© 2002 franciane ulaf - orientação vocacional e coaching · a 3º parte apresenta algumas...
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© 2002 Franciane Ulaf
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ADEPH Academia de Desenvolvimento e Planejamento Humano
Para minha mãe
SUMÁRIO
PARTE I Introdução 07 Reflexão – Auto-percepção 16 Um balanço prévio de sua vida
18
PARTE I 19 1. PEP 20
O que é PEP? 20 Por que você deveria planejar a sua vida 23
2. Os fatores que facilitam e dificultam o sucesso de um PEP 29 Comportamentos que facilitam o sucesso 29 Comportamentos que dificultam o sucesso 31
3. Quais os primeiros passos 42 3.1 Mudança de Paradigma 42 3.2 Postura Proativa 53 3.3 Autoconhecimento 57
Ferramentas para o Autoconhecimento 60 1. Descubra quais são seus valores pessoais 60 2. Identificação dos pontos fortes e fracos 75 3. Identificação de padrões
78
PARTE II 79 4. Projeto de Vida 80
4.1 Foco 82 4.2 Metas X Objetivos 88 4.3 Visões X Objetivos 89
5. Planejamento Estratégico 94 5.1 A Missão e a Visão 94 5.2 Definição de Metas 97 5.3 Estratégia 107
5.3.1 Nível estratégico 110 1. Análise dos Fatores Internos 110
2. Análise dos Fatores Externos 111
3. Análise de Questões Críticas 112
4. Estratégias Alternativas 113
5.3.2 Nível Tático 116 5.3.3 Nível Operacional 118
1. Suas Metas são Compatíveis ? 118
2. Recursos Externos 118
3. O Recurso Responsabilidade 119
4. Organização 119
5. Recursos Pessoais 119
5.4 Análise Estratégica 126 5.5 Manutenção da Estratégia 129 5.6 Montagem do Planejamento Estratégico
130
PARTE III 134 6. Auto-organização 135 6.1 Organização Física 135 6.2 Organização Psicológica 136 6.3 Organização Mental 138 7. Definição de Limites 140 7.1 Disponibilidade 140 7.2 Pressão 142 7.3 Qualidade 142 7.4 Envolvimento 143 8. Definição de Prioridades 144 8.1 Os 4 Níveis de Prioridades 144 8.2 O mais Importante em Primeiro Lugar 147 8.3 Coerência na Priorização 151 9. Produtividade 155 9.1 Eficiência X Eficácia 155 9.2 Ocupado X Produtivo 156 10. Administração do Tempo 157 10.1 O Tempo 159 10.2 A Administração do Tempo 164 10.3 O que é Administrar o Tempo ? 173 10.4 As 4 Gerações de Administração do Tempo 175 10.5 A Organização do 2º Quadrante 180 11. Objetivos X Felicidade 184 Considerações Finais 187 Referências Bibliográficas 189 Como entrar em contato com Franciane Ulaf 192
“Tu és o arquiteto do teu próprio destino.Trabalha, espera e ousa.”
Wilcox Wheeler
INTRODUÇÃO
A idéia de escrever sobre planejamento estratégico pessoal surgiu
durante um curso de autodesenvolvimento em 1997. Dentre as
ferramentas que utilizávamos para alavancar o desenvolvimento pessoal
estava o planejamento. A técnica utilizada era rudimentar: definir metas a
curto, médio e longo prazo. Através de conversas com os demais
participantes, pude perceber que a maioria já estava fazendo o curso pela
2º ou 3º vez, e persistiam as dificuldades para cumprir o planejado. Os
maiores problemas, segundo as pessoas que tive contato, estavam
relacionados à administração do tempo, auto-organização e
autoconhecimento. Deficiências nestas áreas dificultavam a realização das
metas propostas.
A partir deste curso decidi pesquisar os temas relacionados à
organização e planejamento pessoal. Ao longo desse tempo que venho
pesquisando o tema, pude constatar que muitos dos problemas
relacionados ao estresse, depressão, falta de motivação, baixa auto-
estima, dentre outros, estão diretamente ligados à falta de organização e
má administração do tempo e, principalmente, à ausência de objetivos
pessoais de longo prazo.
Constatei que a maioria das pessoas não precisa de um manual de
planejamento ou um guia de administração do tempo, se antes não se
conhecerem o suficiente para saberem onde estão e onde querem chegar.
Isso envolve autoconhecimento, saber onde está significa conhecer seus
pontos fortes e fracos, seus objetivos de vida, seus valores pessoais, seus
mecanismos de defesa, enfim, só um conhecimento claro, objetivo e
realista sobre você mesmo é que poderá determinar onde você quer
chegar. Isso é manifestado através de um projeto de vida, definição de
metas realistas, priorização coerente.
Franciane Ulaf
Cheguei à conclusão de que a motivação é uma questão de
objetivos, sem saber para onde está indo, a pessoa sente que tudo o que
faz é inútil. Atividades isoladas, desconectadas de um objetivo maior não
são motivadoras pois não têm “significado”. O significado é o porque, a
razão. Se não houver esse porquê, a desmotivação é uma conseqüência
natural. Quem gosta de fazer algo sem saber porque está fazendo?
Muitas pessoas acreditam que não possuem poder de decisão sobre
a própria vida, que devem aceitar passivamente o que lhes acontece. As
evidências nos mostram que a realidade é bem diferente. Os grandes
sucessos foram conquistados em cima de muito suor e determinação. As
pessoas que conseguem o que querem têm um sonho e o perseguem até
realizarem o que desejam, não esperam que a vida, o destino, Deus, ou
algo externo determine seu rumo. Estudos demonstram que a maioria das
pessoas não sabe o que quer da vida, ou se sabe, não tem idéia de como
realizar seus sonhos. Não me refiro a sonhos como algo abstrato, irreal,
mas como objetivos que podem ser realizados, mas ainda não “tomaram
forma”, não foram planejados.
A literatura na área de planejamento e administração do tempo é
muito vasta, no entanto, é comum ouvirmos comentários de pessoas que
“já tentaram de tudo” e não conseguiram mudar velhos hábitos negativos
e aplicar as técnicas propostas. Se as pessoas não estão obtendo êxito
aplicando o que há disponível no mercado é porque algo está errado. As
técnicas em si são boas e “parecem” aplicáveis. Então por que as pessoas
não conseguem segui-las e administrar suas vidas da forma como
desejam? O planejamento é a ponta do iceberg. A administração do tempo
é apenas uma ferramenta. É preciso cuidar muito bem da base pra que
esse planejamento de fato reflita realidade, ou seja, para que você não
planeje um monte de coisas que não vai cumprir pelo simples fato das
metas serem ilusões, ou você não estar preparado para cumprí-las. Você
também precisa cuidar da base do iceberg para que esse planejamento
seja realmente o que você precisa, as pessoas às vezes planejam
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Planejamento Estratégico Pessoal
baseando-se em hobbies, ilusões passageiras, sem saber o que elas
precisam de verdade.
Aqui você não encontrará somente técnicas para aplicação imediata,
mas uma oportunidade de reflexão profunda e contínua, através de
ferramentas de autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e reavaliação
de hábitos, conceitos e paradigmas.
A 1º parte é destinada a esclarecer o tema “planejamento
estratégico pessoal”, analisar os fatores que facilitam e dificultam o
sucesso de um planejamento, e também propor os primeiros passos e as
mudanças interiores necessárias para que você seja bem sucedido ao
planejar seus objetivos.
A 2º parte trata do planejamento estratégico em si. Como elaborar
um projeto de vida, como definir metas e objetivos e como planificar
detalhadamente cada meta, traçando caminhos, prevendo obstáculos,
levantando recursos.
A 3º parte apresenta algumas ferramentas de administração pessoal
que podem auxiliar e até garantir o sucesso de um planejamento, como
auto-organização, administração do tempo, definição de limites e
prioridades.
A era do desenvolvimento pessoal
"Daqui a alguns séculos, quando a história da nossa era for escrita de uma
perspectiva bem distante, eu acho que é muito provável que o evento
mais importante que esses historiadores irão retratar não será a
tecnologia, não será a Internet e nem mesmo o comércio via e-mail (e-
commerce). O que verão é uma mudança sem precedente na condição
humana. Pela primeira vez, literalmente, há um substancial e rápido
crescimento no número de pessoas que tem escolhas. Pela primeira vez,
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eles terão que gerenciar a eles mesmos. E deixe-me dizer, nós estamos
totalmente despreparados para isso." Peter Drucker
A evolução da história humana pode ser compreendida em eras.
Após alguns milhares de anos tentando compreender e controlar o mundo
e a natureza, o homem chegou ao século XXI com um conhecimento
razoável a cerca do seu ambiente e das ferramentas, oportunidades,
insumos que este proporciona.
Fechamos a era industrial, entramos na era da informação onde
tudo parece mais rápido, mais fácil, mais barato. No entanto, era após
era, os problemas básicos do homem permanecem os mesmos. Nenhuma
nova descoberta conseguiu encontrar a fórmula da felicidade, da
motivação, da auto-realização, embora as livrarias estejam abarrotadas
de livros de auto-ajuda e gurus cobrem fortunas por uma "palestra
motivacional".
Essa incessante busca pelo equilíbrio interno sempre esteve
presente na natureza humana, entretanto, é agora, na era da informação
que essa necessidade se faz notar de forma explícita. Ouvimos muito dizer
que nós estamos no início da era da informação. Sim estamos, mas
também estamos vivenciando o início da era do desenvolvimento pessoal.
Nunca na história humana nós tivemos tanta necessidade de buscarmos
um significado para as nossas vidas.
O porquê não é difícil de entender. Durante toda a sua trajetória, o
homem teve quem o liderasse, não precisava pensar muito, bastava
"seguir o rumo da vida", como seus pais haviam feito, como seus irmãos,
amigos e vizinhos estavam fazendo. Não havia, para a grande maioria,
nem sequer o que questionar, era esse o caminho a seguir, a vida era
uma seqüência de fatos previsíveis. Se o pai era fazendeiro, os filhos
também seriam fazendeiros, iriam se casar com uma mulher da
comunidade e ter vários de filhos, esses filhos também seriam fazendeiros
e assim por diante. Até metade do século XX, se você não nascesse na
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Planejamento Estratégico Pessoal
alta sociedade provavelmente nunca faria parte dela, a não ser por
casamento, ou se você tivesse uma brilhante idéia e criasse um império
industrial como Henry Ford, John Rockfeller, Thomas Edison.
Até a década de 80 ainda existia um certo determinismo, a presença
de muitos governos autoritários, a forte influência da religião,
principalmente antes dos anos 60 fazia com que as pessoas sempre
tivessem alguém que as liderasse. Elas sentiam que não eram livres, que
não podiam fazer as escolhas que quisessem, pois o governo as proibia, a
religião não permitia, o trabalho era uma coisa totalmente maçante e
necessária para o próprio sustento. Poucos pensavam em realização
pessoal quando se tratava de trabalho. As mulheres começaram a
trabalhar por quê? Primeiro por necessidade, depois por uma questão de
libertação, de conquistar a liberdade de poder ter uma profissão, mas não
era por realização pessoal. Nessa época quem pensava em realização
pessoal eram cientistas, escritores, filósofos, pessoas que passavam fome
mas faziam o que gostavam, não abriam mão da realização pessoal. Mas
essas pessoas eram raras, o sistema não permitia que todo mundo fosse
assim, a situação mundial requeria pessoas-máquinas que produzissem
sem pensar e não questionassem as regras.
Quando as oportunidades de realização pessoal começaram a
aparecer, as pessoas se voltaram para a busca de status e dinheiro. No
final dos anos 70 até começo dos anos 90 as empresas incharam seus
quadros de funcionários, criaram cargos absurdos numa hierarquia cada
vez mais vertical onde as oportunidades de promoção eram imensas. Foi a
era yuppie, aqueles executivos que trabalhavam sem parar em busca de
mais dinheiro, de promoções, de status. O que aconteceu quando vieram
as novas teorias de administração? A reengenharia e o downsizing diziam
para achatar a hierarquia, reorganizar a empresa, enxugar o quadro de
pessoal que era excessivo, cortar custos. As empresas entenderam que
cortar custos era só demitir o pessoal. Foi aquela enxurrada de gente na
rua, sem perspectiva de encontrar um novo emprego porque todas as
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Franciane Ulaf
empresas estavam fazendo downsizing. Isso coincidiu com o início da era
da informação. Em 94, a internet começou a funcionar comercialmente
nos EUA, em 95, em praticamente todo o resto do mundo. Nessa mesma
época, ou um pouco antes, outras teorias começaram a se destacar,
começaram a falar de qualidade de vida, inteligência emocional, de
autodesenvolvimento.
De repente as pessoas começam a perceber que elas eram muito
mais livres do que jamais foram, do que seus antepassados jamais
puderam sonhar em ser. E essa liberdade trouxe com ela toda uma gama
de escolhas. Não há mais ninguém para dizer o que você tem que fazer,
ou como você deve agir. No entanto o que se percebe é que as pessoas
temem essa liberdade, tentam achar que ainda existe determinismo, que
elas não têm escolha, que um problema pequenininho é capaz de bloquear
todo o caminho da vida. Agarram-se à pessoas, religiões, ideologias que
digam pra elas “isso é certo, isso é errado”, “Você tem que fazer deste
jeito”. Isto dá a segurança que elas precisam para que não tenham que
olhar para dentro de si mesmas e procurar as próprias respostas. Por
incrível que pareça, as pessoas têm um medo enorme de olhar para
dentro de si. Então buscam falsas verdades fora de si. Necessitam
desesperadamente que alguém lhes diga qual o caminho certo a seguir. A
insegurança proporcionada pela liberdade, diversas escolhas, diversos
caminhos a seguir, desperta o medo. Esse processo é inconsciente, muitas
vezes, inclusive, a pessoa sente tanto medo, que está cheia de caminhos
a sua frente, mas acha que está sem saída, que a vida empacou, que seus
problemas não têm mais solução. Nas palavras de Peter Drucker: “Nós
teremos que aprender primeiro quem nós somos. Nós não sabemos.
Quando eu pergunto aos meus alunos - pessoas bem-sucedidas, “Você
sabe em que você é bom?” – quase nenhum sabe responder. “Você sabe o
que você precisa aprender para utilizar 100% as suas forças?” Nenhum
deles nunca, sequer, questionou-se sobre isso. Do contrário, a maioria
deles está muito orgulhosa da sua ignorância.” Há um tempo atrás, o
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Planejamento Estratégico Pessoal
assunto ‘autoconhecimento’ era tido como místico, alternativo, para quem
gostava de ficar filosofando, pensando na vida. A visão era de que
autoconhecimento era “coisa de quem não tem o que fazer”. Hoje, o
maior guru de administração e economia da atualidade está dizendo que o
autoconhecimento é fundamental.
No mundo de hoje já não há mais a figura da autoridade a quem se
deve obedecer sem questionar, seja política, religiosa ou familiar. O
homem é mais livre do que jamais pode imaginar, no entanto, não sabe
lidar com essa liberdade. A oportunidade, talvez a primeira na história, de
se encontrar a auto-realização, está presente em todos os momentos de
nossas vidas, e não está em livros de auto-ajuda ou conselhos de um
grande guru motivador, mas na capacidade de autogerenciamento da
própria vida.
Estamos vivendo o início da era do desenvolvimento pessoal. Agora,
é mais do que necessário conhecer-se bem e escolher um caminho a
seguir. Nunca tivemos tantas oportunidades de encontrar a auto-
realização, o aproveitamento destas chances depende unicamente de cada
um de nós.
Objetivos
“Estabelecer um objetivo é como plantar uma semente. Você a enterra,
depois rega, expõe à luz do sol e fertiliza. Em algum momento do futuro
surge um brotinho. Você dá continuidade ao processo de cuidados, até ter
uma planta robusta e forte com brotos e frutos. Você não planta uma
semente e fica só olhando para a terra, esperando resultados imediatos.”
Chérie Carter-Scott
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Franciane Ulaf
A falta de objetivos de longo prazo é o grande responsável por
estados depressivos, sensação de vazio, desperdício de tempo e falta de
motivação. Se a pessoa não sabe porquê faz as coisas, qual o resultado
final, se não tem motivos, a sensação de estar sendo inútil é inevitável. A
sensação de que a vida não tem sentido, a falta de perspectiva a longo
prazo causa depressão e falta de motivação.
Muitas pessoas dizem que não podem planejar a vida porque esta
muda tanto que não cumpririam o planejado de qualquer maneira.
Imagine um viajante. Ele pega o carro, sai de São Paulo sem destino, pois
“acha melhor e mais divertido sair por aí sem rumo”. No fundo, tem uma
vaga idéia de que quer chegar em Fortaleza, mas não sabe muito bem
para onde tem vontade de ir. Sem mapa e sem objetivo, pega a estrada.
Ao longo do caminho, vai parando, conhecendo outras pessoas, fica um
tempo em algumas cidades, passa rapidamente por outras... Em algum
ponto do caminho entre o Rio e Vitória, ele encontra uma pessoa que o
convence a ir a Cuiabá. Depois de passar um tempo nesta cidade, ele
decide partir, outra vez sem rumo. Desta vez, ele acaba em Brasília, após
muitas paradas. De repente, ele se lembra que gostaria de conhecer
Fortaleza e que sua idéia inicial, apesar de vaga, era seguir para essa
cidade. Mas a essas alturas, ele percebe que suas economias acabaram e
que ele terá que voltar para São Paulo, pois já não tem condições de ficar
viajando sem rumo por aí.
A vida de muitas pessoas é como a do viajante sem rumo. Sem um
planejamento, sem um objetivo e suas respectivas metas, o indivíduo
acaba sendo governado pelas circunstâncias e pelas decisões de terceiros.
Aí, é claro que a vida vai mudar bastante, quando não há um controle e
um foco, para onde o vento soprar a pessoa segue. E isso não envolve
somente pessoas sem personalidade ou submissas, desde que não se
saiba para onde está indo, o que o controlará são as forças externas. A
vida segue sempre em frente, e é preciso ter alguém no comando, se na
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Planejamento Estratégico Pessoal
sua vida essa pessoa não é você, tome cuidado, tem alguém tomando
decisões em seu lugar!
Entretanto, esse controle não pode ser total, a intenção não pode
ser de controle absoluto, pois não somos oniscientes, não temos
conhecimento das variáveis externas que atuam sobre nós, não podemos
controlar as pessoas ao nosso redor nem as ocorrências do ambiente
externo. Cada dia que vivemos é um território desconhecido, na qual
podemos prever o que “queremos” fazer, mas não podemos ter certeza do
que iremos de fato fazer. Querer controlar o tempo cronologicamente por
exemplo, é ineficaz, pois as circunstâncias externas não vão deixar de
acontecer porque você resolveu organizar-se. Também não podemos
buscar sermos eficientes com as pessoas, não podemos dizer “agora não
posso escutar seus problemas, volte outra hora.” Há quem faça isto, estas
pessoas estão acabando com seus relacionamentos mais preciosos.
Da mesma forma, não podemos escolher baseando-se somente em
uma liberdade individual independente. Não vivemos isolados, o ambiente
influencia nossas decisões. Há pessoas que em nome de uma liberdade
utópica escolhem plantar no outono, o inverno vem e mata suas
sementes, e elas ainda ficam se perguntando o que foi que deu errado.
Todas estas questões serão profundamente analisadas a diante para
que você tenha todo um embasamento ideológico para compreender o
processo de planejamento e gerenciamento de vida como um processo
complexo, integrado e interdependente e não como um conjunto de
técnicas isoladas de efeito imediato, porém inúteis a longo prazo.
O que você encontrará aqui então, transcende a simples
transmissão de técnicas de gerenciamento do tempo e planejamento de
vida. A determinação de um foco, o autoconhecimento, a eliminação de
hábitos negativos e aperfeiçoamento de qualidades como autodisciplina e
organização são também abordadas para que o seu processo de
planejamento de vida não seja somente um maço de papéis esquecido em
alguma gaveta.
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Franciane Ulaf
Reflexão
AUTOPERCEPÇÃO
Esse exercício tem o objetivo de identificar o nível de autoconhecimento
prévio ao início do processo de auto-estudo. As respostas à estas
perguntas serão utilizadas em outros exercícios posteriormente. Muitas
vezes nem paramos para pensar em questões como estas e não
percebemos influências negativas provenientes de nosso próprio
comportamento. O mais importante neste exercício é o auto-
questionamento, é forçar-se a pensar nestas questões, por mais difícil que
seja.
1. Quem sou eu? (Qual a imagem que você faz de si mesmo? Imagine-se
como outra pessoa descrevendo você. Que características ela salientaria,
como o descreveria como pessoa, profissional, membro de uma família,
etc.)
2. Como eu acho que os outros me vêem? (essa pergunta é importante
para identificar características como arrogância, insegurança, humildade,
etc. Provavelmente as outras pessoas não o enxergam como você
imagina!)
3. Quais são meus pontos fortes?
4. Quais são meus pontos fracos?
5. Sou o que gostaria de ser? Se não, consigo identificar o porquê?
6. Quais são meus maiores medos?
7. Quais são os valores que norteiam a minha vida?
8. Qual o meu nível de receptividade à mudanças? (Sou uma pessoa
aberta à mudanças ou procuro deixar as coisas sempre do jeito que estão,
pois me sinto mais seguro?)
9. Como é minha relação com minha família?
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Planejamento Estratégico Pessoal
10. Como é minha relação com a sociedade? (sou uma pessoa aberta,
sociável, ou tímida, retraída? Evito ou procuro o contato com as pessoas?)
11. Qual o meu nível de satisfação profissional? (gosto do que faço, ou
trabalho só pela necessidade do dinheiro? O trabalho que tenho me
satisfaz totalmente?)
12. Qual o meu nível de satisfação financeira? (ganho o que gostaria ou
imaginava ganhar nesta etapa da vida, ou minha situação financeira é
sempre fruto de insatisfação e preocupação?)
13. Qual o meu nível de satisfação pessoal? (minhas experiências, meus
contatos, minhas conquistas são satisfatórias?)
14. O que constitui um desafio para mim? (o que é um desafio difere de
pessoa para pessoa, o que eu encaro como desafio? Procuro ou evito
desafios em minha vida?)
15. Quais são meus objetivos de vida? (objetivos gerais de longo prazo)
16. Quais são as qualidades que mais admiro em outras pessoas? Quem
são as pessoas que mais admiro e por quê?
17. Quais são os defeitos que mais abomino em outras pessoas? Quais
são as pessoas que não gosto e por quê?
18. Se dinheiro e tempo não fossem problemas para você, o que faria em
sua vida?
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Franciane Ulaf
UM BALANÇO PRÉVIO DE SUA VIDA
1. Como está sua vida, suas realizações neste momento atual?
2. Quais são os valores que estão balizando a sua vida neste momento?
3. Qual foi a última ação significativa que você teve?
4. Quais foram os grandes desafios que você superou em sua vida?
5. Que características pessoais foram alavancadas para esse sucesso?
6. Que características, habilidades e qualidades você gostaria de
preservar por toda a vida?
7. Que características você precisa abandonar?
8. Quais são seus objetivos para os próximos 3 anos?
9. Que fatores impulsionam a realização desses objetivos?
10. Que fatores restringem a concretização desses objetivos?
11. Como você pode reduzir a força desses fatores restritivos?
12. Qual o objetivo mais significativo para você nesse momento?
13. Qual o primeiro passo que você deve dar em direção à ele?
14. "Nós somos o resultado de nossas escolhas" ; O que você fez no seu
passado para ser o que é hoje? Você é hoje o que imaginava que seria no
passado?
15. O que você está fazendo hoje para ter o futuro que deseja para você?
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PARTE I
O que é Planejamento Estratégico Pessoal
Quais os fatores que dificultam e quais os que facilitam o sucesso de um planejamento
Quais os primeiros passos – As mudanças interiores necessárias
Franciane Ulaf
1 – PEP
O que é PEP?
O PEP, abreviação para Planejamento Estratégico Pessoal,
apresenta-se como um conjunto de técnicas, conceitos e
ferramentas que visa dinamizar a auto-organização, a
administração do tempo e a busca da realização de objetivos
pessoais e profissionais, através do autoconhecimento e
desenvolvimento pessoal e planejamento.
Planejar a vida estrategicamente não envolve somente a criação de
estratégias para a realização de metas específicas. A simples aplicação de
técnicas isoladas, desvinculadas de um processo de autoconhecimento, ou
com um fim específico, tem se demonstrado ineficaz. As mais recentes
pesquisas na área de comportamento humano concluíram que o processo
de desenvolvimento não ocorre isoladamente, mesmo de uma habilidade
específica. É preciso prestar atenção no todo para que a pequena parte
em questão se desenvolva adequadamente. O simples fato de se estar
mudando uma pequena parte em si mesmo já afeta o todo de alguma
forma. É o equilíbrio natural da vida, se dermos atenção demais a uma
determinada parte em detrimento das outras, o desequilíbrio se fará notar
em algum ponto.
A técnica PEP foi desenvolvida com base em observação e
questionamento quanto à alguns fatos:
A maior parte do material disponível para auxiliar pessoas a
administrarem melhor o seu tempo, planejarem suas vidas, obterem
maior produtividade ou organizarem-se melhor, quando suas
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Planejamento Estratégico Pessoal
técnicas funcionam, “quebram a pessoa em partes”, ou seja, o
trabalho é muito bem administrado, mas as outras dimensões de
sua vida são deixadas de lado. Ou olham para a vida como
“departametada” e organizam a agenda para conseguir “atender” as
demandas de cada uma das partes para que se consiga um
“equilíbrio”, que na verdade acaba sendo uma forma de conseguir
um tempinho na agenda para a família, para o lazer, para a saúde,
sem se descuidar do trabalho. Assim, tem-se a sensação de ser uma
pessoa “preparada” para o mercado do 3º milênio, uma pessoa que
consegue administrar carreira, família e lazer com equilíbrio.
Observando estas pessoas que se intitulam bem-sucedidas e
atualizadas, pude perceber que na verdade, o que elas conseguiram
foi atingir um alto grau de “automação pessoal”, conseguem realizar
várias atividades, delegam com sucesso, muitas trabalham bem em
equipe, realizam alguma atividade física, possuem uma família
equilibrada e conseguem dar alguma atenção à ela. Ou seja,
conseguem ser perfeitos “robôs”, fazendo tudo o que é defendido
em artigos e livros como qualidades e comportamentos desejáveis
em um bom profissional. “Aparentemente” representam o ideal de
profissional a ser seguido, mas no fundo não se sentem felizes, o
tipo de vida que levam não representa qualidade de vida em si.
Muitos profissionais que se enquadram neste perfil relatam que
possuem “tudo o que uma pessoa pode querer”, um bom emprego,
uma família equilibrada, saúde e conseguem dar conta de tudo, ou
seja, são vistos como bem sucedidos, como exemplos. No entanto,
dizem que apesar de tudo sentem um vazio muito grande, não
sentem-se motivados como gostariam. A sensação é de que algo
está faltando em suas vidas.
A motivação, apesar de estar sendo pesquisada há muito tempo,
ainda representa um mistério. A maioria das pessoas não consegue
permanecer motivada por um longo tempo e acabam procurando-na
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Franciane Ulaf
nos “lugares errados”. Valores distorcidos podem fazer a pessoa
acreditar que o que a motiva é algo que somente a faz fugir de uma
realidade da qual ela não gosta, por exemplo. Empresas investem
pesado em programas motivacionais onde palestrantes animados
tentam transmitir “seus motivos” aos funcionários e fazê-los ver a
vida como eles vêem de forma a tornarem-nos motivados. O
resultado é alguns dias de motivação intensa e depois tudo volta ao
normal.
Há pessoas que insistem em definir as próprias “regras de vida” e às
vezes, mesmo sob fracassos seguidos, não percebem que o jogo da
vida possui suas próprias regras e que estas não podem ser
mudadas para satisfazer vontades egoístas.
Estes são os fatos. A técnica PEP então propõe que:
Não adianta organizar-se, administrar muito bem o tempo para
realizar atividades diárias, rotineiras, sem conexão com algo maior,
pois desta forma a pessoa sente-se desmotivada.
A motivação surge justamente quando as atividades realizadas no
dia-a-dia têm um porquê, um significado, estão interligadas com
objetivos de médio e longo prazo.
Para saber o que o motiva, você deve conhecer-se bem e eliminar
as influências externas e valores distorcidos.
Os valores adotados devem passar por um processo de
questionamento visando buscar qualquer incompatibilidade com as
leis naturais da vida - “não adianta querer criar suas próprias leis,
se plantar no inverno, suas sementes morrerão de qualquer jeito”. A
natureza nos ensina que tudo na vida é interdependente e segue leis
que estão fora do nosso limite de controle. Não é possível ser
totalmente independente, vivendo sob regras próprias, quem insiste
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Planejamento Estratégico Pessoal
acaba sentindo na prática que a força da natureza é mais forte que
a vontade individual.
Por que você deveria planejar a sua vida?
Algumas pessoas apresentam uma certa resistência quando o
assunto é planejamento de vida. Dizem que isso não dá certo, que suas
vidas estão nas mãos de Deus, que não podem controlar o destino, etc...
Planejar a vida não significa controlar cada passo e viver como um
robozinho autoprogramado. Planejar significa saber onde se está, onde se
quer ir e como chegar lá. Não são poucas as pessoas que passam a vida
reclamando que nunca conseguem o que querem, que seus sonhos nunca
se realizam. São estas mesmas pessoas que adotam uma postura reativa
com relação à vida. Esperam que as soluções para seus problemas caiam
do céu, reclamam da vida e do destino, não raro pedem para terceiros –
sejam santos, parentes, amigos, políticos – resolverem seus problemas e
cruzam os braços. Nada fazem por si mesmas, não tomam atitude alguma
para saírem da situação da qual reclamam tanto, mas que elas próprias
criaram. Nós somos a soma de nossas escolhas. Se o resultado não nos
agrada, devemos nos questionar e descobrir quais foram as ações do
passado que trouxeram esse resultado indesejado, e não reclamar e
colocar a culpa em terceiros ou na má sorte, no destino ou na vontade de
Deus.
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Franciane Ulaf
Eis alguns motivos pelas quais você deveria levar à sério a idéia de
planejamento de vida:
Preparação
Nem tudo na vida pode ser feito de uma hora para outra, a maioria
das metas a que nos propomos realizar requerem um tempo de
preparação até que possam ser realizadas. A construção de uma casa, a
compra de um bem, uma viagem longa, grandes mudanças, são alguns
exemplos bem comuns da necessidade de planejamento. O navegador
Amyr Klink passa anos planejando suas viagens. Podemos encarar nossas
metas como uma viagem. Não é possível decidir de um dia para o outro
partir sem antes planejar. Há metas que exigem dedicação durante anos
para que ao final possa ser concretizada.
A não realização de muitos sonhos se deve ao fato de que as
pessoas têm seus objetivos em mente, mas não se preparam para eles,
não tomam atitudes no presente para que no futuro possam realizar seus
sonhos. Para que um jovem consiga passar no vestibular, é preciso meses
de dedicação, onde a cada dia há algo a ser feito para que a meta de
passar seja alcançada, não é possível estudar tudo de um dia para o
outro. Também com nossos objetivos, devemos saber o que fazer a cada
dia ou mês para que no final do prazo estabelecido possamos ver os
sonhos realizados.
Empregabilidade
Os empregos estão acabando, e isso não é novidade. Desde o início
dos anos 80, quando a informática e a robótica começaram a tomar o
lugar das pessoas nas empresas, fala-se em empregabilidade. No início
dos anos 90, as enxurradas de demissões tiveram ainda outro motivo,
24
Planejamento Estratégico Pessoal
novas técnicas administrativas diziam para enxugar as organizações.
Downsizing e reengenharia viraram moda e a estabilidade no emprego
virou história.
É importante entender que empregabilidade não envolve somente a
capacidade de se manter num emprego, ou de conseguir outro
rapidamente. Essa mentalidade está com os dias contados. Com o
crescente número de profissionais autônomos, freelancers, e a
popularização do teletrabalho, a idéia limitada de “conseguir emprego”
está sendo substituída pela idéia de “ser capaz de realizar”. E “ser capaz
de realizar” não depende de estar formalmente empregado numa
organização. Envolve qualidades como espírito empreendedor, iniciativa,
postura proativa, boa comunicabilidade, inteligência emocional. E o que
isso tem a ver com planejamento? A pessoa que não possui objetivos
definidos, que não possui as qualidades acima, se apega à condição de
empregado. Teme perder o emprego, não consegue vislumbrar a idéia de
trabalho fora de uma organização, da forma como está acostumado. O
nível de empregabilidade então, é medido pela capacidade de se manter e
realizar bons trabalhos estando empregado formalmente ou não, em
qualquer situação.
