurrar” o espírito familiar que o nosso pai Dom Bosco nos deixou. Nesses ambientesde encontro humanizador, a mulher também é respeitada, valorizada, promovida.

Enfim, esse sussurro é educativo e evangélico, porque não inibe os jovens, nem os faz envelhecer prematuramente pela indiferença. Ao contrário, desperta-os, leva-os a sair, coloca-os em caminho. Aceitando esse chamado, o jovem gradualmente e com convicção

toma a própria vida em suas mãos,sente-se interpelado, descobre que a suavida é uma vocação.

Caros irmãos e amigos, neste ano coloquemos a atenção missionária noEvangelho e na sua discreta e frutuosadifusão nas profundezas dos jovens quevivem na Ásia. A Família Salesiana domundo todo possa redescobrir a sua pai-xão apostólica em cada contexto em quevive e trabalha.

S“CARTA DOREITOR-MOR 11 de novembro de 2017

Padre Ángel Fernández Artime, SDB Reitor-Mor

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omo em todos os anos, o Dia Missionário Salesiano é uma ocasião de não se perder.Acontece algumas vezes que alguns irmãos, em algumas Inspetorias, ainda não sabemno fim do ano qual o tema do Dia Missionário Salesiano. Eis o principal desafio,

lançado primeiramente a cada Delegado Inspetorial para a Animação Missionária: que a “boa notícia” deste Dia Missionário chegue a todos, a cada irmão, a cada casa salesiana, a cada leigo e jovem.

É preciso, então, “fazer barulho” com o Dia Missionário Salesiano,para que não se extinga o ardor missionário, para que ninguém nos rou-be a paixão apostólica!

Como os demais Dias Missionários Salesianos deste sexênio, o fiocondutor continua a ser o do Primeiro Anúncio. Desta vez focalizamoso continente asiático, e em especial as nossas presenças de formaçãotécnica e profissional dos jovens. É aqui que vemos uma ligação muitointeressante entre certo “rumor” externo ordinário normal, vinculadoaos nossos centros de formação técnica e ao trabalho, com a lenta equase silenciosa penetração do Evangelho no coração das diversas culturas. Estes centros, queestão muitas vezes em meio a rumorosas cidades, convertem-se igualmente em oásis onde o“pão cotidiano” são os valores evangélicos.

Peço para este Dia Missionário Salesiano 2018, especialmente ao Delegado para a Animação Missionária e sua equipe que, à luz deste tema eloquente e provocador:• estudem a partir das orientações oferecidas em “Formação Missionária dos SDB” o modo

de dar início a itinerários que cultivem e treinem cada Salesiano – em especial os da for-mação inicial – como especialista em “sussurrar o Evangelho” entre os jovens;

• aproveitem esta ocasião para tornar conhecida a Ásia como uma vastíssima terra de missãoque ainda está à espera da disponibilidade missionária ad gentes de muitos;

• tornem conhecidos e divulguem bons exemplos de membros da Família Salesiana, não necessariamente aqueles dos quais está em curso a causa de canonização, que souberam viver com criatividade, salesianidade e coragem o mandato evangélico de anunciar a Boa-Notícia, sobretudo aos jovens mais pobres.

Maria, Imaculada e Auxiliadora, acolheu com fé o anúncio que o Arcanjo Gabriel lhe sus-surrou em sua casa de Nazaré. Por sua vez, Ela sussurrou uma necessidade urgente aos ouvidosde seu Filho: “não têm mais vinho”. Ela mesma abraçou a preciosa herança que lhe foi sussur-rada: “eis o teu filho”. E Ela, após a Assunção, não deixa de sussurrar junto ao Deus-Amor umaa uma as necessidades dos “degredados filhos de Eva”. Que Ela interceda e faça de cada filho e filha de Dom Bosco e de cada casa salesiana um sussurro evangélico em todos os cantos do mundo, para que os jovens tenham vida, e vida em abundância!

Padre Guillermo Basañes, SDBConselheiro para as Missões

CARTA DO CONSELHEIROPARA AS MISSÕES SALESIANAS

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Uma tradição que continuaO que significa?Desde 1926 é celebrado na Igreja universal,o Domingo Missionário Mundial. A partirde 1988 é também proposto um tema mis-sionário à Congregação Salesiana. As co-munidades salesianas têm assim a oportuni-dade de conhecer uma realidade missioná-ria específica. É um momento forte para aAnimação Missionária nas Comunidadessalesianas inspetoriais e locais, nos Gruposjuvenis e na Família Salesiana. É uma opor-tunidade para envolver as comunidadesSDB e as comunidades educativo-pastorais(CEP) nas dinâmicas da Igreja universal, re-forçando a cultura missionária.

Para quê?Para dar impulso à Animação Missionáriaoferecendo uma proposta que se torne umprojeto anual concreto. Para ajudar a Famí-lia Salesiana inteira a conhecer o trabalhomissionário da Congregação, abrir os olhospara as novas realidades missionárias, supe-rar toda tentação de fechar-se no próprioterritório ou contexto e lembrar-se do res-piro universal do carisma salesiano. “As atividades de animação missionária sejamsempre orientadas para os seus fins especí-ficos: informar e formar o Povo de Deus para a missão universal da Igreja, fazer nascer vocações ad gentes, suscitar coope-ração para a evangelização” (RedemptorisMissio, 83).

Quando?Em nível mundial não há uma data fixa pa-ra a DMS. Cada Inspetoria escolhe uma da-ta ou período, adequado ao próprio ritmo ecalendário. Há algumas datas tradicionaisnas Inspetorias: perto da Festa de Dom Bos-

co em janeiro ou do aniversário de DomBosco em agosto; a Quaresma; 25 de feve-reiro, festa dos Santos Mártires Luís Versi-glia e Calisto Caravario; o mês de maio; omês missionário de outubro ou o dia 11 denovembro. Antes de tudo, é importanteoferecer um itinerário educativo-pastoral dealgumas semanas, do qual o Dia MissionárioSalesiano é o ponto culminante. O DMS éa expressão do espírito missionário de todaa Comunidade Educativo-Pastoral, manti-do vivo durante o ano com diversas inicia-tivas.

Como é animado?A começar de uma reunião dos Diretores,em que o Delegado para a animação missionária explica o objetivo e distribui osinstrumentos disponíveis para o DMS naInspetoria (página web inspetorial ou umlink para www.sdb.org - DMS). Dessa for-ma, todas as comunidades SDB tornam-seos primeiros destinatários do DMS, concen-trando a cada ano a atenção num aspectoconcreto da cultura missionária; rezandopelos missionários apresentados no DMS;oferecendo um apoio concreto à missão.

Quem celebra?Primeira destinatária é a comunidade sale-siana SDB. Depois, conforme as Inspeto-rias, há vários modos de organizar, segundoos ambientes da missão salesiana (escolas,centros de formação profissional, paróquias,grupos juvenis, especialmente os de volun-tariado missionário) e da Família Salesiana(Salesianos Cooperadores, Ex-Alunos,Grupos ADMA, etc.), abertos a todo o mo-vimento salesiano e aos amigos de DomBosco

Dia Missionário SalesianoDia Missionário Salesiano 2018

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Com quais meios?São oferecidos às comunidades salesianas:um cartaz, um subsídio impresso, um vídeosobre o tema. Este material – oração, opús-culo e vídeo – pode ser encontrado emwww.sdb.org/missões.

A importância da oração pelas Missões Todos os membros da CEP contribuem paraa ação missionária da Congregação e daIgreja com a oração acompanhada de sacri-fícios pelos missionários salesianos e pelasvocações missionárias. O dia 11 de cadamês é uma ocasião para rezar segundo a Intenção Missionária Salesiana. Todos os anos, com o tema do DMS, é propostauma oração específica. A ação missionáriabrota do encontro com Deus e é sustentadapor Ele.

O Projeto para o DMS 2018A cada ano é proposto um projeto para todaa Congregação. Ele é uma parte importante

e concreta da dinâmica do DMS.A finalidade primária do projeto da JMS não é só a coleta de fundos.Antes, quer ser uma experiência edu-cativa de solidariedade concreta pelosjovens. O DIAM promove a solidarie-dade mediante várias iniciativas, em espe-cial durante os tempos fortes litúrgicos deAdvento e Quaresma e durante o mês deoutubro, ou como parte das celebrações doDMS. A comunidade inspetorial inteira éconvidada a dar também uma contribuiçãomonetária como expressão de solidariedademissionária.

A revisãoA revisão depois do DMS é tão importantequanto a sua preparação e celebração. Deve-se considerar como o DMS pôde favorecer a cultura missionária na comuni-dade local ou inspetorial através do temaproposto no ano, tendo presentes as suges-tões de correção para o futuro. ■

DMS: Uma tradição que continua (1988 –2018)2005 Mongólia: Uma nova fronteira missionária2006 Sudão: A missão salesiana no Sudão2007 Sudão: A missão salesiana no Sudão2008 HIV/AIDS:

Resposta dos Salesianos – educar para a vida2009 Animação missionária – Mantém viva a tua chama

missionária2010 Europa: Os Salesianos de Dom Bosco caminham

com os Rom – Sinti2011 América: Voluntários para proclamar o Evangelho2012 Ásia: Narrar Jesus (Telling the story of Jesus)2013 África: Caminho de fé2014 Europa: Os outros somos nós

– Atenção salesiana aos migrantes2015 Senhor, envia-me!

–Vocação salesiana missionária2016 Vinde em nosso auxílio!

O Primeiro Anúncio e as novas fronteiras na Oceania2017 ... E ficaram conosco: O Primeiro Anúncio

e os povos indígenas da América2018 Sussurrando o Evangelho. O Primeiro Anúncio

e a Formação Profissional na Ásia

Ano Tema1988 Guiné - Conakry: O sonho continua1989 Zâmbia: Projeto Lufubu1990 Timor Leste - Venilale: Jovens evangelizadores1991 Paraguai: Meninos de rua1992 Peru - Valle Sagrado Incas:

Cristo vive nos caminhos dos Incas1993 Togo - Kara: Dom Bosco e a África

– um sonho que se torna realidade1994 Camboja - Phnom Penh:

Missionários construtores de paz1995 Índia - Gujarat: Em diálogo para compartilhar a fé1996 Rússia - Yakutsk: Luzes de esperança na Sibéria1997 Madagascar: Jovem, eu te digo, levanta-te1998 Brasil: Ianomâmis: Vida nova em Cristo1999 Japão: O difícil anúncio de Cristo no Japão2000 Angola: Evangelho semente de reconciliação2001 Papua Nova Guiné: Caminhando com os jovens2002 Missionários entre os jovens refugiados2003 O empenho pela promoção humana na missão 2004 Índia - Arunachal Pradesh: O despertar de um Povo

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Tema Geral paraeste sexênio:O Primeiro Anúncio

Itinerário da CongregaçãoDe 2015 a 2020, o tema de fundo do

Dia Missionário Salesiano tem se referido ao “Primeiro Anúncio” (PA) em diversoscontextos culturais. Este ano é dedicado ao Primeiro Anúncio na Ásia e, em particu-lar, através do serviço educativo integral daFormação Profissional.

Como Família Salesiana, SDB e FMA, re-fletiu-se sobre este tema em todas as Regiõesdo mundo: Europa (Praga 2010), Ásia Sul(Kolkata 2011), Ásia Este (Sam Phran 2011),Oceania (Port Moresby 2011), África (AddisAbeba 2012), América (Los Teques 2013),em contexto Muçulmano (Roma 2012) e naCidade (Roma 2015). Foi iniciado um pro-cesso de Seminários Regionais a partir de umasíntese dos seminários anteriores, para indi-vidualizar as suas aplicações nos diversos se-tores e ambientes da missão (paróquias, mi-

norias étnicas, escolas, oratórios, centros deformação profissional...); em 2017 foram fei-tos, para essa finalidade, os encontros no Bra-sil (Belo Horizonte), Tailândia (Sam Phran),Portugal (Fátima). Na África (Johannesbur-go) será em 2018.

Consideramos o conceito de PrimeiroAnúncio em relação ao testemunho de todocristão e de toda a comunidade cristã; todaatividade ou o conjunto de atividades que fa-vorecem uma experiência envolvente e agra-dável de Jesus que, sob a ação do EspíritoSanto, suscita a busca de Deus e leva à adesãoinicial a Ele, ou à revitalização da fé n’Ele.

Isso tudo é promovido com uma pedagogiagradual, atenta ao contexto histórico-social ecultural do interlocutor. Leva a viver a pró-

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Dia Missionário Salesiano2018

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pria vocação como cristão em “permanenteestado de missão”, de modo tal que, toda pes-soa e toda comunidade se tornem um centrode irradiação de vida cristã. O primeiro anún-cio é dirigido a diversos destinatários.1. Àqueles que não conhecem Jesus Cristo

(aos não cristãos).2. Aos cristãos que receberam de modo in-

suficiente o primeiro anúncio do Evange-lho, por isso:a) Depois de terem conhecido Jesus Cris-

to, eles o abandonaram;b) Vivem a própria fé como algo cultural,

sem a prática cristã com a comunidade,ou sem receber os sacramentos ou dei-xar-se envolver na vida e atividade daparóquia;

c) Crendo já ter conhecido Jesus suficiente-mente, vivem a fé como rotina ou algosimplesmente cultural, ou ainda, de forma contrária à fé;

d) Têm uma identidade cristã frágil e vul-nerável;

e) Não praticam mais a própria fé.3. Àqueles que buscam Alguém ou alguma

coisa, mas não conseguem dar-lhe um nome.

4. Àqueles que vivem a vida cotidiana semqualquer sentido.