Um profissional com um alto nível de empregabilidade pensa em
primeiro lugar em seus objetivos pessoais, principalmente os ligados ao
seu desenvolvimento pessoal. Não entra em uma empresa pensando em
fazer carreira, mas em desenvolver suas próprias habilidades fazendo o
melhor possível para a empresa, até que seu objetivo pessoal ali dentro
seja atingido. Diferente de um profissional com baixo nível de
empregabilidade que já entra na empresa com medo de ser demitido, e
pensa em ficar ali até que esse dia chegue. Geralmente está sempre
desmotivado, suas preocupações resumem-se a resolver as urgências do
dia-a-dia, que surgem por negligências passadas (pois no passado não
havia tempo para pensar no futuro), e assim seguem contando os anos
para a aposentadoria. A motivação do profissional com alto nível de
25
Franciane Ulaf
empregabilidade vem de seus próprios objetivos, ele consegue vislumbrar
o futuro e planeja sua vida em cima daquilo que ele quer para si mesmo.
O outro aciona o mecanismo de defesa chamado “sempre ocupado”, assim
não há tempo para pensar no futuro, pois se parasse durante alguns
segundos para refletir sobre o próprio destino, o que surgiria seria o medo
de um futuro incerto.
Desenvolvimento Pessoal
De que adianta desenvolver a habilidade de fazer cálculos integrais
se você é um artista plástico? Muitas vezes para realizar nossos objetivos,
precisamos desenvolver algumas habilidades necessárias. Demóstenes, o
famoso orador grego, era gago e passou muitos anos isolado da civilização
desenvolvendo a oratória e vencendo a gagueira. Desenvolver habilidades
específicas só porque parecem interessantes ou porque são
“características desejáveis” em profissionais, tornam-se inúteis se não
estiverem ligadas aos seus objetivos.
O conhecimento em planejamento também é útil para desenvolver
as habilidades em si. Determinar “quero desenvolver a oratória” é muito
vago. Como você vai fazer isso? Que recursos vai utilizar? Quanto tempo
vai demorar? As respostas envolvem planejamento e dão vida ao objetivo.
Este deixa de ser “um sonho” e passa a ser algo que será realizado em
um período de tempo determinado. A visualização do caminho a seguir
através do planejamento elimina a “aura de sonho” envolta em muitos
objetivos que deixam de ser realizados, pois a pessoa não sabe o que
fazer para chegar lá.
26
Planejamento Estratégico Pessoal
Autoconhecimento
Este, na verdade, é um pré-requisito para um bom processo de
planejamento pessoal. Só se pode planejar quando se sabe exatamente
onde se quer chegar e esse conhecimento, sem uma percepção clara de si
mesmo torna-se ilusório, não reflete a realidade e a longo prazo causa
depressão e desmotivação, pois as metas, sendo ilusórias, não são
realizadas. À medida que a pessoa busca um melhor gerenciamento de
seus recursos básicos, é natural que aumente também o seu nível de
autoconhecimento. Gerenciar somente através de técnicas, como já foi
dito, não surte efeito a longo prazo, é preciso conhecer-se, saber para
onde se quer ir e como chegar lá. O autoconhecimento acaba sendo
desenvolvido à medida que se adquire o hábito de planejar, organizar e
administrar o tempo.
Realização de metas
Como já foi dito, um dos maiores causadores de estados depressivos
é a falta de objetivos de longo prazo e a não realização das metas, que
sem um planejamento acabam não passando de sonhos. Planejar a sua
vida significa traduzir seus sonhos para uma linguagem realista e
compreensível. Não é possível realizá-los enquanto forem apenas sonhos,
idéias vagas.
Diminuição do estresse
O estresse surge da falta de planejamento e da má administração do
tempo. Há uma preocupação desproporcional com as coisas que vão
surgindo inesperadamente, e nem sempre são importantes, ou trarão
27
Franciane Ulaf
algum resultado no futuro, e uma negligência, às vezes sem intenção
consciente, para com as coisas que realmente importam na vida. Aos
poucos, uma boa administração do tempo leva a pessoa a se organizar,
compreender a vida e as pessoas e priorizar o que é de fato importante de
tal forma que o estresse negativo acaba sendo uma simples lembrança de
uma época tumultuada.
Mas administrar o tempo somente através de técnicas e planilhas
acaba piorando as coisas, montar uma agenda com dezenas de
compromissos e atividades cronometradas causa mais estresse do que o
esquecimento do um compromisso ou outro devido à falta da agenda.
Qualidade de Vida
Assim como a diminuição do estresse é uma conseqüência natural
proveniente de uma vida mais refletida, equilibrada, organizada, a
qualidade de vida é priorizada e aumenta consideravelmente.
O aumento da qualidade de vida é o objetivo desta abordagem de
planejamento pessoal. Toda a teoria e técnicas propostas aqui têm como
compromisso maior o bem estar de quem as aplica, ao contrário de
muitas teorias da área que tentam transformar as pessoas em robozinhos
autoprogramados.
Auto-estima
A concretização das metas propostas, naturalmente aumenta a auto-
estima, pois o indivíduo percebe que é capaz de realizar o que se propõe.
Com a auto-estima, a autoconfiança também aumenta e
conseqüentemente cresce a capacidade de realizar metas cada vez mais
complexas.
28
Planejamento Estratégico Pessoal
2 – O que facilita e o que dificulta o sucesso de um PEP
COMPORTAMENTOS QUE FACILITAM O SUCESSO DE UM PEP
Comprometimento com o planejado
Definir objetivos, planejar metas e elaborar estratégias pelo simples
gosto e prazer de planejar, para alívio de consciência ou para satisfazer
terceiros pouco adianta, pois não há o fator comprometimento. Há
pessoas que adoram planejar, mas não possuem responsabilidade para
com o planejado. Esquecem-no pouco tempo depois de o terem feito. Um
exemplo muito comum é o planejamento de ano novo. Faz-se promessas,
define-se metas ousadas, que uma semana depois são esquecidas e
renovadas no próximo 1º de Janeiro.
Auto-estima e Autoconfiança
Sem essas duas características, é possível que a pessoa não
acredite que possa realizar o que planejou, que não confie em si mesma o
suficiente para enfrentar os desafios do caminho. Ambas aumentam à
medida que as metas vão sendo cumpridas, mas uma pessoa que não
possua previamente um nível básico de auto-estima e autoconfiança
dificilmente conseguirá começar a executar um planejamento.
Desapego
O apego a idéias, pessoas, instituições pode ser tão nocivo que a
ponto de ser capaz de prejudicar a concretização de suas metas. Não me
29
Franciane Ulaf
refiro a um desapego total, a eliminação de vínculos, à vida solitária.
Refiro-me àquele apego patológico, sem razão de ser, que impede que
você siga em frente. Esse apego pode ser o ciúme de um cônjuge, que
impede que você se afaste muito ou faz com que você perca muita
energia controlando-o. Pode ser o apego a uma ideologia sectarista e
limitadora, seja religiosa, mística, filosófica, política. O desapego é a
capacidade de colocar de uma forma ética as suas metas em primeiro
lugar e racionalmente eliminar ou não se apegar ao o que estiver
impedindo.
Auto-organização
É uma condição básica para que se consiga planejar e executar,
cumprindo prazos e seguindo os caminhos traçados. A falta de
organização causa entropia e acaba desmotivando, pois a confusão é
tanta, que a pessoa acaba se perdendo e não conseguindo realizar o que
planejou.
A auto-organização é muito mais do que a simples organização
física. Este tema será analisado em outro capítulo, explicando que a
organização ainda se divide, além do nível físico, em psicológica e mental,
e que desorganização nestes dois níveis pode atrapalhar um planejamento
muito mais que o nível físico.
Postura Proativa
Ter uma postura proativa é muito mais do que simplesmente ter
iniciativa, como muitos pensam. Significa romper com o determinismo e
aceitar a responsabilidade sobre a própria vida, sobre os erros e acertos.
30
Planejamento Estratégico Pessoal
Esse tema será analisado mais adiante, quando tratarmos dos passos
necessários para que um planejamento seja bem sucedido.
Flexibilidade
Achar que podemos seguir planos exatamente como imaginamos
sem nunca realizar uma mudança, sem nunca questionar o planejamento
já elaborado pode impedir que ele seja realizado. A flexibilidade facilita a
concretização das metas na medida em que permite que, sem dramas,
sejam feitas alterações no plano, ou até mesmo ele seja eliminado ou
adiado, devido às circunstâncias. Estabelecer datas é importante, mas é
fundamental não prender-se a elas caso seja necessário modificá-las.
COMPORTAMENTOS QUE DIFICULTAM O SUCESSO DE UM PEP
Perfeccionismo
“São muitas as pessoas que, por alguma razão planejam, planejam,
planejam por anos e nunca partem. Com as mais curiosas explicações: ou
procurando aperfeiçoar cada vez mais um plano, uma viagem, ou
aguardando o momento apropriado. Certamente, as âncoras imaginárias
acabam prendendo muita gente, e isso faz com que seus projetos nunca
sejam realizados.”
Amyr Klink
Se há um defeito que pode boicotar o melhor planejamento é o
perfeccionismo.
31
Franciane Ulaf
Em primeiro lugar, é preciso definir e situar o perfeccionismo. O
perfeccionismo em si é uma doença, patologia, muitas vezes ligada à
arrogância e ao medo de errar. Então tudo deve ser perfeito, não admite-
se erro, mudança. O perfeccionista geralmente defende sua posição
analisando somente o binômio perfeição-displicência. Para ele não existe
meio termo, ou se é perfeito em tudo o que se faz, ou se é totalmente
displicente, negligente e despreocupado. A questão não é nem o meio
termo, é a situação saudável e equilibrada, que é o detalhismo. Neste
caso, não se é displicente, mas também não há a doentia preocupação em
não errar. O perfeccionista está mais preocupado em manter as
aparências, em se mostrar superior do que com o resultado em si. O
detalhista analisa a fundo todas as variáveis e procura diminuir ao
máximo as possibilidades de falhas, mas não entra em processo de
autoculpa caso algo não saia como planejado.
Outro aspecto negativo legado ao perfeccionismo é a
procrastinação. Milhares de desculpas e explicações lógicas são criadas
para adiar algo que já está pronto para começar. O que acaba
acontecendo é que os planos nunca saem da gaveta. Ou quando saem, já
passou a sua hora de ser executado. A oportunidade já se foi.
O perfeccionista jamais admitirá que sua verdadeira preocupação é
com a opinião alheia, há um medo inconsciente de que suas falhas sejam
expostas, de que “descubram” que ele é tão normal quanto qualquer ser
humano. Portanto, a solução para trabalhar com esse defeito é analisar e
questionar a sua relação com a opinião alheia. Essa é uma tarefa difícil
porque caso você seja muito perfeccionista, além de considerar isto uma
qualidade, você dificilmente admitirá que seu problema é a falta de
autoconfiança. Entretanto, se você realmente deseja ser bem sucedido em
seus planejamentos considere a possibilidade de ser detalhista, e
principalmente, de descer do pedestal de ser superior e perfeito.
32
Planejamento Estratégico Pessoal
Imediatismo: O inimigo número 1 das realizações
Pode-se dizer que o imediatismo é o inimigo número 1 do sucesso,
da felicidade e da realização de seus objetivos. O consultor americano
Stephen Covey define felicidade como sendo o fruto da habilidade e do
desejo de sacrificar o que queremos agora em função do que queremos
futuramente. Se você não for capaz de fazer isto, é porque não se sente
feliz. Pode parecer estranho a primeira vista, mas se você refletir um
pouco, também chegará a esta conclusão.
A pessoa imediatista precisa satisfazer seus desejos como um vício,
se quer viajar tem que ser hoje, se quer tomar um sorvete, tem que ser
agora, se não tem dinheiro para comprar um carro no momento, nem
sequer pensa em planejar a compra de um. A única realidade do
imediatista é o presente, mesmo que a utilização de certos recursos ou
algumas ações se apresentem explicitamente como prejudiciais no futuro.
A pessoa imediatista ignora este fato e segue em frente, só pensando em
realizar seus desejos imediatos. Age desta forma porque não possui
objetivos nem de médio, nem de longo prazo, não sabe o que fará da vida
no próximo mês, quanto mais no próximo ano. Essa condição torna o
imediatismo um vício, pois para que a pessoa não caia na real e se dê
conta de que sua vida é vazia, ela precisa constantemente ser estimulada
por novidades, emoções fortes, realização imediata das vontades, quando
isto não é possível, a pessoa sente-se mal, incapaz, ou culpa alguém ou
uma condição externa pela não realização de seus desejos.
Por outro lado, quando a pessoa é capaz de abdicar da realização
imediata de seus desejos, quando entende que poderá ter repercussões
negativas no futuro, é porque sente-se tranqüila quanto aos seus
objetivos. Sabe que se realizar uma vontade do momento, no futuro não
poderá realizar seu objetivo e abre mão de seu desejo imediato sem
autoculpa. Por exemplo, se eu estou planejando comprar um carro no
33
Franciane Ulaf
próximo ano e para isto preciso economizar mensalmente uma certa
quantia, sei que não poderei comprar tudo o que tiver vontade neste
período. Uma pessoa imediatista não respeita esse objetivo, gasta o
dinheiro e conseqüentemente não sobrará nada para comprar o carro, isso
trará uma sensação de infelicidade. Ao passo que uma pessoa que abre
mão de pequenas coisas durante um período e chega a comprar o carro,
sentirá a satisfação de ter conseguido cumprir um objetivo traçado, essa
sensação dá a motivação necessária para estabelecer outros objetivos
futuros. Esse comportamento gera a sensação de felicidade.
Falta de Objetividade
Quando tratarmos da definição de metas essa questão ficará mais
clara. Há pessoas que planejam ilusões, sonhos, sem objetividade alguma.
Definir como meta, por exemplo, “ser feliz” é o cúmulo da falta de
objetividade. Ninguém faz nada contra a própria felicidade de caso
pensado, portanto “ser feliz” não é uma meta.
É fácil identificar uma pessoa que não possui objetivos claros de
vida. Basta perguntar-lhe quais são seus planos para o futuro. Excluindo
os que não têm idéia alguma, que alegam serem guiados pelo destino, ou
que simplesmente dizem que fazer planos não dá certo; encontramos os
que se utilizam da generalização para referir-se aos seus planos e da
abstrata idéia de futuro. São os eternos sonhadores, romantizam seu
destino, imaginando o melhor dos mundos, mas não conseguem enxergar
o futuro com clareza. Com freqüência dizem “um dia chegarei lá”; “quero
ser um vencedor”, “um dia realizarei meus sonhos”; “um dia ainda
fazer/terei/conquistarei isto”; “no futuro pretendo fazer tal coisa”; “meu
sonho é ter/fazer/ser qualquer coisa”; “quando tiver tempo, vou fazer
isto”... E não é raro encontrar pessoas que se consideram determinadas,
34
Planejamento Estratégico Pessoal
com objetivos, que dizem saber onde querem chegar, mas na realidade
não conseguem conceber a idéia de futuro.
Nada é mais falso e enganoso, até perigoso, do que um futuro vago.
Quem diz que um dia fará tal coisa, provavelmente nunca fará, não por
falta de vontade de realizar, mas por não enxergar o futuro com clareza.
Não há nada mais vago do que a expressão “no futuro...”, pois sem a
determinação de tempo, sem o “quando”, o futuro dura para sempre e
nunca acontece.
Na maioria das vezes, esse comportamento serve como mecanismos
de defesa contra defeitos como falta de objetividade, falta de perspectiva,
desorganização e o terrível desconhecimento quanto aos próprios
objetivos reais.
Grande parte das pessoas tem medo de não ter objetivos, temem
tornar-se pessoas sem perspectiva, sem destino certo. No entanto, não
percebem que já se tornaram, seguem a trilha da vida “empurrando com
a barriga”, pisando somente no terreno conhecido por onde outros já
passaram. Numa tentativa inconsciente e desesperada de esconder a
verdade de si mesmas, criam “sonhos”, objetivos fantasiosos, às vezes
até realizáveis, mas como possuem aquela “aura mágica”, utópica dos
sonhos, permanecem nos planos do futuro eternamente.
“Não há caminho certo para quem não sabe aonde vai”, diz o ditado.
Sonhos por si só são vagos, irreais. Se você um dia pretende realizá-los,
coloque os pés no chão, defina bem o que quer da vida e comece a
planificar seus objetivos; só assim sua aparência utópica passará a ser
vista com clareza e objetividade. A organização é fundamental. Colocar
tudo no papel é a garantia de que você não vai se perder em meio à
fantasias novamente. Após definir qual o seu norte, para onde você quer
ir, trace o caminho, a estratégia para chegar lá.
Esse procedimento fará com que você, se é o seu caso, saia do
grupo dos eternos sonhadores que vêem o futuro como uma miragem no
deserto, e passe ao grupo dos que sabem o que querem da vida e
35
Franciane Ulaf
enxergam o futuro como um lugar definido que pode ser alcançado de
forma clara e objetiva.
Esse processo de definição de metas claras e estratégias para atingi-
las será explicado a diante.
Desorganização
Você pode elaborar um planejamento perfeito, claro, objetivo,
detalhado, no entanto se for uma pessoa desorganizada corre o risco de
perder-se no meio do caminho ou nem sequer começar a execução do
plano. Pessoas desorganizadas acabam tendo que se preocupar tanto com
a entropia que provocam (esquecem compromissos, perdem papéis
importantes, demoram na execução de tarefas simples), que passam a
maior parte do dia consertando os erros de ontem, ao mesmo tempo em
que vão cometendo outros erros hoje para consertar amanhã.
Postura Reativa
O contrário da postura proativa. O indivíduo reativo espera que o
mundo resolva seus problemas, que seus sonhos se realizem como um
passe de mágica, culpa terceiros ou condições externas por suas falhas e
omissões e não assume a responsabilidade por suas escolhas. Este quadro
parece realmente muito pessimista, retratando um indivíduo covarde, sem
iniciativa, irresponsável. Aposto que muitos sujeitos reativos, lendo este
parágrafo, não se identificariam. Aliás, esta é uma característica desta
postura. Quem é reativo não assume a responsabilidade por nada, nem
por sua condição. Ainda são capazes de identificar outras pessoas que
possuem essas características sem perceberem que eles mesmos são
assim. Este é um dos defeitos mais difíceis de serem trabalhados
36
Planejamento Estratégico Pessoal
justamente por esse motivo. Uma pessoa desorganizada sabe de seu
problema e deseja organizar-se, uma pessoa com baixa auto-estima
também identifica o problema, mas uma pessoa reativa, assim como
alguns perfeccionistas não conseguem perceber seu próprio defeito, assim
tornando o processo de mudança muito mais penoso e lento.
Acomodação
A acomodação geralmente é uma conseqüência da falta de
objetivos. Perde-se a vontade da agir, pois não vislumbra-se nenhuma
recompensa pelo esforço.
O psiquiatra vienense Viktor Frankl identificou como acomodadas as
pessoas que perderam o sentido da vida, sentindo-se inúteis e sem poder
de escolha frente à um destino incontrolável. O dr. Frankl foi um judeu
sobrevivente da 2º guerra, que viu toda a sua família morrer nas mãos
dos nazistas e viveu durante anos em campos de concentração. Mesmo
tendo passado pelos horrores da guerra, ele conseguia manter sua mente
isenta de influências e observar o desenrolar de sua própria história,
imaginando para si um futuro que mais tarde veio a se tornar realidade,
ao final da guerra quando tornou-se professor e escritor. Apesar da
humilhação e das condições subumanas vividas pelos prisioneiros de
guerra, Frankl concluiu que mesmo nas condições mais desumanas é
possível ter uma vida com finalidade e sentido. Ele transmitia essa
mensagem aos seus companheiros que se acomodavam com sua situação
e ficavam à espera da morte. “Se um prisioneiro não lutasse contra essa
destruição espiritual com um esforço determinado de preservar seu amor
próprio, perdia a noção de individualidade, de constituir um ser pensante
com liberdade interior e com valor pessoal. Sua existência se degradava
ao nível da vida animal, lançando-o em uma depressão tão profunda que
ele se tornava incapaz de agir.” Viktor Frankl, apesar de tudo o que
37
Franciane Ulaf
passou conseguiu superar o que de pior pode acontecer a um ser humano
e ainda ajudar muitos outros a encontrarem um sentido para a vida.
Apesar disso, podemos observar milhões de pessoas acomodadas e sem
vontade de viver por motivos tão insignificantes comparados aos horrores
da guerra como pequenas brigas amorosas, desavenças familiares ou até
mesmo a situação econômica do país, o desempenho do futebol, o mau
tempo,... Há pessoas que se acomodam ao se depararem com o menor
obstáculo, desistem de seguir em frente, acabam por perder o sentido da
vida.
Auto-sabotagem
Nós mesmos possuímos mecanismos internos para sabotar nossos
próprios planos, abaixo estão algumas das mais comuns desculpas que
damos à nós mesmos para não cumprir uma meta, cada uma delas é uma
barreira que nós mesmos levantamos para derrotar nossos esforços:
- Não vou conseguir, não sou tão bom
É a dúvida quanto à própria capacidade. É claro que se a meta
envolve algo da qual você não domina, não sabe fazer essa é uma dúvida
normal. No entanto, acabamos duvidando da nossa capacidade
justamente nas coisas que mais sabemos fazer. Quando há algo muito
importante ou valioso em risco, temos medo da responsabilidade de
assumir o erro e colocamos a culpa na capacidade. Por isso o
autoconhecimento é tão importante, quando você conhece bem sua
capacidade, não há margem de dúvida, não há espaço para fingir que
você “não é tão bom quanto parece.”
38
Planejamento Estratégico Pessoal
- Tenho medo de falhar
O perfeccionismo é o grande vilão da auto-sabotagem, pelo medo de
errar deixamos de agir. Os grandes sucessos da história são marcados por
tentativas de acerto que incluem fracassos. Thomas Edison e Abraham
Lincoln são bons exemplos. Se tivessem medo de errar, nunca teriam
chegado aonde chegaram. Os fracassos podem, muitas vezes servir de
aprendizado. Há um ditado que diz que tudo o que lhe acontece na vida é
para o seu próprio bem, veja sempre as suas experiências com bons olhos
e procure aprender com elas.
- Não me sinto seguro
Mudar nem sempre é fácil. Quando estabelecemos uma meta, às
vezes temos que adotar novas posturas, explorar novos terrenos, viver
novas experiências, e isso gera insegurança. No entanto, o que menos
temos na vida é segurança. Hoje, você pode ter uma boa casa, uma
família, um emprego, um carro, mas tudo isso é efêmero, você sente
segurança nisso, mas esteja certo de que a vida pode lhe tirar tudo isso a
qualquer momento sem aviso prévio. Estar consciente deste fato é bom
para nos desligarmos da necessidade de nos sentirmos seguros e
abrirmos mão de metas ousadas em nome desta segurança.
Um analista financeiro, funcionário de um grande banco, enfrentava
o dilema de ter que sustentar a família ao preço de executar um trabalho
que ele não gostava, conviver com pessoas das quais ele não simpatizava
e receber um salário muito inferior à sua formação acadêmica e
capacidade. A segurança deste emprego o impediu durante muitos anos
de tentar algo melhor. A imensa insatisfação no entanto venceu a
insegurança e ele pediu demissão. Depois de 8 meses de procura, ele
conseguiu finalmente um emprego que se encaixasse em seus requisitos.
Um cargo melhor, um ambiente menos hostil e mais agradável, um
39
Franciane Ulaf
salário maior, um chefe menos autoritário. Logo que assumiu o novo
emprego, soube através de amigos que o banco havia passado por
processo de reengenharia e que muitos funcionários foram demitidos e
cargos foram eliminados, inclusive a sua antiga função. Se ele tivesse se
agarrado à segurança do emprego que tinha, hoje estaria desempregado.
Nada na vida é seguro, tudo pode mudar de uma hora para outra. Não
deixe de tomar uma decisão ousada e enfrentar o desconhecido por
causa da aparente segurança do que você já conhece. Faça as mudanças
que você quer antes que a vida o obrigue a mudar coisas que você não
quer.
- Não tenho tempo suficiente
Essa é a campeã das desculpas para você não fazer o que sabe que
tem que fazer. O grande problema da “falta de tempo” é a dificuldade em
priorizar o que é mais importante. A má priorização leva à
desorganização, então você só faz as coisas que vão aparecendo, as
coisas urgentes, que já estão explodindo ou que já explodiram. O
resultado é que você está sempre ocupado com essas coisas urgentes e
não sobra tempo para mais nada. A síndrome da urgência gera um ciclo
vicioso, pois enquanto você está preocupado apagando os incêndios, as
coisas que ainda estavam em tempo de serem resolvidas “antes da
explosão”, são deixadas para depois até que se inicie um novo incêndio.
Essa questão será aprofundada quando falarmos da administração do
tempo.
- Não tenho as habilidades necessárias
Talvez sua meta exija algo que seja difícil para você como liderança,
iniciativa, comunicabilidade, negociação. Nada melhor que uma
oportunidade para desenvolvermos nossas habilidades precárias na
40
Planejamento Estratégico Pessoal
prática. Muitas pessoas definem habilidades a serem desenvolvidas no
papel, mas fogem de qualquer situação que as teste na prática. A não ser
que seja algo que não seja do seu interesse ou que você realmente veja
que não é possível o desenvolvimento, não diga que não tem as
habilidades necessárias, e sim que esta é uma ótima oportunidade para
você aprender e se desenvolver.
Algo a ser levado em conta porém, é a aptidão. Se você sente que
não tem talento para determinada coisa e não tem vontade de
desenvolver, não imponha a si mesmo um desafio da qual você não sente-
se motivado a realizar. Não precisamos desenvolver todas as habilidades
humanas, não temos que encarar como desafio tudo o que aparece a
nossa frente, mas apenas o que é do nosso interesse.
41
Franciane Ulaf
3 – Quais são os primeiros passos?
Antes de pensar em planejar alguma coisa, algumas mudanças
interiores são necessárias para que este processo não seja apenas mais
uma tentativa de aplicação de técnicas isoladas que acabam não surtindo
efeito.
3.1 Mudança de Paradigma
“O que somos comunica com muito mais eloqüência do que fazemos
ou o que dizemos. Nós todos sabemos disso. Existem pessoas em quem
cofiamos de forma absoluta, pois conhecemos seu caráter. Não importa se
são eloqüentes ou se conhecem as técnicas de comunicação ou não.
Confiamos nelas e trabalhamos com elas de modo proveitoso”.
Stephen Covey
“O que você é ecoa em meus ouvidos com tanta força que não consigo
ouvir o que diz”. Ralph Waldo Emerson
Não enxergamos o mundo como ele realmente é. O que vemos é o
resultado da interpretação que nosso próprio mundo interior faz dos
estímulos, informações e percepções que recebe do mundo exterior.
Enxergamos através de uma lente que deforma a realidade de acordo com
sua própria conveniência, sejam valores, condicionamentos, cultura,
tradições, hábitos e informações adquiridas ao longo da vida. Através
desta lente, formamos os mapas que seguimos. Esses mapas nos dizem
como é a realidade. Mas mapas não são o território, são apenas
interpretações, e não raro, estas interpretações estão equivocadas.
42
Planejamento Estratégico Pessoal
Quando nos deixamos guiar pelas lentes para interpretar a realidade, não
podemos esperar obter um retrato fiel.
O território existe independente de existirem mapas e essa é a
primeira percepção que temos que mudar e aceitar se quisermos agir com
o mínimo de influências errôneas provenientes de mapas poluídos por
ruídos e deformados por preconceitos e idéias cristalizadas. No entanto, é
natural do ser humano “interpretar as coisas” e isso dificilmente pode ser
mudado. Observar imparcialmente sem julgar ou tirar conclusões com
base nos “próprios mapas” é quase impossível, e também não é
desejável, pois a pessoa que adota essa postura acaba tornando-se
passiva, recebe informações e estímulos e não é capaz de formar a
própria idéia sobre o assunto. O objetivo aqui não é atingir um estado de
imparcialidade, conseguir observar sem julgar, mas aprender a questionar
nossas percepções de forma que possamos evitar as influências mais
negativas provenientes de nossas lentes, que às vezes se manifestam
através de preconceitos, idéias fixas, valores extremados, objetivos
irreais, etc. Fatos são fatos, não são passíveis de mudarem de acordo com
a conveniência, ponto de vista ou vontade de alguém. O território é
constituído por fatos, você pode no máximo adotar uma posição em
relação à esse fato baseado no seu raciocínio, valores, crenças, etc.
Nossos comportamentos, atitudes e hábitos externos refletem a
percepção que nossas próprias lentes têm da realidade. Tentar mudá-los
sem analisar essas percepções é como usar uma maquiagem, a mudança
é apenas externa e pouco duradoura. Utilizar técnicas de
condicionamentos, baseadas na repetição, ou na adoção de novas
posturas na intenção de tornar-se bem-sucedido em determinada área é
tão inútil quando tentar modificar a aparência à longo prazo com a
utilização de recursos de maquiagem. O paradigma que deve ser
modificado é justamente esse, de que as coisas podem mudar
rapidamente, de que a solução é a utilização de técnicas milagrosas, de
efeito rápido e duradouro. O pesquisador norte-americano Stephen Covey
43
Franciane Ulaf
realizou uma pesquisa sobre desenvolvimento pessoal e sucesso que
abrangeu 200 anos de literatura na área. A conclusão a que ele chegou foi
de que os estudos sobre sucesso e desenvolvimento pessoal podem ser
divididos em “ética da personalidade” e “ética do caráter”. A ética do
caráter ensina que “existem princípios básicos para uma vida proveitosa, e
que as pessoas só podem conquistar o verdadeiro sucesso e a felicidade
duradoura quando aprendem a integrar estes princípios a seu caráter
básico.” A ética da personalidade se baseia em soluções rápidas para
problemas complexos. O sucesso tornou-se uma decorrência da
personalidade, da imagem pública, atitudes e comportamentos,
habilidades e técnicas que lubrificam o processo de interação humana. Ou
seja, a ética da personalidade diz que o ser humano vale por aquilo que
pode apresentar exteriormente, o quanto consegue convencer terceiros de
suas idéias, o quanto consegue ser carismático, adorado por todos, o
quando consegue apresentar de status exterior, enquanto a ética do
caráter valoriza o que o ser humano é por dentro, independente de
quanto sucesso possa apresentar “por fora”. A ética da personalidade
“encanta” por oferecer soluções rápidas e fáceis para problemas
complexos, de desenvolvimento ou resolução que demandariam longo
tempo e esforço. As referências ao caráter passam a ter um efeito
ilustrativo, “demonstre ter caráter para adquirir credibilidade”. Essa
abordagem tem ocupado um lugar de destaque na literatura de
desenvolvimento pessoal desde a 2º metade do século XX. E apesar das
tentativas claramente manipuladoras e enganosas de se obter sucesso,
que são facilmente identificadas e evitadas por quem percebe o engodo,
há ainda uma face da ética da personalidade infiltrada em nossa cultura,
em nosso modo de pensar e agir. Um pai, por exemplo, que tenta impor
seus valores ao filho e não respeita sua própria individualidade está
agindo de acordo com a ética da personalidade e não do caráter – é mais
importante que seu filho seja bem sucedido aos olhos da sociedade do que
feliz interiormente. Essa visão, por mais que não seja explicitamente
44
Planejamento Estratégico Pessoal
aceita, é o que ocorre com a maioria das famílias. Inconsciemente, as
pessoas internalizaram os conceitos da ética da personalidade e vivem sob
esse paradigma. A interpretação que fazem do mundo tem como base
valores externos, os valores tidos como “corretos”, esses valores somente
mapeiam o território. A ética do caráter procura “perceber” o território e
adequar princípios e valores de acordo com a realidade. Viver segundo
esse paradigma não é “tão fácil” quanto viver segundo a ética da
personalidade, no entanto, a longo prazo, a auto-realização, os inter-
relacionamentos, a motivação constante justificam o esforço e tempo
empenhado em realizar os objetivos baseados em princípios reais e não
ilusórios.
A proposta de planejamento pessoal descrita aqui, pretende
portanto, conciliar o processo de planejamento, administração do tempo,
autoconhecimento e autodesenvolvimento com a ética do caráter,
mapeando o território da forma mais precisa possível, sem soluções
“rápidas e infalíveis”, mas processos contínuos, que exigirão dedicação e
mudanças profundas.
A percepção correta da realidade não é tão difícil de ser encontrada.
A maioria de nós consegue enxergá-la, mas devido aos ruídos, às
influências das lentes que usamos, preferimos ver a realidade da forma
que nos for mais conveniente. Da mesma forma que para plantar,
precisamos observar as estações e condições ambientais, apesar da
possibilidade de desrespeitar essas variáveis. “Teoricamente”, podemos
tomar a decisão que quisermos, temos autonomia para isto, quem vai
reclamar se plantarmos no inverno? Essa é a visão da ética da
personalidade, “faça o que você quiser, independente da vontade de
terceiros”. A ética da personalidade é cega para os fatores ambientais e
princípios que guiam a vida humana. O frio é capaz de destruir as
sementes plantadas, e uma pessoa com o foco na ética da personalidade
pode encontrar todas as desculpas, menos a óbvia para justificar o
fracasso. Os inter-relacionamentos vistos sob esta ótica, são encarados
45
Franciane Ulaf
como “utilidades”. Os contatos são necessários para subir na carreira,
conseguir um “favorzinho”, obter maior status. O sucesso é medido
através de posses, posição social, profissional e reputação familiar. A
felicidade é algo utópico, eternamente perseguido pelos adeptos desta
ética.
Uma mudança de paradigma só ocorre quando há humildade e
compreensão suficiente para admitir que a percepção que se tem da
realidade pode estar errada. Há pessoas que por natureza já adotam a
ética do caráter como filosofia de vida, outras estão tão inseridas na ética
da personalidade que nem sequer percebem que precisam mudar. A
reação a um texto como esse é de que é mais uma “baboseira de auto-
ajuda” que não traz resultados. Não há humildade alguma, só a
arrogância se manifesta. Esses resultados, procurados por estas pessoas,
são imediatos, se algo não se mostra eficiente de forma rápida e
facilmente compreensível, então é descartado. Não é à toa que são estas
mesmas pessoas que lotam os consultórios de terapeutas em busca de
uma solução para sua depressão, falta de motivação, falta de perspectiva
de vida, insatisfação geral com tudo, família, amigos, trabalho... O que
encontram são remédios de efeito de curto prazo, ou terapias que se
estendem por anos, sem se mostrarem eficientes, mesmo após longos
períodos de tempo. Por outro lado, vemos pessoas que baseiam suas
vidas na ética do caráter e sempre procuram agregar conhecimento às
suas vidas, não reagindo a idéias como esta, mas procurando
compreender ainda mais e aplica-las em suas vidas. Também não é à toa
que estas pessoas estão sempre motivadas, têm relacionamentos sólidos
e desinteressados, pensam nos resultados a longo prazo antes da
satisfação imediata.
A compreensão necessária é o entendimento de que nem todos
precisam ver as coisas da mesma forma. A idéia contrária leva aos
preconceitos. “Se alguém não pensa como eu, então esse alguém tem
algum problema e não deve ser levado à sério”. Quanto mais
46
Planejamento Estratégico Pessoal
compreendermos o mundo e as pessoas à nossa volta, mais condições
teremos de interpretar de forma correta a realidade. Como isso nem
sempre é possível, (às vezes as informações de que dispomos não são
suficientes para analisar corretamente a situação) o ideal é adotar uma
postura o mais imparcial possível, procurando ver as situações com
isenção, mantendo em mente que cada julgamento que aparecer em seu
quadro mental é proveniente das lentes que estão filtrando as percepções
e emitindo seu parecer de acordo com a bagagem de informações
existentes, os valores, crenças, cultura, etc. Você tem o direito de formar
a sua opinião sobre as coisas, até deve fazer isto, mas também tem que
estar consciente de que é apenas a sua opinião, a sua percepção dos
fatos. Estar consciente desta influência já é um grande passo, pois no
momento em que um preconceito ou um julgamento surgir, você saberá
que ele não condiz com a realidade, mas à sua percepção pessoal da
situação.
O objetivo desta mudança de paradigma é passar a viver segundo
os próprios princípios naturais que regem a vida humana. Estes princípios,
que serão aprofundados adiante, existem independente de fronteiras
físicas, culturais, filosofia, religião, ideologia. Não são novidade, nem
foram criados por alguém. Nas palavras de Stephen Covey: “Os princípios
não são valores. Os princípios são o território. Os valores são os mapas.
Quando valorizamos os princípios corretos, temos a verdade – o
conhecimento das coisas como elas são”.
Você pode estar se perguntando, e o que tudo isso tem a ver com
planejamento pessoal? Bem, se você planejar suas metas em direção a
objetivos que contrariam os princípios naturais, os objetivos fundamentais
humanos que são a busca da felicidade e auto-realização não serão
atingidos. Há um consenso em torno destes dois objetivos magnos.
Obviamente ninguém faz nada de caso pensado para a própria
infelicidade. Apesar de este ser muitas vezes o resultado atingido, a
intenção era buscar satisfação, bem-estar, realização. O porquê da não
47
Franciane Ulaf
realização destes objetivos está na priorização das coisas erradas,
baseadas em princípios não naturais. Apoiar a escada na parede errada
levará ao fracasso apesar das “intenções serem boas”.
O processo de mudança de paradigma exige tempo, mudança de
hábitos, atenção e percepção quanto às próprias reações, idéias,
preconceitos, atitudes e intenções. Não é uma tarefa fácil e às vezes
chega a ser incômoda, irritante. É muito difícil admitir os próprios erros de
julgamento, preconceitos, más intenções. O mais comum durante esse
processo, é surgirem diversos mecanismos de defesa do ego para
justificarem cada posição apontada “pela consciência” como equivocada.
Mais uma vez, sem a humildade e compreensão, dificilmente velhos
conceitos arraigados no comportamento do dia-a-dia poderão ser
questionados. Como uma pessoa extremamente egoísta conseguirá
questionar seu egoísmo sem essas duas posturas? Provavelmente, tentará
justificar para si mesma o fato de ser egoísta e acabará acreditando que
na “verdade este não é um defeito tão grave”, afinal todos são assim. Ou
tentará se convencer de que precisa ser assim para se defender das
“ameaças externas”,... No processo de questionamento, procure prestar
atenção em cada justificativa quer der para seus atos, idéias, hábitos, etc.
Princípios não precisam “se justificar”, pois sua autenticidade e validade
falam por si mesmas. Se você está precisando usar muita lábia para
justificar determinado comportamento ou idéia, pode ser que você esteja
tentando enganar a si próprio para proteger-se de algo que você
inconscientemente não quer ver.
Uma forma de organizar esse processo de análise de paradigma, é
manter um diário pessoal, onde você registra as decisões que tomou e o
porquê, as percepções que teve de informações recebidas, pessoas que
encontrou, textos que leu, enfim, tudo o que provocou em você algum
tipo de julgamento, positivo, negativo ou neutro. Após um tempo será
possível identificar se você está baseando suas reações em valores que
mapeiam corretamente o território ou se são mapas ilusórios, que
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Planejamento Estratégico Pessoal
refletem uma realidade que só existe em sua cabeça. Essas conclusões
podem ser obtidas questionando se os valores que você acionou referem-
se a princípios naturais, ou seja, aplicáveis a todos os serem humanos e
capazes de gerar bem-estar e realização ou referem-se à idéia pré-
concebidas, valores de um grupo restrito, interesses pessoais, espelho
social ou valores geradores de satisfação apenas imediatas, mas nocivas a
médio e longo prazo.
Interdependência
“O ponto culminante de nossas vidas tem a ver com nosso relacionamento
com os outros, pois a vida humana se caracteriza pela interdependência.”
Stephen Covey
A maior parte da literatura de auto-ajuda e desenvolvimento
pessoal atual defende uma idéia de independência ilusória. Prega-se que
as pessoas podem se dar ao luxo de escolher o rumo da própria vida sem
respeitar as leis naturais. É como dizer que você não precisa observar as
estações do ano, ou a situação do solo para plantar, pois a qualidade da
colheita dependerá somente do seu esforço pessoal no plantio e cuidado
com a plantação. As metas a que nos propomos realizar são de certa
forma como uma pequena planta que aos poucos cresce e toma forma,
mas não depende somente de nós. Quem tem valores somente
relacionados ao ganho financeiro e ao reconhecimento profissional, em
certo ponto de sua vida, perceberá a falha que cometeu ao longo do
caminho. Da mesma forma, uma pessoa que não possui preocupações
financeiras e pensa que é possível “viver de amor”, também sentirá o
desequilibro em algum ponto. Todos os aspectos da vida requerem a
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Franciane Ulaf
devida atenção e enquanto um estiver sendo negligenciado, não haverá
equilíbrio.
Vivemos em um mundo interdependente, tanto entre uns com os
outros, como com o ambiente e as leis naturais. Aprender a viver dentro
desta interdependência, de forma equilibrada é um grande desafio. Já não
precisamos ser egoístas a ponto de nos protegermos do mundo, não
precisamos mais nos auto-afirmar e ficar repetindo “eu posso”, “eu sou
capaz”, “eu sou o melhor”, “na minha vida ninguém manda”. Esses são
mecanismos de defesa apenas, dentro de um sistema interdependente,
não é preciso “se proteger”, as partes colaboram umas com as outras,
sem um interesse oculto de ganhar acima de tudo.
Os princípios naturais
“É impossível quebrar a lei, no máximo quebramos a nós mesmos contra
a lei.”
Cecil DeMille
“Plante um pensamento, colha uma ação; plante uma ação, colha um
hábito; plante um hábito; colha um caráter; plante um caráter, colha um
destino.” Ditado popular
“Não adianta se preparar fazendo uma meditação zen para pular do
viaduto, porque você vai virar meleca de qualquer jeito.” Amyr Klink
“O sucesso na vida pode ser definido como a expansão contínua da
felicidade e a realização progressiva de objetivos compensadores.”
Deepak Chopra
50
Planejamento Estratégico Pessoal
“O agricultor pode cometer um erro e semear suas ervilhas
desalinhadamente; as ervilhas não cometem erros, apenas nascem e
exibem sua forma.” Ralph Waldo Emerson
Os princípios são as leis naturais as quais todos nós estamos
submetidos, são “o território”, a realidade objetiva. Não pertencem a
alguma filosofia, religião ou código moral, neles estão presentes por
serem universais, por serem evidentes em si mesmos. Não dependem de
opinião, ponto de vista ou filosofia de vida. Há quem insista em tentar
quebrá-los por achar que pode definir as próprias regras, mas como um
motorista procurando um lugar tendo o mapa da cidade errada em mãos,
só acelerará o processo, chegando mais rápido ao lugar errado.
Estes princípios não são novidade, sempre existiram pois são o
“território da vida humana” e muitos filósofos, pensadores, escritores,
inventores, religiosos já os identificaram ao longo da história humana. São
princípios naturais a imparcialidade, a honestidade, a integridade, a
qualidade, a educação, etc. Viver segundo estes princípios não pode ser
uma questão de opção, pois a conduta contrária, se não causar problemas
imediatos, causará a longo prazo. Quem contraria estes princípios, na
maioria das vezes sabe que está agindo errado e tem consciência de que
sua atitude pode trazer conseqüências indesejáveis.
“Uma das melhores maneiras de entender como somos
governados por essas realidades extrínsecas é analisar a “Lei da
Fazenda”. Na agricultura, podemos ver e concordar facilmente que
as leis e os princípios naturais governam o trabalho e determinam
a colheita. Mas, nas culturas social e empresarial, pensamos que
podemos nos livrar do processo natural, tapear o sistema, dando
um “jeitinho” e ainda assim ganhar o dia. Você pode se imaginar
dando um jeitinho na fazenda?” Stephen Covey
51
Franciane Ulaf
A literatura moderna em desenvolvimento pessoal tenta convencer
os seus adeptos de que existe uma maneira rápida e fácil para se obter
qualidade de vida. Os slogans geralmente referem-se à tempo (pouco
tempo para aprender ou desenvolver algo complexo) e à maneiras pouco
éticas de se obter sucesso rápido. Segundo Stephen Covey, esta
abordagem baseia-se na “ética da personalidade”. “Trata-se de uma
forma sem conteúdo, de um esquema para se “ficar rico depressa”, por
meio de promessas de “fortuna sem fazer força”. Pode até ser que dê
certo, mas a picaretagem é inegável. A ética da personalidade é ilusória e
enganosa. Tentar aumentar a qualidade de vida utilizando suas técnicas e
receitas rápidas equivalente a uma tentativa de ir a um ponto de Chicago
tendo como base um mapa de Detroit.”
O processo de crescimento e amadurecimento é natural à vida
humana. Um pianista não consegue tornar-se virtuoso com apenas 1 ano
de estudo, e além do crescimento, o domínio da técnica, precisará de
muito tempo para desenvolver a capacidade de interpretação, a
sensibilidade musical, o amadurecimento não ocorre por meio de técnicas
de atalho.
Os princípios podem ser vistos como “as regras do jogo da vida”. Se
você concorda com eles ou não, pouco importa, assim como a lei da
gravidade, os princípios existem como leis absolutas que governam a vida
humana. A única opção que você têm é dar-se conta de que eles
realmente existem e viver conforme seus preceitos, ou insistir em fazer
suas próprias regras e ficar à mercê da força da natureza que operará
contra você. Nas palavras de Phillip McGraw: “Você pode ignorá-los ou
topar com eles, surpreso porque você parece nunca ter sucesso; ou você
pode estudá-los, adaptar-se à eles, moldar suas escolhas e
comportamentos por eles, e viver bem.” Aprender a viver segundo os
princípios naturais é a chave para o sucesso de uma estratégia de vida.
Erich Fromm retrata bem esta questão: “Hoje em dia nos
deparamos com indivíduos que se comportam como autômatos, que não
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Planejamento Estratégico Pessoal
conhecem ou compreendem a si mesmos, e a única pessoa que conhecem
é a que pensam ser, alguém cuja conversa vazia substituiu a comunicação
real, alguém em quem o sorriso sintético tomou o lugar do riso genuíno e
a sensação de desespero total ocupou o vazio deixado pela dor autêntica.
Duas coisas podem ser ditas a tais indivíduos. A primeira é que sofrem de
defeitos aparentemente incuráveis, como a falta de espontaneidade e
caráter. Ao mesmo tempo, podemos dizer que eles não diferem de
milhões de pessoas que, como nós, caminham pela face da Terra.”
3.2 Postura Proativa
O hábito da proatividade foi proposto por Viktor Frankl, psiquiatra
judeu sobrevivente da segunda guerra, criador da logosofia. Frankl
defendia que a liberdade de opção humana é a única que nunca pode ser
retirada, a menos que a própria pessoa permita que isso aconteça. Seus
carrascos podiam controlar completamente a situação e o ambiente,
podiam fazer o que quisessem com seu corpo, mas o próprio Viktor era
um ser dotado de autoconsciência, e podia atuar como observador de seu
próprio destino, sua identidade básica estava intacta. Ele podia decidir,
dentro de si, como tudo aquilo iria afeta-lo. “Entre o estímulo e a resposta
encontra-se a liberdade de escolha do ser humano”.
Adotar uma postura proativa é muito mais do que simplesmente ter
iniciativa. Significa acima de tudo reconhecer a própria responsabilidade
sobre a própria vida, deixando de culpar terceiros, seja outra pessoa,
Deus ou o destino por nossas falhas, omissões, incapacidades.
A palavra responsabilidade – respons-abilidade – significa a
habilidade para escolher a sua resposta. Ao falar em proatividade, a
reação de alguns ouvintes é dizer que por não podermos controlar as
circunstâncias externas, somos levados pelo rumo da vida e não pela
53
Franciane Ulaf
nossa vontade. Esses são os chamados "reativos", esperam que as coisas
aconteçam e então reagem, não conseguem sequer vislumbrar a
possibilidade de decidir sobre o próprio destino. As pessoas reativas são
afetadas por situações físicas, circunstâncias, sentimentos, condições,
outras pessoas. Se o tempo está bom, se o cônjuge está de bom humor,
sentem-se felizes, se o pneu furou, o tempo está chuvoso, o vizinho
reclamou do barulho do som do filho, então sentem-se insatisfeitos,
reclamam da vida. As pessoas reativas são capazes de se deixarem afetar
por coisas tão pequenas e insignificantes que perdem um tempo precioso
da vida, perdem oportunidades, deixam de realizar sonhos, chegam até a
destruir relacionamentos de tanto se concentrarem em detalhes
irrelevantes. As pessoas proativas são guiadas por valores, não se
importam com as circunstâncias, com as variáveis, escolhem responder
aos estímulos externos com base nesses valores e não com base em
reações momentâneas, emoções, como raiva, ódio, orgulho, ciúmes.
Um planejamento só pode ser levado a diante por uma pessoa
proativa. Uma pessoa reativa encontra tantos obstáculos no caminho que
acaba desistindo antes mesmo de começar a colocar o plano em prática.
Esses obstáculos podem ser desde um dia chuvoso até uma briga
conjugal. As lentes que filtram a realidade para pessoas reativas vêem
obstáculos onde as proativas vêem oportunidades, as reativas perdem
tempo e energia se defendendo e lutando contra coisas das quais não
possuem a menor influência, enquanto as proativas concentram-se em
seus objetivos somente e não desperdiçam seus recursos tentando mudar
pessoas, manipular situações, criar uma realidade externa ilusória.
O problema não é o que acontece conosco, mas como respondemos
ao acontecimento. O que importa não é o que somos, mas o que fazemos
para mudar o que somos. O que diferencia uma pessoa proativa de uma
reativa é a atitude em relação às circunstâncias, pessoas, oportunidades e
desafios. A pessoa proativa sabe que só pode contar consigo mesmo para
vencer, o apoio de terceiros é uma conseqüência. A pessoa reativa espera
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Planejamento Estratégico Pessoal
que terceiros a apóiem antes mesmo de tomar alguma atitude. Portanto,
iniciativa não é a única característica das pessoas proativas, acaba sendo
mais uma conseqüência do seu modo de ver as coisas e agir em resposta
às situações, do que a própria definição de proatividade.
Postura proativa diante dos problemas
“Não lidamos muito com os fatos quando estamos nos contemplando.”
Mark Twain
Não há como encarar problemas, autoconhecer-se, encontrar
soluções e caminhos se alguns mecanismos de defesa e hábitos negativos
estiverem operando em você. Insistir em estar sempre certo, achar que
tudo o que acontece com você é culpa de terceiros ou injusto, desculpar
os próprios defeitos dizendo que tem gente muito pior ou que seus
problemas são pequenos perto dos problemas de outras pessoas, enfim,
são muitos os mecanismos que afastam as pessoas da realidade: Seus
problemas são só seus, foram causados de alguma forma por você
mesmo, e se você ignorá-los eles se tornarão maiores até que você não
tenha mais controle algum e sofra as conseqüências de sua negligência.
Os casos mais comuns são de pessoas que ao invés de tomarem a
iniciativa para resolverem seus problemas, adotam uma postura de pena
para consigo mesmas, consideram sua situação injusta e a única coisa que
fazem é reclamar. Há quem se auto-engane a ponto de repetir
infinitamente “eu não acredito que isto está acontecendo”, “isso não
poderia acontecer comigo”. Além de não fazerem nada para resolver o
problema, nem sequer absorvem o fato. Há ainda os que bloqueiam os
problemas, não admitem a existência deles, como uma mãe que não
percebe que o filho está se envolvendo com drogas apesar de todos a
alertarem.
55
Franciane Ulaf
Como diz a frase de Mark Twain “Não lidamos muito com os fatos
quando estamos nos contemplando”, enquanto estivermos achando que o
que nos acontece é injusto, que não merecemos o que de ruim nos
ocorre, enquanto estivermos numa condição de negação da realidade,
tentando proteger uma condição pessoal “segura”, onde tudo é conhecido,
não poderemos lidar com os fatos.
Outro hábito negativo é tentar escapar da responsabilidade de
resolver os próprios problemas comparando-os a outros muito piores. Os
seus problemas são só seus e se você ficar de braços cruzados, ninguém
mais se importará e o problema crescerá. Não importa se você quebrou o
pé e o sujeito ao seu lado não tem uma perna, a dor é sua e você
continuará sentindo mesmo estando consciente da situação do outro. Com
os problemas ocorre o mesmo, sempre terá alguém que tem problemas
maiores que os seus, mas isso não é motivo para deixar de resolvê-los.
Seu problema pode ser muito pequeno perante outros que você pode
enxergar em outras pessoas, mas ele é seu e isso é suficiente para torná-
lo grande o suficiente para atrapalhar a sua vida.
Um hábito que pode bloquear totalmente a mente e impedir a
resolução de certos problemas é querer estar sempre certo, apegar-se tão
firmemente aos próprios valores e conceitos aa ponto de não ser capaz de
compreender que para resolver certos problemas é preciso ter a
humildade de admitir a possibilidade de estar errado. Esse hábito interfere
com maior força em relacionamentos conjugais e situações de trabalho. As
partes consideram seu modo de pensar, idéias, valores como absolutos e
não admitem que o outro não aceite seu ponto de vista. Esse hábito afeta
também réus inocentes em julgamentos. Eles estão tão convencidos de
que sabem a verdade, que alguém a descobrirá e a justiça será feita que
não se importam muito em serem convincentes perante o juiz ou o júri,
acham que por estarem falando a verdade, todos irão acreditar em suas
palavras. Isso aconteceu com Oprah Winfrey quando foi acusada por
pecuaristas do Texas a incitar as pessoas a não comerem carne em seu
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Planejamento Estratégico Pessoal
programa. Ela estava tão convencida de que a acusação era injusta e que
não tinha fundamento algum que durante um bom tempo durante o
julgamento ela mantinha uma postura reativa, ficava deprimida, irritada
com a situação, esperando que o júri fizesse justiça porque “ela” sabia
que estava certa. Seus advogados e estrategistas convenceram-na de que
se continuasse a acreditar inocentemente na verdade seria derrotada. As
pessoas não sabem o que você sabe, mesmo que você saiba que está
certo, ninguém é obrigado a aceitar isso. Oprah ganhou o processo após
virar o jogo, argumentando e defendendo sua posição com respeito ao júri
que não tinha “obrigação” de saber que era ela quem estava certa. Sua
atitude mudou de reativa, sentindo mal e deprimida, decepcionada e
evitando dar-se conta de que realmente estava sendo julgada, não
importando quão injusto pudesse parecer a situação para uma posição
proativa, tornando-se autoconfiante, defendendo-se sem pena de si
mesma, argumentando sua posição com segurança. Se esta mudança não
tivesse ocorrido, seus estrategistas garantem: ela teria perdido o
processo.
3.3 Autoconhecimento
“Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates
“Pior que o simples desconhecimento, contudo, é a ignorância
potenciada de uma falsa certeza – o acreditar convicto de quem está
seguro de que sabe o que desconhece.” Eduardo Gianetti
“Se você não conhecer a sua identidade, irá correr o risco de tentar ser
tudo e fazer tudo de maneira aleatória e casual.” Jim Cairo
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Franciane Ulaf
Um dos maiores obstáculos encontrados por quem pretende fazer
um projeto de vida, ou mesmo planejar o próximo ano está ligado à falta
de autoconhecimento. As pessoas em geral, pensam que se conhecem
bem, mas quando se encontram cara-a-cara consigo mesmas e precisam
definir planos, percebem que não sabem exatamente quem são e o que
querem. Há quem restrinja seus planos à carreira, numa tentativa de fuga
à vida pessoal. Planejar somente a vida profissional dá a sensação de que
se está crescendo, progredindo, no entanto todos conhecemos histórias
que relatam os males que a entrega total ao trabalho pode fazer na vida
de uma pessoa. Autoconhecer-se envolve entender quem você é e no que
deseja se transformar.
A necessidade de autoconhecimento para o planejamento também
está ligada à realidade. Alguém que não se conhece bem é capaz de
determinar metas ilusórias das quais não poderá cumprir. Essa questão
está ligada à autopercepção, quem não tem um bom nível de
autoconhecimento pode achar que tem características que na verdade não
possui e ignorar habilidades importantes.
O principal entrave para o autoconhecimento não é ignorar que é
preciso conhecer-se, mas sim permanecer na arrogância de achar que isto
não é preciso, que já se conhece muito bem. Se observarmos a história,
podemos notar que os mais ilustres pensadores e filósofos admitiam
humildemente que mal sabiam sobre si mesmos e frisavam a importância
do autoconhecimento. Como as frases famosas de Sócrates “só se que
nada sei” e “conhece-te a ti mesmo”. No entanto, hoje podemos encontrar
indivíduos que negam essa necessidade e alegam conhecer-se muito bem.
Não raro, muitas destas pessoas têm conflitos familiares, sofrem de
problemas de saúde (com ênfase para problemas cardíacos e
hipertensão).
Dentre os diversos mecanismos de defesa que bloqueiam o
autoconhecimento, esse tipo de arrogância é o pior obstáculo, pois há
uma negação da necessidade de olhar para dentro de si próprio. Presume-
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Planejamento Estratégico Pessoal
se que não há mais nada a saber, a descobrir. Similar a alguns cientistas
que dizem que a ciência chegou ao fim, que não há nada mais a ser
inventado.
Grande parte dos conflitos e problemas entre as pessoas decorre do
fato de que elas não conhecem a si mesmas. Quanto mais um indivíduo
sabe sobre si mesmo, mais ele conhece suas fraquezas, seus mecanismos
de defesa, mais ele percebe que não é melhor do que o outro, daí nasce o
respeito. Quem conhece a si mesmo, compreende melhor o mundo à sua
volta, sabe que como ele as pessoas ao seu redor também são
imperfeitas, têm medos, limitações, e também consegue perceber o valor
de cada um, assim como conhece o seu. Não fica procurando defeitos nas
pessoas, para julgá-las, mas procura ver suas qualidades. Quanto mais
uma pessoa mergulha em seu universo interior, mas ela vê os outros
como seres em evolução. Passa a centrar-se em seu crescimento pessoal,
não se importando com os comportamentos alheios. A maioria dos
conflitos humanos ocorre porque um não aceita o jeito de ser do outro e
tenta impor suas verdades, ou seja considera-se melhor e julga o outro
por suas limitações e diferenças, ao invés de notar o seu valor intrínseco e
aproveitar a oportunidade de convivência para ensinar e aprender, pois é
através de trocas que evoluímos.
Não há autoconhecimento sem disponibilidade pessoal. O primeiro
passo é sempre a conscientização, é aceitar que você nada sabe sobre si
mesmo e enfrentar o desafio da jornada interior.
O processo de autoconhecimento é uma eterna busca interior e não
uma técnica que aplicada revelará todas as facetas e segredos sobre você
mesmo. Quem inicia este processo não deve esperar resultados imediatos,
mas estar preparado para descobrir coisas desagradáveis sobre si mesmo
e se auto-enfrentar para conseguir mudar aquilo que precisa ser mudado
para que os objetivos sejam atingidos.
59
Franciane Ulaf
“A importância de analisar sua verdadeira identidade antes de
determinar um objetivo não pode ser subestimada. Falta de identidade
resulta em falta de direção na definição do objetivo. A incapacidade de
analisar sua verdadeira identidade causa confusão e resulta na
determinação de um objetivo inconsistente com o que você gostaria de
ser. Por isso, a pergunta-chave é: Quem sou eu?”
Jim Cairo
FERRAMENTAS PARA O AUTOCONHECIMENTO
1. Descubra quais são seus valores pessoais
“Buscar um significado abstrato para nossas vidas é abdicar de nossa
responsabilidade proativa, colocando nosso destino nas mãos das
circunstâncias e das outras pessoas.”
Stephen Covey
“Nunca trabalhe em uma organização cujos valores são inaceitáveis para
você. Ignore esse princípio e você condenará a si mesmo à frustração a ao
não desempenho.”
Peter Drucker
Valores e conceitos constituem o seu paradigma pessoal.
Funcionam como base para as escolhas que você faz na vida,
orientam a sua bússola interior na hora de tomar decisões.
60
Planejamento Estratégico Pessoal
Identificação dos valores pessoais
Os valores são os conceitos que você têm sobre as coisas, situações,
idéias. O que você pensa ser certo ou errado, o que pesa quando você
está indeciso está ligado aos valores pessoais. Nós os utilizamos a todo
momento quando tomamos decisões ou fazemos julgamento de situações,
idéias ou pessoas, no entanto, não os identificamos com tanta facilidade.
Colocar os valores no papel não é tão fácil quanto tomar uma decisão com
base neles. Eles estão tão enraizados em nosso modo de agir e de pensar
que mal notamos sua influência. Por isso, essa fase levará algum tempo e
exigirá um certo esforço para que sua lista de valores reflita de fato a
realidade.
Pode parecer um absurdo dizer que não os conhecemos, mas é a
realidade. Grande parte das pessoas ao serem questionadas a cerca de
seus valore pessoais não sabem o que dizer, no máximo conseguem
relatar uns 3 ou 4 provenientes da moral ou da religião, mas os valores
mais profundos, reais responsáveis pelas nossas escolhas ficam
escondidos por trás de uma série de condicionamentos ideológicos. De
fato muitas pessoas possuem valores reais morais e religiosos, a maioria
os tem. O problema é que os condicionamentos nos fazem dizer que
“temos valores que na realidade não são nossos”. No fundo podem até ser
verdadeiros, mas para que se considere um valor real, devem passar por
um processo de questionamento, livre de preconceitos e baseado na
lógica.
Questionar valores é complicado porque entram em questionamento
questões como religiosidade, moral, valores transmitidos pela família,
cultura, tradições, etc. Estamos tão inseridos dentro da sociedade e
cultura em que vivemos, que não percebemos que a maioria dos valores
que temos como nossos, foram na verdade absorvidos do meio e não
refletem a realidade, ou contrariam os princípios naturais e não produzem
qualidade de vida. Às vezes, quando tomamos uma decisão, a base é um
61
Franciane Ulaf
valor que desconhecemos e só um programa de questionamentos e
análise profunda é capaz de retirá-lo do lado oculto de nossa mente.
No entanto, apesar da dificuldade para descobrir os verdadeiros
valores intrínsecos, isto é possível através de uma postura sincera para
consigo mesmo, o afastamento de preconceitos e condicionamentos
sociais e culturais e o questionamento profundo. Questionar profunda e
sinceramente significa não dar respostas simplistas e óbvias, procurar os
porquês através da reflexão, não reagir às perguntas de forma agressiva,
não ter pena de si mesmo e, principalmente, procurar afastar ao máximo
a tendência natural do auto-engano. O que acontece normalmente numa
primeira tentativa de encontrar os próprios valores, é que alguns destes
mecanismos de defesa acabam sendo utilizados. Por isso, essa lista de
valores deve estar sendo constantemente revisada e questionada. Quanto
mais você se conhecer, mais vai perceber a atuação de um mecanismo ou
outro para disfarçar algo que você não estava preparado para enxergar
naquele momento.
Reflexão e mudança dos valores pessoais
Identificar os valores somente não basta. À medida que você vai
tomando conhecimento de seus valores reais, pode perceber que alguns
não se adaptam à realidade que você quer, ou seja, você busca uma
coisa, mas toma decisões que o levam para a direção contrária, ou que os
valores que tem como “certos” contrariam os princípios naturais e causam
decepção, frustração e fracasso ao invés de levarem ao sucesso e
proporcionarem qualidade de vida.
Após colocar no papel seus valores, questione se eles não ferem os
princípios naturais da vida. Muitos de seus fracassos no passado podem
ter sido causados por valores distorcidos. Acreditar egoisticamente que
todos devem sempre te escutar, fazer tudo o que você quer e nunca o
62
Planejamento Estratégico Pessoal
contradizer, por exemplo, pode afastar as pessoas que mais poderiam
ajudar na concretização de seus objetivos. Este é um valor distorcido que
muitas pessoas têm e nem sequer desconfiam que este seja um dos
motivos de seus fracassos. Como este, existe uma série de valores que
não levam ao sucesso, muito menos à felicidade, pelo contrário, só trazem
discórdia, fracasso, desilusões.
Valores não são necessariamente “coisas boas”, se você é
extremamente egoísta, são valores para você tudo o que se relaciona com
o seu bem estar, os seus bens e o que você preza mais. Mesmo coisas
extremamente negativas podem ser valores, se são levados em conta na
tomada de decisão. Há pessoas que gostam de prejudicar os outros a
qualquer custo, isso é um valor, mesmo que a pessoa não saiba, ou não
admita. Mesmo um psicopata que “mata por gosto”, matar é um valor
para ele. Portanto, quando estiver fazendo sua lista de valores, evite a
hipocrisia de colocar somente “coisas bonitas e nobres”, todos temos
muitos defeitos e estes influem diretamente quando precisamos tomar
uma decisão. Só podemos mudar um defeito a partir do momento que
sabemos que ele existe em nós. Após definir os valores, sem considerar
se eles ferem ou não os princípios naturais, você deve questionar ao
máximo o que o leva a ativar este valor, se eles o prejudicam ou ajudam,
se o levam ao sucesso ou ao fracasso, e se decidir que este é um valor
prejudicial, pode determinar que irá se esforçar para excluí-lo de seu
paradigma pessoal. Isso pode levar muito tempo, talvez anos, mas se
você não se der conta do valor prejudicial, ou se negar a mudar, pode não
conseguir atingir os objetivos que deseja.
A mudança dos valores pessoais é um processo que ocorre quando
você se torna consciente do modo como toma suas decisões e busca
eliminar valores que contrariem os princípios naturais. A maioria das
pessoas diz estar em busca da felicidade, mas quando são levantados
seus valores pessoais, podem descobrir que muitos contrariam estes
princípios e conseqüentemente estão levando a pessoa a qualquer lugar,
63
Franciane Ulaf
menos aonde quer chegar. A felicidade, um estado que reflete o nível da
qualidade de vida, só pode ser obtida quando todas as suas decisões
foram tomadas com integridade, isto é, sem ferir os princípios naturais.
Para compreender a necessidade de se adotar valores que não contrariem
esses princípios, é preciso entender que eles não dependem de opinião,
gosto, filosofia de vida ou religião, não foram criados por alguém,
simplesmente existem. São prioridades que independem de nossos
valores.
“Muitas pessoas acreditam que, pelo fato de darem valor a alguma
coisa, basta alcançá-la para obterem qualidade de vida. Pensam:
“Serei feliz e satisfeito quando tiver mais dinheiro... quando meu
talento for reconhecido... quando comprar um carro novo...”