Propostas concretas apresentadas pelosSDB na Ásia

Na Ásia Sul (Kolkata 2011), os Salesia-nos propuseram-se algumas ações concretaspara dar prioridade ao PA:

– refletir sobre o primado do PA no Proje-to Educativo-Pastoral (PEPS) de cada comu-nidade;

– iniciar e acompanhar os grupos missio-nários em nossos vários ambientes;

– formar uma rede com outros membrosda FS e outras comunidades religiosas missio-nárias da nossa região para ajudar-nos na par-ticipação das diversas experiências e dos mé-todos de sucesso do PA;

– melhorar a colaboração e coordenaçãoentre as Comissões de Pastoral Juvenil, Co-municação Social, Formação e Missão;

– os Delegados Inspetoriais para a Anima-ção Missionária (DIAM) devem criar nas Ins-petorias grupos com a mesma visão sobre oPrimeiro Anúncio;

– promover o estudo da Missiologia e cur-sos breves sobre PA para diretores, Salesianosem formação inicial, agentes pastorais.

Na Ásia este (Sam Phran 2011) surgiramestas propostas:

– esforçar-se conscientemente para susci-tar o desejo de conhecer a pessoa de Jesus;

– desenvolver habilidades (linguísticas,informáticas, bom conhecimento das cultu-ras, religiões e aspectos sociopolíticos, etc.) epreparar-nos através de uma imersão cultural;

– promover a compreensão da vida e da natureza da missão, a formação missiono-lógica;

– reforçar o papel do animador missioná-rio nas Inspetorias. A animação missionárianas Inspetorias é feita em duas dimensões: ad gentes e inter gentes;

– favorecer a conscientização das pessoase comunidades sobre a necessidade de viveruma vida de testemunho cristão como únicomodo de anunciar Cristo aos outros;

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– (coração) a porta mais importante para aescuta eficaz: “O Coração fala ao Coração”.

A escuta atenta permite-nos distinguir aencarnação e a manifestação da presença e daação de Deus e do seu Espírito nas culturas enas religiões do grande continente, comotambém nos seus pobres.

A nossa capacidade de escutar atentamentehaverá de nos tornar intuitivamente sensíveisao momento imprevisto, quando a nossa vida,atividade, presença ou testemunho de crentese de Igreja possa desencadear o interesse deconhecer a Pessoa de Jesus Cristo e ter fén’Ele.

São Francisco de Sales repetia a bela frase“Cor ad cor loquitur”: “O coração fala ao coração”. Queremos, de um lado, que o coração do Evangelho fale ao coração da cul-tura asiática, a cada cultura e a cada pessoa.E também dê, a cada um de nós, missionários,a capacidade da empatia, de ter a respeitosaconfiança e intimidade de nos sintonizarmoscom os corações dos nossos destinatários parapoder comunicar aquele que mais amamos:Jesus Cristo. ■

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– potenciar os membros leigos da FamíliaSalesiana para serem agentes do PrimeiroAnúncio;

– usar adequadamente os nossos ambien-tes tradicionais (escolas, centros de formaçãoprofissional, oratórios, centros juvenis, etc.)como lugares desejados para ao PrimeiroAnúncio.

O coração fala ao coraçãoO caráter chinês de “escutar” é composto

por cinco partes:

– (ouvidos) principal porta da escuta;– (tu) empenho pessoal para escutar o outro;– (olhos) contato visual com o interlocutorde diálogo e observação atenta da comuni-cação não verbal;

– (um) dar atenção a esta atividade “um aooutro”;

“Corad corloquitur”

“O coraçãofala

ao coração”

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E Deus estava no sussurroda brisa suave (1Rs 19,12)

O sussurro da Boa Notícia faz-nos recordaro texto do ciclo de Elias, quando ele se en-contra com JHWH, no monte Horeb (Sinai).A narração sobre Elias é riquíssima de suges-tões sobre a aventura espiritual. Detemo-nosno trecho do encontro com Deus no sussurroda brisa suave.

9Chegando ali, entrou numa gruta, onde pas-sou a noite. Então a palavra do Senhor veio aele, dizendo: “Que fazes aqui, Elias?” 10Ele res-pondeu: “Estou ardendo de zelo pelo Senhor,Deus dos exércitos, porque os israelitas aban-donaram tua aliança, demoliram teus altares,mataram à espada teus profetas. Só euescapei; mas agora querem matar-me tam-bém”. 11O Senhor disse-lhe: “Sai e permanecesobre o monte diante do Senhor”. Então o Se-nhor passou. Antes do Senhor, porém, veioum vento impetuoso e forte, que desfazia asmontanhas e quebrava os rochedos, mas oSenhor não estava no vento. Depois do ventohouve um terremoto, mas o Senhor nãoestava no terremoto. 12Passado o terremoto,veio um fogo, mas o Senhor não estava no

fogo. E depois do fogo ouviu-se o sussurrode uma brisa suave. 13Ouvindo isto, Elias co-briu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à en-trada da gruta. Ouviu, então, uma voz quedizia: “Que fazes aqui, Elias?” 14Ele respondeu:“Estou ardendo de zelo pelo Senhor, Deus dosexércitos, porque os israelitas abandonaramtua aliança, demoliram teus altares e mataramà espada teus profetas. Só eu escapei. Mas,agora, querem matar-me também”.15O Senhor disse-lhe: “Vai e volta por teu cami -nho, rumo ao deserto de Damasco. Chegandolá, ungirás Hazael como rei de Aram. 16Ungetambém a Jeú filho de Namsi como rei deIsrael e a Eliseu filho de Safat, de Abel-Meula,como profeta em teu lugar. (1Rs 19,9-16)

O profeta Elias, procurado pela rainha Ge-zabel para ser morto, precisou fugir. Entrandopelo deserto a fora, num certo momento dei-xou-se cair cansado e exausto, deprimido e semconsolo. Disse: “Agora basta, Senhor! Toma aminha vida, porque não sou melhor do que meuspais”. Adormeceu cheio de tristeza. Um anjo,

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porém, acordou-o e disse: “Come este pão e bebeesta água que busquei para ti, e continua o teu ca-minho”. Ele comeu e bebeu, e com a força da-quele alimento caminhou quarenta dias e qua-renta noites até o monte de Deus, o Horeb, atéa meta, ao encontro com Deus. Depois de pas-sar a noite na caverna, Deus convida-o parasair e encontrar-se com Ele.

“O Senhor passou” pela vida do profeta.São descritas quatro manifestações da passa-gem de JHWH das quais a última contrastafortemente com as três primeiras (vento im-petuoso, terremoto, fogo, brisa). O “sussurroda brisa suave”), tradução possível de qôl dema-máh daqqáh, que também pode ser: “murmúriode um vento suave”, ou “calma envolvida poruma voz suave”, ou “silêncio sutil”. Traz a ideiado conceito simultâneo de som e silêncio.

Essa narração oferece algumas pistas de in-terpretação.

a. Há uma interpretação polêmica contraa religião pagã combatida pelo profeta naqual Baal é o deus da tempestade e do terre-moto. A brisa suave contrastando reafirmaráque JHWH é o Deus verdadeiro e não a reli-giosidade pagã que destrói e assusta.

b. Faz-nos recordar também a brisa do jar-dim (o Éden) (cf. Gn 3,8) quando Deus pas-seia pelo jardim e pergunta a Adão onde está,

para encontrar-se com ele. Também se pode-ria encontrar uma referência ao ruah que so-prava sobre as águas em Gn 1,2. Isso tudo en-volve a presença criadora de Deus no caos, eque salva do pecado. É um Deus que continuaa criar e salvar na história do seu povo.

c. Uma segunda interpretação relaciona onosso episódio com a experiência de Moisésno Sinai, revivida pelo profeta: 40 dias, a grutaonde se esconde, o único que é fiel enquantoo povo é infiel. A teofania de fogo do Sinaiprovocava medo no povo de Israel (Ex 20,18);agora, em contraste, temos uma “brisa suave”.

d. Há, enfim, uma interpretação à luz dasmesmas experiências de Deus feitas por Elias.Ele surge como um profeta “de fogo” (Sir48,1): é impetuoso, intolerante e castigador.Por isso, esperaríamos uma teofania adequadaao seu modo de entender Deus, mas eis queaqui o Senhor desilude suas expectativas fa-zendo-se próximo de modo novo e inesperadona paz e na doçura e não no fogo devorador.JHWH quer indicar o caminho da misericór-dia e da paz com que ele quer visitar e salvaro seu povo. Não por nada alguns Padres veemnesta opção de Deus uma sutil reprovação aoprofeta; por exemplo, o pseudo-Efrém comen-ta: “Também com este símbolo Deus desaprovao zelo excessivo de Elias, como a dizer: Elias,olha para mim. Eu não fico contente na força do

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vento, nem na grandeza do terremoto, nem noardor do fogo, mas manifestei-me a ti com umadoce palavra. Por que, então, não imitas a do-çura do teu Senhor e não tranquilizas este zeloardente de castigar os filhos do teu povo, para sersuplicante diante deles, e não seu acusador?”.Também o Sirácida comentando este episódiodá a mesma interpretação: “Tu, Elias, que ou-viste a censura no Sinai” (Sir 48,7-8).

Sem excluir as outras interpretações, estaúltima é muito interessante e estimulante paramodelar a vida missionária salesiana. A missãoem terras asiáticas, onde na maior parte dospaíses, o número de católicos é pequeno, podelevar ao desencorajamento e à perda de cora-gem. Mas, como o profeta, somos chamados asair de nós mesmos, a retomar o caminho es-piritual do êxodo, e – depois do encontro comDeus que sussurra – somos enviados em missãoaos diversos desafios da sociedade.

O sussurro da Boa-Notícia é uma palavracriadora (Gn 1,2), uma voz que se escuta emclima de intimidade provocando o encontro(Gn 3,8). É a voz tênue de Deus, que não rompeos tímpanos, mas chega com discrição aos ou-vidos e ao coração. É a “palavrinha ao ouvido”que, com delicadeza e respeito, como brisa sua-ve, conquista a confiança e oferece uma men-sagem de vida. É uma comunicação marcada pe-la amorevolezza, própria do Sistema Preventivo.

É uma palavra de harmonia e de paz: “O Senhor não estava no vento impetuoso, no ter-

remoto ou no fogo, mas havia aquele

sussurro de brisa suave: a paz. Ou comodiz precisamente o original, uma expressãobelíssima: O Senhor era um fio de silêncio sonoro” (Papa Francisco, 13/06/14).

É um sussurro que leva à interioridade,uma “voz silenciosa”, tão apreciada no con-tinente asiático, que educa a escutar a voz deDeus no silêncio, a entender em profundidadea interioridade das coisas, como a do trabalho,da educação, das relações, do mundo, de Deus.

É uma mensagem sutil que leva à missão,com todos os seus desafios sociais, políticos,econômicos e religiosos. Como Elias foi ungirreis e profetas, assim também somos chama-dos, depois do encontro com Deus, a ir aomundo com os seus problemas para realizarnele o projeto de Deus.

A proposta educativo-pastoral salesiana,através do “rumor frenético” do trabalho, dasoficinas, dos pátios, das máquinas, dos marte-los que ressoam, é, ao mesmo tempo, um sus-surro respeitoso aos jovens asiáticos, sobre ovalor da solidariedade, responsabilidade, dig-nidade humana e do trabalho, que foi assu-mido plenamente pelo Verbo, tornando-nosparticipantes dessa obra. A relação educativapersonalizada, afetuosa e respeitosa, com o testemunho da coerência da própria vida eda caridade, abre os corações ao “sussurro dabrisa suave do Evangelho”. ■

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Sussurrando o Evangelhoà alma da Ásia

Dom Thomas Menamparambil, SDB

Geralmente, o que vem à mente quandose fala de “comunicação em voz baixa” nocontexto atual é um pensamento de temor eansiedade, no contexto de violência em rela-ção aos cristãos, muito denunciada nestesdias. Essa era a razão menos importante quetinha em mente quando usei a expressão pelaprimeira vez, antes, não pensara nela real-mente. A palavra “sussurro” na minha inter-venção não era entendida como expressão demedo, timidez, cautela ou prudência. Era umsinal de proximidade, intimidade, confiança,relação, profundidade. Evocava também umsenso do sagrado. Na Índia, os mantras sãopronunciados docemente; são palavras sagra-das. Os sutras são sussurrados somente aos ini-ciados; são ensinamentos sagrados. O povoescuta essas palavras com reverência. A serie-dade e a solenidade do contexto te fazem se-gurar o respiro. Ficas fascinado pelo seusignificado sagrado e cósmico.

Porém, a dizer a verdade, todos esses

Usei pela primeira vez a frase “Sussurrandoo Evangelho à alma da Ásia” no Sínodo sobrea Ásia. Muitos bispos asiáticos, durante os in-tervalos, agradeceram-me pela expressão.Depois, outros se uniram. Usei a frase em outraocasião para concluir um artigo sobre a evange-lização da Ásia. Recebi palavras de apreço jus-tamente por aquela frase de pessoas que nuncacheguei a conhecer: no Japão, Filipinas, Indonésia,Bangladesh, e também de um missionárioinativo na França que trabalhara anteriormentena Ásia. Viram na frase algo de mais profundode quanto pudesse imaginar quando a usei pelaprimeira vez. Não era uma frase sobre a qualtivesse pensado muito, ou que tivesse sido ela-borada atentamente depois de muitas reflexões.Veio-me espontaneamente quando estava formulando uma intervenção por escrito para oSínodo sobre a Ásia. Desde então, prendi aatenção de muitos, entre os quais também ummissionário da Consolata que trabalha na Mon-gólia, que fez um doutorado na Universidade Ur-baniana aplicando a frase ao contexto mongol.