Stephen Covey
Os valores constituem o paradigma pessoal. Isto representa aquilo
que acredita ser certo ou errado. O paradigma é o conjunto de mapas que
você construiu ao longo dos anos para decifrar a realidade. No entanto, o
paradigma não é a realidade, apesar de muitas pessoas "terem certeza"
de que é. O mapa não é o território. Este existe independente de qualquer
opinião ou ponto de vista. A Terra é redonda, independente de um dia
terem pensado que ela era plana. Os princípios naturais representam o
território e nossos valores representam os mapas. Insistir em manter
valores que ferem estes princípios, só o levará mais rápido ao lugar
errado. Valorizar coisas que contrariam os princípios que regem toda a
natureza pode trazer um sucesso efêmero, mas nunca trará felicidade e
qualidade de vida. Estas só são alcançadas quando suas ações são
baseadas nos valores que mapeiam corretamente o território.
1.1 A importância de conhecer os próprios valores e adequá-los à
realidade dos princípios naturais:
64
Planejamento Estratégico Pessoal
Autoconhecimento
O início do processo de autoconhecimento é procurar conhecer quais
são os próprios valores e conceitos pessoais. Todas as decisões que
tomamos na vida são baseadas em valores, sejam nossos ou de outras
pessoas, sejam verdadeiros ou “mascarados”. Muitas pessoas acabam
tomando a decisão errada porque acreditam em “valores distorcidos” que
não trarão felicidade.
Na intenção de “estar fazendo a coisa certa”, muitas pessoas
ignoram seus verdadeiros valores e tomam atitudes que terminam por
desviá-las do caminho que tinham como certo em suas vidas. É como um
viajante no deserto que tem uma bússola e um mapa. De repente alguém
chega e diz que ele está indo no caminho errado, este acredita e
realmente passa a achar que seu mapa está errado e sua bússola
estragada. A pessoa tira-lhe os instrumentos e diz: “Vá naquela direção.”
O viajante segue em frente sem questionar. Depois de muito tempo
andando sem rumo, já numa situação precária, o viajante chega a
conclusão de que pegou o caminho errado, mas aí já é tarde demais, o
tempo perdido não pode ser recuperado. Diz um antigo provérbio chinês:
“Se não mudarmos nossa direção, acabaremos por chegar ao nosso
objetivo inicial.” As pessoas em quem confiamos, na tentativa de nos
ajudar, com a melhor das intenções, julgam o nosso caminho e nos
indicam direções contrárias a que estamos seguindo. Quem não conhece
os próprios valores e não tem convicção no caminho que está seguindo,
acaba mudando de direção. Dependendo do tempo que passam seguindo
o caminho errado, acabam se tornando pessoas tristes, deprimidas, que
não foram capazes de ouvir a própria voz ou contradizer uma pessoa
próxima. Entram em becos sem saída, ou chegam a lugares onde não
gostariam de estar. O autoconhecimento evita estes desvios porque
fornece a autoconfiança necessária para seguir um caminho, mesmo que
só você acredite nele.
65
Franciane Ulaf
Definição de limites
Os limites estão intrinsecamente ligados aos valores. Referem-se
não só aos limites físicos do seu corpo e da sua mente, mas aos limites
"invisíveis" relacionados à ética, moral, amizade, comprometimento, etc.
Esta é a questão mais delicada relacionada a valores, pois quando não os
conhecemos bem, facilmente ultrapassamos nossos próprios limites e isto
a longo prazo tem um efeito devastador na integridade, auto-estima e
auto-confiança. A diante trataremos a fundo a questão do estabelecimento
de limites.
Tomada de decisões pessoais
Falamos sobre isto na introdução do capítulo. Conhecer os valores é
essencial para que possamos tomar a decisão correta e seguir o caminho
que de fato desejamos. Se os valores que temos como certos, não são os
que refletem o nosso real mundo interior e contrariam os princípios
naturais, corremos o risco de tomar a decisão errada e nos arrependermos
depois.
Ajustamento social e profissional
Muitas pessoas que desconhecem os próprios valores pessoais, ou
adquirem valores externos e contrários aos princípios, acabam se
envolvendo com atividades profissionais ou grupos sociais que não
refletem de fato sua vontade interior. Realizam atividades que não
aproveitam seus talentos e aptidões, mantêm amizades com pessoas das
quais não gostam e não se identificam, às vezes por interesse, por
necessidade de fazer parte de um "grupo", seja ele qual for, ou até
mesmo por falta de opção.
66
Planejamento Estratégico Pessoal
Promover mudanças profundas
Não há como realizar mudanças internas sem conhecer os próprios
valores. Há quem tente, mas só consegue mudar pequenos detalhes
externos. Aliás, o primeiro passo no caminho do autoconhecimento é
descobrir quais são os verdadeiros valores pessoais e determinar os
conceitos de vida relevantes. Não é possível buscar o “sucesso”, se você
não sabe o que essa palavra significa para você. Cada um dos conceitos
fundamentais da vida, felicidade, sucesso, crescimento profissional, etc,
podem significar coisas totalmente diferentes para cada um. Se você não
parar para refletir, corre o risco de passar um bom tempo buscando algo
que na verdade não queria para você.
1.2 Como descobrir seus valores e conceitos
Em primeiro lugar é preciso adotar uma postura de sinceridade para
consigo mesmo e evitar todo o tipo de influências externas e hipocrisia,
que geralmente está relacionada a valores falsos.
Essa é uma questão delicada, pois as pessoas tendem a absorver
valores do meio e se negam a questioná-los, como se fossem verdades
absolutas. Isso acontece muito com valores religiosos e morais. Um valor
é de fato um valor quando tem o poder de influenciar suas decisões, o que
acontece na maioria das vezes com esses tipos de valores é que a pessoa
fala uma coisa, mas faz outra; e não admite questionar. Por exemplo, um
marido que diz ter o valor da fidelidade porque se considera uma pessoa
religiosa e digna, mas trai a mulher, não possui aquele valor na realidade.
Esse é um exemplo explícito, fácil de se identificar. No entanto, em nossa
vida diária, acabamos por contradizer a maioria dos valores que dizemos
que temos. Mesmo sem perceber, temos atitudes inconscientes, bem
menos perceptíveis que a do marido infiel e é por isso que uma lista de
67
Franciane Ulaf
valores demora algum tempo, tem que ser refeita várias vezes, até que
consiga de fato refletir a realidade.
São exemplos de valores pessoais: Fama, assistencialidade, sucesso
profissional, busca espiritual, família, liberdade, conhecimento, boa saúde,
boa forma física, honestidade, sinceridade, altruísmo, ceticismo, trabalho
árduo, etc...
Stephen Covey identificou os centros nas quais as pessoas baseiam
suas vidas. Ele denomina de "centro de influência" o centro na qual
residem nossos paradigmas mais básicos, as lentes que usamos para
observar o mundo. Dentro deste centro de influência, existem centros
alternativos a que a maioria das pessoas está "amarrada", são centros
que são fontes de valores anti-naturais, cuja permanência neles acaba por
trazer conseqüências indesejadas. São eles:
CENTRADO NO CÔNJUGE: É a dependência emocional em sua
manifestação mais básica. Na fase de crescimento, o indivíduo depende da
família, mais precisamente dos pais, se não passar pela transição da
independência-interdependência, ou se pelo menos não atingir um nível
de independência básica, buscará a dependência emocional que tinha com
os pais em um parceiro(a). Dominada por esse tipo de dependência, a
pessoa torna-se vulnerável aos humores e sentimentos, reações e
opiniões do cônjuge e teme qualquer evento externo que possa ameaçar a
união, sejam filhos, parentes, sucesso profissional, dificuldades
econômicas, etc. "Quando dependemos da pessoa com quem entramos
em conflito, tanto a necessidade quanto o conflito se exacerbam. -
Reações exageradas de amor ou ódio, tendência para a briga ou o
afastamento, distanciamento, agressividade, amargura, ressentimento e
competição calculista são alguns dos resultados freqüentes."
A orientação, as vontades e os valores da pessoa centrada no
cônjuge tornam-se um espelho do outro quando as coisas estão indo bem,
68
Planejamento Estratégico Pessoal
mas ao menor sinal de desentendimento, a pessoa vai ao extremo oposto
só para contradizer e ter argumentos para humilhar e brigar com o outro.
CENTRADO NA FAMÍLIA: “As pessoas centradas na família obtêm
seu senso de segurança ou o amor-próprio da tradição, cultura ou
reputação familiar. Sendo assim, tornam-se sensíveis a qualquer mudança
nesta tradição, cultura ou a influências que possam afetar a reputação.” A
harmonia dentro de uma família só existe quando há respeito mútuo e
liberdade de ação e expressão entre seus membros. Pais que tentam
educar seus filhos com enfoque na família não conseguem compreender a
individualidade de cada pessoa, obrigando os filhos a seguir os passos que
eles acham corretos, com medo de que a reputação da família possa ser
afetada. Pais que agem desta forma tentam mostrar seu amor impondo
condições aos filhos, fazendo com que se tornem emocionalmente
dependentes ou refratários e rebeldes.
A segurança, valores e orientação desta pessoa dependem da
aprovação familiar. O critério de decisão encontra-se no que é melhor
para a família ou no que esta deseja.
CENTRADO NO DINHEIRO: O que importa para as pessoas
centradas no dinheiro é a segurança econômica, qualquer ameaça a esta
situação causa estresse, ansiedade e medo. Como a maioria das pessoas
não possui uma certeza de segurança financeira para toda a vida, essas
sensações acabam tomando conta da vida de quem centra-se no dinheiro.
Qualquer decisão tomada leva em conta em primeiro lugar a segurança
financeira. Pessoas centradas no dinheiro vivem aterrorizadas pelo
fantasma do desemprego, fazem seguro de tudo o que possuem e
costumam economizar muito. Por mais que todos se preocupem com a
segurança financeira, esse caso é patológico, a necessidade de segurança
acaba fazendo com que a pessoa abra mão da liberdade pessoal em nome
da estabilidade. Podem por exemplo se sujeitar a realizar um trabalho da
69
Franciane Ulaf
qual não gostam ou deixar de adquirir bens ou aproveitar melhor a vida,
porque temem perder o dinheiro que conseguiram economizar.
CENTRADO NO TRABALHO: A pessoa passa a acreditar que o
trabalho é o sentido de sua vida e ignora todos os demais setores da vida.
Geralmente, este centro representa uma fuga, quando algo não vai bem,
relacionamentos, família, vida social, a pessoa se enterra no trabalho. No
entanto, isto não é uma regra, muitas pessoas centradas no trabalho
fazem da famosa frase de Adam Smith "O trabalho dignifica o homem" a
sua única lei. Apaixonam-se pelo que fazem e parecem esquecer que a
vida não é só trabalho. "Considerando que seu senso de valor está
vinculado ao trabalho, a segurança é vulnerável a qualquer coisa que ao
acontecer o impeça de continuar. Sua orientação é resultado das
exigências do trabalho. A segurança e o poder limitam-se às áreas ligadas
ao trabalho, tornando-o ineficiente em outros setores da vida."
CENTRADO NOS BENS: Por bens entendemos não somente bens
materiais, mas principalmente bens intangíveis como fama, sucesso,
posição social. Assim como acontece com as pessoas centradas no
dinheiro, o centro nos bens causa um estado constante de ansiedade e
medo de que algo possa acontecer e tirar-lhes os bens tanto tangíveis
quanto intangíveis. "Na presença de alguém com menos renda status ou
fama, sinto superioridade. Meu senso de valor flutua constantemente. Não
tenho constância, tranqüilidade ou personalidade marcante. Tento
permanentemente proteger e garantir meus bens, propriedades,
investimentos, posição ou reputação. Todos nós já ouvimos histórias de
gente que comete suicídio depois de perder suas fortunas, em uma queda
brusca da bolsa, a fama, ou uma derrota política."
CENTRADO NO PRAZER: A pessoa vive para satisfazer suas
vontades imediatas, geralmente busca emoções cada vez mais fortes, pois
70
Planejamento Estratégico Pessoal
vai cansando à medida que se acostuma com a sensação. Buscam uma
vida fácil e agradável e não estão dispostas a fazem esforço algum, a não
ser para conseguirem "mais sensações prazerosas". Geralmente são
pessoas que não possuem grandes responsabilidades e também não estão
dispostas a mudar esta situação, não são necessariamente jovens, pois
encontramos muitos adultos acomodados, trabalhando para "financiar o
fim de semana", vendo na vida uma fonte inesgotável de adrenalina e
fortes sensações. "Férias que não acabam nunca, filmes em excesso, TV o
dia inteiro, abuso indisciplinado dos momentos de lazer, nos quais a
pessoa adota a lei do mínimo esforço, desperdiçam pouco a pouco uma
vida. Fazem com que o potencial de alguém permaneça adormecido, que
os talentos continuem sem ser desenvolvidos. Onde estão a segurança, a
orientação, a sabedoria, o poder de escolha? No limite, estão no prazer de
um momento fugaz."
CENTRADO NOS AMIGOS: Ocorre muito com as pessoas jovens,
mas isso não é uma regra. O espelho social torna-se o centro da vida, as
pessoas de um mesmo grupo tornam-se parecidas em seu modo de vestir,
pensar, falar. As escolhas são baseadas nos valores e na aprovação deste
grupo. "A aceitação e a sensação de pertencer a um grupo distinto torna-
se importante, quase supremo. O espelho social, distorcido e instável,
transforma-se na fonte dos fatores que sustentam a vida, criando um alto
grau de dependência dos humores, sentimentos, atitudes e
comportamentos inconstantes dos outros."
CENTRADO NO INIMIGO: Pode parecer um absurdo dizer que
alguém poderia centrar sua vida em um inimigo, mas isso acontece, e
muito, principalmente quando não há alteração constante entre as
pessoas que estão em conflito real. "Quando alguém acha que foi tratado
com injustiça por uma pessoa, social ou emocionalmente representativa,
fica muito mais fácil se preocupar com a injustiça, e fazer da outra pessoa
71
Franciane Ulaf
o centro de sua vida. Em vez de cuidar proativamente de sua vida, a
pessoa centrada no inimigo reage impulsivamente aos comportamentos e
atitudes de quem considera inimigo."
Esse fato é facilmente percebido nas campanhas políticas. Enquanto
alguns candidatos de concentram em apresentar suas propostas, outros
se dedicam inteiramente a falar mal do outro candidato, sem sequer falar
de suas próprias intenções. Também é comum em casos de divórcio
recente. Uma das partes (ou ambos) torna o ex-cônjuge um inimigo
constante e faz de tudo para prejudicá-lo.
CENTRADO NA IGREJA: "Acredito que pessoas seriamente
envolvidas com qualquer crença admitirão que ir à igreja não é sinônimo
de espiritualidade interior. Existem pessoas que se ocupam tanto com
rezas e projetos da igreja que ficam insensíveis para as necessidades
humanas prementes que as rodeiam, contradizendo os próprios preceitos
em que dizem acreditar tão profundamente." As pessoas centradas na
igreja se preocupam demasiadamente com as aparências e com a
reputação, vivem em "compartimentos ideológicos", tendendo a
discriminar quem pensa de forma diferente. Vivem de justificativas
"decoradas", todos os "porquês" em sua vida são os revelados pela igreja.
CENTRADO NO EU: São as pessoas "independentes", ainda não
atingiram a compreensão da interdependência. São egoístas e pensam
que podem definir as próprias regras e viver do jeito que bem
entenderem, nem que pra isso tenham que prejudicar outra pessoa.
"Existe pouca segurança, orientação, sabedoria ou poder de escolha no
centro limitado pelo EU. Assim como o mar morto, ele aceita, mas nunca
dá. Está estagnado. Na maioria das abordagens do amadurecimento e
satisfação pessoal, encontramos, muitas vezes, o EU em seu centro."
Esta condição não é de todo negativa, pois é uma etapa a ser vivida
antes de atingir a interdependência. Não é possível pular direto da
72
Planejamento Estratégico Pessoal
dependência emocional, a independência individualista e egoísta precisa
ser vivida para que se possa compreender a interdependência.
Stephen Covey apresenta estes 10 centros e propõe que
coloquemos os princípios naturais em nosso centro de influência, eis seus
argumentos: "Os princípios não reagem a nada. Eles não ficam irritados,
nem nos tratam mal. Eles nunca pedem divórcio ou fogem com nosso
melhor amigo. Eles não tentam nos passar a perna. Eles não enchem
nosso caminho de atalhos e milagres. Eles não dependem do
comportamento dos outros, do meio, ou da última moda para ter
validade. Mesmo em meio a pessoas ou ocasiões que parecem ignorar os
princípios, podemos nos consolar com a certeza de que estes são maiores
do que as pessoas ou as circunstâncias, e que de milhares de anos de
história assistiram ao seu triunfo, repetidas vezes."
Há 5 motivos importantes que você deveria levar em conta ao
pensar em colocar os princípios como centro de seus valores.
1. Você não está agindo levado por outras pessoas ou
circunstâncias. Você escolhe proativamente o que considera a melhor
alternativa.
2. Você sabe que sua decisão é mais eficaz porque se baseia em
princípios, com resultados a longo prazo previsíveis.
3. O que você escolhe fazer reforça seus valores fundamentais da
vida. As experiências que você tem quando leva adiante suas decisões
ganham em termos de qualidade e significado, no contexto de sua vida
como um todo.
4. Você pode se relacionar com seu cônjuge ou o seu chefe a partir
de vínculos profundos que criou em seus relacionamentos
interdependentes. Como você é independente, pode ser interdependente
com eficácia.
73
Franciane Ulaf
5. Na condição de uma pessoa centrada em princípios, você vê as
coisas, pensa, age diferentemente. Como possui um grau mais elevado de
segurança, orientação, sabedoria e poder, que fluem de um centro mais
sólido e imutável, você conta com a base de uma vida altamente proativa
e eficaz.
1.3 Conceitos de Vida
São temas que determinam o modo com que você buscará o
equilíbrio, tomará decisões e determinará os caminhos que seguirá em
sua vida.
O que você pensa sobre “o que é ser feliz”, “o que é ser bem
sucedido”, o valor do trabalho, acumulação de riquezas, motivação,
qualidade de vida, família, etc... tem impacto direto sobre suas decisões,
mesmo que inconscientemente. Você recebe uma proposta de emprego
fora do país e não poderá levar sua família. Essa decisão acionará seus
valores e conceitos sobre essas questões essenciais em que você baseia
suas decisões. Se você é uma pessoa que preza o bem estar pessoal, os
momentos de lazer com a família, os contatos com os amigos, é provável
que você não aceite o convite. Caso você seja uma pessoa que coloca o
trabalho em primeiro lugar, não hesitará em aceitar, mesmo que tenha
que passar meses sem ter contato direto com a família ou os amigos e
tenha que trabalhar de modo a não ter tempo algum para o lazer. Você
também pode levar em consideração o quanto vai ganhar, mesmo que
seja um sacrifício enorme trabalhar longe da família. Tudo vai depender
do que você "valoriza", do que você pensa sobre essas questões que são
levantadas quando você precisa tomar uma decisão. E esse processo não
acontece somente quando temos que tomar uma decisão desta grandeza,
a cada momento em nossas vidas estamos decidindo algo, somos a soma
de nossas escolhas. Portanto, se você não está satisfeito com o
74
Planejamento Estratégico Pessoal
"resultado", talvez esteja fazendo as escolhas erradas, traindo seus
valores, fazendo coisas para satisfazer terceiros, mesmo que isso
represente um sacrifício para você.
2. Identificação dos pontos fortes e fracos
Essa é uma lista que também pode demorar algum tempo até que
reflita a realidade. Num primeiro momento, a tentativa de se definir
qualidades e defeitos pode ir desde a ausência de conhecimento sobre si
mesmo e o conhecimento deste fato, a pessoa não consegue definir suas
características, permanece atônita em frente ao papel em branco ao dar-
se conta de que de fato, nada sabe sobre si mesma até a arrogância dos
que preenchem rapidamente o papel com suas características, mas depois
de algum tempo, talvez meses, nenhuma daquelas características é
constatada como verdadeira na observação das atitudes do dia-a-dia. Ou
seja, a primeira tentativa de definição de pontos fortes e fracos pode ir da
total falta de percepção sobre si mesmo, até uma percepção distorcida.
Utilize a tabela na próxima página para identificar seus pontos fortes e
fracos. Abaixo estão algumas perguntas que podem ajuda-lo a ser mais
sincero consigo mesmo.
Tente se lembrar de situações em que teve sucesso. Quais
características de destacaram? Houve algum comentário positivo
das pessoas envolvidas que pode dar uma pista destas
características?
Faça o mesmo com situações de fracasso. Que defeitos foram os
responsáveis? (Evite ao máximo colocar a culpa em terceiros!) - Se
você fracassou, mesmo que por influência de outra pessoa, seu erro
então foi ter se deixado influenciar.
75
Franciane Ulaf
PONTOS FORTES PONTOS FRACOS
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Planejamento Estratégico Pessoal
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Franciane Ulaf
3. Identificação de Padrões
Boa parte do nosso comportamento é constituída por padrões.
Agimos em determinadas situações de forma automática, e acabamos não
percebendo. Esse padrão pode ser de um mecanismo de defesa, reagimos
sempre da mesma forma à uma determinada ameaça ou ataque; uma
estratégia, utilizamos sempre o mesmo artifício para conseguir
determinadas coisas; um hábito, certas atividades rotineiras que fazemos
sempre da mesma forma.
A identificação destes padrões é muito útil, pois são coisas das quais
não temos consciência – todos à nossa volta enxergam, com exceção de
nós mesmos. E, diga-se de passagem, não é muito bom mantermos
comportamentos inconscientes.
Para descobrir estes padrões, a ajuda de pessoas próximas pode ser
muito útil. Peça-lhes para observá-lo durante um período e anotar coisas
que você fez ou falou, que provavelmente você nem se deu conta. A auto-
observação também pode ser utilizada, no entanto, é preciso muita
atenção e sinceridade para consigo mesmo para notar e assumir
comportamentos automáticos.
Muitos dos nossos hábitos negativos que acabam levando ao
fracasso em determinados objetivos é decorrente de um comportamento
sistemático, algo que você faz e não percebe, mas que acaba
prejudicando o resultado esperado.
O filósofo Kierkegaard disse certa vez que a vida é vivida para
frente, mas compreendida pelo retrocesso. Observando suas atitudes,
comportamentos, sucessos e fracassos do passado, você pode
compreender melhor quais os mecanismos que o levam a acertar ou errar.
Somente ao compreender os padrões que se formam em seu próprio
comportamento é que você pode conhecer suas capacidades e descobrir o
seu potencial.
78
PARTE II
Projeto de Vida
A elaboração do Planejamento Estratégico
Missão e Visão
Definição de Metas
Detalhamento Estratégico
Franciane Ulaf
4 – Projeto de Vida
“Se você não tem uma estratégia de vida, você simplesmente não é
competitivo. Há um monte de cães atrás dos ossos aí fora e sair
tropeçando neles não é o caminho para o sucesso. Os vencedores nessa
vida conhecem as regras do jogo e têm um plano, uma vez que sua
eficiência é comparativamente exponencial às pessoas que não o
possuem. Não há mistério, apenas fatos.” Phillip McGraw
A vida não é longa o suficiente para fazermos tudo o que
gostaríamos de fazer. Sem um foco você acaba tentando fazer muitas
coisas sem ser realmente bom em nada. Para ser bem sucedido é preciso
antes de tudo saber para onde você está indo: “ser bem sucedido em
quê?” E sucesso não significa somente carreira profissional. Se você
ignorou seus velhos amigos até perdê-los alegando falta de tempo, se
você deixou com que seu casamento se deteriorasse, se você só consegue
se “manter funcionando” à base de antidepressivos, você é um
fracassado, não importa se sua carreira é um “sucesso”. Muitas pessoas
quando fazem projetos e planos para o futuro pensam somente na vida
profissional, o resultado é o fracasso na vida pessoal, pois as prioridades
estão todas na carreira e “não há tempo a perder com o resto”.
Um projeto de vida garante que você não vai chegar no meio do
caminho para algum lugar que você nem mesmo sabe onde é e se
perguntar: “O que estou fazendo aqui?”, sentir-se perdido, sem rumo, à
mercê das circunstâncias externas da vida. Os planos de longo prazo
criam um pano de fundo psicológico e uma estrutura informativa sobre o
futuro, na qual você pode basear suas decisões de curto prazo. O projeto
de vida é a trilha por onde você irá percorrer ao executar os diversos
planejamentos que tem e terá. São as diretrizes básicas que determinam
o rumo da sua vida. Indica para onde você deve seguir, quais são suas
80
Planejamento Estratégico Pessoal
prioridades, habilidades, o que precisa ser conquistado, aprendido,
realizado.
Um projeto de vida revela o seu propósito. Encontrar um propósito
para a vida pode não ser muito fácil, e é preciso ficar claro que não
estamos falando de questões filosóficas “porque vivemos”, qual o
“significado da vida”, etc. Devido a essa dificuldade, o processo de
autoconhecimento é fundamental para que se estabeleça objetivos
realistas e que serão seguidos até o fim. Objetivos irreais podem ser
desde sonhos utópicos até aspirações ligadas à fases, modismos,
influências externas. Um adolescente pode dizer que seu objetivo é ser
vocalista de uma banda de rock aos 16 anos, provavelmente aos 23 já
terá esquecido este sonho. Um advogado que seguiu a carreira por
influência da família, mas não se sente adaptado à profissão deve pensar
em mudar de carreira e não em ser um grande profissional, pois se não
gosta do que faz dificilmente terá sucesso. Parece óbvio, mas não é tão
evidente assim quando é a sua vida. As pessoas possuem uma facilidade
enorme para identificar erros e acharem as coisas óbvias na vida de
outras pessoas, mas não conseguem ver que os mesmos casos se aplicam
às suas próprias vidas. Só o autoconhecimento propicia o contato com as
informações sobre você mesmo que serão importantes para encontrar o
seu propósito e fazer um projeto de vida.
Não há tempo suficiente para que possamos fazer tudo o que temos
vontade. A vida é feita de escolhas, no momento em que você faz uma
escolha, está abrindo mão de todos os outros "futuros" pertencentes às
opções recusadas. A interligação e a seqüência desses caminhos é que faz
um projeto de vida ser bem sucedido ou não.
Portanto, de nada adianta planejar cada ação, se não houver
direcionamento, pois os resultados serão aleatórios dentro do contexto
geral da vida. Quando se tem um projeto de vida, cada planejamento, por
mais específico que seja, está relacionado com as metas principais e
gerais definidas neste projeto.
81
Franciane Ulaf
A vantagem é que evita-se o desperdício de tempo executando
planos inúteis (do ponto de vista dos objetivos principais da pessoa), e
que muitas vezes consomem grande quantidade de tempo, recursos e
energia que poderiam estar sendo aplicados em algo mais significativo e
relevante. Sem um projeto de vida ainda corre-se o risco de só identificar
essa "inutilidade" do plano depois de já realizado.
4.1 Foco
“Não adianta ter paciência e persistência sem ter um rumo definido.”
Amyr Klink
“Uma forte paixão, por qualquer objetivo que seja, garantirá o sucesso,
pois o desejo pelo fim apontará os meios.” William Hazlit
Se você não sabe para onde está indo, não chegará a lugar nenhum.
A premissa básica para o sucesso de um planejamento é conhecer o alvo
por traz dele, a intenção maior por traz de um objetivo menor.
De que adianta realizar inúmeros objetivos pequenos, se não há
interligação entre eles?
O foco direciona o planejamento de acordo com o projeto de vida. É
o destino onde você pretende chegar através do caminho percorrido com
o planejamento. É o motivo maior que guia a realização das metas.
O foco serve principalmente para aquelas horas em que você acha
que tudo o que está fazendo não tem sentido, que todo esforço dedicado
na concretização dos objetivos é vão. Estar consciente do foco é um fator
motivador, nessas horas, você se lembra que o que está fazendo no
momento não tem fim em si mesmo, mas no alvo que você pretende
conquistar ao completar o planejamento.
82
Planejamento Estratégico Pessoal
“É muito triste passar a vida inteira cumprindo as suas
obrigações sem nunca ter construído algo de fato.” Amyr Klink
A maioria das pessoas vive em piloto automático, faz as coisas sem
saber ao certo o porquê. O trabalho é só uma forma de se sustentar, o
lazer a válvula de escape dos problemas e do trabalho, o estudo, obtenção
de conhecimento e desenvolvimento de habilidades é visto somente como
uma forma de manter-se vivo no mercado. Não é raro vermos pessoas
idosas, ou mesmo um pouco mais jovens se lamentando por não terem
construído nada em suas vidas, só fizeram o que tinham que fazer para
continuar vivos e desperdiçaram um tempo imensurável com atividades
de pouca utilidade, assistindo TV, jogando conversa fora, dormindo mais
do que o necessário,... Viveram suas vidas sem grandes objetivos, além
dos imediatos e impostos pelas próprias condições da vida ou por
terceiros. Se você não quer estar nesta condição quando estiver velho e
resolver parar para pensar de que valeu a sua vida para chegar a
conclusão de que foi uma vida inútil, que não deixou rastros e não
contribuiu com nada para outras pessoas, recomendo que faça com
sinceridade este exercício:
83
Franciane Ulaf
Imagine-se no final de sua vida. Um jornal decide publicar uma matéria sobre
você. O que estaria escrito nesta reportagem? Quais os feitos, realizações,
frases seriam atribuídos à você? Você seria lembrado como que tipo de
pessoa? Quais as qualidades e defeitos seriam ressaltados sobre você neste
artigo? Ou você não seria lembrado? Sua vida é tão medíocre que ninguém
seria capaz de lembrar sequer o seu nome? Se este é o seu caso, o que você
pode fazer para reverter esse quadro? Como você quer ser lembrado? (não
me refiro à fama ou reconhecimento público, um cientista que fez muitas
descobertas pode ser lembrado numa reportagem mesmo que tenha sido
anônimo por toda a vida.) As pessoas geralmente são lembradas por seu
caráter, integridade, realizações, qualidades. Se o que domina em sua
personalidade são seus defeitos e as pessoas, em sua maioria, preferem não
estar perto de você, sua família só o suporta por obrigação, você não constrói
nada de útil, provavelmente não haverá nada a ser lembrado no final de sua
vida. É difícil que alguém admita que se encontra nesta condição, mas ela
existe, há muitas pessoas assim. A sinceridade neste exercício é muito
importante, pois a tendência é a pessoa vislumbrar um futuro utópico, ela
quer ser lembrada por algo que nunca fará ou será. Considere a sua idade e a
sua condição atual, o que você sabe, o que pode aprender, desenvolver, os
recursos a que tem acesso e o que pode conseguir, com os pés no chão, sem
sonhar com uma realidade tão distante que não pode sequer ser planejada.
As informações obtidas neste exercício devem ser revistas anualmente, você
deve verificar se está indo em direção à concretização do que estabeleceu
com “realizado” em seu artigo, ou se seus interesses mudaram, a reportagem
após 5, 6 ou 10 anos pode mudar completamente. O ideal é que não mude,
mas devido a falta de autoconhecimento de grande parte das pessoas que
fazem esse exercício é muito difícil os interesses, valores e prioridades
manterem-se constantes por muito tempo, principalmente se a pessoa é
muito jovem. A maioria das pessoas escreve baseando-se em suas
prioridades e valores do momento. Pessoas muito jovens não escrevem sobre
caráter, integridade, honestidade, mas sobre fama, status, dinheiro e
geralmente criam ilusões fantásticas sobre o futuro. Pessoas com depressão
ou crises familiares, escrevem sobre paz, tranqüilidade, união. Procure, ao
fazer esse exercício, olhar para você como ser humano, independente de
seus interesses e problemas momentâneos, pense em como isso tudo muda
ao longo dos anos, tente identificar os valores universais e buscar seus
objetivos magnos, aqueles que provavelmente não serão afetados pelo
tempo.
84
Planejamento Estratégico Pessoal
Com esse texto em mãos, você já tem condições de ter uma idéia
de quais as diretrizes básicas de seu projeto de vida. Selecione os
principais pontos destacados, entre realizações, qualidades, frases,
estórias e planifique como o que deve ser feito para que no final de sua
vida o resultado seja o desejado por você. Esse projeto deve reunir os
principais pontos a serem desenvolvidos por você ao longo da vida, são os
objetivos principais. Não se preocupe com detalhes agora, estes serão
explorados adiante.
A primeira tabela é um exemplo de como você pode planificar a
definição de seus principais objetivos, sempre questionando o porquê de
querer realizá-los e definindo prazos. Muitas vezes mantemos sonhos
“desatualizados” em nossa mente e nem sabemos o porquê. Questionar-
se é importante tanto para verificar se você ainda deseja realizar um
objetivo, quanto para registrar seus porquês. Quantas vezes você já não
se perguntou sobre os motivos de querer realizar algo no passado que
agora já nada significam? Se não “atualizarmos” nossos motivos,
corremos o risco de lutar por um objetivo cujas razões já não são mais
importantes.
Quanto à definição de prazos, pode ser um pouco complicado lidar
com datas, principalmente se você ainda não tem uma idéia clara do
objetivo. Mas lidar com prazos pode fazer com que você se force a pensar
no seu objetivo com mais clareza e objetividade, sendo um ótimo
exercício para que você vá descobrindo e definindo detalhes, metas e
comece a se direcionar ao seu objetivo. Você não precisa definir
exatamente em quanto tempo realizará a meta, mas é importante definir
a proximidade (curto, médio e longo prazo) e estimar datas.