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coragem que oshomens precisavampara arriscar a vidana primeira linha. “Apalavrinha ao ouvido”,de Dom Bosco (pala-vra de coragem, encoraja-mento ou declaração ami-gável) mudou o coração,modelou a vida, transfor-mou a história. Os Funda-dores de muitas Congrega-

ções confidenciaram com seus colaboradoresmais estritos, discorrendo sobre o futuro desuas sociedades com profunda fé, confiança eintimidade. Foram momentos sagrados paraos envolvidos nisso. Tudo o que acontece nosanos sucessivos, através da obra heroica dosseus sucessores, teve alguma relação míticacom o que acontecera nos primeiros encon-tros de pioneiros com o seu fundador.

Jesus, com frequência afastou-se da multi-dão para instruir os seus discípulos ou apro-fundar a sua compreensão do que ensinara àmultidão no momento anterior. Poderia com-parar os diálogos de Jesus com Nicodemos ea mulher samaritana e seus diálogos duranteas refeições ao “sussurro do Evangelho” aoqual me refiro. Nessas relações íntimas po-dem-se dizer coisas importantes, as coisasmais profundas podem ser explicadas e o queconta realmente pode ser aceito livremente,com alegria e com consequências que duramao longo do tempo. Também as palavras deJesus ao bom ladrão, as perguntas a Pedro so-bre o seu amor e os diálogos com seus discí-pulos depois da ressurreição, poderiam serclassificadas na mesma categoria. Contudo,sobretudo o diálogo de Jesus com os discípulosno Cenáculo pode ser chamado de “Sussurrodo Evangelho à alma” da Jovem Igreja. Tudofala de proximidade, seriedade, intimidade.Há calor, há amorevolezza. Aqui encontramosJesus que abre o coração. Qualquer palavra épreciosa, profundamente sentida, com diver-sos níveis de significado, palavras que resu-

significados e conotações maisprofundas não eram tão impor-tantes na minha mente, quandoelaborei aquela intervenção pa-ra o Sínodo Asiático, quanto aproximidade de um missionárioao seu povo. Todos os que tive-ram a ver com as massas, comgrande sucesso, procuraram es-tar junto às pessoas: indivíduose comunidades. Isso lhes deugrande poder de persuasão.Mahatma Gandhi vivia próximo ao seu povo,indivíduos e grupos. Suas relações eram sem-pre calorosas e íntimas. Madre Teresa tinha asingular capacidade de fazer com que todosaqueles que encontrava sentissem pertencer-lhe. Por isso, também um sussurro dela eraimportante. O presidente Clinton afirmouque ninguém nos tempos modernos desafiaraa consciência do mundo como ela o fizera. Aprincesa Diana inclinava-se profundamentecomo uma menina para ouvir os “murmúrios”da Madre.

Diz-se que Alexandre, Napoleão e Maoviviam próximos aos seus combatentes nosprimeiros anos de carreira. Sua proximida-

de aos soldados comuns e a confiançaque demonstraram produziram a

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mem aquilo no que crê e o olhar que tem poraqueles que ama.

Podemos perguntar-nos, então, se, comomissionários, somos capazes dessa proximida-de, intimidade e profundidade em nossos diá-logos, ou ao menos em parte deles. Diria quesim. Era no pátio que Dom Bosco sussurravaa palavra ao ouvido de um jovem indiscipli-nado. A certa altura, eu me sentia em culpapois, justamente quando o Papa João Paulo IIfalava de anunciar o Evangelho desde os te-lhados, eu falava de sussurro do Evangelho.Nem sequer pensei nisso, até quando alguémme fez observá-lo. Sentia-me até mesmo desconfiado. Essa diferença poderia ser mal-entendida. Contudo, essa abordagem jamaisfora entendida como negação da outra: de fato, uma está intimamente ligada à outra. Apartilha íntima de Jesus com seus discípulosteve uma relação estreita com sua pregação à multidão.

Há momentos e contextos, também emnosso caso, em que anunciamos a mensagemforte e clara sem medo, e há ocasiões paraaprofundar as reflexões em círculos íntimos.Muitas vezes testamos o terreno através dediálogos mais profundos. A opção final de

aceitar a proposta cristã como indi-víduo, família ou pequeno grupo

é feita num contexto de intimidade e proxi-midade pessoal. Provavelmente isso é o queacontece entre dois jovens que decidem viverjuntos como casal pela vida toda.

Há outra dimensão que significou muitopara mim durante a minha vida missionária.Foi o desafio da cultura. Qualquer que seja oteu talento ou qualificação pessoal, se não tepuseres na amplitude de onda da cultura dedeterminada comunidade, a tua capacidadede ser missionário será sempre limitada. Ter a ver com a cultura não é só analisar os costumes, as tradições e estudar as festas e o artesanato. É aceitar o convite para entrarno mundo interior das comunidades, com-preendendo as suas atitudes e orientações coletivas, respeitando os seus valores, sentin-do-se orgulhoso da sua história, do patrimô-nio cultural e dos resultados coletivos. Vibrarcom a comunidade! Isso exigirá uma com-preensão empática também das suas fragilida-des, cuja correção, enfim, é dada pela própriacomunidade.

Isso significa dialogar com a “psique coleti-va das comunidades” como os grandes missio-nários do passado. Só essas pessoas vivem pró-ximas da alma de uma comunidade. O sussur-

rar é possível e válido somente seestás próximo da Alma de umacomunidade. Só os missionáriosque são capazes de interpretar aoriginalidade de um povo, as di-mensões mais profundas da suacultura, compreendem o seu gê-

nio coletivo e entram na

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diferenças entre as diversas comu-nidades: os povos tribais, as pessoas des-tribalizadas, as comunidades que aceita-ram uma das religiões do mundo, aquelesque não se pronunciam e aqueles queabandonaram a própria religião. Existemdiferenças entre a população rural e urbana,pequenos grupos étnicos isolados e sociedadesmaiores. Contudo, a necessidade de penetrarno mundo interior de uma sociedade e com-preender o seu funcionamento e as formas dosseus ritmos emotivos é extremamente impor-tante quando se trata de compartilhar a pró-pria fé. Quanto mais a compartilhas leviana-mente, tanto mais permaneces superficial. In-felizmente, grande parte da nossa educaçãomissionária, de ensino, de catequese ficou emnível superficial. Quando se tornam íntimose profundos, nota-se a diferença.

O aspecto da “profundidade” é importan-te quanto à qualidade da intimidade. Os asiá-ticos valorizam a profundidade, não importaqual a convicção. Enquanto a profundidadese refere ao conteúdo da discussão, refere-setambém à personalidade do comunicador, à qualidade da relação, à unção do estilo decomunicação. Indica a intimidade que um comunicador tem com o próprio “eu” real. Na espiritualidade indiana, a busca do “euprofundo” é um dos objetivos mais elevados.Se o comunicador está próximo do “eu super-ficial”, também o conteúdo e o estilo da suacomunicação o refletirão. Mas se está próxi-mo do seu “eu mais profundo”, a dimensãoprofunda da sua pessoa, quando comunicauma mensagem atrai a atenção.

Sou tentado a crer que a mesma frase “sus-surrar o Evangelho à alma da Ásia” seja umaexpressão da psique coletiva da Ásia. Não foiuma estratégia construída artificialmente poralguém, depois de muito estudo e discussõeselaboradas. Surgiu espontaneamente quandoa Igreja asiática se reuniu para o evento maisimportante da sua história recente. Ela con-tém a fórmula para o futuro do trabalho deevangelização na Ásia. ■

intimidade das comunidades... Só eles são ca-pazes de “sussurrar o Evangelho” com algumapossibilidade de sucesso. Muitos missionáriostêm a ver com a mente lógica, não com a al-ma íntima da comunidade.

Diz-se que São Patrício entendera a mentecéltica e relacionou-se com o povo irlandêscom imenso sucesso. Algo semelhante foi di-to de São Bonifácio na Alemanha, que trans-formou a vida de povos e sociedades inteiras.Na Índia, parece que São Francisco Xavier tivera um dom semelhante. Mais próximo de nós, poderíamos dizer algo semelhante do Padre Constant Lievens de Chhotanagar(Jharkhand) cujo sucesso é inexplicável semo seu gênio no tratar com as comunidades.Mais próximo ainda de nós, talvez, podería-mos referir-nos ao Padre Vendrame, que mos-trara modos surpreendentes de tratar com opovo Khasi. A pedagogia do “sussurro” tomavida quando pessoas com tais habilidadestransmitem uma ideia às comunidades dasquais se ocupam. E comunidades inteiras sãotransformadas.

A sociedade asiática é muito mais comu-nitária do que as sociedades de muitas outraspartes do mundo, menos talvez daquelas daÁfrica. Aqui, um missionário deverá agir, nãosó com indivíduos e famílias, mas tambémcom a unidade maior da sociedade, como atribo, um grupo étnico em particular, uma al-deia, um pequeno bairro, etc. Se ele aprendeua identificar-se com uma comunidade especí-fica, na qual talvez seja reconhecido como he-rói, então fará maravilhas.

Falando ainda da Ásia, existem grandes

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Salesianos na Ásia(Índia e China)

Francesco Motto, SDB

Ao final dos anos trinta do século 19, a leiturados Anais da Propagação da Fé oferecia a DomBosco uma boa informação sobre as missões na Ín-dia e na China como também, nos mesmos anos,os Oblatos de Maria Virgem, que dirigiam o san-tuário da Consolação de Turim, com a sua partidapara as missões na Birmânia (Mianmar). Notávelinfluência sobre Dom Bosco deve ter exercidotambém o cônego José Ortalda, diretor do Con-selho Diocesano da Associação de Propaganda Fidepor 30 anos (1851-1880), promotor de uma espé-cie de seminário menor para vocaçõesmissionárias e editor de uma revistamissionária.

O interesse missionário pela Ásiacresceu ainda mais em Dom Bosco nomomento da canonização em Roma, em1862, dos 26 protomártires japoneses eda beatificação em 1867 de mais de 200mártires japoneses, celebrada solene-mente também em Valdocco. Por Turimtambém passaram muitos bispos missio-nários, entre os quais, em novembro de 1859, Dom Luis Celestino Spelta († 1862), Vigário Apostólico de Hupei(China), e, nos anos seguintes, DomDaniel Comboni, com quem DomBosco manteve uma troca de opiniõessobre as missões na África. Contato não lhe faltou nem mesmo com o mis-sionário italiano na Geórgia (USA),Bettazzi, em vista da direção de uma es-cola de artes e ofícios ou um seminário,nos quais também estava interessado obispo local. Até 1870, embora teorica-mente sensível às necessidades missio-nárias, Dom Bosco cultivava outros pro-jetos em sede nacional.

A viragem missionáriado Concílio Vaticano I (1868-1870)

A presença em Roma de 180 bispos de “terrasde missão” para o Concílio Vaticano Primeiro ofe-receu a ocasião de Dom Bosco encontrar-se commuitos deles e também ser por eles contatado.

Em Valdocco, em novembro de 1869, foirecebida uma delegação de bispos chilenos; em julhode 1870, o arcebispo de São Francisco (USA) pediue obteve a direção de um internato com escola pro-fissional (nunca realizado). No mesmo ano, foi a

vez do piemontês Dom Domingos Bar-bero, Vigário Apostólico em Hyderabad(Índia), que lhe pediu duas irmãs dispo -níveis para a Índia. Também visitaramValdocco Dom Luís Moccagatta, VigárioApostólico de Shantung (China) e o seusucessor Dom Elígio Cosi (1819-1885).

Em 1873, em Valdocco, Dom Ti-moleone Raimondi ofereceu a DomBosco a possibilidade de dirigir escolascatólicas na Prefeitura Apostólica deHong Kong. A tratativa, que duroumais de um ano, bloqueou-se por váriosmotivos. O mesmo aconteceu naquelesanos para fundações missionárias emoutras partes da Índia e na Austrália,para as quais Dom Bosco entabulou tra-tativas com os bispos, dadas então co-mo concluídas pela Santa Sé, enquantona verdade eram apenas projetos in fie-ri. A disponibilidade do reitor do colé-gio irlandês de Roma, Mons. Toby Kir-by, de dar alunos de língua inglesa nãolevou a nada de concreto. Não foi o queaconteceu com o projeto argentino-pa-tagônico, que unindo a atenção aosemigrados italianos e a evangelização

Dom Luis Celestino Spelta

Dom Daniel Comboni

Dom Luís Moccagatta

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os religiosos também das colônias.Os Salesianos estabeleceram-se,

então, no território chinês deHeung-Shuan, entre Macau e Can-tão, e erigiram pequenas comunida-des cristãs em Seak-Kei, Mong-Ciaue Ngan-Hang, interessadas sobretu-do em formar catequistas. Em 1917foi-lhes oferecida a missão de Shiu-Chow, ao norte de Cantão que, ele-vada em 1920 a Vicariato Apostó-lico, foi confiada a Dom Versiglia.Surgiram assim residências missio-nárias, igrejas e capelas, escolas parameninos e meninas, um seminário,etc. Em 25 de fevereiro de 1930Dom Versiglia seria assassinadojuntamente com o jovem sacerdoteP. Calisto Caravario (1903-1930);ambos foram canonizados em 2000pelo Papa João Paulo II.

Na ÍndiaFoi preciso esperar até depois

da morte de Dom Bosco para umapresença de Salesianos na Índia.A pedir a sua presença foi o bispoportuguês de Meliapor (costaoriental, bairro de Madras). O pedido feito pelobispo em 1896, refeito pelo seu sucessor em 1902,concretizou-se somente com o convênio assinadopelas duas partes em dezembro de 1904. Deu-se,em dezembro de 1905, a partida desde Gênova detrês sacerdotes, um clérigo, um coadjutor e um as-pirante. Superior era o P. Jorge Tomatis (1865-1925). Chegados à cidade de Meliapor, através de

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dos índios, foi aceito e lançado por Dom Bosco emtempos muito rápidos (1874-1875). Facilitaram-noa semelhança de língua, cultura e tradições.