A tabela “status de realizações” deve registrar quantas e quais
foram as metas já realizadas, quais você deixou a oportunidade passar e
quais ainda podem ser realizadas.
Por fim, você registrará os seus objetivos gerais no projeto de vida.
Não se preocupe com detalhes aqui. Recomendo que você mantenha seu
85
Franciane Ulaf
projeto separado por objetivo, ou área de vida e por data, de preferência
anual. Em “fase” você deve indicar em que estágio se encontra ou se
encontrará no futuro seu objetivo (início, preparação, continuidade,
manutenção, etc)
Objetivos, como já foi dito, são gerais, representam um marco a ser
atingido, um passo, uma etapa a ser galgada. As metas são específicas,
são meios para se atingir os objetivos. No projeto de vida, você deve
registrar objetivos. Você não precisa saber exatamente o que vai estar
fazendo daqui a 10, 20 anos, principalmente se você for muito jovem,
mas se tiver alguma idéia, isso já poderá ser um passo importante para
que você possa definir rumos e prioridades em sua vida. Você pode definir
primeiramente os objetivos principais que tem em mente para realizar e
depois ir encaixando dentro de uma grade que representa os anos para
realização.
Muitas pessoas utilizam o ano como unidade máxima de
planejamento. Definem no início do ano que farão nos próximos 12
meses. Desta forma, perde-se a visão de conjunto. Boa parte dos nossos
objetivos de vida não podem ser concretizados em apenas 1 ano. Sem um
projeto de vida que abranja vários anos, a pessoa não consegue visualizar
a necessidade de tomar atitudes agora para realizar projetos que só serão
concretizados daqui alguns anos. Há objetivos que requerem dedicação e
ações durante um longo prazo para que possam ser realizados. Se você
define que pretende fazer um mestrado dentro de 2 anos, terá que se
preparar para isso, não pode ficar esperando os 2 anos passarem sem
tomar determinadas atitudes (estudar o tema escolhido, realizar os testes
necessários, economizar dinheiro, procurar realizar uma atividade
profissional que permita dedicação ao curso, etc). Esse mesmo raciocínio
pode ser aplicado à compra de bens que estão além das suas capacidades
econômicas. Os “planejadores anuais” não incluem uma viagem cara em
seu plano se não forem capazes de arcar com as despesas no momento,
pensam “o dia que eu tiver dinheiro vou viajar para tal lugar”, um
86
Planejamento Estratégico Pessoal
planejamento mais amplo pode incluir a viagem como um objetivo,
“economizar uma certa quantia todo mês durante 3 anos”. Grades
realizações exigem tempo, dedicação e programação. 1 ano só permite
que você realize pequenos projetos e não consiga enxergar o todo, a
interligação entre os diversos projetos a que você se propõe a realizar.
Um projeto de vida permite que você programe grandes objetivos e saiba
o que tem que fazer ao longo dos anos para chegar até eles.
Os níveis (pessoal, profissional, saúde, etc) podem mudar conforme
o que você considera importante, pode-se incluir por exemplo, os níveis
mental, familiar, espiritual, social, esportivo, .... A pergunta que segue
cada objetivo deve ser respondida com muita sinceridade. Com freqüência
determinamos objetivos as quais não nos identificamos, não possuem
ligação com a nossa missão de vida, que posteriormente será tratada, ou
contrariam os princípios naturais.
87
Franciane Ulaf
4.2 Metas X Objetivos
“O ato de estabelecer objetivos fornece dois bens valiosos para você:
sentido de causalidade e marcas para iluminar o caminho. Os objetivos o
põem ao timão da sua vida; persegui-los é reconhecer a causalidade sobre
a situação. Eles permitem determinar o curso, em vez de simplesmente
ficar à deriva e deixar que a vida aconteça para você.”
Chérie Carter-Scott
Há muita confusão entre estes dois conceitos. Metas não são a
mesma coisa que objetivos. Estes são generalistas, representam “um alvo
a ser atingido”, “algo a ser conquistado”, “onde se quer chegar”. As metas
referem-se aos objetivos como os meios para se conquistá-los. Você irá
chegar aos seus objetivos através da concretização de metas. Se o seu
objetivo é ser arquiteto, suas metas provavelmente serão algo como
“fazer uma faculdade de arquitetura”, “desenvolver um estilo pessoal de
design”, “conhecer lugares com arquitetura diferenciada”, etc. O objetivo
é sempre o fim, as metas representam o que você terá que fazer,
desenvolver, criar, para atingir o objetivo.
Como um primeiro passo, você pode começar definindo seus
objetivos, “os alvos que você deseja atingir como fim”. Não determine
como objetivos atividades diárias, compromissos, responsabilidades a
cumprir. Objetivos são gerais, representam um fim e não um meio. Seus
objetivos podem ser formar-se em um curso universitário, fazer uma pós-
graduação, abrir um negócio próprio, mudar-se de cidade, aprender uma
língua estrangeira, desenvolver habilidades, etc. Antes de começar a
definir seus objetivos, leia os tópicos abaixo. É imprescindível determinar
objetivos com base em seus valores pessoais e à sua missão de vida. Sua
vida deve seguir uma linha reta, se você começar a definir objetivos
contrastantes entre si, que o levem para caminhos contrários, você estará
fadado ao fracasso. Há objetivos que são tão conflitantes quanto querer
88
Planejamento Estratégico Pessoal
ser médico e advogado ao mesmo tempo, mas devido à sutiliza, você
pode não perceber. Se prestar atenção aos seus valores pessoais e nunca
definir objetivos que não se encaixem em sua missão, tem grandes
chances de evitar erros assim. A missão de vida será tratada no capítulo
5.
4.3 Visões X Objetivos
Uma grande armadilha na determinação de objetivos são as visões,
as intenções. Muitas pessoas determinam como objetivos “ser feliz”, “ter
saúde”, “ficar milionário”, “conhecer um grande amor”. Estes não são
objetivos. Em primeiro lugar, porque são coisas das quais ninguém
determinará o contrário. “Quero ser muito infeliz e acabar com a minha
saúde até morrer”, ou “quero ser pobre para o resto da vida”, a pessoa
pode não desejar se tornar milionária, mas definir que quer ser sempre
pobre também não vai. Quanto à conhecer um grande amor, um desejo
muito comum, não pode ser determinado como objetivo, pois não
depende somente da pessoa. Você não pode determinar “em dois meses
vou conhecer uma pessoa maravilhosa”, não é algo que esteja dentro do
seu limite de controle, pelo contrário, você pode passar a vida inteira sem
conhecer “um grande amor”, isso absolutamente, não depende de você.
As intenções que temos para nossa vida são sempre as melhores, é claro,
portanto não precisamos determinar intenções como objetivos, pelo
simples fato de serem questões óbvias.
Digo que objetivos são gerais quando os comparo com metas, mas
comparando com visões e intenções, digo que os objetivos são muito
específicos, indicam claramente um lugar a ser atingido, e não algo tão
amplo, genérico e de difícil constatação quanto “ser feliz”. Objetivos são
indicações de resultados calculáveis a serem atingidos. São os objetivos
que transformam os sonhos em realidade. Através deles é que as visões
89
Franciane Ulaf
abstratas são realizadas. Você se sente feliz quando atinge seus objetivos,
mantém-se saudável quando estipula objetivos e metas para manter o
corpo, a alimentação e a mente sadias. Visões como ficar rico podem ser
definidas em objetivos mais específicos, dentro das suas possibilidades.
Se você já não está mais em idade de juntar uma boa fortuna e chega à
conclusão de que a única forma de “ficar rico” é ganhando na loteria, é
melhor colocar os pés no chão e determinar objetivos realistas, do
contrário você corre o risco de se decepcionar, pois verá que não
consegue atingir os objetivos que determina.
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Planejamento Estratégico Pessoal
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Franciane Ulaf
5 – Planejamento Estratégico
5.1 A Missão e a Visão
“Todo mundo possui uma vocação ou missão específica na vida; todo
mundo deve realizar uma atividade em particular para se sentir satisfeito.
Nisso, ele não pode ser substituído, nem sua vida pode ser repetida. Por
essa razão, a tarefa de todas as pessoas é tão particular quanto sua
oportunidade específica de implementá-la.” Viktor Frankl
“Todo ser humano tem um trabalho a fazer, responsabilidades a realizar,
influências para exercer, que são suas e tão-somente suas, e que
nenhuma consciência a não ser a sua pode ensinar.” William Ellery
Channing
A declaração de missão de George Bernard Shaw:
“Minha vida pertence a toda a comunidade e enquanto viver tenho o
privilégio de fazer por ela tudo que estiver ao meu alcance. Só quero
morrer depois de ter dado o máximo de mim. Quanto mais me empenhar,
mais viverei. O que me dá prazer é a própria vida. Esta é uma espécie de
tocha suntuosa que herdei para conduzi-la e quero mantê-la o mais
radiante possível antes de legá-la para as futuras gerações.”
Há algum tempo as empresas descobriram o poder de definir uma
missão para que todos os funcionários seguissem o mesmo rumo e
compartilhassem da mesma visão da empresa. Mas uma declaração de
missão não é útil somente para guiar empresas. Os indivíduos podem se
94
Planejamento Estratégico Pessoal
beneficiar muito do conhecimento de planejamento estratégico, antes
aplicado somente nas organizações.
Uma declaração de missão descreve o que você é e de que forma
você contribui com o mundo à sua volta. A missão pessoal diz de forma
mais específica o que as suas ações e intenções representam de fato. Não
é onde você quer chegar, mas onde você está agora, o que você é. Reflete
seus talentos, o que você faz que repercute em sua vida e na de outros. O
verdadeiro motivo da nossa existência é fornecer algo singular, que
contribua de alguma forma para alguma coisa. Quando você descobrir o
que é que você fornece de único às demais pessoas, descobrirá sua
missão. Observe que a definição de missão aqui não é a mesma
encontrada em algumas religiões, onde o significado é de algo que “deve
ser feito” no futuro. A missão aqui não tem ligação com o tempo,
representa o que você é, e com o que e como você contribui.
“Se você não sabe para onde está indo, provavelmente acabará em
algum outro lugar. Como você pode saber para onde está indo ou como
fará para chegar lá se não tiver um destino bem claro em mente?”
Ioki Berra
Uma declaração de missão possui muitas utilidades, mas talvez a
mais importante delas seja o poder de mantê-lo dentro dos seus
propósitos de vida. Na confusão do dia-a-dia, muitas pessoas acabam se
distanciando daquilo que consideram realmente importante. Uma missão
evita esses desvios, até porque na maioria das vezes eles ocorrem porque
a pessoa não sabe ao certo qual o seu caminho, sente-se perdida, então
envolve-se com qualquer coisa que possa parecer interessante. A missão
delimita o seu campo de ação, faz com que você se preocupe com o que é
realmente importante para você e descarte o resto.
95
Franciane Ulaf
A composição de uma declaração de missão
Sua declaração de missão deve conter todos os aspectos de sua vida
interligados. Quem é você? O que você representa para as outras
pessoas? Qual o significado da sua vida? Qual o legado que você gostaria
de deixar no mundo? Essas perguntas são fundamentais para que você
tenha uma declaração clara. Não adianta construir um texto bonito,
filosófico, com ares poéticos se ele não refletir a realidade, se ele não
puder ajudar na determinação de seus objetivos. É melhor fazer um texto
simples e objetivo, mas que você entenda e possa se lembrar sempre dele
quando estiver indeciso quanto à uma questão importante. Sua missão
pode ser composta de algumas linhas escritas ou de uma página inteira, o
tamanho não é importante, mas sim o conteúdo, que deve expressar o
que você é, o que você representa e o que você quer deixar de legado
para o mundo.
A declaração de visão
Viktor Frankl descobriu através da observação de seus colegas de
campo de concentração que os que sobreviviam eram os que tinham uma
visão do futuro, uma convicção de que tinham algo a realizar depois que
saíssem daquele lugar. Sobreviventes de campos vietnamitas e outros
lugares relataram experiências semelhantes, a força que leva uma pessoa
a lutar no presente é saber que há algo melhor no futuro à espera dela.
A visão é a idéia que você tem do futuro. Onde você quer chegar?
No campo profissional, a visão de ser diretor da empresa pode leva-lo à se
esforçar, motivá-lo a enfrentar os mais difíceis desafios e dificuldades,
enquanto uma pessoa que não tem uma visão pode desmotivar-se ao se
deparar com o menor obstáculo, deixar de perceber o sentido do que está
96
Planejamento Estratégico Pessoal
fazendo e acabando por não crescer profissionalmente. A visão não se
restringe à vida profissional. Você deve estabelecer pontos de referência
em todos os setores de sua vida, e à medida que for alcançando, renovar
suas visões.
5.2 Definição de Metas
“Nenhum vento é favorável para quem não sabe em que porto quer
chegar.” Sêneca
“Não há meio de decidir que medidas adotar até que saibamos o que
estamos tentando realizar.” Robert Mager
“Ação é algo fácil. O que não é fácil é ligar as ações aos resultados. O que
não é fácil é agir com um propósito, agir de forma a chegar aonde você
quer.” Robert Mager
As metas são as ações necessárias para que você atinja seus
objetivos. Para cada área de sua vida, você definiu vários objetivos
quando fez seu projeto de vida. Agora, chegou a hora de definir como
você irá atingir cada um desses objetivos.
Sem metas, de que adianta você trabalhar com todo o seu
empenho, tornar-se organizado, controlar muito bem o seu tempo? Dar
um duro danado para fazer tantas tarefas rotineiras ou urgentes que não
trazem resultado futuro nenhum é muito frustrante. É preciso ter metas
pessoais, profissionais e também conhecer as metas da empresa ( caso
você trabalhe em uma ) para que você sinta que o que faz no presente faz
parte de um contexto muito maior que se manifestará no futuro.
97
Franciane Ulaf
Muito se fala em motivação, e a maioria das pessoas ainda continua
“em busca da motivação perdida”, sem saber que para sentir-se motivado
é preciso saber para onde está indo. Quem não tem metas, acaba não
vendo razão para fazer as coisas. Motivação vem de motivo, qual o motivo
pela qual você faz o que faz? Se a resposta não lhe agrada ou você não
sabe respondê-la, você não se sentirá motivado. E isso não tem
necessariamente a ver com um trabalho cheio de desafios e novidades.
Conheço uma história contada pelo consultor americano Zig Ziglar,
em que um faxineiro de uma grande empresa norte-americana certa vez,
assistiu a uma de suas palestras na companhia e resolveu seguir seus
conselhos. Este homem continuou como faxineiro na mesma empresa,
mas alguns anos depois comprou uma bela casa. Ele havia estabelecido
como meta investir mensalmente uma quantia do seu salário e ía para o
trabalho motivado todos os dias pois sabia que o fruto daquele trabalho
lhe compensaria com seu maior sonho.
Portanto, se você está em busca da “motivação perdida”, descubra
quais são os seus motivos e diga “eu quero chegar lá”, onde este “lá” é
um lugar determinado por você. A única verdadeira motivação é a interna,
ninguém é capaz de motivá-lo e vice-versa. E é só através do
conhecimento de seus próprios objetivos é que você pode encontrá-la.
CARACTERÍSTICAS DAS METAS
1. METAS SÃO REALISTAS – Metas não são sonhos, não as baseie em
um ideal que você criou como situação perfeita. Metas não precisam ser
somente coisas grandiosas. Não extrapole seus limites ao estabelecê-las.
Não adianta colocar como meta perder 10Kg em 1 semana ou fazer 2hs
de exercícios por dia se a sua consciência lhe diz que você não vai fazer
isso. É preciso se conhecer bem para estabelecer metas. Desde os
conceitos de felicidade, sucesso, qualidade de vida, trabalho, etc até saber
98
Planejamento Estratégico Pessoal
qual a sua forma de agir e reagir. Não adianta dizer “A partir de hoje...”,
eu serei mais perseverante, mais responsável, etc, etc... Há pessoas que
criam metas irreais e dizem para si mesmas que a partir daquele dia
mudarão seu jeito de ser para poder cumpri-las. E isso, claro, não
acontece. As pessoas podem até mudar hábitos, desenvolver habilidades,
mas ao longo de um período de tempo e não de um dia para outro.
Portanto, se você sabe que suas características não lhe permitem realizar
a meta, primeiro se proponha a desenvolver as habilidades necessárias
(se isto for possível).
2. METAS SÃO MENSURÁVEIS – Você consegue medir a evolução da
meta enquanto a realiza ? Não, então elas correm o risco de se tornarem
vagas demais. Por exemplo, ao invés de estabelecer uma meta “parar de
fumar”, prefira “reduzir o número de cigarros para 6 ao dia” e
gradativamente diminuir o número em novas metas, assim que esta for
cumprida. Se sua meta for parar de fumar e você conseguir reduzir de 20
para 2 ao dia, poderá ficar frustrado pois não conseguiu atingir a meta,
mesmo tendo feito um grande avanço. Metas financeiras podem ser
definidas como aumentar em 50% meu valor de mercado em 2 anos,
conseguir um aumento de salário para “tanto” ao mês ou mudar para um
emprego que proporcione o salário que desejo.
“Diminuir em 30% o tempo gasto com interrupções durante o
expediente.” “Diminuir para 40 minutos diários o tempo gasto com correio
eletrônico”. Enfim, quanto mais você puder mensurar suas metas, mais
fácil será a verificação da concretização.
3. METAS SÃO DESAFIOS – Metas são desafios que exigirão uma
estratégia para serem cumpridas. Tome cuidado com metas fáceis, pois
elas podem desestimular, assim como metas acima da própria capacidade
de realização. A maioria dos seres humanos é movido à desafios,
descubra o que o motiva e crie suas metas em cima disso.
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Franciane Ulaf
4. METAS SÃO ADMINISTRÁVEIS – De que adianta estabelecer uma
meta na qual a concretização não depende somente de você? Ganhar uma
competição é um bom exemplo. Por mais que você se esforce, seus
adversários podem estar melhores que você e não há nada que você
possa fazer para determinar o potencial deles. Portanto, nunca determine
uma meta quando o resultado não depende exclusivamente de você. Uma
derrota nestas circunstâncias pode gerar frustração, dúvida quanto à
própria capacidade e desmotivação sem necessidade.
MÉTODO DE DEFINIÇÃO E ANÁLISE DE METAS
1. Diagnóstico da situação atual
As seguintes tabelas visam mapear a situação atual de pontos
positivos e negativos com relação à concretização de metas propostas.
Utilize estes modelos e aplique a cada meta que você conseguiu atingir e
as que você falhou.
Tabela de metas concretizadas
Tem o objetivo de levantar qualidades e fatores que contribuem com
a concretização das metas propostas, assim como identificar se as metas
estavam de acordo com o projeto de vida e com a missão pessoal. Note
que pouco adianta cumprir diversas metas dentro do prazo esperado se
elas nada tem a ver com as prioridades em sua vida, que estão ligadas ao
projeto de vida.
100
Planejamento Estratégico Pessoal
Tabela de metas não concretizadas
Tem o objetivo de levantar os motivos da não realização das metas
propostas. Procure evitar culpar terceiros ou fatores externos por suas
falhas. Muitas vezes, estes fatores externos realmente atrapalham e
dificultam, mas não são os únicos responsáveis. Procure ver aonde você
errou em primeiro lugar.
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Franciane Ulaf
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Franciane Ulaf
104
Determinação de Metas
Determinar uma meta precisa pode não ser tão fácil quanto parece.
Para verificar esse fato, antes de ler este capítulo, escreva quais são as
metas que deseja realizar num período de 24 meses. Você verá quanta
imprecisão é capaz de escrever!
Alguém poderia, por exemplo, ter escrito as seguintes metas:
- Melhorar minha atitude com relação aos meus filhos;
- Ter orgulho do meu trabalho;
- Melhorar as relações familiares;
- Estar no lugar certo na hora certa;
- Aumentar a auto-estima;
- Ter mais motivação no trabalho;
- Desenvolver um sendo de equipe para melhorar as relações no
trabalho;
- Tomar decisões mais acertadas;
- Ter mais confiança em minhas habilidades.
Você consegue identificar o que há de errado com essas metas?
Metas como essas na verdade são armadilhas, pois são genéricas
demais, representam abstrações e são impossíveis de serem medidas,
qualificadas ou reconhecidas quando atingidas.
Metas devem identificar performances a serem realizadas, de forma
que possam ser medidas ao longo do tempo em que estão sendo
concretizadas e reconhecida a sua finalização.
O que quer dizer a meta “ter mais orgulho do meu trabalho”? Todos
sabemos o que é ter orgulho do trabalho, mas isso não pode ser definido
como meta pelo simples fato de ser abstrato demais. Como você medirá a
Planejamento Estratégico Pessoal
105
evolução da meta? Hoje meu orgulho no trabalho está 10% melhor que
ontem? E como você identificará o cumprimento desta meta?
“Melhorar minha atitude com relação a alguém” – o que é atitude?
Como alguém pode medir atitude? O fato de determinar metas assim, já
indica que a pessoa pouco sabe o que fazer para resolver o problema.
Dizer “pretendo melhorar minha atitude com relação ao meu filho” é o
mesmo que dizer: “Não faço idéia do que fazer, então vou escrever essa
meta para aliviar minha consciência.” No próximo capítulo, você
aprenderá a planejar estrategicamente suas metas e se não souber
escrever metas claras, precisas e quantificáveis, encontrará muita
dificuldade.
O estabelecimento de metas é realmente um processo complexo,
que exigirá que você reescreva-as diversas vezes até que consiga atingir o
objetivo – uma lista de metas realistas e mensuráveis.
Você pode estar se perguntando, por que toda essa insistência em
mensurar, quantificar e especificar tanto as metas? Primeiro, porque,
como já dissemos, o processo de planejamento exigirá detalhamento, e
metas abstratas não podem ser detalhadas. Segundo, porque metas
irreais ou pouco claras geralmente não são realizadas, e a não realização
leva conseqüentemente à desmotivação, à falta de confiança no próprio
potencial, à baixa auto-estima, e até à problemas mais graves. Alguém
que determine uma meta “tomar uma atitude para melhorar meu
casamento”, provavelmente não saberá o que “fazer” à nível de ações
para melhorar o casamento e no dia-a-dia nem se lembrará da meta, o
que fará a situação piorar ainda mais, pois nenhuma “atitude” será
tomada e meta não será realizada.
Ao escrever suas metas, questione-se sobre o significado de cada
palavra que compõe a meta. O sentido é abstrato? Pode ter várias
interpretações? Há como ser mensurado? Você seria capaz de identificar
alguém que tenha atingido esta meta? Talvez o ponto mais importante a
ser analisado na definição de metas é pensar em sua identificação. A meta
Franciane Ulaf
106
“sorrir toda vez que cumprimentar alguém” é verificável, pois você “vê”
quando alguém está sorrindo. A meta consertar a TV é verificável, pois
representa uma ação, você é capaz de dizer quando alguém está
consertando uma TV, ou se uma TV estragada foi consertada, ao passo
que a meta “tomar decisões mais acertadas” não pode ser identificada ou
medida, além disso, é um tipo de meta que representa a ponta do
iceberg, decisões erradas são tomadas por outros motivos que não o
simples ato de “tomar uma decisão”.
Uma boa técnica para verificar se a sua meta é realista ou não é
listar as performances que a identificam. Quando alguém está realizando
esta meta, que ações identificam que ela está de fato fazendo isto? Quais
são as performances que identificam quando alguém está ou não
cumprindo a meta? Se houver dificuldade nesta tarefa, você pode utilizar
o processo inverso, tentar identificar o que uma pessoa que
definitivamente não está cumprindo a meta faz. Faça também uma lista
dos resultados alcançados. Como você sabe que alguém atingiu a sua
meta? Quais são os resultados visíveis que você pode identificar e dizer
“essa pessoa atingiu a meta”? Note que aqui você deve descrever
resultados e não processos.
Se mesmo após muito questionamento, você ainda achar que a
meta deverá ser abstrata, pois ela em si possui este caráter, as
performances listadas é que dirão se ela foi ou não cumprida. Por
exemplo:
- Ter orgulho no trabalho
(É uma meta abstrata, mas pode ser verificável se você explicar o que
você quer dizer com “ter orgulho no trabalho”)
- Realizar tarefas no prazo;
- Falar bem da profissão;
- Levar trabalho para casa se for preciso;
Planejamento Estratégico Pessoal
107
- Manter relações amigáveis com colegas e superiores;
- Vestir-se de maneira adequada.
Essas performances podem ser facilmente verificadas e tornam a
meta verificável, mas note que para outra pessoa, “ter orgulho no
trabalho” pode gerar uma lista de performances totalmente diferente, por
isso é tão importante explicar o que você quer dizer com a meta, até para
você mesmo. Muitas pessoas definem metas abstratas e não sabem o que
querem dizer com ela, tem apenas um sentido vago de que querem
realizá-la, mas não sabem como fazê-lo, nem como identificar quando a
meta for atingida.
O que você quer dizer quando define em uma meta que precisa ter
mais iniciativa?
Digamos que para você ter iniciativa é assumir responsabilidades,
tomar boas decisões, ser pontual, não esperar que outros digam o que
fazer.
O próximo passo será, então, identificar pessoas e resultados que
identificam a concretização da meta. Que pessoas em sua opinião atingem
ou atingiram a meta proposta? O que faz você acreditar que essa pessoa
atingiu a meta? Que performances ou ações desta pessoa justificam a
concretização da meta?
5.3 Estratégia
“O que você está fazendo nunca é significativo, a menos que você possa
dizer ou sugerir por que você o está fazendo: a qualidade da ação e a
motivação que lhe dá poder não podem ser avaliadas sem conhecer o
relacionamento de propósito.”
Kenneth Andrews
Franciane Ulaf
108
O planejamento estratégico é um plano unificado, abrangente e
integrado com a finalidade de assegurar a concretização dos objetivos. As
estratégias definem as ações a serem tomadas para a realização das
metas. Formam um conjunto de diretrizes que traçam o caminho a seguir,
as sub-metas (os marcos do caminho), definem os recursos necessários,
prevêem obstáculos e oportunidades e esboçam as ações.
As metas e objetivos ditam quais e quando os resultados precisam
ser alcançados, mas não dizem como devem ser conseguidos. As
estratégias servem justamente para guiá-lo rumo a concretização de seus
objetivos e metas.
As maiores preocupações das pessoas que pensam em planejar são
as mudanças ambientais capazes de alterar os planos feitos. A estratégia
lida com o desconhecido, não o incerto. Não é possível prever todos os
eventos. A flexibilidade é essencial no trato com os fatores desconhecidos
do ambiente. A essência da estratégia é construir uma postura que seja
tão forte e potencialmente flexível, que a pessoa possa alcançar suas
metas, apesar das maneiras imprevisíveis que as forças externas possam
interagir, quando a situação chegar.
A estratégia divide-se em 3 níveis: Estratégico, tático e operacional.
É nesta fase que você traçará o caminho a ser seguido para a realização
de cada uma de suas metas. Estes 3 níveis especificam o que precisa ser
feito, como e o que será preciso para que a meta seja cumprida.
O gráfico ao lado demonstra como deve ser montado seu
planejamento estratégico pessoal. O ideal é que, para uma melhor
organização, você monte seu planejamento num computador, organizando
cada caixa “área da vida” como uma pasta e suas sub-pastas. As áreas da
vida correspondem às áreas “pessoal”, profissional”, “saúde”, “familiar”,
etc. Cada área possui seus objetivos, que possuem várias metas, que por
sua vez são detalhadas em níveis de estratégia, que serão explicados a
seguir.
Planejamento Estratégico Pessoal
109
Características de uma estratégia eficiente:
Metas claras, decisivas e diretas
Impacto motivacional
Compatibilidade com o meio
Adequação à luz dos recursos
Horizonte de tempo coerente com a sua capacidade
Praticabilidade
Flexibilidade
Segurança
Adequação aos valores pessoais
Área da Vida
Objetivo
Metas
Nível estratégico
Nível tático
Nível operacional
Nível estratégico
Nível tático
Nível operacional
Objetivo Objetivo
Metas
Franciane Ulaf
110
5.3.1 Nível Estratégico
O nível estratégico do planejamento define o que precisa ser feito
para que a meta seja concretizada. Neste nível também são definidos
prazos e especificações mais abrangentes.
Neste nível você irá formular as estratégias propriamente ditas para
que possa atingir cada uma das metas propostas dentro de cada objetivo.
Para uma única meta, pode existir diversas opções de caminhos para
atingi-la. A estratégia indica qual o caminho a ser escolhido para chegar a
uma determinada meta.
É preciso ter em mente que nenhuma das estratégias cogitadas para
a escolha final pode ser a “certa” ou a “errada” no sentido absoluto;
ambas podem estar certas ou erradas para a pessoa. A avaliação,
portanto, precisa repousar em um tipo de lógica circunstancial que não dê
enfoque a uma “melhor maneira”, mas que possa ser personalizada para
cada tipo de problema enfrentado.
Para chegar à conclusão de qual caminho escolher, você deve
analisar algumas questões:
1. Análise dos fatores internos
Você deve levar em conta suas aptidões, suas habilidades e
tendências na escolha da estratégia ideal. Se não fizer esta análise, corre
o risco de escolher um caminho que aparentemente é mais fácil, ou que já
funcionou para outras pessoas, mas que para você exige um esforço
extra, desnecessário, pois você não domina certas habilidades
necessárias, ou não é a estratégia adequada para você, por mais que
tenha dado certo para outra pessoa.
Veja a meta como uma música que deve ser tocada, e a estratégia,
a escolha do instrumento a ser utilizado. Se você toca violão e não piano,
Planejamento Estratégico Pessoal
111
é óbvio que escolherá tocar a música no violão. Você deve fazer o mesmo
com suas metas. Olhar só pelo lado do desafio pode fazer com que você
acabe não cumprindo suas metas. Adotar uma linha de raciocínio do tipo:
“vou escolher tocar a música no piano pois assim eu aprendo um novo
instrumento” pode dificultar e até impossibilitar a realização da meta. O
foco do desafio deve ser na meta (uma música difícil) e não na estratégia
(um instrumento da qual não se tem domínio). O foco de desafio na
estratégia só deve ser levado em conta quando houver uma possibilidade
coerente de enfrentar o desafio.
2. Análise dos fatores externos
A determinação de uma estratégia adequada começa pela
identificação das oportunidades e riscos em seu ambiente. Mapear as
oportunidades e ameaças de cada caminho pode ser decisivo para a
escolha da estratégia. Em um determinado caminho podem surgir
oportunidades que representam um benefício maior ou poderão ser
aproveitadas em outras metas, o que pode não ocorrer se outro caminho
for escolhido. Assim como certas ameaças, obstáculos que existem em
uma certa estratégia, podem não existir em outra, ou podem ser
menores, ou mais intensificadas. Você deve pesar os prós e os contras de
cada estratégia possível, comparando com a análise interna. Por exemplo,
se você fosse escolher entre duas estradas para chegar em outra cidade,
poderia levantar todos os pontos fortes e fracos e as características de
cada uma e escolher dentre a que apresenta o melhor conjunto de
benefícios, e os obstáculos menos perigosos “para o seu caso”. É
imprescindível estudar bem o seu caso e escolher a estratégia adequada.
Uma estrada pode ser ótima para uma pessoa, e terrível para outra.
Digamos que uma estrada permita chegar na outra cidade dentro de um
menor tempo, mas não possua restaurantes para que você possa parar
para alimentação. Em compensação, a outra não permite que você chegue
Franciane Ulaf
112
tão rápido, mas possui diversas opções de restaurantes. Você deve
primeiramente analisar o que você prefere, o tempo é importante? Ou
você prefere fazer paradas e se alimentar, mesmo chegando horas mais
tarde? Uma das estradas pode apresentar um asfalto corroído e muitos
buracos, o que pode não ser bom para o seu carro, cuja suspensão não
está muito boa (fator interno). A outra estrada pode apresentar um
volume muito intenso de caminhões, o que facilita a propensão para
acidentes, estressa o motorista, e pode causar congestionamentos. Cada
uma destas características pode ou não fazer com que você decida
escolher entre uma estrada ou outra. Tudo vai depender da comparação
com os seus fatores internos, numa balança entre prós e contras.
3. Análise de questões críticas
As questões críticas compreendem detalhes que podem afastá-lo
dos objetivos principais de seu projeto de vida, de sua missão. A adoção
de uma estratégia específica pode, por exemplo, impossibilitar a
concretização de outra meta, ou ir contra o estabelecido em sua missão.
Essa análise pode ser feita através de algumas perguntas que devem ser
aplicadas a cada estratégia possível de ser escolhida.
Esta estratégia de adapta ao meu projeto de vida?
Esta estratégia fere algum de meus valores pessoais?
Adotar esta estratégia me afasta, de alguma forma, de minha
missão de vida?
Há algum objetivo que será afetado negativamente se eu adotar
esta estratégia?
De que vou ter que abrir mão caso adote esta estratégia?
Terei que enfrentar fatores ambientais das quais não estou
preparado?
Planejamento Estratégico Pessoal
113
Analisando minha lista de pontos fortes e fracos, percebo que
minhas habilidades são suficientes para conseguir cumprir a meta
através desta estratégia?
4. Estratégias alternativas
Nem sempre acertamos ao escolher uma estratégia, ou algum fator
ambiental impede que continuemos a aplicá-la. As estratégias alternativas
são os planos de contingência, caso algo na estratégia adotada der
errado. Geralmente, adota-se como estratégia alternativa, a 2º opção,
que “concorreu” com a 1º para ser aplicada. Caso seja uma meta
importante, esta 2º opção deve também ser planejada como a 1º,
seguindo os passos descritos a seguir. Você pode precisar dela quando
menos esperar, e pode não ter tempo, nem cabeça para fazer um outro
planejamento.
Para cada meta planejada, utilize uma tabela como esta para melhor
visualização das oportunidades, ameaças e das respostas à questões
críticas. Depois questione-se sobre a adequação ao seu caso específico
para encontrar a estratégia ideal.
Franciane Ulaf
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Planejamento Estratégico Pessoal
115
TOMADA DE DECISÃO
Escolher a estratégia mais adequada pode não ser muito fácil.
Dentre muitas, pode-se eliminar as que não se enquadram no seu perfil,
mas quando sobram 3, 2 estratégias a serem escolhidas, é preciso muito
equilíbrio, liberdade, coerência e foco para saber qual a estratégia mais
adequada para o seu caso. Essas 4 habilidades funcionam juntas e tomar
uma decisão sem uma delas pode fazer com que você faça a escolha
errada.
Equilíbrio é saber pesar os prós e contras de cada estratégia de
forma justa. A tendência num momento de escolha é dar demasiada
ênfase à algum ponto forte da qual se quer muito, ou eliminar uma
estratégia devido à um único ponto fraco da qual se quer evitar a
qualquer custo. É como uma pessoa que descarta uma estratégia
excelente porque se recusa a falar com uma pessoa da qual teve um
desentendimento no passado. Um simples ponto fraco é capaz de estragar
toda uma estratégia caso a pessoa não faça a escolha utilizando essas 4
habilidades. Essa pode ser uma ótima forma de reconciliar-se com o
antigo desafeto, por exemplo. A liberdade é não ficar preso ao passado,
não apegar-se à coisas insignificantes. Deixar de escolher um caminho
porque terá que falar com uma determinada pessoa é apegar-se ao
passado, dessa forma, não há liberdade na decisão. Da mesma forma, não
é coerente eliminar uma estratégia devido a um detalhe tão insignificante.
A coerência é questionar a decisão em busca da lógica. Tem lógica deixar
de adotar uma estratégia que apresenta muitas vantagens em relação às
outras por causa de uma única pessoa da qual você se recusa a falar? O
foco é manter-se dentro dos seus propósitos de vida. Uma estratégia pode
não contrariar seus princípios, ou a sua missão, mas pode não ter nada a
ver com os objetivos que você persegue. Uma estratégia pode até passar
pelos questionamentos da análise crítica – pode não ferir sua missão e
seus objetivos, pode não exigir habilidades da qual você não possui – mas
Franciane Ulaf
116
deve passar pelo teste do foco antes de ser escolhida. Uma estratégia que
foge muito dos seus propósitos de vida pode representar uma grande
perda de tempo, recursos e energia, enquanto você poderia decidir por
uma estratégia que auxilia a realização de outras metas distintas.
5.3.2 Nível Tático
O nível tático especifica como as ações definidas no nível estratégico
serão realizadas. Após escolher a estratégia, é aqui que você terá que
“desenhar” o caminho das pedras. O que terá que ser feito? Como fará
isso? O nível tático traça a rota que deverá ser seguida para a
concretização da meta.
Após a escolha da estratégia no nível anterior, chegou a hora de
especificar de que forma ela será executada. Se você optou por uma
determinada estrada no nível estratégico, agora terá que especificar
detalhes como: a que horas pretende sair, se vai passar antes no posto
para fazer uma revisão e abastecer o carro, quantas paradas vai fazer
durante o percurso, a que velocidade média pretende andar (resultando
na hora de chegada), entre outros detalhes.
O nível tático também envolve a especificação de como você
aproveitará as oportunidades geradas pela estratégia escolhida, assim
como, de que forma enfrentará os obstáculos.
As tabelas propostas servem apenas para uma melhor visualização
da estratégia. Você deve montar seu planejamento da forma como for
mais conveniente, seja um documento em Word com informações
detalhadas, ou tabelas diferentes. O importante é que a forma utilizada
seja útil para você.
Planejamento Estratégico Pessoal
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5.3.3 Nível Operacional
O nível operacional faz um levantamento dos recursos necessários
para que a meta possa ser realizada. Será preciso tempo extra? Dinheiro?
Apoio de alguém? Desenvolvimento de alguma habilidade? Enfim, tudo o
que você precisar a nível de recursos será determinado no nível
operacional.
Fatores a serem analisados:
1. Suas metas são compatíveis?
Se você possui duas metas que exigirão uma grande quantidade de
tempo despendida no mesmo período, uma das duas terá que ser adiada,
ou você corre o risco de não concretizar nenhuma delas. Você deve
determinar o nível de recursos de que dispõe e analisar as metas em
busca de incompatibilidades.
2. Recursos externos
Faça um levantamento de pessoas, empresas, organizações que
pode auxiliá-lo na concretização de suas metas, assim como (se for
necessário) uma estratégia de como conseguir esta ajuda. Estes recursos
não são necessariamente monetários. Podem ser o tempo de outra
pessoa, as habilidades, o conhecimento, o apoio de uma empresa, enfim,
recursos podem ser qualquer forma de insumo utilizado para
concretização de suas metas.
Planejamento Estratégico Pessoal
119
3. O recurso responsabilidade
Estabelecer metas, de certa forma, é bem simples, cumpri-las é
outra estória. Quando as coisas começam a dar errado, a tendência é
culpar terceiros, obstáculos do caminho, ou qualquer outra força externa.
Assumir e determinar bem, registrando, a responsabilidade pela aplicação
de cada recurso é um passo importante para que você não caia nessa
armadilha. É sua responsabilidade também administrar os obstáculos, eles
estarão lá de qualquer forma, negar a sua existência ou desistir por causa
deles é não assumir a responsabilidade pela concretização da meta.
4. Organização
A auto-organização é um recurso imprescindível para o controle
operacional. Se você não conseguir administrar os recursos de que dispõe
ordenadamente, provavelmente não conseguirá aplicá-los da forma como
havia planejado. Para alcançar um nível desejável de auto-organização é
preciso muita disciplina. Se separou 2hs por dia para se dedicar à uma
meta, precisará de disciplina; se programou poupar uma quantia de
dinheiro por mês, precisará de disciplina para se policiar e não gastar.
5. Recursos pessoais
Os recursos pessoais são aqueles insumos que você tira de dentro
de si para a concretização de seus planos. É bom sempre estar consciente
deles e medindo seu nível, pois em meio a tempestades, acabamos
esquecendo nossas forças interiores e só enxergando as dificuldades
externas. Todos estes recursos podem ser treinados e desenvolvidos.
Nenhuma dessas habilidades é privilégio de “quem já nasceu assim”, pelo
contrário, a maioria são habilidades desenvolvidas ao longo da vida,
exigidas pelas experiências que passamos.
Franciane Ulaf
120
A seguir você encontrará uma tabela que deverá ser preenchida
para cada meta que você determinar, numa base de tempo que você
escolher, pode ser diária, semanal, mensal, dependendo de sua dedicação
à meta. O importante é a sinceridade para consigo mesmo, dizer que você
foi muito persistente quando no fundo você sabe que isso não é verdade,
pode criar uma idéia falsa do seu desempenho, o que não trará nenhum
benefício para você. Quanto ao nível, você pode escolher uma escala
própria, de 1 a 5 de 1 a 10. É importante especificar separadamente o que
significa cada nível para tornar a verificação o mais técnica possível.
Flexibilidade
A flexibilidade é um recurso muito importante para a concretização
de metas. Tanto fatores externos quanto internos podem fazer com que
os planos tenham que ser revistos para serem finalizados. A falta de
flexibilidade leva a pessoa a achar que não pode mudar os planos, que se
planejou uma coisa, deve seguir à risca até o fim. A mudança é vista
como um fracasso. A pessoa inflexível, quando muda, sente-se frustrada
pois a mudança foi o último recurso quando tudo mais não funcionou. Ela
sente que “traiu seus planos”, pois não fez como havia planejado. Não
podemos prever o futuro, podemos no máximo imaginar alguns obstáculos
que podem surgir e nos preparar para enfrentá-los. As mudanças e
revisões de planos fazem parte do caminho.
Persistência
A persistência é o recurso mais importante na concretização de um
planejamento. Raramente o desenrolar de um planejamento ocorre da
forma como foi idealizado. A dificuldade é intrínseca a um bom desafio, e
metas são desafios, do contrário acabam desestimulando antes mesmo de
Planejamento Estratégico Pessoal
121
começar a concretizá-las. Portanto, a persistência deve ser o seu maior
aliado na busca de suas realizações.
Autoconfiança e auto-estima
A dúvida quanto à própria capacidade pode fazer com que você
desista de um plano muito bem elaborado, na qual você possuía plena
capacidade de realização. O medo do desconhecido, o perfeccionismo, a
insegurança podem fazer você acreditar que não pode concluir o
planejado. Por outro lado, esta sensação pode estar sendo gerada por um
planejamento irreal, onde você superestimou sua capacidade, neste caso,
a flexibilidade deve entrar em ação e você deve questionar se realmente
deve seguir em frente, mudar os planos para se adaptar à sua realidade,
ou abandonar a meta. Mas esta decisão não deve ser tomada num
momento de crise, de depressão, quando a auto-estima está baixa e
achamos que não somos capazes de realizar nada. A decisão de desistir só
deve ser tomada se de fato, você constatar que as metas são irreais, que
está além da sua capacidade e condições realizá-la.
Coragem
A coragem é um insumo que pode ser muito útil, mas também pode
ser muito prejudicial. A coragem para realizar uma meta deve ser
coerente e sensata, pois do contrário, pode superestimar a sua
capacidade, subestimar o ambiente e os obstáculos e levá-lo à uma
condição desagradável.
Um bom exemplo de coragem sensata é o navegador Amyr Klink. A
princípio pode-se dizer que ele é um aventureiro muito corajoso que
arrisca a vida em suas jornadas, mas após estudar sua história, chegamos
á conclusão de que ele não é um aventureiro, mas um grande planejador.
Suas viagens são meticulosamente planejadas com anos de antecedência,
Franciane Ulaf
122
todos os obstáculos são previstos, ele só parte quando os riscos são
praticamente todos conhecidos e há preparação suficiente para enfrentá-
los. Sua declaração antes de partir da África para o Brasil na travessia do
Atlântico foi “o mais difícil já foi feito, agora qualquer um pode sentar
neste barco e remar em direção ao Brasil”. Sua coragem não é
desmedida, é calculada e planejada.
Liberdade
O apego ou submissão à idéias, pessoas, organizações pode frustrar
o melhor planejamento. Se uma pessoa tem poder sobre você suficiente
para impedir que você tome atitudes, o seu planejamento pode ser
boicotado.
A liberdade a que me refiro, na maioria dos casos é a liberdade
emocional, se você é psicologicamente dependente de alguma coisa, seja
pessoa, idéia, organização, seu grau de ação é muito limitado. Por um
apego psicológico, você pode decidir tomar uma atitude contrária aos seus
planos ou deixar que algo externo conduza suas ações. A liberdade
emocional é o estado de sentimento natural de uma pessoa amadurecida.
Como a liberdade emocional nasce da auto-aceitação, quando você está
livre emocionalmente, não tem nada a provar a ninguém, não depende do
consentimento de outros para agir e não se prende a ideologias
castradoras. Essas ideologias são, por exemplo, uma religião que impede
que a pessoa aja de uma determinada forma, uma filosofia de vida que
dita modos de viver. Se a pessoa deixa que algo externo diga como ela
deve fazer as coisas em sua vida, ela não tem liberdade suficiente para
realizar metas ousadas, grandes desafios. Até a submissão à um cônjuge
ou parente pode atrapalhar a realização de um plano. Liberdade
emocional é agir com assertividade e determinação, levando em conta os
próprios sentimentos e as pessoas em volta. Liberdade emocional é seguir
Planejamento Estratégico Pessoal
123
em primeiro lugar a própria vontade, sem desrespeitar o ambiente e as
outras pessoas, mas ao mesmo tempo, sem seguir as vontades delas.
Na tabela de planejamento operacional, determine os recursos
necessários para o cumprimento de cada estratégia e suas especificações.
Por exemplo, para o recurso tempo de uma determinada estratégia, você
deve determinar além da quantidade, como irá conseguir esse tempo,
como irá utilizá-lo, de que recursos terá que abrir mão para conseguí-lo
ou utilizá-lo, enfim, quanto mais especificações você colocar, mais fácil se
tornará a compreensão posterior e a utilização desta tabela. No momento
em que escrevemos algo, temos a idéia clara em mente, mas após um
tempo, podemos não compreender o que queríamos dizer com nossas
próprias palavras, se estas não forem claras o suficiente.
Franciane Ulaf
124
Recurso Especificações
PLANEJAMENTO OPERACIONALEstratégia : Data : ___/___/_____
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125
RECURSO NÍVEL Estratégias para melhorar o nívelNível dos Recursos Pessoais Data : ___/___/_____
Franciane Ulaf
126
5.4 Análise Estratégica
Após escolher as diversas estratégias para atingir suas metas, você
deverá submetê-las a um processo de análise. Você não executará uma
meta de cada vez obviamente. A cada período, você terá muitas metas a
realizar competindo pelas mesmas 24hs diárias, pelos mesmos recursos
operacionais, por uma atenção bem dividida. O problema é que você
definiu as estratégias até agora de forma isolada, sem levar em conta as
demais metas. Esta análise visa procurar por incompatibilidades,
incoerências e inconsistências entre as estratégias escolhidas.
A estratégia não pode ser formulada nem ajustada sem um processo
de avaliação estratégica. A avaliação é uma tentativa de olhar além dos
fatos óbvios relacionados à saúde de curto prazo e avaliar os fatores e as
tendências mais fundamentais que governam o sucesso no campo de ação
escolhido.
Fatores a serem analisados :
Consistência
A consistência na estratégia não é simplesmente uma falha na
lógica. Uma das funcões-chave da estratégia é proporcionar coerência à
ação. Um conceito claro e explícito pode facilitar muito o desenrolar da
meta, uma coisa pode ser teoricamente feita de uma determinada forma,
mas na prática pode não funcionar, ou pode não sair como você esperava.
Um questionamento crítico quando às possibilidades de aplicação da
estratégia pode excluí-la caso apresente inconsistências. É muito fácil
escrever num papel quais ações devem ser tomadas para a realização de
uma meta, mas colocar em prática pode não ser tão simples. É preciso,
antes de tudo, pensar em como você executará cada ação que determinar
Planejamento Estratégico Pessoal
127
e registrar da forma mais clara possível. Dizer que no próximo ano você
fará um MBA no exterior e que para isso basta enviar o material
requerido, fazer os testes preliminares e fazer uma entrevista é uma
forma muito simplista e arriscada de formular uma estratégia, aliás,
somente isto não forma uma estratégia. Você não pode saber se irá
passar nos testes nem se será aceito pela faculdade. Uma estratégia
detalhada pode facilitar as coisas: Determinar um roteiro de estudos,
entrar em contato com uma empresa especializada em treinar e orientar
alunos que querem entrar em MBAs fora do Brasil, além do mais é preciso
muita autocrítica para saber se você realmente pode concorrer a um MBA
de porte. É muito comum pessoas superestimarem suas capacidades ou
nem sequer pensarem na possibilidade de estarem tentando algo da qual
está muito acima de seu nível. Isto ocorre também com estratégias que
exigem ações que requerem determinadas habilidades ou pontos fortes
das quais a pessoa não possui, mas “pensa” que possui. Essa falta de
autoconhecimento exclui, inclusive, a possibilidade de aprendizado ou
desenvolvimento da habilidade em questão, pois a pessoa já pressupõe
que não precisa aprender.
A consistência também envolve adequação aos valores e missão
pessoal. Essa inconsistência pode surgir, não na formulação da estratégia,
onde esse cuidado já é tomado, mas nas mudanças de direção que podem
exigir alterações que conflitem com os valores. Ao longo da aplicação da
estratégia, você deve estar sempre atento para que novos rumos estejam
de acordo com seus valores, sua missão e seus limites, que serão
aprofundados no capítulo 7.
Consonância
A estratégia precisa representar ações adaptáveis ao ambiente
externo e às mudanças críticas que nele ocorrem. Se o ambiente em que
você está inserido não permite determinadas ações, exige certos recursos
Franciane Ulaf
128
ou atitudes de sua parte, você deve adaptar suas estratégias à ele. Se
você trabalha 8hs por dia, não pode comprometer o recurso tempo de
forma a prejudicar seu desempenho, se você mora numa cidade pequena
e as possibilidades dentro do que você quer realizar são limitadas, caia na
real e defina estratégias aplicáveis. Se o ambiente oferece muitos
obstáculos, você deve criar estratégias específicas para superá-los. Os
recursos necessários também precisam de estratégias específicas, pode
ser difícil conseguir determinados insumos.
Viabilidade
É aqui que uma estratégia pode ser decisivamente descartada ou
definitivamente escolhida. Pode a estratégia ser tentada dentro dos
recursos físicos, psicológicos e financeiros disponíveis? A estratégia pode
ser muito boa, pode já ter levado outras pessoas ao sucesso, mas pode
não ser aplicável ao seu caso. Uma estratégia que requeira tarefas a
serem realizadas fora do âmbito das habilidades e conhecimentos
existentes, ou que serão de difícil aprendizado não podem ser aceitas.
Além disso, as estratégias não podem sobrecarregar os recursos
disponíveis nem criar subproblemas de difícil solução.
Para cada estratégia, você definiu no nível operacional, quais
recursos e em que quantidade precisariam ser utilizados. Agora você deve
analisar juntas todas as estratégias que “concorrerão” no mesmo período
de tempo e ver se não há recursos que ultrapassam a sua capacidade, ou
os exigirão em um nível capaz de causar estresse. Dedicação e
persistência não significam entregar-se totalmente até a exaustão a um
determinado projeto. Desta forma você estará desperdiçando seus
recursos mais preciosos que são sua saúde, a capacidade de raciocinar
com coerência (num momento de estresse, as decisões raramente são
coerentes) e até seus relacionamentos que ficam desgastados devido à
sua falta de atenção.
Planejamento Estratégico Pessoal
129
5.5 Manutenção da Estratégia
Então você fez seu projeto de vida, definiu suas metas, elaborou as
estratégias para atingi-las e começou a colocar em prática seus planos.
Mas o processo ainda não terminou. Iniciar uma estratégia e “deixá-la ao
relento” pode fazer com que você acabe não tendo sucesso em seus
projetos, apesar de todos os esforços feitos até aqui.
Toda estratégia precisa ser acompanhada e monitorada de perto
durante sua execução. Eis algumas dicas para que não perca de vista o
rumo de sua estratégia.
Crie um senso de urgência
Se você determinar um objetivo que será concretizado em 2 anos, há a
possibilidade de que você tenha a sensação de que ainda tem muito
tempo pela frente, de que não precisa se apressar. Essa despreocupação
pode ser fatal para o fracasso da meta. Algumas metas exigem dedicação
constante para que os resultados desejados sejam atingidos.
Uma forma de criar esse senso de urgência é incluir pequenas
atividades relacionadas à meta em questão em seu planejamento semanal
ou mensal. Desta forma, você sentirá que se não cumprir aquela tarefa
reservada para aquela semana ou mês, o resultado final pode ser
prejudicado. O ideal é logo ao fazer o planejamento estratégico, já
determinar quais são as pequenas tarefas necessárias ao longo do tempo
para que a meta seja atingida e alocá-las no planejamento semanal de
acordo com as prioridades.
Estabeleça marcos claros
Ao fazer o planejamento, você deve determinar marcos que devem ser
atingidos dentro de um determinado período de tempo. Como numa
Franciane Ulaf
130
competição longa, sua meta será a concretização de várias pequenas
tarefas a serem completadas ao longo do caminho.
Estes marcos devem estar claramente determinados para que quando
você os atinja, saiba identificar e partir rumo ao próximo alvo.
Monitore sua evolução
Você deve além de manter um controle sobre o desenrolar do
planejamento, observando se os marcos estão sendo atingidos dentro do
prazo determinado, monitorar a sua própria evolução ao longo do
caminho. Como está o nível dos recursos? Você está desenvolvendo
alguma habilidade pessoal? Quais estão sendo os ganhos e as perdas? O
esforço está valendo a pena? Você sente-se motivado? Quais são as
oportunidades e obstáculos que estão aparecendo pelo caminho, estou
aproveitando as primeiras e lidando bem com as “pedras”?
Mantenha um registro das vantagens de se atingir a meta e
seu objetivo
Nos momentos de maior dificuldade e estresse, temos a tendência de
pensar que a luta não está valendo a pena, que é melhor desistir de tudo
e voltar à tranqüilidade anterior ao início da jornada. Nestes momentos,
geralmente temos dificuldade para enxergar as coisas com clareza e não
raro, nos deixamos levar por emoções negativas e opiniões de terceiros.
Acabamos nos esquecendo dos motivos que nos levaram a querer realizar
aquele objetivo e determinar a concretização daquela meta.
Manter um registro bem claro das vantagens que você vislumbrou
quando estava definindo seus objetivos e metas e do porquê da escolha
de cada uma, inclusive das estratégias pode além de afastar pensamentos
negativos, garantir a motivação, pois faz você voltar a pensar da mesma
Planejamento Estratégico Pessoal
131
forma que pensava quando estava planejando, momento em que
provavelmente você estava motivado.
5.6 Montagem do planejamento estratégico
Você pode montar o seu planejamento estratégico de diversas
formas. Aqui, proponho que você mantenha o registro de seu
planejamento tanto por metas, como por prazo. O ideal é montar primeiro
o planejamento por metas e depois encaixar dentro da cronologia, de
acordo com sua disponibilidade e capacidade produtiva.
Planejamento por meta
No planejamento por metas, você deve separa-las por áreas
(profissional, desenvolvimento pessoal, família, saúde, etc). Outros tipos
de metas podem ser incluídos, além destas citadas dependendo de suas
prioridades, como metas esportivas ou relacionadas à projetos específicos.
Planejamento por prazo
No planejamento por prazo, você pode determinar metas de curto,
médio e longo prazo ou separando por períodos. Esses períodos podem
variar de pessoa para pessoa. Curto prazo para você pode ser 3 meses,
para outra pessoa 6 meses. É importante definir isto. O planejamento por
prazo só deve ser feito após o planejamento por meta estar bem
detalhado quanto aos níveis de controle.
Franciane Ulaf
132
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Planejamento Estratégico Pessoal
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PARTE III
Ferramentas de apoio para o sucesso de um PEP
Auto-organização
Definição de Limites
Definição de Prioridades
Produtividade
Administração do Tempo
Planejamento Estratégico Pessoal
135
6 – Auto-organização
“Todas as coisas devem ser feitas da forma mais simples possível, porém
não mais simples que o possível”
Albert Einstein
“O fanatismo consiste em redobrar seus esforços quando você esqueceu o
seu objetivo.”
George Santayana
“Os planos fazem você entrar nas coisas, mas você precisa encontrar a
saída.”
Will Rogers
Defina auto-organização. Você provavelmente deve ter pensado
num conceito ligado à “arrumação de papéis”, “metodologia para realizar
ações” ou algo semelhante. Organização para você e para a maioria das
pessoas compreende a ponta do iceberg do que venha a ser de fato “auto-
organização”. Há ainda 2 outros níveis de auto-organização, cujo
desenvolvimento pode ser muito útil. A organização psicológica, que está
relacionada ao controle emocional, ao equilíbrio entre os diversos papéis
desempenhados na vida. E há também a organização mental, relacionada
à capacidade de concentração, de raciocínio lógico, concatenação de idéias
e outras habilidades mentais.
6.1 Organização Física
“Treine-se para perceber e coletar o que está a muito tempo no lugar
errado.”
David Allen
Franciane Ulaf
136
A denominação “organização física” compreende tudo o que envolve
arrumação, metodologia, planificação, esquematização do ambiente físico,
das “coisas” em geral. A organização física à nível individual, apesar de
ser encarada por muitos como difícil de ser alcançada, é a mais fácil e
simples comparando-se com os 2 outros níveis. A maioria das pessoas que
se considera organizada atingiu um certo equilíbrio nesta área. No
entanto, como já foi dito, a organização física é somente a ponta do
iceberg. Uma pessoa, por exemplo, que se considera organizada devido ao
seu aspecto físico de organização bem desenvolvido, mas não consegue
cumprir prazos, não consegue ser pontual, não consegue conciliar vida
profissional e pessoal, está sempre estressada, na verdade não pode ser
considerada uma pessoa integralmente organizada.
Um livro que recomendo para o desenvolvimento da organização
física é “Produtividade Pessoal” de David Allen (Editora Campus). Allen
propõe uma técnica de organização que combina prioridades, objetivos e
métodos de organização com a capacidade de relaxar e manter a mente
calma e organizada, evitando, assim, o estresse, a síndrome da urgência e
a falsa produtividade (fazer muitas coisas sem estar de fato produzindo
algo importante). Livros de administração do tempo também podem ser
muito úteis.
6.2 Organização Psicológica
“A diferença entre uma pessoa feliz e uma infeliz não é o fato de a pessoa
infeliz ter mais sentimentos negativos, mas de a pessoa feliz lidar mais
efetivamente com seus sentimentos negativos, resolvendo-os no
momento em que eles ocorrem.”
David Viscott
Planejamento Estratégico Pessoal
137
Ligada ao controle emocional, à capacidade de gerenciar emoções e
utilizá-las adequadamente. Pode parecer estranho, à primeira vista,
associar inteligência emocional com organização, mas estes dois conceitos
estão intrinsecamente ligados. Qual a definição mais próxima de
organização? Controle. A falta de controle, em todos os níveis, representa
falta de organização. Não controlar as emoções, não discernir sobre a
hora de ter certas reações emocionais, não colocar cada sentimento em
seu devido lugar e não saber demonstrá-lo na ocasião certa, da forma
correta representa uma desorganização psicológica.
Nem é preciso dizer que este nível de desorganização é
extremamente nocivo para o sucesso de um planejamento. A falta de tato
nas relações interpessoais, falta de sensibilidade, o excesso de
emocionalismo, um temperamento desajustado, pode boicotar suas metas
até mesmo sem que você perceba.
Pessoas desorganizadas emocionalmente dão demasiada ênfase às
emoções em sua vida. Nossas metas geralmente são objetivas. O que
acontece na maioria das vezes é que estas pessoas preferem realizar seus
desejos imediatos, a abrir mão de algo hoje para realizar uma meta no
futuro. Quando a emoção fala mais alto que a razão, não há muita
coerência, as decisões são insensatas, priorizando o momento e o lado
pessoal, de forma egoísta. Inteligência emocional não é colocar as
emoções acima da razão, mas utilizar estas de forma coerente, lado a
lado com a razão.
Saber equilibrar os diversos papéis desempenhados na vida também
faz parte da organização psicológica. Conseguir dar a devida atenção à
família, ao mesmo tempo em que se administra uma carreira em
ascensão, uma vida social ativa e tempo para o lazer pode não ser muito
fácil e requer equilíbrio emocional para não desencadear um rolo
compressor de compromissos importantes e urgentes que se mal
administrados, geram estresse.
Franciane Ulaf
138
Os livros que recomendo para o desenvolvimento da organização
psicológica são “Inteligência Emocional” e “Trabalhando com a Inteligência
Emocional” de Daniel Goleman, (Objetiva),“Liberdade Emocional” de David
Viscott (Summus Editorial), “Inteligência Emocional no Trabalho” de
Hendrie Weisinger (Objetiva) e “Estratégias de Vida” de Phillip McGraw
(Alegro).
6.3 Organização Mental
“Pensar é a verdadeira essência do negócio e da vida, e ao mesmo tempo
é a coisa mais difícil de fazer em meio a ambos. Os construtores de
impérios passam horas no trabalho mental... enquanto os outros
festejam. Se você não está inteiramente consciente da importância de
empreender o esforço de exercer uma reflexão integrada e auto-guiada,
então está se entregando à preguiça, e não controla mais a própria vida.”
David Kekich
Relaciona-se com o raciocínio, a destreza mental. É a capacidade de
organizar idéias e transmiti-las de maneira ordenada e lógica. Passar
idéias para um papel, falar em público, concentrar-se, desenhar um
projeto arquitetônico são alguns exemplos de habilidades que exigem
organização mental. Dependendo das metas que você pretende atingir
poderá precisar mais ou menos dela. Por ser um nível de organização
muito difícil de atingir, pode até representar uma meta em si.
Para o desenvolvimento da organização mental, recomendo os livros
“Pense Diferente, Viva Criativamente” de John Chafee (Campus) e
“Mantenha o seu Cérebro Vivo” de Lawrence C. Katz e Manning Rubin e
“Além da Inteligência Emocional” de Roberto Lira Miranda (Campus). A
organização mental é dividida em diversas áreas, portanto é necessário
Planejamento Estratégico Pessoal
139
que você defina especificamente o que deseja desenvolver, ex. raciocínio
lógico, memória, concentração, inteligência espacial, etc, e buscar
material na área escolhida.
Franciane Ulaf
140
7 – Definição de Limites
“O sábio é aquele que experimenta sua alma durante a vida. Ele segue
sua vontade e se atém à sua verdade quando todas as indicações
exteriores lhe dizem que não pode estar certo... Ele é sábio para si
mesmo antes de o ser para outros”.
Ana Claudia Domene
Ultrapassar os próprios limites depende muito dos valores pessoais.
Há quem se sinta atraído por desafios e se sacrifica física, emocional e
mentalmente para atingir certos objetivos. Mas também há os que se
sacrificam mesmo sem disposição para tanto, mas pela necessidade de
obter resultados, sejam profissionais, pessoais, familiares, esportivos, etc,
mas não conseguem organizar-se de forma a “dar conta do recado” dentro
de um tempo previsto, exigindo de si mesmo muitos esforços extras para
concretizar os objetivos.
Uma boa administração pessoal é, antes de tudo, ter a capacidade
de priorizar dentre o que se quer e o que se deve fazer, o que é mais
importante e excluir o resto, executando essas atividades de forma
organizada.
Em cada planejamento realizado, você precisará estabelecer os
limites, tanto necessários para a própria organização e eficácia no
trabalho, como os seus limites pessoais.
Analise a sua vida, os seus conceitos de sucesso, de qualidade de
vida, de felicidade. É com base nestes princípios, que são os valores que
guiam a sua vida, que você poderá determinar os limites que irá impor em
cada um dos itens abaixo.
7.1 DISPONIBILIDADE – Se você está mais disponível para os outros
do que gostaria, é melhor colocar um limite em sua disponibilidade. Por
Planejamento Estratégico Pessoal
141
exemplo, se o seu ritmo pessoal e seus valores permitem que você
trabalhe 8hs por dia com no máximo 1hs extra, e seu trabalho anda
exigindo que você trabalhe 12hs, e isto faz com que você se sinta
estressado, sua família anda reclamando da sua ausência e você se sente
explorado, estabeleça um limite. Há pessoas que suportam longas
jornadas de trabalho sem sentirem-se esgotadas, outras quase não
agüentam as horas normais. Isso depende muito dos seus valores e
motivações. Há quem coloque toda a sua motivação no trabalho e faça
com gosto inúmeras horas extras. Outras pessoas priorizam a vida com a
família, ou ainda, trabalham somente pelo dinheiro e rezam para que
chegue logo a sexta feira para que possa sair da cidade, descansar. Cada
um tem um ritmo, uma motivação, um conjunto de valores. Se você
desrespeitá-los pode colocar o seu bem estar em risco. É claro que hoje
em dia não é todo mundo que pode se dar ao luxo de escolher quantas
horas irá trabalhar, mas se você pode, não hesite em respeitar os seus
limites. Organize-se melhor, delegue ou divida o trabalho com colegas
para que você consiga realizar todas as tarefas dentro do limite que seu
ritmo suporta.
QUALIDADE DE VIDA x AMBIÇÃO – Nem sempre as conquistas na vida
são fáceis. Muitas vezes, sacrifícios são necessários para que possamos
atingir os nossos objetivos. Aí está a importância de se analisar não só o
ritmo pessoal, mas os conceitos de sucesso, felicidade, qualidade de vida
e as metas pessoais e profissionais. Se o crescimento profissional for um
valor para você, é claro que você não se importará com o estresse, com a
diminuição da qualidade de vida, com a distância da família, ou qualquer
situação que possa causar desgaste. Às vezes é preciso desrespeitar os
limites do corpo para conseguir se superar e crescer, mas isto deve ser
um valor para você, do contrário seu sacrifício será vão. Uma pessoa, por
exemplo, que não tem perspectiva nem vontade de crescer
profissionalmente, preza a vida com a família e os momentos de lazer,
Franciane Ulaf
142
mas precisa trabalhar “para pagar as contas”, pode se beneficiar muito
estabelecendo limites nas horas trabalhadas. Quem tenta equilibrar uma
carreira em ascensão, mas não abre mão da qualidade de vida, precisa
analisar muito bem seus conceitos e valores para não colocar em risco
nem a carreira (por estar trabalhando pouco), nem a qualidade de vida
(por estar trabalhando demais)! Não é nem um pouco simples, é claro,
por isso é que o autoconhecimento é fundamental, é preciso além de
saber bastante sobre si mesmo, conhecer muito bem suas metas pessoais
e suas motivações.