Salesianos na ChinaApesar dos sonhos e dos desejos expressos sobre

as missões asiáticas, Dom Bosco não pôde presen-ciar nenhuma expedição de missionários salesianosàquelas populosíssimas regiões. O primeiro desem-barque asiático foi, de fato, no Oriente Médio, coma aceitação no final do século, pelo seu sucessor, P. Miguel Rua, de obras educativas da Palestina jáiniciadas pelos “Irmãos da Sagrada Família”, do P.Antonio Bellone, às quais se seguiram novas obrastanto na Palestina como na Turquia (e no Egito).

No mesmo quinquênio do final do século 19,os Salesianos mantiveram relações com jesuítas quelhes sugeriram a cidade de Macau, colônia portu-guesa, como primeira sede para uma obra salesianaem terras chinesas. Às vésperas do novo século obispo português de Macau, através do núncio apos-tólico de Portugal, iniciou tratativas diretas com oPadre Rua para a direção de um orfanato masculinocom oficinas de artes e ofícios e a realização de ati-vidade missionária na sua diocese. A morte do bis-po interrompeu as tratativas que, porém, foram re-tomadas pelo sucessor, com quem o Padre Rua as-sinou um convênio em fins de dezembro de 1905.

Partindo de Gênova em meados de janeiro de1906, o grupo de três sacerdotes e dois coadjutores,chefiados pelo P. Luís Versiglia (1873-1930) emum mês chegaram a Macau, recebidos com júbilopelo bispo, pelas autoridades e pela população. Aobra salesiana desenvolveu-se rapidamente, masdepois de apenas quatro anos precisou ser abando-nada após a revolução portuguesa que expulsou

Dom Timoleone Raimondi

P. Luís Versiglia

Dom Elígio Cosi

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Bombay-Mumbay, uma semana depois, com dozehoras de trem, chegaram a Tanjore, cidade de 60mil habitantes, mas com apenas 8 mil católicos.Outros 26 mil, porém, viviam nas áreas ao redor.Os Salesianos eram destinados a dirigir um peque-no orfanato com oficinas de artes e ofícios e umapequena escola paroquial, ambos dotados de al-gum subsídio do governo inglês.

A chegada em 1907 do P. Eugênio Mederlet(1867-1934) – futuro arcebispo de Madras – re-forçou a pequena comunidade. Em 1909 foi aber-to em Meliapor um pequeno internato-orfanatopara anglo-indianos e, em 1915, a paróquia cen-tral de Tanjore foi entregue aos Salesianos.

Sete anos depois iniciaria o trabalho missioná-rio na Prefeitura Apostólica do Assam, a pedidoda Propaganda Fide, após o afastamento, durante a

primeira guerra mundial, dos mis-sionários alemães “Salvatorianos”,que a tinham fundado. O primeirodiretor de Shillong, P. Luís Mathias(1887-1965), viria a ser PrefeitoApostólico em 1923, bispo em1934 e, depois, sucessor de Meder-let na arquidiocese de Madras. Em1928 a Propaganda Fide confiouaos Salesianos também a diocesede Krishnagar.

Para completar o quadro asiá-tico acrescente-se que em 1926 osprimeiros Salesianos capitanea-dos pelo Padre Vicente Cimatti(1879-1965) iniciaram no Japãoa sua missão paroquial, oratorianae escolar em Miyazaki, Nakatsu e

P. Jorge Tomatis

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P. Vicente Cimatti

P. Luís Mathias

Oitia na ilha de Kiou-Siou. Dois anos depois, essasáreas, erigidas pela Santa Sé em “território de mis-são” foram confiadas aos Salesianos, que perma-neceram nesse trabalho mesmo quando em 1935a nova missão se tornou Prefeitura Apostólica.

Quanto à Tailândia, os Salesianos entraramem 1927 e, três anos depois, foi-lhes confiada amissão já pertencente aos Missionários das Mis-sões Estrangeiras, de Paris, com um centro prin-cipal em Ratburi e Bang-Nok-Khuek. O primeiroresponsável, Padre Vicente Pasotti (1890-1950),promoveu oratórios e sobretudo escolas, profissio-nais em particular, que atraíram tanto cristãos co-mo budistas. Em 1934 surgiu a Prefeitura Apostó-lica confiada ao mesmo Mons. Pasotti.

Já eram seguidas a tempos as orientações dacarta apostólica Maximum illud, do Papa BentoXIV (1919) e da encíclica Rerum Ecclesiae, de PioXI (1926) que, depois da primeira guerra mundial,tinham relançado a ação missionária da Igrejacom a exigência de dar uma específica e sólida for-mação aos missionários, formar o clero indígena,a fim de prepará-lo para assumir a liderança dasmissões, evitar comprometer a evangelização cominteresses políticos, nacionalistas, coloniais e coma previsão de erigir igrejas particulares autônomas.

Obviamente, nas missões, o método salesianode evangelização inspirava-se em Dom Bosco: osSalesianos visavam a juventude com orfanatos,escolas de vários tipos, oratórios, paróquias, ativi-dades catequéticas segundo o método preventivo.Notável foi o seu esforço de inculturação e adap-tação às situações locais, embora não tenham fal-tado grandes limitações de conhecimentos teoló-gicos e antropológico-culturais. ■

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Uma mudança de paradigmaLaerzio pediu a de Nobili que aprendesse

tâmil, língua local, como também os costu-mes sociais. Dotado como era de uma memó-ria prodigiosa, demonstrou-se rápido naaprendizagem e tornou-se especialista não sódo tâmil mas também do sânscrito, língua emque os textos sacros hindus eram escritos e co-mentados pelos estudiosos brâmanes. Apren-deu também o telugo, língua dos governantesViyanagar, que eram senhores de Madurai.Iniciara também um estudo sério do hinduís-mo, e com a assistência de alguns brâmaneseruditos adquiriu uma compreensão mais cla-ra do modo de vida dos brâmanes e do pro-fundo pensamento filosófico e religioso hin-du. Seu estudo, as discussões e reflexões leva-

ram-no a crer que no modo de viver doshindus existia uma clara distinção en-tre normas culturais, inócuas e, portan-

to, aceitáveis, e as práticas religio-sas que muitas vezes continhamelementos supersticiosos.

Sua vida, a interação com opovo e a sua mais profunda com-preensão da cultura tinham-nolevado logo à conclusão de queo sistema hindu de castas e,sobretudo, as castas mais al-tas, como os brâmanes, jamais

aceitariam Cristo, se o cristianis-mo fosse identificado com a culturaeuropeia e os colonizadores portu-gueses que eram chamados depre-ciativamente como paranguis. Osparanguis eram considerados uma

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IntroduçãoRoberto de Nobili, jesuíta italiano, chegou

à Índia em 1605, com a ideia de converter pa-ra Cristo o maior número possível de india-nos, à imitação do seu grande predecessor je-suíta, São Francisco Xavier. Entretanto, sen-do homem de notáveis intuições, depois deuma breve experiência de vida em Madurai,chegou à conclusão de que o cristianismo te-ria pouco sucesso na Índia se fosse apresenta-do como religião ocidental. O que era eviden-te pela concentração geográfica dos cristãosna Índia. Viviam ao longo da costa onde po-diam ter proteção e apoio das potências co-loniais. As grandes regiões do interior não ti-nham sido alcançadas pelos missionários e assuas populações eram hostis à re-ligião cristã. Os hindus identi-ficavam o cristianismo comoreligião dos colonizadores.

O trabalho feito por de No-bili e a ideia de mudar a situa-ção foram compartilhados peloP. Alberto Laerzio, provincialjesuíta da Província de Mala-bar. P. Laerzio, de fato, era doparecer que “por muito tempohouve conversões nas ilhas eao longo das praias protegidaspelas armas portuguesas”. Se-gundo ele, o tempo chegara de“a Cruz superar a bandeira” etentar levar o Evangelho àque-les que viviam nas regiões in-teriores da Índia meridional.

Um exemplo inicial de mudança paradigmáticana Abordagem Missionária

Thomas Anchukandam, SDB

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raça desprezível e impura, que se movimen-tavam livremente entre os fora-de-casta co-mendo carne, bebendo álcool, não tomandobanho regularmente, apesar do calor e daumidade, e eram geralmente consideradaspessoas sem moral. O cristianismo, religiãodos paranguis, foi chamado de Parangui Mark-ham ou o modo de vida dos paranguis. Portan-to, nenhum membro das castas hindus, comum mínimo de estima pessoal, jamais pensariaem ser batizado em tal religião, como tambémseria considerado ignóbil e vil. Todos os quese associavam aos paranguis e ao seu modo devida eram, de fato, considerados contamina-dos e, portanto, intocáveis.

A concretização do que se disse anterior-mente fez com que de Nobili se dissociasse dosparanguis e declarasse que não era um paran-gui, mas realmente um sannyasi (asceta hin-du), nascido em Roma. Em sua decisão, eledeixou-se guiar pelo que fora estabelecido noano 50 pelos próprios Apóstolos no Concíliode Jerusalém, ou seja, que assim como não es-perava que os gentios se tornassem judeus eseguissem as normas judaicas (At 15), tam-bém não se devia esperar que os indianos se

tornassem europeus caso deci-dissem ser crentes em Cristo.Estava claramente implí -cito nisso que as suas práticas sociais eramcompatíveis com a sua féem Cristo, Além disso,

imitando São Pau-lo, o Apóstolo dosGentios, que “sefez tudo para todosos homens, a fim de

que pudesse de algummodo salvar alguns”

(1Cor 9,23), de Nobili decidiu “ser indianoentre os indianos para salvar os indianos”. Depois, com a autorização do Provincial, P.Alberto Laerzio, de Nobili decidiu iniciar umnovo método de evangelização em Madurai.

O métodoDe Nobili não queria ter nada, nem no seu

aspecto nem no seu estilo de vida, que o asso-ciasse aos paranguis.Deixara de lado a veste ne-gra e vestia-se como um sannyasi-guru, ou ummestre ascético hindu. Deixou de comer carne,peixe e ovo, e de beber vinho. Só comia umarefeição frugal por dia, que consistia em arroz,leite, fruta e verdura. Não viajava mais a cavaloe não usava sapatos de couro. Mas, segundo aprática local, caminhava com um par de chi-nelos de madeira e com a ajuda de um bastão.Cortara todos os contatos com os portuguesese também com seus irmãos jesuítas, que eramconhecidos como paranguis. Abstinha-se dequalquer contato com os “fora-de-casta” oucom as categorias de pessoas impuras.

Intensificara, também, o estudo dos textossagrados hindus, em especial os Quatro Ve-

“Se fez tudopara todos os homens,a fim de que pudessede algum modo salvar alguns”

(1Cor 9,23)

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vérsias tanto entre osseus confrades jesuítas co-mo entre os missionáriosportugueses. Acusaram-node ser agnóstico e de se tertornado hindu. Contudo, seno início foi o seu provincial alevá-lo a iniciar essa nova abor-dagem missionária, encontroudepois o apoio de outro jesuítainfluente e competente, DomFrancisco Roz, arcebispo de An-

gamali-Cranganore. Como arcebispo dos ca-tólicos sírios do Quérala, Dom Roz sabia porexperiência pessoal que era preciso fazer con-cessões aos indianos em nível social, semcomprometer a doutrina, se se quisesse ter su-cesso como missionário na Índia. O exemplopessoal do missionário de Nobili, o ascetismoe o sofrimento pelo Evangelho que dele deri-vava, os seus escritos apologéticos sobre o te-ma, como também as fortes intervenções emseu favor de Dom Roz, acabaram por salvar ométodo. Em 31 de janeiro de 1623, o PapaGregório XV mediante a Constituição Apos-tólica Romanae Sedis Antistes, aprovou o seumétodo. Os jesuítas, então, continuaram autilizá-lo como método oficial de evangeliza-ção nas missões indianas.

ConclusãoEntretanto, pelo final do século 17, acon-

teceu o que se tornou conhecido na históriadas missões como a polêmica dos Ritos Mala-bares.A polêmica concentrou-se no “métodode Nobili”, entre dois grupos de missionários,os capuchinhos e os jesuítas, alinhados unscontra os outros. A controvérsia foi definidacomo a Controvérsia dos Ritos Malabares poisse concentrava no método dos jesuítas naprovíncia indiana de Malabar. Depois de umasérie prolongada de acusações e contra-acu-sações das duas partes e depois de diversos re-latórios enviados a Roma, a Santa Sé enviouo cardeal De Tournon para visitar a Índia efazer um relatório. De Tournon, que não go-

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das, ou leis espirituais dos hin-dus. Ciente de que havia a cren-ça entre os hindus da existênciade um Quinto Veda, que se per-dera, decidiu apresentar a dou-trina cristã como o Quinto Vedaou Sathya Veda (o VerdadeiroVeda). Tirara dos comentáriosaprovados dos Vedas uma cole-tânea de textos e alusões maisadequadas que servissem de basepara demonstrar a verdade docristianismo. Isso o levou a discussões teoló-gicas com os brâmanes, durante as quais a suapreparação em filosofia e teologia escolásticacolocaram-no em posição vantajosa. Com opassar do tempo, publicaria 15 obras de diver-sas extensões para propagar a doutrina cristãe defender o seu método.

O método revelou-se eficaz, pois várioshindus de casta, entre os quais alguns brâma-nes, se converteram ao cristianismo. Devidoaos seus ensinamentos da doutrina cristã e dos seus escritos, os tâmiles dirigiam-se a elerespeitosamente como Thathuva Bodhakar(Mestre de Doutrina).

De Nobili permitiu aos recém-convertidosmanter as insígnias da própria casta como okudumi (cabelos na forma de “rabo de cava-lo”), o cordão sagrado, ou seja, o cordão dealgodão branco pendente do ombro esquerdoatravés do peito e amarrado atrás, próximo àcoxa direita. Ele também permitiu o uso dapasta de sândalo na testa, no peito e na partesuperior dos braços, como também tomar ba-nhos regulares, sobretudo antes de participarde funções formais religiosas ou civis. Chegoua essa conclusão, fazendo uma sutil distinçãoentre o que considerava práticas puramentesociais, que indicavam a própria condição so-cial ou grau, e as outras práticas com eviden-tes conotações supersticiosas ou religiosas.

ControvérsiasA “mudança de paradigma” na abordagem

missionária que iniciara levou logo a contro-

Papa Gregório XV

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zava de boa saúde, devido às lon-gas e difíceis viagens, permane-ceu com os capuchinhos emPondicherry. Depois, sem visitaras missões dos jesuítas e verificarpessoalmente os fatos, voltou pa-ra Roma e apresentou o seu re-latório. Baseando-se principal-mente nesse relatório, transmiti-do por De Tournon, o Papa Ben-to XIV promulgou a bula Om-nium Sollicitudinum, datada em13 de setembro de 1744, conde-nando o método do jesuíta deNobili, pois fazia concessões àspráticas supersticiosas. Tambémpediu a todos os missionários naÍndia que fizessem um juramentoafirmando que não seguiriam es-se método.

O requisito do juramento fi-cou em vigor até 1940. Com asegunda guerra mundial e o pe-ríodo pós-colonial, quando o do-mínio ocidental do mundo ficou como algodo passado a Igreja Católica foi obrigada a re-pensar a sua abordagem missionária. O quelevou à urgente exigência de inculturação, ecom ela a acentuar a necessidade de adaptaro Evangelho às culturas do mundo.

Em relação ao próprio de No-bili, ele ainda hoje é consideradoum pioneiro da missão. Trezen-tos e cinquenta anos antes doConcílio Vaticano II, ele indica-ra um novo modo de ser missio-nário – sem usar influências po-líticas ou financeiras, mas con-fiante na sua preparação intelec-tual, na sua formação como je-suíta que o tinha tornado umpensador independente e abertoa novas realidades e, sobretudo,empenhado no principal traba-lho missionário de anunciar aBoa Notícia como ThathuvaBodhagar, o Mestre de Doutrina.

A experiência e a iniciativado missionário de Nobili queprocurava não identificar a reli-gião cristã com o Ocidente colo-nial encontra ainda hoje um ecorelevante, pois a perseguição doscristãos, como acontece no

Oriente Médio pelos seus irmãos muçulma-nos, se deve ao fato de a religião cristã ser injustamente identificada com os “países cris-tãos” ocidentais exploradores! ■

Papa Bento XIV

Cardeal De Tournon

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rim, ele inicia a grande inovação didática dasartes e ofícios (que no futuro serão chamadasde escolas profissionais), a partir de oficinaspara marceneiros, tipógrafos e sapateiros. Depois, a obra de Dom Bosco difundirá nomundo todo as escolas técnicas médias, esco-las profissionais, escolas agrícolas.

A importância da instrução e da formaçãoprofissional foi expressada repetidamente co-mo prioridade educativa e econômica global,como insistiram a UNESCO e a Organizaçãopara a Cooperação e o DesenvolvimentoEconômico (OCSE). A grande contribuiçãoda formação profissional à sociedade está re-lacionada com a sua capacidade de oferecersoluções adequadas ao próprio desenvolvi-mento em todas as áreas.

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São João Bosco (1815-1888) foi o funda-dor dos Salesianos de Dom Bosco, tendo de-dicado a vida inteira à educação dos jovensmais vulneráveis. Desenvolveu a sua obraeducativa nos tempos da revolução indus -trial, época de exploração dos jovens agricul-tores que iam à grande cidade de Turim embusca de trabalho. Entre eles havia tambémcrianças de oito anos, que trabalhavam cator-ze horas por dia, sete dias por semana.

Dom Bosco começara a defender os jo-vens aprendizes com contratos de trabalhoque lhes permitiam entrar no mercado detrabalho. Num período de exploração ge -neralizada, Dom Bosco insistiu no direito deperíodos de merecido repouso para os jovenstrabalhadores.

Em 1853, em Valdocco, periferia de Tu-

Dom Bosco

Un dos primeiros contratos de trabalhofeitos na história para un aprendiz.Os protagonistas são um jovem, o patrão duma carpintaria e Don Bosco(Novembro de 1851)

A Formação Profissional e os Salesianos na Ásia

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Originalidade do Centro Salesianode Formação Profissional (QRPJS)

A formação profissional e a escola salesia-na surgiram em Valdocco para responder àsnecessidades concretas da juventude e inse-rem-se num projeto global de educação eevangelização dos jovens, sobretudo os maiscarentes. Animado pelo desejo de garantirdignidade e futuro aos seus jovens, Dom Bos-co deu vida às oficinas de artes e ofícios, aju-dando ao mesmo tempo os jovens na buscade trabalho e providenciando contratos paraeles, impedindo que fossem explorados. Esseserviço e essa preparação serão enriquecidoscom a vocação e a presença do SalesianoCoadjutor, ou Salesiano Irmão.

Foi essa a matriz dos atuais Centros de Formação Profissional (CFP) que procurampromover a formação humana, cristã e profis-sional dos jovens. A proposta responde a pre-disposições, habilidades e perspectivas demuitos deles que, ao final da formação de ba-se, aspiram a inserir-se no mundo do trabalho.A formação profissional é um instrumentopara o amadurecimento humano integral e aprevenção da insatisfação juvenil, além daanimação cristã das realidades sociais e do de-senvolvimento do mundo empresarial.

Sempre atento às necessidades juvenis,

Dom Bosco alargou a sua ação promovendoo surgimento das escolas salesianas. Ele intuíaque a escola é instrumento indispensável paraa educação, lugar de encontro entre a culturae a fé. Consideramos a escola como uma me-diação cultural privilegiada de educação; umainstituição determinante na formação da per-sonalidade, porque transmite uma concepçãode mundo, de homem e de história (cf. A es-cola católica, n. 8). O ambiente “escola” de-senvolveu-se muito na Congregação comoresposta às exigências dos próprios jovens, dasociedade e da Igreja. Tornou-se um movi-mento de educadores solidamente comprova-do no front escolar.

Há também os Centros de Formação Pré-profissional com formulação e atuação espe-ciais de propostas diversificadas: itinerários deorientação, instrução e formação, atualização,requalificação, inserção e reinserção social eno ambiente de trabalho, promoção do em-preendedorismo social. Contribuem para o su-cesso pessoal de cada um e dirigem-se para umaampla tipologia de destinatários: jovens da escola obrigatória; jovens e adultos em buscade trabalho; jovens em dificuldade ou em si-tuação de abandono escolar; migrantes ouaprendizes. Esses itinerários preveem uma pro-posta intensamente individualizada para retor-

nar ao sistema escolar e for-mativo ou para ser iniciadono mundo do trabalho. A for-mação pré-profissional com-preende, de fato, uma série deintervenções adequadas paratornar o sujeito ciente doatual contexto de trabalho epreparado para enfrentar domelhor modo as fases de aces-so à profissão. ■

Quadro Referencial da Pastoral Juvenil Salesiana

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tir que eles obtenham um pon-to de força no mercado do traba-

lho competitivo, Don Bosco Tech ajudaos jovens a ganhar o necessário sustento e

a adquirir as competências adequadasnum ambiente de aprendizageme acompanhamento que respon-

da às exigências emotivas e de desenvol-vimento do indivíduo.

Don Bosco Tech é uma rede com mais de420 centros de formação parao trabalho (skill training cen-tres). O trabalho em rede, de-

pois de uma história feita de escolas técnicas eprofissionais, tem início em 2006, como ummodo de dar resposta imediata ao trabalho dosjovens. Têm como lema: “Skilling India”, isto é,preparar a Índia profissionalmente. DB Techtem o objetivo de dar uma formação preciosa e ligada ao trabalho, como também atualizar as competências já possuídas e dar colocação a2 milhões de jovens até 2022.

Os cursos profissionais de curta duraçãoorientados pelo mercado são oferecidos aosjovens econômica e socialmente sem recursos

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O que vemos na economia indianaem rápido crescimento é um verdadeiroparadoxo. Enquanto os caminhos para otrabalho estão aumentando rapidamen-te, eles não são preenchidos por pessoascom habilidades compatíveis. O desem-prego, então, continua a crescer inexora-velmente. O resultado é a perpetuação dapobreza, em meio a tantas oportunidades.

Don Bosco Tech, conhecido também como DB Tech, enfrenta esseproblema endêmico comuma abordagem baseada nomercado, sensível às exigências socioeconô-micas dos jovens marginalizados entre 18 e35 anos. Don Bosco Tech criou uma rede decentros de formação em toda a Índia, tentan-do preencher essa falta, entre aqueles que nãotêm acesso às oportunidades e aqueles que sãosempre mais marginalizados pelos trabalhosda ‘nova economia’. Don Bosco Tech é umexemplo de ação social que sincroniza os vá-rios sujeitos interessados e visa integrar e ga-rantir a segurança econômica dos jovens quepoderiam ser vítimas da pobreza. Para permi-

“Don Bosco Tech”Índia para dois milhões de jovens trabalhadores

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(18-35 anos) em vista de um emprego susten-tável. A ambiciosa iniciativa visa enfrentaras questões do desemprego e da falta de mãode obra qualificada. Don Bosco Tech formou264.986 jovens numa década, dos quais cercade 70 por cento encontraram trabalho em or-ganizações reconhecidas em toda a Índia.

Seus destinatários são estudantes em idadeescolar e a juventude economicamente frágildas aldeias e cidades.

Diversamente dos cursos de formação nãoflexíveis e convencionais que não respeitamos mercados de trabalho em contínua evolu-ção, Don Bosco Tech vai além da rígida apren-

dizagem baseada no currículo e adota módu-los de aprendizagem flexíveis e orientados pa-ra o mercado, gerenciados por instrutores ade-quados. Os formadores encorajam os alunos adesenvolverem suas capacidades intrínsecas,identificam e articulam seus pontos fortes esuas fragilidades desenvolvendo soluções pararesolvê-las na forma de autogestão. Partici-pando de um diálogo personalizado com osalunos, os formadores orientam-nos paraaprenderem das próprias experiências de vidae assumirem a responsabilidade do próprio desenvolvimento como também do das suasfamílias e comunidades. ■

Os atuais centros formais e informais de Formação Profissional

na Índia e no Sri LankaInstituições formais Instituições não-formais

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1

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1

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1

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6

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1

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7

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2

6

3

2

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Politécnicos

* Os demais centros de Don Bosco Tech funciona, encontram-se em outros institutos religiosos, dioceses e ONGs

InstitutosMédios

Centros Formação Profissional Outros

1900

1500

1300

2200

1200

2800

3400

1750

1400

1500

2150

1100

22.200*

Num. Totalde Alunos

INB

INC

IND

ING

INH

INK

INM

INN

INP

INS

INT

LKC

Total

Inspetorias

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nological College, Bangkok – Pakkred:VTC para cegos, Banpong Don BoscoTechnical School)

• Mianmar – 3 (Myitkyina, Mandalay,Hlang Thar Yar) VTC

• Laos – 1 (Vientiane) VTC• Camboja – 5 (Phnom Penh, Sihanouk-

ville, Poipet, Kep, Battambang) VTC• Filipinas – 18 (Manila – Tondo, Manila

– Makati, Manila – Mandaluyong, Can-lubang, Calauan, San José Nueva Ecija,Legazpi, Naga, Pampanga, Mindanau –Mati, Buda; Victorias, Dumangas, Cebu– DBTS, Cebu – Boys Home, Cebu –Pasil, Cebu – CICL: prision VTC, Bo-rongan)

• Timor Leste – 4 (Fatumaca, Maliana,Fuiloro, Dili-Comoro) Technical school,VTC

• Indonésia – 2 (Blitar Technical school, Ja-karta - Tigaraksa VTC)

• Malásia – Kuching (St. Joseph TechnicalCollege * VTC: iniciado em 2017)

Deve-se reconhecer também outras instituições educativas administradas porgrupos da Família Salesiana:

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São estes os centros de Formação Pro-fissional na Ásia Leste e Oceânia:

Oceânia• Samoa – 2 (Don Bosco Technical

School: Apia, Saleleloga)• Ilhas Salomão – 2 (Honiara DB Techni-

cal School, Tetere DB Rural trainingcenter)

• Papua-Nova Guiné – 5 (Port Moresby –Gabutu, Port Moresby – DBTI College,Kumgi – DB Technical College, Vuna-bosco, Araimiri)

Asia Leste• Macau – 1 (Vocational Training Center -

VTC)• Hong Kong – 1 (Aberdeen Technical

School)• Taiwan – 1 (Tainan Salesian Technical

School)• Coreia – 1 (Seul – DBYC: VTC)• Japão – 1 (Salesio Polytechnic – Tóquio,

Machida)• Vietnã – 4 (Phuoc Loc, Tanh Ha, Ky

Anh, My Thuan) VTC• Tailândia – 3 (Bangkok Don Bosco Tech-

P. Václav Klement, SDB

Conselheiro Geral para a Região Ásia Leste – Oceânia

A variedade dos Centros de FP na Ásia Leste

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• Filhas de Maria Auxiliadora (FMA): Tai-lândia – VTC para cegos; Camboja –VTC para meninas, Mianmar – VTC pa-ra meninas; Filipinas – VTC para meninase mulheres; Laos – VTC para meninas.