7.2 PRESSÃO – Da mesma forma que ocorre com a disponibilidade, você
precisa saber qual o nível de pressão que suporta no ambiente de trabalho
e caso este nível esteja fora de seus padrões pessoais, considere mudar
de cargo ou até de emprego. Há pessoas que só produzem sobre pressão,
com tendência a serem preguiçosas e sem iniciativa se estiverem em um
ambiente onde não há alguém as pressionando constantemente. Outras
pessoas encaram a pressão como um fator motivador, quanto mais
estresse externo, mais se sentem estimuladas a buscarem resultados. Há
ainda os que sucumbem ao primeiro sinal de pressão e se estressam
facilmente. Identifique qual a sua necessidade: alta, média ou baixa
pressão e procure adequar o seu trabalho a esse limite pessoal.
7.3 QUALIDADE – Cada um tem um nível de qualidade na qual se auto-
exige dentro das coisas que faz. Determine qual o nível de qualidade que
você deseja em cada atividade que faz e trabalhe dentro deste parâmetro.
Isto evita trabalhos mal-feitos, mas principalmente, combate o
perfeccionismo. Na ânsia de ser eficiente, dentro de um padrão artificial
de qualidade, acaba-se deixando a eficácia de lado, muitas vezes
comprometendo o cronograma de um trabalho. As coisas não precisam
ser perfeitas, bastam que sejam bem feitas. Analise o seu padrão e veja
Planejamento Estratégico Pessoal
143
se ele é coerente, você não está exigindo demais de você mesmo
desnecessariamente?
7.4 ENVOLVIMENTO – Algumas atividades são mais empolgantes e
satisfatórias que outras. Muitas vezes, tendemos a nos comprometer
demasiadamente com as coisas que nos motivam mais e damos pouca
importância para as outras, mesmo quando são relevantes e a sua
negligência para com elas é capaz de causar problemas.
Tanto na vida profissional quanto na pessoal, a tendência do ser
humano é evitar as tarefas desagradáveis, difíceis, demoradas,
complicadas,... Essas atividades, no entanto, não deixam de ter o seu
valor, sendo às vezes, muito importantes. Por outro lado, é também
natural nos envolvermos muito com atividades que gostamos. Assim, não
sobra tempo para fazer as outras coisas agradáveis, importantes ou não,
e muito menos para as desagradáveis, porém importantes.
Quando comecei a trabalhar na Internet, na época em não era uma
furada investir na rede, me envolvi tanto com minha atividade que
passava todo o tempo disponível trabalhando, só pensava em aprender
mais, produzir mais, obter melhores resultados dentro daquele trabalho.
Não demorou muito para que eu começasse a ter problemas de visão, as
notas da faculdade baixassem, a família começasse a cobrar mais
atenção, e é claro, o estresse me fazia companhia dia e noite. Isso
costuma acontecer freqüentemente com quem trabalha por projetos ou
metas. De repente, você tem em mãos um trabalho extremamente
excitante para realizar, que além de ser agradável, desafiador, trará
resultados profissionais e pessoais muito satisfatórios. A primeira reação é
esquecer tudo o mais e se dedicar exclusivamente àquilo. Essa reação é
natural e pode trazer benefícios, mas tem um alto preço. O ideal é se
dedicar bastante sim, com coerência. Mas como não perder a sensatez em
meio à empolgação inicial que a nova atividade proporciona? Em primeiro
lugar, é preciso limitar o tempo gasto diariamente na atividade e limitar o
Franciane Ulaf
144
envolvimento. Se o trabalho é em equipe, procure delimitar bem a sua
parte para não arriscar fazer o trabalho alheio ou sobrecarregar o grupo
com a sua empolgação. Em segundo lugar, é preciso ter as atividades
priorizadas e planificadas, para que você “não se esqueça” que tem muito
mais coisas para se preocupar. Sem uma agenda organizada, você
provavelmente deixará passar compromissos e atividades importantes,
mas que não são tão empolgantes para você.
Se não estabelecermos limites de acordo com o nosso ritmo
pessoal, valores e conceitos, acabaremos “engolidos pelo tempo”.
Essa é a síntese da priorização, só podemos priorizar de forma
coerente quando nos conhecemos bem, do contrário acabaremos
desperdiçando nosso tempo fazendo coisas das quais não precisamos, não
são necessárias para ninguém, ou perderemos tempo demais em
atividades pouco importantes, com as urgências do dia-a-dia que
consomem nosso tempo, nossa motivação e nosso potencial criativo.
Planejamento Estratégico Pessoal
145
8 – Definição de Prioridades
8.1 Os 4 níveis de prioridade
“Aquele que tem um “porquê” para viver pode enfrentar todos os
“comos”. Nietzsche
URGENTE x IMPORTANTE
Fazer a distinção entre urgência e importância é crucial para que
estabelecer prioridades coerentes.
A falta de organização e de determinação das prioridades corretas
faz com que se perca a maior parte do tempo “apagando incêndios”, ou
seja, fazendo as coisas urgentes. No entanto, estas coisas urgentes, nem
sempre o foram. É a negligência de alguém, que, na maioria das vezes,
faz com que alguma coisa seja postergada até que sua resolução se torne
urgente. (excluindo-se, claro, situações inesperadas, acidentes, etc.)
É preciso prestar muita atenção às coisas importantes, mas não
urgentes, pois são elas que, se não forem “bem tratadas” e resolvidas por
completo, se tornarão urgentes no futuro, e provavelmente não serão
“bem tratadas”, o que compromete a credibilidade de quem executou. Por
exemplo, um arquiteto se comprometeu de entregar um projeto a um
cliente no prazo de 3 meses. Mas como isso é “muito tempo” na
concepção dele, ele resolveu engavetar a idéia e “pensar nisso depois”. O
projeto era importante, mas como não tinha urgência, o arquiteto
resolveu não se preocupar com ele. Eis que faltando 1 semana para o
prazo final, ele lembrou do compromisso e resolveu fazer o projeto. Mas
aí, o importante se tornou urgente também e esse trabalho pode exigir
que ele trabalhe muitas horas além do normal para que consiga cumprir o
prazo, causando estresse e atrasando outros trabalhos, além da qualidade
Franciane Ulaf
146
estar comprometida devido à pressa. Esse tipo de situação é muito
comum, principalmente em empresas. Tudo o que não é urgente, tende a
ser deixado para depois. Essa relação, importância X urgência, é
importante também na vida pessoal. Se você não tratar uma pequena
cárie, um dia, quando não agüentar mais de dor, terá que fazer um
tratamento de canal. Se ignorar o colesterol alto, poderá ter sérios
problemas cardíacos. Se não tratar de pequenos conflitos familiares
quando eles surgem, terá grandes problemas no futuro.
A tabela abaixo separa as prioridades em 4 quadrantes:
URGENTE NÃO URGENTE
IMPORTANTE I – Problemas imediatos
e de resolução
imprescindível; crises;
acidentes; compromissos
com data marcada.
II – Prevenção,
planejamento; manutenção;
identificação de novas
oportunidades;
relacionamentos, saúde,
família, objetivos de vida,
sonhos, etc.
NÃO
IMPORTANTE
III – Interrupções,
telefonemas;
correspondência;
urgências de terceiros;
compromissos com data
marcada, mas sem
importância.
IV – Detalhes; atividades
agradáveis; passatempos;
conversas inúteis, atividades
que não trarão resultados
futuros.
A maior parte das pessoas vive entre o 1º e o 4º quadrante.
Justamente os que mais devemos evitar. Isso se dá devido à falta de
organização, o que torna a pessoa escrava das urgências do dia-a-dia e
quando consegue um tempo de folga, ao invés de ir para o quadrante II
Planejamento Estratégico Pessoal
147
se dedicar às coisas realmente importantes, fogem para o IV procurando
uma sensação de alívio, pois sabem que em breve retornarão para o
quadrante I.
As atividades urgentes do 1º quadrante não podem ser
negligenciadas, pois podem nos causar problemas se não forem
solucionadas. Uma dúvida freqüente de pessoas que vivem neste
quadrante é como sair dele, se cada vez que se tenta priorizar e realizar
as “coisas mais importantes” surge algo inesperado para atrapalhar. É
também muito comum confundir o 1º e o 3º quadrante, há quem pense
que algo é importante por ser urgente. Para saber em qual quadrante se
encontra a atividade, pergunte se a atividade urgente contribui para a
realização de algum objetivo importante, se a resposta for não, ela
pertence ao 3º quadrante. O aproveitamento do tempo é bem sucedido
quando há um bom gerenciamento pessoal. Não há como administrar algo
que “está fora” quando não se tem conhecimento e controle sobre o que
“está dentro”.
8.2 O mais importante em primeiro lugar
“Para poder colocar as coisas mais importantes em primeiro lugar, é
fundamental deixar de reagir ao que é urgente e passar a entender e fazer
o que é importante.”
Stephen Covey
A urgência tem o poder de nos controlar. O telefone toca, o prazo
termina, alguém entra na sala. Torna-se uma rotina, dia após dia, nos
concentramos em resolver o que vai aparecendo e o que está para
explodir, ou já explodiu. Há pessoas que se tornam “viciadas em
urgência”, passam a gostar da sensação de adrenalina, de euforia, da
tensão gerada pela correria. A urgência dá uma sensação de
Franciane Ulaf
148
responsabilidade, de poder, a pessoa está ocupada o tempo todo, então
tem a falsa sensação de que está sendo muito produtiva, de que é
importante por ter tantas coisas para fazer. Stephen Covey identificou 6
características da urgência que causam a dependência:
1. Cria sensações previsíveis, confiáveis;
2. Absorve toda a atenção;
3. Alivia temporariamente o sofrimento e outras sensações negativas;
4. Proporciona uma sensação artificial de auto-estima, poder,
plenitude, controle, segurança, intimidade, realização;
5. Exacerba os problemas e sentimentos para os quais se está
procurando uma solução;
6. Compromete o rendimento, provoca perda nos relacionamentos.
A síndrome da urgência, como é chamada a dependência na
sensação da urgência, é causada por uma má priorização. Considera-se
como prioridade as coisas urgentes e não as coisas importantes. Utiliza-se
o relógio e não a bússola – mais importante do que a velocidade com que
está andando, é a direção que você está tomando. Antes de aprender a
administrar e tempo de forma eficaz, é preciso antes de tudo, saber
priorizar o que é de fato importante, aprender a usar a bússola.
Ao contrário da urgência, que nos controla, a importância é
controlada por nós, por esse motivo acabamos, no estresse do dia-a-dia
nos deixando controlar pela urgência, abrindo mão do controle que
poderíamos ter para realizar as coisas importantes. Você deve eliminar
por completo da sua vida o 3º e 4º quadrante. As urgências sempre
existirão, mas devem pertencer ao 1º quadrante, serem importantes,
contribuírem para a realização de algum objetivo do 2º quadrante para
serem atendidas. Urgências como ligações telefônicas inúteis, pedidos de
terceiros, algumas reuniões, podem ser importantes para outras pessoas,
mas não para você. Se você se concentrar neste quadrante perderá muito
Planejamento Estratégico Pessoal
149
tempo resolvendo os problemas e realizando os objetivos dos outros e
deixará de lado os seus. O quarto quadrante também deve ser eliminado,
é o quadrante do desperdício. Não é o lazer em si, que faz parte do
segundo quadrante, mas a perda de tempo excessiva com um descanso
que nunca acaba, programas inúteis de televisão, conversas improdutivas,
leituras que não acrescentam nada. Para quem vive na síndrome da
urgência, o 4º quadrante acaba sendo uma válvula de escape, é um alívio
fugir para o 4º quadrante quando se vive apagando incêndios e não se faz
nada concreto de fato. A sensação do 4º quadrante é de que se está
“aproveitando a vida” depois de um período de intenso estresse, quando
na verdade, está perdendo um tempo precioso, que não poderá ser
utilizado novamente.
Um instrutor de um seminário sobre administração do tempo, a
certa altura, disse: “Tudo bem, agora vamos fazer um teste.” Ele abaixou-
se e pegou uma jarra embaixo da mesa. Ele a colocou em cima da mesa,
próximo a uma vasilha na qual havia algumas pedras do tamanho do
punho. “Vocês acham que podemos colocar quantas pedras dentro da
jarra?” perguntou.
Ele ouviu alguns palpites e em seguida disse que só na prática
podíamos saber a resposta. Ele colocou uma pedra na jarra... em seguida
outra... e mais outra, até que ficasse cheia até a boca. Então ele
perguntou: “Será que ainda cabe mais alguma coisa dentro da jarra?” As
pessoas olharam para a jarra e disseram que não. Depois de dizer que
estavam enganados, ele apanhou um balde de cascalho em baixo da
mesa. Em seguida, colocou-o dentro da jarra e deu uma chacoalhada de
modo que o cascalho se acomodasse nos pequenos espaços deixados
pelas pedras grandes. Em seguida perguntou mais uma vez: “Cabe mais
alguma coisa na jarra?”
Dessa vez, o público resolveu embarcar na brincadeira e disse que
sim. “Bom!” respondeu ele. E tirou de baixo da mesa um balde de areia.
Começou a colocar areia dentro da jarra, que se acomodou em todos os
Franciane Ulaf
150
pequenos espaços deixados pelas pedras e pelo cascalho. Mais uma vez,
ele olhou para a platéia e perguntou: “Cabe mais alguma coisa dentro da
jarra?” – “Sim!” – responderam.
“Bom!” disse ele, pegando um copo d’água e derramando dentro da
jarra. Por fim, perguntou: “Que conclusão podemos tirar dessa
experiência?”
Alguém disse: “Bem, os espaços existem, basta um pouco de
esforço e jeito para colocar mais coisas em sua vida.”
“Não!” – respondeu ele, não é essa a conclusão. “O que a
experiência nos prova é que, se eu não tivesse colocado essas pedras
grandes primeiro, jamais teria conseguido colocar todas essas coisas aí
dentro.”
As prioridades em nossa vida são as pedras grandes, são as coisas
que de fato importam, não as urgências passageiras, prioridades de
terceiros, interrupções. Se priorizarmos as coisas importantes, as
urgências se ajustaram naturalmente e não ocuparão o espaço das pedras
grandes.
“A tarefa importante dificilmente precisa ser feita hoje ou mesmo essa
semana... A tarefa urgente implica uma ação instantânea. O apelo
imediato dessas tarefas parece irresistível e fundamental, e ele consome
nossa energia. Mas à luz da perspectiva do tempo, sua enganosa
notoriedade desaparece gradualmente; com um sentido de perda,
lembramos a tarefa vital que adiamos. Percebemos que nos tornamos
escravos da tirania da urgência.”
Charles Hummel
Planejamento Estratégico Pessoal
151
8.3 A Coerência na Priorização
Quantas pessoas em seu leito de morte desejariam ter passado mais
tempo trabalhando?
Você consegue identificar quais são as coisas que realmente
importam em sua vida? Você dá o devido valor e atenção à elas? Sua
resposta deve ter variado entre um “bem que gostaria, mas não tenho
tempo”, “bem que eu tento, mas não consigo” ou “nessa etapa da minha
vida, tenho que me dedicar inteiramente ao trabalho”. Se você respondeu
que sim, parabéns, você já consegue colocar as pedras grandes primeiro
lugar. Mas se você respondeu que não e deu alguma desculpa, leia com
atenção este capítulo, a sua felicidade pode depender da sua capacidade
de dar o devido valor às pedras grandes.
O Futuro do Trabalho
Já está acontecendo uma revolução na forma como as pessoas vêem
o trabalho. Como já foi discutido no início do livro, as pessoas, hoje,
tentam buscar no trabalho a auto-realização. Mas, ao meu ver, a maioria
das pessoas apenas fala sobre isto, não pratica. As condições econômicas
do país, é claro, não são as mais favoráveis para a busca da realização
pessoal, mas exemplos não faltam de que um pouquinho de esforço vale a
pena para fazer o que se gosta e não subordinar-se a um trabalho
somente pelo salário no final do mês.
As pessoas que não buscarem realizar-se com o trabalho, num
futuro próximo serão eliminadas do mercado. A tendência para as
próximas décadas é o crescimento das atividades autônomas, da
terceirização e dos serviços em geral. As empresas aos poucos vão deixar
de contratar funcionários para trabalhar por projetos com profissionais
autônomos. A moral da estória é que só consegue sobreviver num
Franciane Ulaf
152
mercado assim o profissional empreendedor, dono da própria carreira,
capaz de planejar, gerenciar e vender o próprio serviço. Não há mais lugar
para “empregados”. A capacidade de planejamento pessoal será essencial,
e para que isso seja possível é preciso saber priorizar com coerência.
Quando fui procurar material para pesquisar sobre planejamento
pessoal, não encontrei muita coisa. A maior parte dos livros e artigos se
referia à administração do tempo e organização no trabalho, como se a
pessoa não tivesse vida pessoal, ou como se só precisássemos organizar e
administrar o tempo em que estamos trabalhando. Procurar a realização
no trabalho não significa dedicar-se inteiramente à ele. Dar o devido valor
aos demais setores da vida não significa marcar um horário na agenda
para atender à família, fazer uns exercícios e colaborar com uma
instituição de caridade só para ser “politicamente correto”. Priorizar as
pedras grandes é antes de tudo “seguir o coração”, dar valor às coisas
que realmente você sente prazer em fazer. Se você não sente vontade
nenhuma de praticar um esporte, não o faça somente porque é bom para
a saúde, se você odeia o seu chefe e não vê a hora do fim do expediente
para ir para casa, considere mudar de emprego, ou até de profissão.
Encontre as suas pedras grandes e as coloque em primeiro lugar em sua
vida, não faça nada que é tido como “recomendável” se isto não lhe
agradar. As pessoas são diferentes, o que é bom e agradável para mim,
pode ser chato e cansativo para você. Os livros de auto-ajuda estão
repletos de dicas de como viver melhor, mas só você pode realmente
saber o que pode aumentar sua qualidade de vida. Exercitar a coerência
na priorização é escolher o que você quer e o que te faz bem e não o que
um guru da auto-ajuda diz que você deve fazer para sentir-se feliz.
Integridade no momento de escolha
A essência da vida baseada em princípios é assumir o compromisso de
ouvir a consciência e viver de acordo com ela. Por quê? Porque, dentre
Planejamento Estratégico Pessoal
153
todos os fatores que nos influenciam no momento da escolha, esse é o
fator que sempre apontará para o norte verdadeiro. Ele inevitavelmente
produz qualidade de vida. Stephen Covey
Imagine que você tenha o dia todo planejamento e de repente surja
uma urgência. Como você saberá o que é prioritário?
O segredo da priorização coerente é a integridade no momento da
tomada de decisão. Você já conhece os princípios naturais, já sabe os
benefícios de seguir a vida com base neles, também sabe que as pedras
grandes – as verdadeiras prioridades em sua vida – devem ficar em
primeiro lugar. Diante desta conscientização pessoal, qualquer escolha
será feita com integridade, qualquer que tenha sido a prioridade (a
urgência ou o seu planejamento), o objetivo de todo esse processo
aprendido é que você sinta-se bem com a decisão tomada. Eis algumas
dicas para você exercitar a integridade no momento de escolha:
Se a urgência pertencer ao 3º quadrante, considere não atendê-la,
ela não é importante. Pode ser para outra pessoa, mas para você
não é. Assumir responsabilidades que não são suas pode colocar em
risco a sua integridade, baixar a sua auto-estima e fazer com que as
outras pessoas se acostumem com essa sua “bondade”.
Lembre-se da sua missão e visão. A urgência está dentro da direção
que você está tomando ou vai requerer um desperdício de tempo,
sem apresentar resultados futuros? A urgência está ligada à alguma
pedra grande?
Veja o seu planejamento mensal. Resolver a urgência vai
comprometer o andamento das metas? (às vezes parar um
pouquinho para resolver uma urgência não vai trazer maiores
danos, além de um dia corrido)
Franciane Ulaf
154
Quais serão as conseqüências da postergação ou não resolução da
urgência? (Dependendo da conseqüência, é realmente melhor parar
e resolver a urgência)
Quais os valores ligados à essa urgência? Ela está ligada à algum
dos centros de influência descritos anteriormente? Se sim, considere
colocar os princípios como centro e conscientizar-se da influência a
que você está se submetendo.
E finalmente, o que é mais importante agora? Às vezes as urgências
que aparecem em nosso caminho podem esperar um pouquinho,
não são tão urgentes assim, se o que você estiver fazendo for de
fato mais importante, deixe a urgência para depois.
Planejamento Estratégico Pessoal
155
9 – Produtividade
9.1 Eficiência X Eficácia
“É melhor fazer a coisa certa do que fazer certo as coisas.”
Peter Drucker
Eficiência – Fazer bem as coisas, foco na atividade
Eficácia – Fazer as coisas certas, foco no resultado
Algumas das mais recentes teorias em administração pregam que a
qualidade deve estar acima de tudo. A interpretação de alguns foi de que
levasse o tempo que fosse, a tarefa deveria ser feita da melhor forma
possível. Esse perfeccionismo, no entanto, acaba levando a uma distorção
da realidade. Quando o único foco é na qualidade, corre-se o risco de se
dedicar um tempo enorme melhorando algo que já está bom, ou pior,
fazendo algo que não precisa ser feito ou esquecendo das características
realmente importantes para o resultado. De que adianta fazer um
relatório perfeito e entregá-lo quando já não precisam mais dele?
O foco da eficiência é na atividade, preocupa-se com o
procedimento, os métodos, a seqüência, os detalhes. O foco da eficácia é
nos resultados, a preocupação é com o que é realmente importante.
Colocar o foco na eficácia não significa que a qualidade fique
relegada a segundo plano e que as coisas devam ser feitas de qualquer
jeito; mas que deve se preocupar em primeiro lugar em fazer as “coisas
certas” e descartar todo o mais. Na verdade, quando a eficácia se torna
um princípio pessoal, o lema se torna “fazer bem feito as coisas certas”, a
qualidade está implícita em cada ação, mas sem se prender aos detalhes
irrelevantes, ao perfeccionismo de quem só se preocupa com a eficiência.
Focar-se na eficiência é seguir um mapa, enquanto ser eficaz é guiar-se
por uma bússola. O mapa pode estar errado ou até mesmo pode ser o
Franciane Ulaf
156
mapa errado. A bússola indicará somente a direção, o caminho pode ser
indicado por um planejamento, que pode ser alterado. Se você ignorar a
bússola e mudar a direção, chegará em outro lugar, mas se mantiver a
direção, poderá adotar uma infinidade de caminhos, pois todos levarão de
uma forma ou de outra ao lugar desejado. Há muito mais liberdade, a
chance de se identificar erros conseqüentemente é maior, a correção
torna-se mais rápida, os desafios muito mais estimulantes.
O foco na eficiência seria algo como uma equipe de demolição que
chega para instalar as dinamites num prédio e de repente um gerente
aparece e diz “Este é o prédio errado” e alguém responde: “Ah, cara, não
seja pessimista, deixa a gente trabalhar em paz.” Tente se lembrar de
situações focadas na eficiência ocorridas em seu trabalho, casa, faculdade.
Provavelmente foram muitas, pois as pessoas têm uma tendência natural
de não pensar no resultado, somente na atividade, fazer “o que está
determinado”. Quanto esforço você já fez que não trouxe resultado
algum? Quanta atenção você já desperdiçou com assuntos irrelevantes?
Quanto tempo você já perdeu por focar-se na eficiência?
9.2 Ocupado X Produtivo
Trabalhar mais e mais horas para fazer mais e mais significa que nos
cansamos e, logo, cometemos mais erros e trabalhamos mais lentamente.
Como um hamster que anda sem parar indo a lugar nenhum, trabalhamos
direto, produzindo cada vez menos, em um padrão cada vez mais baixo.
Julie Ann-Amos
O fato de alguém estar sempre ocupado, não quer dizer
necessariamente que esteja sendo produtivo. Muitas pessoas que
trabalham demais e dizem estar sempre ocupadas, “sem tempo para mais
nada”, na verdade podem estar desorganizadas, o que as faz perder
Planejamento Estratégico Pessoal
157
tempo “apagando incêndios” causados pela negligência passada, ou até
mesmo fazendo coisas inúteis, que pela falta de questionamento, acabam
sendo feitas e consomem boa parte do tempo que poderia estar sendo
utilizado de outra forma.
Essa é a característica principal do terceiro quadrante. Inúmeras
urgências que não precisam ser resolvidas por você. Considerando
algumas coisas urgentes e não produtivas que temos que fazer por
obrigação (1º quadrante), tudo o mais que não trouxer resultados futuros
deve ser eliminado de sua agenda. Os “focos de incêndio” não poderão
simplesmente deixar de existir da noite para o dia, pois são resultados de
erros e negligências no passado. O que você pode fazer é cuidar do
presente para que no futuro tenha mais tempo para pensar nas coisas que
são realmente importantes.
Quanto às atividades inúteis, você precisará questionar tudo o que
faz. Estas perguntas o ajudarão a descobrir a importância e a real
necessidade das tarefas que realiza:
• Isto é realmente importante? Por quê? (Acostume-se a sempre
analisar o porque de tudo o que faz, você descobrirá que faz muitas
coisas sem razão alguma)
• Se eu não fizer isto quais serão as conseqüências?
• Será que já não há alguém que fez ou faz isto? (Grande parte das
atividades em empresas são desnecessárias pois já estão feitas,
mas devido à má comunicação interna são repetidas inúmeras
vezes, principalmente relatórios e levantamento de dados.)
Franciane Ulaf
158
10 – Administração do Tempo
“Que insensatez temer o pensamento de desperdiçar a vida de uma só vez
mas, por outro lado, não ter nenhuma preocupação em jogá-la fora aos
poucos...” John Howe
“A arte de administrar o tempo está no equilíbrio e propósito do que você
considera importante para a sua vida”.
Stephen Covey
Quando falamos em administrar o tempo, a primeira reação do
ouvinte, na maioria das vezes é negativa. “Não sei administrar meu
tempo”, “Isso é muito difícil”, “Duvido que alguém consiga aplicar essas
técnicas que falam em cursos”, “Não posso administrar meu tempo, pois o
dia pra mim é cheio de imprevistos e nunca consigo fazer o que me
proponho”, “Meu dia devia ter mais de 24hs”, “Meu chefe não me deixa
livre para administrar meu tempo da forma como eu gostaria”... Enfim,
dificilmente encontramos respostas positivas e otimistas quando tocamos
neste assunto, no máximo, um “Eu quero muito aprender”. Realmente, a
maioria das pessoas possui uma grande dificuldade em administrar o
próprio tempo, e as razões são as mais variadas.
No intuito de auxiliar essas pessoas, chovem livros e cursos na área,
abordando as mais variadas técnicas que prometem solucionar de uma
vez por todas o dilema da administração do tempo. Na realidade, a
simples aplicação de técnicas desta forma é uma medida paliativa, pois o
mau gerenciamento do tempo não provém da falta de conhecimento
técnico, mas de hábitos, tendências, valores, características pessoais e
comportamentos que levam a um estilo de vida onde o conjunto de
variáveis faz com a pessoa perca, ou nem tenha consciência da noção de
administração do seu tempo pessoal.
Planejamento Estratégico Pessoal
159
A boa administração do tempo é muito mais uma questão de
autoconhecimento, gerenciamento pessoal e priorização “das coisas
certas”, do que a simples aplicação de técnicas. As técnicas funcionam
melhor para quem tem um alto grau de autoconhecimento e exerce um
bom controle sobre si mesmo, sabe se autogerenciar. Além disso, é
imprescindível possuir valores pessoais que não contrariem os principais
princípios que norteiam a vida. Se o equilíbrio é fundamental para que
possamos ter uma vida harmoniosa e feliz, sem estresse e realizando as
metas propostas, é sensato dizer que não podemos priorizar coisas que
contrariem a própria natureza humana.
10.1 O Tempo
“O tempo é o único recurso comum a todas as pessoas”.
Geralmente fazemos referência à algumas pessoas que parecem ter
mais tempo que o resto dos “simples mortais”. Conseguem fazer tudo o
que planejam, nunca estão atrasadas, nunca reclamam da falta de tempo,
conseguem conciliar muito bem família, trabalho e lazer. É natural nos
perguntarmos: “Qual o segredo destas pessoas?”, “O que elas têm que eu
não tenho?”, “Como elas conseguem fazer tantas coisas da forma certa
sem ficarem estressadas?”, “Como elas conseguem conciliar família e
trabalho e ainda ter tempo para lazer, se possuem uma grande
responsabilidade e fazem muitas coisas no trabalho?”
Quebramos a cabeça tentando descobrir “qual o segredo destas
pessoas”, sem nos darmos conta de que o recurso que elas utilizam – o
tempo – é igual “a todos os mortais”. O que as diferencia é a habilidade
em administrar este recurso. E digo mais uma vez, que administrar o
tempo pouco tem a ver com a aplicação de técnicas. Provavelmente, a
maioria destas pessoas nunca fez um curso de administração do tempo e
Franciane Ulaf
160
nunca leram livros na área. As técnicas que aplicam são próprias, criadas
a partir da necessidade de adequação aos hábitos já existentes. Além
disso, a qualidade de vida que muitos buscam não provém só da boa
administração do tempo, mas do equilíbrio entre todos os fatores
importantes da vida e de ações que não contradizem os princípios básicos
da natureza. Por exemplo, se uma pessoa “mestre” na arte da negociação
sempre tem a intenção de ganhar em cima dos que com ela negociam,
mesmo que isso signifique uma enorme perda para a outra parte, por
mais que durante um tempo esta pessoa esteja obtendo vantagem, cada
um que negocia com ela o faz uma única vez e sai com uma péssima
impressão. Há ainda a possibilidade de não obter sucesso em algum tipo
de negociação onde a outra parte não esteja disposta a perder. Muitos
autores da área de negociação já estão se baseando no modelo “ganha-
ganha”, onde o negociador faz de tudo para que as duas partes saiam
satisfeitas da negociação, se isto não for possível, nada feito. Um aluno
que durante todo o seu período escolar e universitário apelava para o
“jeitinho” para passar de ano, pode sentir dificuldade na aplicação de
conceitos elementares de matemática, raciocínio lógico e redação quando
estiver envolvido com um problema no trabalho. O princípio da causa e
efeito não pode ser desrespeitado, a não ser que você esteja disposto a
arcar com as conseqüências.
“É o único recurso que não pode ser acumulado, guardado,
emprestado, vendido ou comprado”.
É comum nos referirmos ao tempo como um bem quantitativo.
Costumamos nos referir a ele com frases do tipo: “Preciso economizar
tempo”, “Gastei tempo demais com essa atividade”,... O tempo é o único
recurso da qual não podemos ter controle algum, não podemos parar,
acumular, vender, etc. Portanto precisamos nos adequar a ele e conseguir
administrar nossas vidas dentro do período que temos disponível, sem
Planejamento Estratégico Pessoal
161
reclamar, pois de nada adiantará, seu dia nunca terá mais que 24 horas!
Pra que gastar energia se preocupando com “a quantidade” de tempo de
que você possui? Vai mudar alguma coisa?
Tom Peters faz referência à elasticidade do tempo – “Numa crise,
um instante vira 1 mês. Se você duvida, experimente ver-se trancado
dentro de um banheiro público do Rio de Janeiro.” – Pensar no tempo em
termos de quantidade provoca estresse, cada segundo “perdido” numa
concepção quantitativa – quanto mais coisas fizer dentro do menor tempo
possível melhor – causa uma sensação de perda, insegurança, uma
sensação de que algo mais poderia estar sendo feito naquele período
“vazio”. Essa sensação causa preocupação, estresse.
Administrar o tempo cronologicamente traz mais dor de cabeça do
que a total desorganização. Tentar controlar todos os minutos do seu dia
certamente o tornará escravo do tempo. Por mais que você realmente
consiga realizar tudo o que está programado, não terá mais liberdade
pessoal nenhuma, pois todos os seus passos já estarão pré-determinados.
O enfoque dado ao tempo aqui, pouco tem a ver com a organização
cronológica de agendas, já que esta tem se mostrado ineficaz. Portanto,
pensar em tempo como “recurso” quantitativo é um hábito que deverá ser
eliminado a fim de se obter maior qualidade na aplicação do que for aqui
proposto.
“Você acorda todos os dias com 86.400 segundos para serem
utilizados, a forma como você os aproveitará é única e se não
aproveitar, nada poderá ser recuperado.”