• Irmãs da Caridade de Jesus: SecondaryTechnical School – Port Moresby, Kimbeaberta recentemente.

“Dom Bosco”, seja como congregação re-ligiosa com instituições educativas, seja co-mo pessoa é conhecido, reconhecido e apre-ciado nos 23 países da nossa Região ÁsiaLeste – Oceânia, sobretudo pela educaçãotécnica, em nível de escola secundária, emnível de educação terciária: Faculdades, ouatravés dos centros de formação profissional(CFP) (Vocational Training Center –VTC), de vários níveis e encaminhamentos.

A Formação Profissional Salesiana podeser um instrumento – veículo para o Pri-meiro Anúncio de Jesus Cristo – nos am-bientes da Ásia Leste – Oceânia:• sendo espaço de encontro na vida coti-

diana, onde a educação se torna facil-mente testemunho de Jesus e chega aocoração dos jovens;

• sobretudo nos ambientes plurirreligiosose multiculturais, a formação profissional

torna-se ponte entre a gente simples e aIgreja Católica. De fato, em nossos CFPencontramos jovens pobres de todas asreligiões (ou sem nenhuma afiliaçãoconcreta) que estão em busca do melhorpara suas vidas;

• trata-se de uma plataforma ideal para al-cançar ou estar presentes entre os jovensde outros credos ou religiões;

• Dom Bosco é chamado por muitos jus-tamente para esse serviço de preparaçãoà vida dos jovens migrantes, pobres oumarginalizados, através da formação pro-fissional. Isso inclui obviamente tambéma formação humana e muitíssimas possi-bilidades de formação à fé.

Desde os tempos de Dom Bosco e dosseus primeiros missionários, a educação téc-nica oferece um espaço privilegiado ao Sa-lesiano Coadjutor que está muito próximodos jovens pobres no laboratório (workshop)e na sala de aula como irmão mais velho oupai que inicia os jovens não só à vida pro-fissional, mas também à vida de família, nu-ma sociedade solidária. A presença humil-de, significativa e eficaz de um ConsagradoSalesiano entre os jovens é sinal eloquenteda presença de Jesus Cristo no mundo do

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de oração, os retiros também paraos não cristãos, torna-se semente quedará fruto, não logo, mas depois demuitos anos. Os CFP são um belíssimoconvite a dedicar-nos mais à formaçãodos nossos ex-alunos desde o primeirodia da sua presença nos nossos centros. Normalmente, estes ex-alunos são os maisafeiçoados a Dom Bosco, porque a Ele de-vem tudo em sua vida. ■

O Laos é um País com grande desenvol-vimento econômico. Atualmente, vive doturismo e da indústria. Tem uma populaçãode 7 milhões de habitantes e na capital vi-vem 700 mil. A capital Vientiane é próspe-ra, mas a pobreza está mais nas provínciasagrícolas. As ONG estão presentes no de-senvolvimento do País.

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Num País de tradição budista, politica-mente comunista com a proibição da reli-gião cristã, abriu-se uma porta para a pre-sença de Dom Bosco em favor dos jovensatravés da formação profissional. Em 2016,na República Popular Democrática do Laosfoi aberto oficialmente o “Don Bosco YouthVocational Training Center”, na cidade realde Vientiane.

Laos, uma presença recenteMissões Dom Bosco

DO vÍDEO: Sussurrando o Evangelho nas escolas profissionais do Laos

trabalho ou de preparação ao trabalho.Como dado de fato, em quase todas as

escolas técnicas ou nos centros de formaçãoprofissional vemos que a maioria dos mes-tres, técnicos, instrutores e educadores sãonossos ex-alunos. Sobretudo os que vive-ram em nossas escolas ou CFP com inter-nato. A educação recebida com as simplesorações cotidianas, o “bom-dia” ou “boa-noite”, os cantos, as devoções ou os grupos

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O Centro Dom Bosco é uma escola téc-nica, com internato, para iniciação ao tra-balho. Não se pede pagamento, mas os alu-nos contribuem, cada um, com 75 quilos de arroz para o ano todo. Há 4 cursos: ele-tricidade e mecânicas de automóvel de umano, conserto de motocicleta e solda, deseis meses.

O governo do Laos agradece pela formação já dada a mais de mil alunos,considerando que 75% deles encontraramtrabalho, melhorando assim a própria vida.

A obra salesiana faz parte da Inspetoriada Tailândia. A atividade teve início deforma clandestina em 2004 através de al-guns ex-alunos da escola profissional sale-siana de Bangkok (Tailândia), que agorasão professores no Centro Dom Bosco do Laos. A “YouthUnion”, estrutura dogoverno, manifestouinteresse pela obra sa-lesiana em favor dosjovens. Em 2016, foiassinado um convêniooficial devido à gran-de necessidade de cen-tros de formação parao trabalho.

Os alunos sentem

Dia Missionário Salesiano 2018

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que, no Centro Dom Bosco, não só apren-dem um ofício, mas também como se com-portar no dia a dia, como ser bons, comovencer os vícios. No Laos não é permitidoprofessar uma religião que não seja a budis-ta. A presença dos Salesianos é aceita pelogoverno porque o seu método educativo é eficaz e convincente. Naturalmente, osSalesianos são missionários, mas não o di-zem, porque não lhes é permitido manteratividades religiosas vivendo num país comunista. Por isso, procura-se oferecer aos alunos valores humanos, como o tra -balho diligente, o estudo, a disciplina noestudo, a excelência no trabalho e a quali-dade do trabalho que realizam nas oficinas.Essa é a porta de entrada do sistema edu -cativo de Dom Bosco.

Já se pensa emalargar a formação a outras partes doPaís. A porta estáaberta e vão sendocriadas as condiçõespara o PrimeiroAnúncio, que toca-rá o coração dos jo-vens do Laos, quan-do o Senhor o per-mitir. ■

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Technical School de Sihanoukville. A escolahoteleira pode receber 200 jovens – no mo-mento, temos 196 – nas seções de Recepção,Serviço de quartos, Serviço de sala e Cozinha.Os alunos, rapazes e moças, vêm de aldeias es-palhadas por todo o País, na maioria das pro-víncias do sul do Camboja. Alguns dos jovens,32, vivem no albergue no interior da nossa estrutura e as moças, 54, nas três casas para as jovens: duas estão diante das entradas prin-cipais da escola e uma no centro da cidade,

próxima à Don BoscoGuesthouse. O prédiodas salas de aula e o al-bergue dos rapazes sãovisíveis dos quartos doshóspedes que muitasvezes ficam no balcãopara observar curiosos omovimento dos alunos,alguns pedem para visi-tar a estrutura escolar etambém participar do

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Don Bosco Hotel School: não é um nomeestranho para uma obra salesiana?

Bem, começa com “Dom Bosco” e terminacom “Hotel Escola”; quer refletir os múltiplosmodos que Dom Bosco usaria nos nossos diaspara atrair os jovens, fazer com que se sintamacolhidos como numa família, educá-los enri-quecendo-os com o precioso dom do Amor,prepará-los para inserir-se na sociedade comum bom trabalho que lhes permitirá ajudarsuas famílias e sair da pobreza, ser cambojanos“honestos” para abrirao País um horizontemais prometedor. Di-ria que Dom Bosco ateria chamado de “Sa-lesian Hotel School”.

Como é estruturada?A Don Bosco Ho-

tel School é uma ex-tensão da escola téc-nica Don Bosco

Três Salesianos missionáriosem “mangas de camisa”na Formação ProfissionalUma das ideias geniais que o Espírito Santo suscitou em Dom Bosco são os SalesianosCoadjutores que levam para todos os campos educativo-pastorais o valor da própria laicidade,que os torna de modo específico testemunhas do Reino de Deus no mundo, mais próximosdos jovens e da realidade do trabalho (cf. Constituições 45). São eles os consagrados aos quaisDom Bosco se referia como aqueles “em mangas de camisa”, que com sensibilidade laical eprofissional, conduzem, com competência, a formação profissional da juventude em muitoscontextos. A modo de exemplo apresentamos o testemunho de três Salesianos Coadjutoresmissionários na Ásia.

Entrevista com o Sr. Roberto Panetto:A admirável história da Don Bosco Hotel School

Adaptado do Boletim Salesiano - Janeiro de 2016, Itáliada Entrevista de O. Pori Meconi

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“bom-dia” que marca o iní-cio do dia com a oração uni-versal e um bom pensamentoeducativo oferecido pelos Sa-lesianos ou pelo pessoal da es-cola, às veze também por hós-pedes desejosos de comunicara própria experiência de vidaaos nossos jovens. Faz parte daestrutura também o RistoranteGelato Italiano, que é uma sor-veteria-restaurante situadanuma praça do centro da cida-de, a 3 km da Don Bosco HotelSchool. O local, em parceria com a agro-sor-veteria San Pè, de Poirino (Itália), oferece sor-vete de alta qualidade além de pizza, massa,café expresso, cappuccino e outros pratos ita-lianos e asiáticos. Muitos clientes passam a co-nhecer Dom Bosco simplesmente com umbom sorvete e continuam com muitas pergun-tas sobre a proveniência e a atividade de DomBosco no Camboja. O sorvete é apreciado epedido por outros hotéis e restaurantes de Si-hanoukville, e é muito aplaudido por muitascrianças e jovens que o recebem gratuitamen-te nas festas durante o ano escolar. Nas cele-brações do bicentenário de Dom Bosco distri-buímos sete mil sorvetes.

Como lhe veio a ideia?Um benfeitor holandês afirmou que gos-

taria de fazer uma grande doação para uma es-cola de hotelaria. Tentamos inutilmente con-vencê-lo a ajudar outro setor, já existente,mas ele exclamou: “Se não existe, gostariamde construí-la?”. Por que não? Visto que seriauma ótima ocasião para inserir muitos jovensnum bom trabalho permanecendo no territó-rio. Por outro lado, também Dom Bosco tra-balhou como garçom quando jovem! E assima ideia tornou-se uma magnífica realidade.

Desde quando trabalha no Camboja?Em 24 de maio de 1991, o P. Valter Brigo-

lin e eu chagávamos ao Camboja. Celebrare-mos os 25 anos justamente neste ano 2016.

Quais foram as suas expe-riências anteriores?

Depois do noviciado emMonte Oliveto, Pinerolo (Itá-lia), estudei em Turim naObra Salesiana Rebaudento,de1969 a 1972. Ali amadure-ceu a minha vocação missio-nária, depois de um “boa-noi-te” quando um missionárioescreveu que precisava de umSalesiano mecânico, mais doque outras ajudas materiais.Quando pedi ao superior que

me deixasse partir para a missão da Tailândia,a resposta foi: “Deixemos apagar eventuais fo-gos de palha... falaremos disso em três anos”.Fui, então, para San Benigno Canavese comoprofessor técnico para o instituto profissionale de ginástica para a escola média, até novem-bro de 1975, quando, ainda com o fogo ar-dente, foi-me permitido partir para a Tailân-dia onde passei 14 anos belíssimos na escolatécnica Dom Bosco de Bangkok.

Em 1989, os jesuítas pediram para os Sale-sianos organizarem cursos práticos, breves, pa-ra jovens cambojanos nos campos de refugia-dos. A finalidade era preparar o maior númeropossível de cambojanos com uma profissão, demodo que pudessem voltar ao Camboja sendocapazes de reconstruir a sociedade destruídaao longo de anos do genocídio de Pol Pot,1975-1979, e a guerra que ainda continuavaentre vietnamitas, Khmer Vermelho, e forçasgovernativas. O superior da Tailândia aceitouo convite quando, depois da visita aos camposde refugiados, fiquei impressionado com o marde crianças e jovens: mais de 60% dos 350 milrefugiados tinham menos de 20 anos, amon-toados em cabanas de bambu nos campos de-limitados com arame farpado e vigilância mi-litar, mas expostos a diversos perigos e abusos.

Os Salesianos construíram seis escolas téc-nicas com mais de 1.200 alunos. Mais de3.000 jovens foram preparados para o traba-lho como mecânicos, soldadores, eletricistas,

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mecânicos de carro, impressores. Dom Boscoconquistou o coração dos jovens dos camposde refugiados.

Diziam: “Por que Dom Bosco não vem co-nosco ao Camboja? Perdemos nossos pais eagora Dom Bosco é um Pai para nós! Ele pre-cisa vir conosco!”

Um pedido tocante; Dom Bosco não ha-veria de dizer não. Uma visita das autoridadesa Phnom Penh terminou com o acordo deconstruir uma escola profissional na capital.Assim, os Salesianos obedeceram à ordem dosjovens cambojanos, que tiveram o seu Paijunto deles, finalmente no Camboja.

Qual é a presença salesiana no Camboja?Os Salesianos, conhecidos como “Funda-

ção Dom Bosco no Camboja”, trabalham prin-cipalmente em escolas profissionais e de pre-paração ao trabalho. Depois da primeira escolacriada num orfanato do governo, a primeira es-cola salesiana foi a escola técnica Dom Boscoem Phnom Penh. Num terreno de 12 hectaresforam construídos os vários edifícios que aco-lhem mais de 600 jovens, rapazes e moças, nossetores de mecânica, solda, mecânica de carros,eletromecânica, eletrônica, artes gráficas e tec-nologia da informação. A escola também pro-duz livros técnicos em língua cambojana, mui-to apreciados e pedidos por outras escolas téc-nicas do governo e de outras organizações. Asegunda escola em Sihanoukville, com 566alunos, tem seções de mecânica, solda, mecâ-nica de carros, eletromecânica, secretariadoempresarial, comunicação social e a escola dehotelaria Don Bosco Hotel School.Uma terceirapresença está na cidade de Battambang, ondehá duas escolas para crianças tiradas das fábri-cas de tijolos e famílias pobres das aldeias. Ascrianças são mais de 800. Uma escola agrícolaestá se formando e abrirá em breve. As crian-ças que trabalham na fronteira entre a Tailân-dia e o Camboja também têm uma casa deDom Bosco, que as acolhe em Poipet, onde,além da escola elementar e média, têm a pos-sibilidade de aprender um ofício como eletro-

mecânica, solda e conserto de carro.As crianças e os alunos são cerca de

350. A última escola profissional abertalocaliza-se na cidade no litoral de Kep,150 km ao sul de Phnom Penh. Os 300rapazes e moças fazem cursos de comuni-cação social, secretariado empresarial, hote-laria e tecnologia da informação.

O que as pessoas pensam dos Salesianos?Os Salesianos, sendo filhos de Dom Bosco,

vivem do testemunho. Dom Bosco conquis-tou o coração dos cambojanos, porque amaindistintamente a juventude pobre de qual-quer religião, respeita as autoridades, não seintromete na política de modo direto, educaos jovens acompanhando-os para a inserçãona sociedade com um trabalho digno. Tudoisso torna os Salesianos bem acolhidos tantopela população como pelas autoridades.

Como vê o futuro da Congregação no Camboja?A presença salesiana no Camboja atua nu-

ma situação, em alguns aspectos, muito seme-lhante à de Dom Bosco quando encontrou osjovens pelas ruas de Turim, nas prisões, crian-ças operárias, exploradas e abusadas. O tráficode crianças através da fronteira, as criançasexpostas ao turismo sexual e aos pedófilos naspraias de Sihanoukville ou ao longo do rio dePhnom Penh, as crianças vendidas pelas fa-mílias simples e ignorantes a pessoas que pro-metem um futuro de sonho para quando cres-cerem... são situações que interpelam a nós,Salesianos, para intervir rapidamente a fimde prevenir e pôr fim a esses horrores. Muitasfamílias vivem em condições de pobreza extrema. As estatísticas mostram que a popu-lação das zonas rurais vive com menos de um dólar por dia. A educação, especialmentepela preparação ao trabalho, é a melhor armapara vencer a ignorância e a pobreza. NoCamboja, somos atualmente 16 Salesianosdos quais só dois cambojanos: quanto a nós,achamos que também no futuro nunca esta-remos desempregados! ■

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O Salesiano CoadjutorAndrea Tran Le Phuong éum missionário vietnamitana Mongólia, que trabalhano centro de formação pro-fissional de Ulan Bator.

Nossa família era budista,mas alguns amigos da minhairmã eram católicos, e elaparticipava com eles de algu-mas atividades da igreja. Certo dia, minhairmã expressou o desejo de ser católica. Entãomeu pai disse à família que o avô antes demorrer lhe dissera que se dizia sobre os nossosantepassados terem sido católicos e pediu aomeu pai para procurar os nossos parentes ca-tólicos. Meu pai deu permissão à minha irmãe, surpreendentemente, acrescentou: “Queroque toda a nossa família seja católica segundoo desejo do vovô”.

A igreja mais próxima à nossa casa eraconduzida pelos Salesianos e minha irmãficou conhecendo o P. Fabian Hao. Compar-tilhou com ele a nossa história e o desejo domeu pai, e ele se ofereceu para ajudar. Unsdois meses depois, P. Hao disse ao meu pai quefora ao lugar de nascimento do meu avô e aliencontrara os nossos parentes católicos e queum deles também se tornara sacerdote. Comessa notícia, meu pai decidiu que toda a nossafamília se converteria ao catolicismo. Toda anossa família apoiou a decisão do meu pai,menos eu. Todos começaram a estudar o ca-tecismo, mas sem mim. Resistia, mas com aajuda do P. Hao, afinal, também decidi estu-dar o catecismo com a minha família. No dia22 de dezembro de 1992, P. Hao batizou todaa nossa família.

Um mês depois descobriu-se que meu paiestava com câncer. A morte do meu pai, pou-

cos meses depois, atingiu-meduramente, mas fiquei maisimpressionado ainda peloapoio dado pelo P. Hao a meupai durante a sua doença e ànossa família depois da suamorte. Depois, pedi a minhairmã que me levasse até o P.Hao. Disse-lhe que não sabiao que fosse a vida consagrada,

mas que só queria ser como ele. Tornei-me,então, aspirante, enquanto trabalhava parasustentar minha família. Depois de ler as bio-grafias de Dom Bosco, do beato ArtêmidesZatti e de Simão Srugi estava mais que con-vencido que devia ser Salesiano coadjutor.

Certo dia, enquanto limpava uma velhaestante no pré-noviciado, vi um livro quenarra os sofrimentos e a morte por amor deCristo dos missionários no Vietnã durante aperseguição. Essa foi a semente da minha vo-cação missionária. Compartilhei o desejo deser missionário ad gentes com o meu Mestrede noviciado e com o diretor do pós-novi-ciado. Em 2000 fiz o pedido e fui enviado aPapua-Nova Guiné para estudar no DonBosco Technological Institute em preparação àminha missão na Mongólia.

Quando os irmãos me perguntam por queser missionário no exterior, quando nós temosmuita gente no Vietnã que ainda não co-nhece Cristo, respondo simplesmente: “Re-cebemos tanto dos missionários, também àcusta da própria vida. Sinto que tambémtemos o dever de compartilhar a nossa fé emCristo”. Estou certo de que Deus nos aben-çoará abundantemente pela nossa generosi-dade. Ele mandará mais pessoas para tomar o meu lugar na Inspetoria.

Desde 2004 trabalho alegremente na

Andrew Tran: de Budista a Cristão,Salesiano e Missionário!

De Cagliero 11 - Agosto de 2012

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Mongólia como missionário Salesiano Coad-jutor. Agradeço pelo testemunho de vida dosSalesianos que tornaram maleável a obstina-ção do meu coração budista e me levaram

Luigi Parolin: duas mãos calosas para mudaro mundo

Do Boletim Salesiano - Dezembro de 2016, Itália

A admirável e laboriosa aventura de um Salesiano Coadjutor e do Don BoscoAgro-Mechanical Technology Center de LegazpiCity, nas Filipinas.

Sou um Salesiano Coadjutor, meu nomeé Luigi Parolin e nasci na província de Vi-cenza (Itália) em 1940. Venho de uma famí-lia de agricultores. Desde menino frequenteia Escola Agrícola Salesiana de Cumiana(província de Turim) e, depois, a EscolaProfissional Salesiana “Rebaudengo”, de Tu-rim. Nesse período, tive a oportunidade deconhecer muitos Missionários Salesianosque voltavam a Turim. Ouvindo a experiên-cia deles, sentia a grande pobreza do povo,em particular dos jovens. Fiquei impressio-nado com isso tudo e aos dezessete anos optei por ser Salesiano. Depois de três anosde formação, parti para as Filipinas em

1960. Tinha vinte anos e ainda hoje vivo feliz com a minha decisão.

Trabalhei sempre nas escolas profissio-nais salesianas; para obter uma maior espe-cialização, frequentei um curso de motoresna Califórnia, Estados Unidos, e, em 1968voltei às Filipinas para organizar e dirigir aseção de formação profissional para jovensde famílias pobres em dois diversos Centrosde Manila. No final dos anos 90, meus supe-riores, a pedido do bispo de Legazpi, encar-regaram-me de iniciar um centro profissio-nal nas colinas daquela cidade a cerca de500 km a sudeste de Manila.

Para compreender essa opção, é precisoter presente que a população filipina é de cer-ca de 100 milhões de habitantes com um au-mento de mais ou menos um milhão e meiopor ano. A maioria das pessoas trabalha na

a Cristo e a descobrir a minha vo-cação salesiana. Agradeço, sobretudo, a Deus pelas coisas maravilhosas que fez por mim! ■

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agricultura. Gran-de parte do solo éde colinas com co-queiros. O ganhodos agricultoresdepende da vendado coco. Os agri-cultores não explo-ram o terreno abai-xo e os proventosda venda de coconão são suficientespara todos, tambémporque o número de coqueiros está em dimi-nuição devido a doenças que os atingem e ostufões que passam pela ilha, enquanto a po-pulação aumenta com a consequente piora dacondição econômica. São poucos os agricul-tores que plantam um pouco de milho, man-dioca, batata doce; a criação de animais é sópara uso familiar. O trabalho agrícola na co-lina apresenta dificuldades objetivas.

Outros produtos agrícolas cultivados sãoarroz, cânhamo (para produção de tecidos eoutros objetos variados), pili e abacaxi. Apesca também é difusa. Legazpi está situadana região de Bicol (ilhas Luzon). É uma re-gião com cerca de 4,7 milhões de habitan-tes. 60% da área construída está nas monta-nhas e colinas. Bicol é uma das regiões maispobres das Filipinas. O clima é quente eúmido e a chuva abundante. O bispo localofereceu-nos o uso de cerca de 13 hectaresna colina, cultivada com coco, mas só a me-tade é utilizável.

Analisando as condições socioeconômi-cas do povo local, individualizamos algunsproblemas a enfrentar, como a falta de umprojeto agrícola para o terreno em colina (oque e como plantar), a falta de equipamen-tos básicos, que de fato ainda são rudimen-tares e arcaicos; a falta de capital inicial; a incapacidade gerencial e de mercado. De-pois de uma primeira análise e avaliação da situação ambiental e cultural foi concluí-do que este é o lugar ideal para Dom Bosco

e, no dia 11 de se-tembro de 2000,foi colocada a pri-meira pedra. Coma assistência eco-nômica da Con-ferência Episco-pal Italiana e daAlemanha, cons-truímos alguns pré-dios e buscamosos equi pa men -tos. Em 28 de

junho de 2001 foi inaugurado oficialmenteo “Don Bosco Agro-Mechanical TechnologyCenter di Legazpi City”.

Atividades do centro de formaçãoSeguindo o exemplo de Dom Bosco, que

fazia da educação o instrumento de combateà pobreza, organizamos um centro profissio-nal-agrícola para ensinar um ofício aos fi-lhos de agricultores e não agricultores e, por-tanto, para colocar as bases do seu resgatesocial sem deixar de lado a formação huma-na e cristã.

Desde que o centro teve início até outubrode 2014, 1579 jovens concluíram o períodoprevisto de estudos e em poucos meses maisde 86% dos jovens encontraram emprego.

A oferta formativa é constituída por estescursos profissionais: agricultura, com horti-cultura e criação de animais; mecânica agrí-cola; carpintaria; mecânica com solda elétri-ca; motores a gasolina e diesel de um cilin-dro e motocicleta; estudo de equipamentose máquinas agrícolas, equipamentos elétri-cos e manutenção de condicionadores de ar.

Os cursos no Centro são realizados noperíodo de um ano e acompanhamentos porcinco meses de aprendizado e estágio em di-versas empresas. Os resultados produzidospela atividade do Centro são mais do que sa-tisfatórios e a sua retomada surtiu efeitos po-sitivos tanto no plano pessoal dos própriosjovens, com um emprego, como no plano fa-

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miliar, com a melhoria das condições econô-micas, como também comunitário pelo pa-pel ativo adquirido.

Potencialização da agriculturaO segundo objetivo que nos prefixamos

foi dar assistência aos agricultores na melho-ria e potencialização do uso do terreno ape-sar da sua característica de colina. Devemostrabalhar nessa direção.

Entre os diversos produtos que cultiva-mos atualmente há o milho, a mandioca,hortaliças e plantas frutíferas.

Desde há alguns anos nos dedicamostambém ao cultivo da soja como elementoimportante na composição da alimentaçãodos animais. Em lugar de importar esse pro-duto, largamente utilizado para a alimenta-ção animal, queremos cultivá-lo localmentepara abaixar os custos de produção da forra-gem, criando, portanto mais trabalho eoportunidades para os agricultores. Tudo is-so requer mais pesquisa, equipamentos, tec-nologia e capital, mas também traz muitosbenefícios aos agricultores.

O trabalho voltado à potencializaçãoprodutiva nunca está separado da atençãoem relação ao território. O uso da terra, emtodo caso, não deve deixar de lado o respei-to pelo ambiente. Há anos, de fato, pratica-mos a agricultura biológica pois, além de sermais econômica, melhora as condições doterreno e a qualidade dos próprios produtos.Todos os fertilizantes são naturais, produzi-dos principalmente em nosso centro, e nãosão usados nem pesticidas nem herbicidas.

Criamos no centro milhares de galinhas,frangos e mais de cem porcos. Para diminuiro custo da alimentação animal, o Centro usaum moinho para a moagem do milho napreparação da forragem.

Além da formação em técnica agrária,temos o dever e a urgência de introduzirequipamentos mecânicos simples para o tra-balho da terra: alguns deles são construídospor nós mesmos ou comprados e, às vezes,

adaptados conforme as particulari-dades do terreno ou do trabalho a ser feito. Encontram-se pouquíssimosequipamentos mecânicos nas Filipinase, por isso, precisamos usar a nossa“criatividade”.

O processamento dos produtosEm 2008, o Don Bosco começou a culti-

var soja de modo experimental com bons re-sultados. A produção, porém, devia ser li-mitada pois é um produto que requer certoprocessamento que não éramos capazes defazer por falta de equipamentos. O Ministroda Agricultura, que acreditou no nosso pro-jeto, deu o capital necessário para a aquisi-ção de uma máquina de processamento dasoja. Agora, vemos os agricultores no culti-vo desse produto muito requisitado pelomercado local.

O Don Bosco demonstrou que a soja cres-ce bem naquela região (e em outras também)e a sua produção é realizável. Com essa ini-ciativa o Don Bosco comprova que há aliuma nova oportunidade para os agricultores.

A cooperativaA fim de dar assistência aos agricultores,

o Don Bosco criou há alguns anos a coopera-tiva “Don Bosco Agricultural Multi-purposeCooperative”, de Legazpi, com o objetivo deunir e dar assistência aos agricultores no cul-tivo da terra, ajudando-os com empréstimosde capitais iniciais, instruindo-os no uso detécnicas adequadas, no marketing, etc. Asoja processada é muito apreciada pelos cria-dores e empresas que preparam os várioscompostos. É tarefa da cooperativa colocaresse e outros produtos no mercado.

Nós do Don Bosco, e nós, Salesianos, emparticular, estamos felizes por acompanharos agricultores e os jovens na sua formaçãoem sentido amplo: melhorar a sua condiçãosocial e econômica com a instrução técnica,sem descurar o seu desenvolvimento huma-no e cristão. ■

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Apresentamos uma pequena parte desterico documento sobre a evangelização naÁsia.

N° 23. Vida cristã como anúncioQuanto mais a Comunidade cristã estiver

arraigada na experiência de Deus que brotaduma fé viva, tanto mais será capaz de anun-ciar credivelmente aos outros a realização doReino de Deus em Cristo. Isso será o resultadoda escuta fiel da palavra de Deus, da oração econtemplação, da celebração do mistério deJesus nos sacramentos, sobretudo na Eucaris-tia, e do exemplo dado de verdadeira comu-nhão de vida e integridade de amor. Ocoração da Igreja particular deve permanecerfixo na contemplação de Jesus Cristo, Deusfeito homem, e esforçar-se constantementepor chegar a uma união cada vez mais íntimacom Ele, cuja missão ela continua. A missãoé ação contemplativa e contemplação cativa.Por isso, um missionário que não possua umaprofunda experiência de Deus na oração e nacontemplação terá pouca influência espirituale reduzido sucesso missionário [...]

Uma pessoa verdadeiramente religiosaganha prontamente respeito e aceitação na Ásia. É que a oração, o jejum e as váriasformas de ascetismo são tidas em grande es-tima; e a renúncia, o desapego, a humildade,a simplicidade e o silêncio são consideradosgrandes valores pelos seguidores de outras religiões. Para que a oração não apareça desunida da promoção humana, os Padres Sinodais insistiram em que « as obras de jus-tiça, de caridade e de solidariedade façamparte duma autêntica vida de oração e con-templação, e de fato só uma tal espirituali-dade poderá ser a fonte boa da nossa obraevangelizadora ». Plenamente convictos daimportância de testemunhas autênticas paraa evangelização da Ásia, os Padres Sinodaisdeclararam: « A Boa Nova de Jesus Cristo sópode ser proclamada por aqueles que se dei-xarem conquistar e inspirar pelo amor do Paia seus filhos, manifestado na pessoa de JesusCristo. Este anúncio é uma missão que neces-sita de homens e mulheres santos que dese-jam, através de suas vidas, tornar conhecidoe amado o Salvador. Um fogo só pode ser

Ecclesia in Asia

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aceso por algo que já esteja incendiado. Domesmo modo, também só é possível realizar,na Ásia, um frutuoso anúncio da Boa Novada salvação, se Bispos, clero, pessoas de vidaconsagrada e laicato estiverem, eles próprios,abrasados pelo amor de Cristo e inflamadosde zelo por tornarem-No mais largamente conhecido, mais profundamente amado emais intimamente imitado ». Os cristãos quefalam de Cristo devem manifestar na vida a mensagem que proclamam.

A propósito disto, há uma circunstânciaparticular no contexto asiático que merece anossa atenção: a Igreja sabe que o testemunhosilencioso de vida permanece ainda o únicomeio de proclamar o Reino de Deus em mui-tos lugares da Ásia, onde é proibido o anúncioexplícito, e a liberdade religiosa é negada ousistematicamente restringida. A Igreja abraçaconscientemente este tipo de testemunho,considerando-o como parte da cruz que devecarregar (cf. Lc 9, 23), embora não cesse deimplorar e incitar os Governos a reconhece-rem a liberdade religiosa como um direito hu-mano fundamental. [...]

É claro, portanto, que o anúncio de JesusCristo na Ásia apresenta aspectos vários ecomplexos tanto no conteúdo como no mé-todo. Os Padres Sinodais estavam bem cien-

tes da legítima variedade de modelos para o anúncio de Jesus, tomando providênciaspara que a própria fé seja respeitada em todaa sua integridade ao longo do processo da sua recepção e partilha. O Sínodo observouque « a evangelização é, hoje, uma realidaderica e dinâmica. Possui vários aspectos e elementos: testemunho, diálogo, anúncio, ca-tequese, conversão, batismo, inserção na co-munidade eclesial, a implantação da Igreja,inculturação e promoção humana integral.Alguns destes elementos comparecem juntos,enquanto outros constituem fases sucessivasdo processo global de evangelização ». Mas,em todo o trabalho de evangelização há queanunciar a verdade completa de Jesus Cristo.Pôr em destaque determinados aspectos domistério inexaurível de Jesus é simultanea-mente legítimo e necessário para iniciar gra-dualmente uma pessoa no conhecimento de Cristo, mas isso não deve levar a compro-meter a integridade da fé. No fim, a aceitaçãoda fé por um indivíduo deve estar assentenuma compreensão segura da pessoa de JesusCristo, tal como é apresentada pela Igreja em todo o tempo e lugar, o Senhor de todos,que é « o mesmo ontem, hoje e por toda aeternidade » (Hb 13, 8). ■

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Kuriakose (Ciríaco) Elias Cha -vara nasceu no dia 10 de fevereirode 1805 de Iko (Kuriakose) Cha-vara e Mariam Thoppil, em Kai-nakart, no Estado do Quérala, Ín-dia. Kuriakose deriva do nome Qu-riaqos, siríaco aramaico, porque afamília pertencia ao rito siro-mala-barense da Igreja Católica. EssaIgreja reivindica descender das setecomunidades fundadas pelo Após-tolo São Tomé, cujo túmulo se en-contra em Chennai, na costa leste da Índia.

Nascido dez anos antes de João Bosco, Kuria-kose não teve dificuldade para iniciar a sua forma-ção, em tenra idade, na escola elementar da al-deia. Aos 13 anos entrou no seminário e foi orde-nado sacerdote no dia 29 de novembro de 1829,com menos de 25 anos.

Dois anos mais tarde, em 1831, aquele que foraseu reitor no seminário, P. Palackal Thoma Mal-pan, outro sacerdote, P. Porukara Thoma Katha-nar e o próprio Kuriakose começaram a viver juntos numa comunidade monástica. Os dois pri-meiros morreram um decênio depois, um em 1841e outro em 1846. Entretanto, Kuriakose não abandonou os seus projetos: em 8 de dezembro de1855, ele e outros dez emitiram os votos segundoa tradição carmelita.

Não obstante provenham de dois continentesdiferentes, há muitas semelhanças entre Dom Bocoe Kuriakose Chavara. Este entendera a importân-cia do valor da instrução e utilizou a sua posiçãode vigário-geral da diocese para ordenar que cadaparóquia iniciasse também uma escola. No início,ele não se ocupava dos jovens analfabetos que mi-gravam das aldeias às cidades em busca de traba-lho, mas, depois, ele viu que somente os filhos dosricos tinham acesso à instrução. De fato, era proi-bido às castas inferiores o estudo do sânscrito. Ku-riakose insistiu para que todos fossem admitidos àsescolas paroquiais. Atraiu os filhos dos pobres e dascastas inferiores à escola, dando uma refeição gra-tuita ao meio-dia para todos os alunos. Somente

um século e meio mais tarde, o go-verno da Índia faria o mesmo.

Tanto Dom Bosco como Kuria-kose foram escritores prolíficos.Ambos perceberam o poder da pa-lavra impressa. Ambos tiveramuma tipografia. Kuriakose iniciouo mais antigo jornal Malaiala, ain-da existente, o Nasrani Deepika.

Kuriakose e Dom Bosco fize-ram da educação dos jovens o ser-viço prioritário de suas Con -

gregações. Ambos entenderam que nem todos osjovens podiam ter sucesso no campo acadêmico;por isso, ambos iniciaram escolas profissionais,embora o peso dado por Dom Bosco tenha sidomais intenso do que o de Kuriakose, talvez porqueo Quérala não atravessava uma revolução indus-trial como a do Piemonte.

É muito interessante que Kuriakose tenha idocontracorrente em relação às sensibilidades sociaisdo seu tempo e da sua região, oferecendo educaçãoàs meninas e formação profissional às jovens mu-lheres. Colaborou com o P. Leopoldo Beccaro nafundação de uma congregação feminina; comotambém Dom Bosco fez com Maria Mazzarello eo P. Pestarino, para iniciar o Instituto das Filhasde Maria Auxiliadora.

Estes santos educadores entenderam que, parachegar ao coração das pessoas, é importante o ca-minho da formação dos seus filhos, incluída a ins-trução profissional.

O Papa Francisco dirá de Kuriakose e da suafilha espiritual:

«Padre Kuriakose Elias Chavara e Ir. EufrásiaEluvathingal, religiosa do Instituto feminino por elefundado, recordam a cada um de nós que o amor deDeus é a fonte, a meta e o sustento de toda santida-de, enquanto o amor do próximo é a mais límpidamanifestação do amor pelo Senhor. De fato, padreKuriakose Elias foi um religioso ativo e contem -plativo, que gastou generosamente a sua vida pelaIgreja Siro-Malabarense, atuando segundo o lema“santificação pessoal e salvação dos outros”». ■

Os Santos e a Formação ProfissionalSão Kuriakose Elias Chavara

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Projeto 2018Um sussurro de esperança em meio a explosões

e tiros de arma de fogoJoseph Lian Khat Kim tem 20 anos e ganha 200 dólares por mêscomo marceneiro – um ótimo salário em Mianmar. “Órfão” aos 3 anos, quando seus pais se divorciaram e o abandonaram...Foi Dom Bosco que o educou, lhe deu uma habilitação e, portanto,a capacidade de encontrar um emprego.Sut Rein Aung tem 21 anos. Abandonado pelo pai aos 2 anos, abu-sado pelo padrasto na adolescência, fugiu de casa, que não eramais um lar para ele. Foi para Myitkyina, capital do estado de Ka-chin em Mianmar. Os companheiros de rua fizeram-no experimen-tar a droga. Esteve envolvido em pequenos furtos para manter ovício adquirido e aplacar a fome. Foram necessários cinco mesesde amor salesiano incondicional para fazê-lo deixar o uso da droga.Agora, aprendeu o ofício de soldador, e ganha 150 dólares por mês,mas continuará a viver conosco mais um pouco, para escapar depressão dos antigos amigos de rua dependentes de drogas.Dom Bosco faz a diferença. O Evangelho da Misericórdia, procla-mado por Cristo, é sussurrado ao coração dos jovens de Kachin. E está transformando a vida deles. Está dando-lhes esperança.Atualmente, são outros 130 “Lian Khat” e “Rut Aung” – 90 meninose 40 meninas. A maioria vem ao Dom Bosco de Myitkyina da comu-nidade Kachin, ou de outras diversas tribos. Suas vidas vão se trans-formando através do amor e da instrução profissional que recebem.No estado de Kachin os tiros de arma de fogo ecoaram anos a fio.As desordens civis e as violências sem fim só produziram desespero,como sempre, entre a gente comum, especialmente os jovens. Osjovens abandonaram a escola e fugiram das aldeias para Myitkyina.Mas não estão muito seguros na cidade. Correm o risco de seremrecrutados por facções armadas, de abuso de droga, de tráfico de seres humanos, de cair vítima do mercado negro...Em 2001, Dom Bosco foi um raio de esperança para esses jovens –meninos e meninas – através da formação humana, religiosa e téc-nica que lhes oferecemos. Nós nos adaptamos à suas circunstâncias,capacidades e necessidades. Eles aprendem profissões simples quemelhoram as possibilidades de encontrar trabalho na própria cidade.Cursos de marcenaria, solda, eletricidade, mecânica de carros, con-certo de celulares para os meninos; costura, bordado e criação de camisetas para as meninas; ou agricultura biológica e criação de porcos e vacas para meninos e meninas.Dom Bosco convida cada Salesiano e cada instituição a fazer nesteano uma campanha para esta missão a fim de tornar esse sussurrode esperança um pouco mais forte. O centro tem uma grande ne-cessidade de assistência financeira do exterior para ampliar e atua-lizar as infraestruturas e os equipamentos. Envie a sua contribuiçãoem dinheiro à Sede Central, especificando que é para os jovens de Myitkyina, Mianmar.

Jovens meditando

Curso de marcenaria

Meninos de 1° ano

Curso de bombeiro

Curso de mecânica

Curso de corte e costura

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Setor das Missões - Sede Central Salesiana

Via Marsala, 42 - 00185 Roma

Tel. (+39) 06 656.121

e-mail: [email protected]

Redacção: Equipe do Setor das MissõesPôster : CI. Peter Duoc Le SDB – Fotos: Missões Dom BoscoTradução: P. José Antenor Velho SDB, P. Hilario Passero SDBGráficos e Impressão: Tipolitografia Istituto Salesiano Pio XI - Tel. 06 7827819 / 06 7848123 • [email protected]

Deus Onipotente,

Criador do Céu e da Terra,

que não te revelaste a Elias

no vento impetuoso,

nem no terremoto,

nem no fogo,

mas no sussurro de uma brisa suave;

torna-nos dóceis ao sussurro do Espírito

para anunciar o coração do Evangelho

ao coração do continente asiático.

Que o som harmonioso e alegre

da educação ao trabalho

dê dignidade à vida dos nossos jovens

abrindo-os ao encontro com Jesus,

o “Carpinteiro de Nazaré”.

Amém.

Oração