O tempo é o mesmo para todos. Reclamar não vai adiantar nada. Ao
invés de reclamar, procure se preocupar em descobrir como aplicar da
melhor forma possível os 86.400 segundos de saldo diário na qual você
possui. E aplicar da melhor forma não significa fazer muitas coisas, mas
fazer as coisas certas, que realmente são importantes, e com qualidade. O
Franciane Ulaf
162
que importa de fato é quão bem você aplica o seu tempo e não quantas
coisas você consegue fazer no menor tempo possível. Existem 2 tipos de
pessoas “Cronos e Kairos”, as pessoas do tipo cronos estão preocupadas
com quantidade, ficam malucas quando tem que esperar, numa fila, no
trânsito, numa sala de espera. As pessoas do tipo kairos preocupam-se
com a qualidade do tempo gasto. Fazer algo que trará benefícios futuros,
que é importante ou que simplesmente torna aqueles minutos
“aparentemente inúteis”, como a espera num consultório ou no trânsito,
em um momento especial. Este artigo aborda bem esta questão. Muitos já
o conhecem pois circula na Internet há muito tempo, seu autor é
desconhecido.
Planejamento Estratégico Pessoal
163
O Banco
Imagine que você tenha uma conta corrente e a cada manhã você
acorde com um saldo de R$ 86.400,00.
Só que não é permitido transferir o saldo para o dia seguinte. Todas as
noites seu saldo é zerado, mesmo que você não tenha conseguido gastá-
lo durante o dia.
O que você faz? Você iria gastar cada centavo, é claro!
Todos nós somos clientes deste banco que estamos falando. Este banco
se chama TEMPO.
Todas as manhãs são creditados, para cada um de nós, 86.400
segundos. Todas as noites o saldo é debitado como perda. Não é
permitido acumular este saldo para o dia seguinte. Todas as manhãs a
sua conta é reinicializada e todas as noites as sobras do dinheiro se
evaporam. Não há volta. Você precisa gastar no presente o seu depósito
diário. Invista então no que for melhor: na saúde, na felicidade, no
sucesso. O relógio está correndo. Faça o melhor do seu dia-a-dia.
O aproveitamento destes 86.400 segundos não significa quebrá-lo no
maior número de pedaços possível e utilizar cada segundo (tempo
cronológico), mas sim aproveitar esta cota diária para fazer o melhor
possível de acordo com o que é mais importante para você.
Franciane Ulaf
164
10.2 A Administração do Tempo
“A arte de administrar o tempo está no equilíbrio e propósito do
que você considera importante para a sua vida.”
Esta frase resume o porquê de algumas pessoas conseguirem
gerenciar o tempo de forma exemplar e outras, mesmo aplicando
técnicas, encontrarem muitas dificuldades. O que você faz com o seu
tempo está intrinsecamente ligado aos seus propósitos e objetivos,
principalmente a longo prazo. Mais especificamente ao seu projeto de vida
e prioridades. Se você não tem um projeto de vida, ou não possui
objetivos a longo prazo, é provável que encontre dificuldade em
administrar o seu tempo. E a qualidade de vida proveniente da boa
administração do tempo, só pode ser obtida quando são priorizadas “as
coisas certas”. De que adianta anular a vida pessoal para trabalhar “mais
e melhor”, se no tempo livre você não tem o que fazer, nem com quem
dividir suas conquistas? Quem se encontra nesta situação geralmente
trabalha “nas horas de folga”.
Quem só se preocupa com as atividades rotineiras acaba não
encontrando motivação para fazer as coisas. As coisas importantes
geralmente referem-se a questões ligadas ao longo prazo ou permanentes
(atemporais) como família, amigos, lazer. O equilíbrio entre todas as
variáveis que são importantes para você, como trabalho, família, bens,
dinheiro, contatos, amigos, esportes, reconhecimento, etc, unido a um
bom planejamento a longo prazo constituem o cerne da administração do
tempo e proporcionam qualidade de vida se bem gerenciados.
Administrar o dia-a-dia sem uma visão de longo prazo não faz muito
sentido. E geralmente quem se preocupa só com o aqui e agora se
preocupa à toa, pois não está construindo nada para o futuro. Isto dá uma
sensação de vazio, de que tudo o que se faz é vão, inútil, faz-se porque
Planejamento Estratégico Pessoal
165
precisa fazer e pronto, não haverá frutos das atividades realizadas. Essa
ausência de perspectivas deixa a pessoa desmotivada, pois ela não
encontra razões para o que faz no presente. A realização de atividades
visando somente o dinheiro ou crescimento profissional proporciona uma
motivação efêmera. Não que essas duas coisas não sejam importantes,
mas se não houver uma integração equilibrada entre todos os setores da
vida direcionados a objetivos de longo prazo, respeitando os princípios da
natureza e os limites do próprio corpo, a motivação tende a durar pouco e
as atividades passam a ser feitas por pura necessidade de curto prazo.
Trabalha-se para ganhar o salário no final do mês, cumpre-se as
obrigações domésticas, familiares, sociais mecanicamente, e assim por
diante, não há ligação nenhuma com algo maior do que a satisfação de
desejos e necessidades imediatas.
“Ocupamos mais tempo buscando razões pelas quais não
realizamos algo que desejamos do que para planejar aonde
queremos chegar.”
Uma desculpa comum das pessoas que não costumam planejar é de
que estas não têm tempo para planejar. Na verdade, estão mascarando
uma realidade da qual não querem enxergar. Não sabem nem o que
planejar, não se conhecem o suficiente para tanto. Possuem uma vaga
idéia de onde querem chegar (como o homem que queria ir a Fortaleza),
mas não têm muita convicção, e muito menos sabem qual o caminho a
seguir. Parar para planejar significa parar para pensar na própria vida,
em seus valores, princípios, sonhos, fracassos, sucessos, aspirações,
objetivos, qualidades e defeitos. Nem todos estão preparados para esta
auto-análise profunda. Peter Drucker diz que para cada 1 minuto de
planejamento, economiza-se 5 em execução. Quem não planeja, além de
perder muito mais tempo com as atividades, acaba caindo na armadilha
de buscar razões exteriores para a não realização. Culpa-se a família, o
Franciane Ulaf
166
governo, a falta de dinheiro, o destino, a má sorte... Os motivos estão
sempre dentro de você, a responsabilidade é sempre sua, tentar encontrar
desculpas externas para justificar os erros pessoais, a falta de ação, a
negligência, só consomem um tempo precioso que poderia estar sendo
mais bem utilizado tanto para planejar, quanto para desfrutar do “tempo
extra” proveniente de uma boa administração do tempo. Analisar o
passado é importante para entender o presente e planejar o futuro, mas
preocupar-se com ele é perda de tempo.
“Sempre existiram e continuarão a existir motivos que poderão
limitar nossas ações. São dificuldades íntimas que se
transformaram em desculpas verdadeiras, e escondem as reais
razões pelas quais abandonamos os desafios”.
O ser humano é perito em encontrar desculpas. Sempre há um
motivo para justificar o porquê de seus erros, sejam causados pela ação
errada ou pela falta de ação, sempre "há uma explicação". Geralmente, a
base dessa justificativa é externa para isentá-los da culpa. A vida não é
fácil para a maioria das pessoas e os desafios estão presentes em cada
esquina. Fugir da responsabilidade por seus próprios atos, ou tentar evitar
desafios não tornará a vida mais fácil. Justificar a falta de ação pelos
obstáculos que seriam necessários transpor, é como dizer que quer
plantar rosas, mas não quer que nasçam os espinhos. As dificuldades que
encontramos são os espinhos do caminho e eles sempre estão lá. Onde
não há desafios, há pouca recompensa, pouco esforço, pouca “graça”.
Evitar os desafios naturais da vida é pedir para ter uma existência “sem
sal”.
Não são poucos os que reclamam que em sua vida “nada acontece”,
tudo é “sem graça”, a rotina os consome. Freqüentemente são estes
mesmos que fogem dos desafios, que acham tudo difícil, que procuram
sempre fazer as coisas pelo caminho mais fácil. Os desafios e obstáculos
Planejamento Estratégico Pessoal
167
sempre existiram e sempre existirão, deixar de fazer o que você quer
porque terá que enfrentá-los só contribuirá para tornar a vida ainda mais
sem sal, se não insuportável.
Os problemas na verdade, estão nos defeitos mais íntimos da
pessoa, não nos obstáculos em si. Uma pessoa que apresenta
características como perfeccionismo, insegurança e neofobia (medo do
novo), provavelmente encontrará diversas razões externas para justificar
o porquê de não seguir em frente, por exemplo, num projeto que exige
alta responsabilidade, inovação, contato com diversas pessoas e
comprometimento a longo prazo. Dificilmente admitirá os próprios
defeitos como “culpados”, pois isto significaria assumir a culpa para si e
responsabilizar-se consigo mesmo com a mudança interior. Acaba sendo
muito mais fácil colocar a culpa nos fatores externos e isentar-se da
responsabilidade.
"De nada adianta conceber o futuro sem determinação para
atingi-lo”.
Fazer um planejamento por fazer de nada adianta. Há muitas
pessoas que passam a vida planejando, adoram planejar, na hora de
colocar em prática, mudam de idéia e fazem outro planejamento e assim
por diante, acabam nunca realizando algo de fato. O exemplo do regime é
clássico. Diz-se que quer emagrecer, determina-se um período, mas a
maioria não persiste após os primeiros dias. Sem determinação, pouca
coisa pode ser feita. É a determinação que define o nível de motivação
que você terá na atividade determinada e sem motivação, é muito difícil
levar adiante qualquer meta.
Também não adianta pensar no futuro como um sonho distante e
ficar esperando que as situações imaginadas ocorram como por mágica. O
simples fato de querer que algo aconteça não é suficiente. Toda criança
vive de vontades, quer tudo, mas como não tem a capacidade ativa de
Franciane Ulaf
168
conseguir o que quer, pede a terceiros e fica na dependência destes
atenderem ou não o seu pedido. Muitos adultos ainda mantêm essa
característica, querem muitas coisas, mas nada fazem para atingir seus
objetivos, e quando vêem que não conseguiram o que queriam, culpam
terceiros, como se a responsabilidade por suas vidas não estivesse em
suas mãos.
“Mais importante do que aprender a administrar o relógio é saber
utilizar a bússola”.
A simples aplicação de técnicas que têm o objetivo de “administrar o
relógio” não resolvem o problema do tempo da maioria das pessoas que
tentam aplicá-las. Isso ocorre porque poucos são os que sabem “utilizar a
bússola”. Aplicar técnicas somente para administrar o dia-a-dia, as
atividades rotineiras, resolver os problemas de última hora, pode ser útil
para organizar a vida presente, mas não traz resultados, pois não há
preocupação alguma com o futuro. Isso também elimina qualquer
motivação, pois esta nasce justamente quando existem metas a serem
atingidas, quando há algo a ser conquistado.
Utilizar a bússola é, além de saber a direção, saber muito bem para
onde está indo. Saber que está na direção certa não basta quando você
não sabe o que irá encontrar quando chegar lá. Por isso, planejar o futuro
é tão importante. Ter a certeza de que suas ações no presente resultaram
em frutos gratificantes no futuro, saber que cada atividade que você faz
hoje está interligada com algo maior, que é um projeto de vida, traz uma
motivação real, que não pode ser encontrada em livros de auto-ajuda,
palavras de um grande guru motivador, incentivos de terceiros ou
treinamentos da empresa.
Planejamento Estratégico Pessoal
169
“Pessoas estressadas se recusam a reformular seus
compromissos”.
As causas do estresse são as mais variadas, entretanto, seja qual
for o caso, ele sempre nasce dentro da pessoa. Várias pessoas podem
passar pelas mesmas experiências, estar sob o mesmo tipo de pressão e
cada um lidar com isso de uma forma diferente, inclusive umas se
sentirem extremamente estressadas e outras lidarem de forma tranqüila
com a situação. Portanto, não são os fatores externos que causam o
estresse, mas a forma individual de cada um lidar com as situações.
A maioria das pessoas estressadas coloca a culpa por sua situação
em fatores externos. É o trânsito, o cônjuge, o chefe, a pressão do
trabalho,... Dizem que querem muito se livrar do estresse a que são
submetidos, mas se negam a reformular seus compromissos dizendo que
“não têm saída”, “que a vida é assim mesmo”, que se deixarem alguns
compromissos de lado terão sérios problemas, e assim por diante. Se o
que causa o estresse são problemas internos, podemos concluir que estas
pessoas não querem rever suas atividades pois terão que olhar para
dentro de si e resolver seus problemas a partir da fonte. É claro que todo
esse processo ocorre inconscientemente, ninguém que sofre de estresse,
vai admitir de “livre e espontânea vontade” que na realidade seus
problemas são internos, eles nem mesmo têm consciência disso.
“Levar uma vida complicada é uma ótima maneira de evitar
mudanças.”
Ocorre com os estressados, analisados acima e também com
pessoas que têm aversão à mudança, seja por comodismo, medo ou falta
de iniciativa. Fazer tantas coisas que não se consegue tempo “nem para
pensar” é um mecanismo de defesa. Passa-se a maior parte do tempo
preocupando-se com as atividades rotineiras, em administrar os próprios
Franciane Ulaf
170
bens, em manter um estilo de vida sofisticado, assim acaba não sobrando
tempo para pensar na própria vida, nos próprios problemas, e se isso não
ocorre, a idéia que se tem é de que não há necessidade de mudança. O
que também pode ocorrer pelo mesmo motivo é a pessoa que leva uma
vida muito complicada, geralmente como mecanismo para “fugir de si
mesmo”, de um auto-enfrentameto, dar a desculpa de que não tem tempo
para pensar em mudanças, apesar de sua vida não estar boa, ela se nega
a pensar, refletir sobre a sua situação, alegando falta de tempo.
“Você não conseguirá arrumar tempo se não parar para reavaliar o
que está fazendo.”
A solução para os estressados e para os levam uma vida complicada
é parar, e refletir sobre rumo que estão tomando, questionar se a vida
que estão levando é aquela que gostariam de ter, se esta está de acordo
com seus valores e princípios, planejar o futuro, enfim, dar aquela parada
necessária que todos precisamos para fazer um balanço geral da vida e
dos planos para o futuro.
O problema é que quem se encontra em situação muito crítica,
simplesmente diz que “não tem tempo para arranjar tempo”. Se estas
pessoas reservassem alguns poucos minutos em determinado momento
só para avaliar os estragos que estão fazendo em suas vidas, certamente
elas se assustariam e decidiriam parar imediatamente para uma
reavaliação da vida.
A vida exige de nós equilíbrio em tudo o que fazemos, é a lei da
natureza. Quem chega ao ponto de não ter tempo para pensar em si
mesmo, provavelmente está em desequilíbrio em algum setor de sua vida.
Hoje em dia, o que encontramos em maior quantidade são pessoas que se
dedicam demasiadamente ao trabalho, apesar de a “onda workaholic” já
ter ficado para traz nos anos 80. Quando isto acontece, a família, o lazer,
a saúde, os amigos são deixados de lado e com isso a qualidade de vida
Planejamento Estratégico Pessoal
171
vai por água abaixo e com ela o bem estar e a tranqüilidade de uma vida
equilibrada. O estresse se instala, a saúde piora, a família reclama da
ausência e falta de atenção e os momentos de lazer são raros. Mesmo
assim, ainda escutamos estas pessoas dizerem que precisam arrumar
tempo, precisam melhorar a qualidade de vida, precisam dar mais atenção
à família, precisam cuidar da saúde, mas por mais que “tentem”, não
conseguem o tempo desejado.
Se este é o seu caso, experimente parar durante uns poucos
minutos para imaginar a conseqüência do estilo de vida que está levando.
Não são poucas as histórias de pessoas, principalmente homens, que
tinham vidas altamente atribuladas e estressadas e de repente, por
negligência ao próprio corpo, tiveram um enfarte, um derrame, um
câncer. A saúde é a primeira a ser deixada de lado por esse tipo de
pessoa. A família é a segunda. Muitas vezes a pessoa só percebe o
desequilíbrio em sua vida quando algum ente querido sofre um acidente
grave, o cônjuge pede divórcio, os filhos têm problemas com drogas,
depressão, álcool,...
“A compreensão de velocidade e tempo depende de como você
está em matéria de opções sobre ações. O quanto você é dono do
seu próprio tempo?”
Enfim chegamos à compreensão do tempo em si. Por que para
algumas pessoas o tempo parece passar tão devagar, e para outras
sempre falta tempo para concluir suas atividades?
A resposta não está na quantidade de coisas que cada uma faz, mas
em quanto cada uma é dona de seu próprio tempo. Quem vive segundo o
tempo dos outros não tem a opção de escolher o próprio caminho, e isso é
muito mais comum do que imaginamos.
Nem tudo o que é urgente é importante, seguir o fluxo das
urgências do dia-a-dia é viver sem a opção de ações. Você escolhe agir,
Franciane Ulaf
172
mas alguém lhe pede para resolver um problema urgente, o que tem
prioridade? Essa resposta vai depender dos seus valores e do quanto você
exercita a integridade em cada situação. Não existem respostas certas, a
compreensão do tempo é justamente saber distinguir as prioridades e agir
com integridade em todas as situações. Dependendo das circunstâncias é
mais coerente resolver a urgência do outro, em outras, pedir desculpas e
dizer que naquele momento não pode atendê-lo, (mesmo sendo o seu
chefe!), em qualquer decisão tomada, você deve se sentir bem com o seu
posicionamento, se isso não ocorrer, você ainda não atingiu a integridade
na tomada de decisões. Essa questão deriva do autocontrole:
O autocontrole desacelera as coisas:
AUTOCONTROLE: Meu próprio tempo. Meu próprio horário.
ACELERADO: Viver segundo os horários dos outros.
LENTO: Viver segundo meu próprio horário.
A compreensão de velocidade e tempo depende de como você
está em matéria de opções sobre ações – Você é dono do seu
próprio futuro?
Ser dono do próprio tempo não significa ter um negócio próprio e
não trabalhar para ninguém, significa ter um controle sobre as ações que
o levam em direção ao seu futuro. Obedecer a ordens de um chefe,
quando aquela atividade está dentro de um plano de carreira (feito por
você), quando você está interessado no aprendizado que aquela tarefa
proporcionará, e você compreende o resultado daquela ação no futuro,
você está no controle. Mas se sua atividade profissional o chateia, você
não encontra motivação para trabalhar onde está e aquilo nada tem a ver
Planejamento Estratégico Pessoal
173
com os seus objetivos de longo prazo, você não está no controle, além de
estar perdendo tempo fazendo algo que não trará frutos no futuro.
Quem escolhe o que fazer com o seu tempo é você mesmo, este
controle lhe dá a autoconfiança para seguir em frente e conquistar os seus
objetivos. Aí novamente caímos na questão: Quem não tem objetivos, não
administra bem o tempo, pois não tem controle sobre suas próprias ações,
não é dono do seu próprio futuro.
10.3 O que é administrar o tempo?
É equilibrar as atividades, metas, sonhos, obrigações,
sentimentos, valores e motivações de forma coerente e
dinamizada, mantendo o foco “no que é mais importante”.
Administração do tempo basicamente significa equilibrar a vida. A
maioria dos cursos e livros nesta área ainda não chegaram a esta
conclusão. Transmitem dezenas de técnicas e métodos visando a melhoria
da qualidade de vida através de um bom gerenciamento do tempo, mas o
máximo que conseguem é transformar indivíduos em “robozinhos”
autoprogramáveis, que seguem à risca seus planejamentos e acabam
ficando neuróticos se perdem alguns segundos de seu precioso tempo com
um filho ou cônjuge “pouco compreensivo”.
Não há como atingir este objetivo, ou seja, equilibrar a vida, dando
atenção somente a um determinado setor da vida, que geralmente acaba
sendo o trabalho e a geração de riquezas. Normas, procedimentos,
técnicas não devem ser aplicados com fim em si mesmo, devem fazer
parte de algo muito maior, devem ser a conseqüência natural de uma
organização geral da vida como um todo. Tudo o que é realmente
importante para a pessoa deve estar interligado quando se fala em
Franciane Ulaf
174
administrar o tempo. Quando o foco está no trabalho, a idéia central é
produzir o máximo possível, no menor tempo, com qualidade. Não se
pode perder um minuto sequer. A lista de prioridades da pessoa pende só
para um lado. Na verdade, ela só consegue enxergar as coisas urgentes,
que estão saltando aos olhos, que precisam ser resolvidas imediatamente,
e quando se permite uma folga, corre para o lado oposto, o da inutilidade,
ficar sem fazer nada, perdendo um tempo precioso com a idéia de que
está descansando, recuperando forças. Enquanto isso, as coisas realmente
importantes para esta pessoa são negligenciadas e colocadas de lado,
mesmo sem que ela perceba conscientemente.
Isso ocorre porque a tendência é separar as áreas da vida como se
fossemos pessoas diferentes e não um único indivíduo que possui vários
papéis. Separa-se o trabalho, a vida pessoal, a vida social, a vida familiar
como se a pessoa que chega em casa às 18:30 fosse a mesma que saiu às
8:30 para ir ao trabalho e não a que saiu do escritório às 18:00 para
voltar pra casa. Se você se estressou no trabalho, chegará irritado em
casa, se tem problemas em casa, isso vai refletir em seu trabalho, não há
como dissociar os papéis que vivemos (profissional, pai, mãe, filho,
marido, esposa, vizinho, etc). A vida é um todo constituído pelos papéis
que vivemos e estes influem diretamente uns sobre os outros.
Administrar o tempo, portanto, é conhecer as suas reais prioridades
em todos os setores de sua vida e conseguir equilibrar tudo de forma que
nada seja negligenciado. Impossível? Eu garanto que não! Mas para
compreender isto, é preciso estar disposto a questionar seus hábitos e
conceitos mais profundos e principalmente ter a coragem de mudá-los se
for necessário.
Planejamento Estratégico Pessoal
175
10.4 As 4 Gerações de Administração do Tempo
“Desmembrar os problemas e tentar resolve-los por partes é como tentar
montar os fragmentos de um espelho quebrado para enxergar um reflexo
verdadeiro. Depois de algum tempo, acabamos desistindo de ver o todo.”
David Bohm
“As pessoas com alto nível de domínio pessoal conseguem concretizar os
resultados mais importantes para elas – na verdade, vêem a vida como
um artista veria uma obra de arte. Fazem isso comprometendo-se com
seu próprio aprendizado ao longo da vida.”
Peter Senge
O estudo da administração do tempo sofreu um grande avanço no
século XX. Com a crescente complexidade das rotinas de trabalho e
aumento dos compromissos, tanto profissionais, como pessoais, o
gerenciamento do tempo tornou-se uma necessidade. Cada geração de
pesquisas complementava e enriquecia a anterior, mas até a 3º geração,
os melhores métodos e técnicas pareciam não funcionar para a maioria
das pessoas. Os grandes pensadores da área de administração, como
Peter Drucker, Tom Peters e Stephen Covey, começaram a criticar as
técnicas propostas e apontar suas falhas, propondo uma nova abordagem
para a administração do tempo, a 4º geração, que mais tem a ver com
autoconhecimento e gerenciamento pessoal do que com técnicas e
métodos impessoais.
A 1º GERAÇÃO
A 1º geração de administração do tempo, na verdade não referia-se
à alguma “administração”, mas uma preparação e monitoração das
Franciane Ulaf
176
atividades diárias através de listas de afazeres, bilhetes e lembretes.
Apesar de ser um método “arcaico” e básico, muitas pessoas ainda
utilizam-se dele para “administrar” sua vida. A famosa lista ABC de
prioridades é usada por muitas pessoas como a única técnica de
administração do tempo.
Apesar de a 1º geração apresentar algumas vantagens em relação
às outras 2 que vieram na seqüência, como maior flexibilidade, maior
adaptabilidade às circunstâncias e às mudanças, menor nível de
“escravização” às agendas e planilhas, as desvantagens ainda são muitas.
As coisas estão sempre dando errado, as pessoas vivem desmotivadas,
não são pontuais, não possuem prioridades, nem objetivos a médio ou
longo prazo.
A 2º GERAÇÃO
A segunda geração ampliou a organização das listas e lembretes
para as agendas e utilização de calendários para previsões e
planejamentos. É possível ser pontual e não se perder em meio a tantas
urgências do dia-a-dia dentro da segunda geração. A preparação aumenta
a eficiência e a eficácia. A definição de metas aumenta o desempenho e os
resultados. Essa geração já conseguia “prever o futuro”, não deixando a
pessoa à mercê das ocorrências diárias, no entanto criou a ditadura da
agenda. As pessoas que seguem a 2º geração tornam-se escravas de seus
compromissos e tudo o que é externo ao “não programado” é visto como
uma ameaça, inclusive as outras pessoas, que são vistas como um
recurso para ajudar a atingir os resultados desejados, se não
“funcionarem” desta forma, não servem, são “interrupções”, e portanto
devem ser evitadas. As prioridades da segunda geração são definidas por
metas externas, geralmente profissionais.
Planejamento Estratégico Pessoal
177
A 3º GERAÇÃO
Para a maioria das pessoas, é o que há de mais avançado em
administração do tempo. Apesar de a 4º geração já estar sendo
pesquisada há mais de 10 anos, alguns autores ainda defendem a 3º
geração como solução para os problemas de gerenciamento de tempo, em
parte também por desconhecerem as inovações na área.
Essa geração promoveu um enorme avanço nas pesquisas em
administração do tempo por conciliar a organização da 2º geração à
valores pessoais. Estabelece metas de curto, médio e longo prazo
baseando-se nestes valores, que ditam as prioridades. Outros avanços
foram em busca da eficiência e da responsabilidade pelos resultados, além
de haver uma preocupação com o gerenciamento pessoal.
As falhas desta geração não estão nos métodos, mas nos próprios
princípios em que se baseia. Dá a sensação de que a pessoa tem o
controle total da situação e pode tomar a decisão que quiser,
independente de princípios naturais ou forças externas. É como o
indivíduo que insiste em plantar no inverno. Essa geração cega a pessoa
para o ambiente externo. Ela se fecha e passa a acreditar que pode criar
suas próprias leis, perde o poder de visão. Stephen Covey faz uma
analogia interessante, ele diz que os paradigmas em que se baseiam
nossas idéias, concepções e valores são como mapas. Não são o território,
apenas descrevem-no. “E se o mapa estiver errado? E se quisermos ir a
algum lugar em Detroit com um mapa de Chicago? Certamente vai ser
muito difícil chegarmos ao local desejado. Podemos mudar nosso
comportamento, dirigindo com mais eficiência, conseguindo um carro mais
econômico, aumentando a velocidade, mas no final das contas tudo o que
conseguiremos será chegar mais rápido ao lugar errado. Podemos mudar
nossas atitudes – ficamos tão compenetrados tentando chegar a algum
lugar que sequer percebemos que estamos no lugar errado. Mas o
Franciane Ulaf
178
problema nada tem a ver com comportamento ou atitude. O problema é
que estamos usando o mapa errado.”
A terceira geração também erra por ignorar as pessoas. Como o
paradigma básico é o controle, tenta-se controlar as pessoas e quando
isso não é possível, estas são ignoradas pois constituem problemas e
interrupções. Essa geração não consegue compreender a interdependência
da vida, prega uma independência utópica, onde tudo o que for externo e
não colaborar com os resultados deve ser afastado e encarado como uma
ameaça à eficiência.
Os valores também são muito individualizados, não há compromisso
com os princípios básicos, com o território. Nas palavras de Stephen
Covey: “Quando o que valorizamos vai de encontro às leis naturais que
governam a paz de espírito e a qualidade de vida, baseamos nossa vida
em uma ilusão e estamos fadados ao fracasso. Apesar das mais modernas
teorias sobre administração do tempo prometerem produtividade total, as
pessoas começaram a perceber que a elaboração de agendas eficientes e
o controle do tempo com freqüência são improdutivos. A concentração na
eficiência gera expectativas que conflitam com as oportunidades de
desenvolver relacionamentos mais ricos, de satisfazer as necessidades
humanas, e de desfrutar momentos espontâneos diariamente.”
Essa geração induz a uma hiperatividade e desequilibra tanto as
prioridades, quanto os valores e relacionamentos. O estresse de muitas
pessoas não se deve a falta de administração do tempo, mas a um
excesso de controle. A pessoa passa a não ser mais dona do próprio
tempo, vive em função de seus compromissos. Tom Peters comenta esse
assunto com um exemplo pessoal: “Quando eu tinha 23 anos, estava
sempre com pressa. Fazia questão de nunca chegar a um aeroporto mais
de 15 minutos antes do horário do avião decolar. (sempre correndo =
sentimento de importância pessoal). Eu tinha pressa, mas os aviões eram
lentos e as viagens curtas. Hoje, os vôos são mais longos, os aviões mais
velozes. Agora, porém, faço questão de chegar ao aeroporto 1 hora antes
Planejamento Estratégico Pessoal
179
do vôo. Resultado: vou mais longe. Vou mais rápido. Mas o fato de chegar
cedo, significa que estou no comando de minha vida, o autocontrole faz
com que eu tenha meu próprio tempo.”
A 4º GERAÇÃO
“Uma das definições de insanidade é fazer sempre a mesma coisa e
esperar resultados diferentes. – Se a solução fosse o gerenciamento do
tempo, certamente a profusão de idéias brilhantes já teria operado
grandes mudanças.”
Stephen Covey
A quarta geração utiliza-se do que há de melhor das 3 gerações
anteriores, mas transcende a simples administração do tempo e passa a
abordar a liderança de vida. Baseada num paradigma que respeita os
princípios universais, busca a qualidade de vida e não o controle sobre as
atividades e metas. Isto torna-se secundário quando o foco desvia-se do
controle e passa a buscar eficácia e bem estar. O desafio da 4º geração
não é administrar o tempo, mas a pessoa, em vez de focalizar a atenção
nas coisas e no tempo, as atenções se voltam para a preservação e
melhoria dos relacionamentos e na obtenção de resultados.
A quarta geração focaliza o que é realmente importante, respeitando
os princípios naturais e diminuindo a incidência das urgências que
consomem a maior parte do tempo de quem vive na terceira geração.
Dentro desta perspectiva, torna-se impensável definir a velocidade e os
detalhes técnicos antes da direção, economizar minutos quando podemos
estar desperdiçando anos seguindo o caminho errado.
Tudo o que você viu neste livro está embasado na 4º geração. Se
você administrar sua vida priorizando os princípios naturais, considerando
a interdependência da vida, e organizando seu tempo de modo a viver no
Franciane Ulaf
180
2º quadrante, sua qualidade de vida dará um salto e você poderá
desfrutar do prazer e da felicidade de administrar bem o seu tempo.
10.5 A organização do 2º quadrante
O segundo quadrante é onde se encontram as suas verdadeiras
prioridades, as coisas que de fato importam em sua vida, as pedras
grandes, que devem ser colocadas primeiro, para que depois você possa
acomodar o resto sem cair na síndrome da urgência.
Em primeiro lugar, é preciso definir bem qual o conteúdo do seu 2º
quadrante. Se você já não fez isso no capítulo em que falamos sobre
prioridades, reflita agora sobre o que é importante em sua vida. Esqueça
tudo o que é urgente, quando estiver trabalhando na definição do 2º
quadrante, finja que o tempo parou e pense somente nas coisas que são
importantes para você. Nada no 2º quadrante é urgente, as coisas
importantes, mas urgentes devem ser colocadas no 1º quadrante.
Esqueça delas por enquanto.
Após ter definido o 2º quadrante, é possível que você queira mudar
alguns detalhes de seu projeto de vida ou suas metas, por ter uma visão
mais clara agora. Utilize o planejamento anual feito no projeto de vida e
sua planilha de metas. A organização do 2º quadrante deve ser feita de
trás para frente. Tendo em mãos o planejamento anual, faça os
planejamentos mensais (se achar que não é necessário fazer os 12 de
uma só vez, faça pelo menos dos 3 meses seguintes para ter uma visão
ampla do que terá pela frente). A partir das metas definidas
mensalmente, faça uma planilha semanal. O planejamento diário é
limitado, fechado, a urgência e a eficiência ocupam o lugar da importância
e da eficácia. Se você só consegue enxergar um dia em sua agenda, perde
a visão de conjunto, perde o elo entre suas metas e acaba sucumbindo à
Planejamento Estratégico Pessoal
181
síndrome da urgência. Sua missão e visão devem estar sempre à vista
para que nas atividades do dia-a-dia você não perca o foco que definiu
para sua vida.
Caso você tenha muitas atividades diárias e não possa abrir mão da
utilização de uma agenda diária, imprima uma planilha semanal e
mantenha dentro de sua agenda, o resultado pode ser muito mais útil do
que a simples visão de conjunto. Muitos executivos perdem reuniões pela
manhã porque ao olharem o planejamento do dia, o horário da reunião já
passou, se utilizassem a planilha semanal veriam no dia anterior a reunião
marcada para o dia seguinte.
Franciane Ulaf
182
Área da Vida Metas Especificações
PLANEJAMENTO MENSALMÊS/ANO :
Planejamento Estratégico Pessoal
183
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Prioridades
Franciane Ulaf
184
11. Objetivos X Felicidade
O pesquisador David Niven, PhD, autor do livro “Os 100 segredos
das pessoas felizes – Descobertas simples e úteis dos estudos científicos
sobre a felicidade” levantou 100 características e comportamentos
relacionados à felicidade e à realização pessoal. Destas, 15% relacionam-
se com a determinação de objetivos e estratégias e mais de 40%
confirmam os argumentos defendidos neste livro. Dentre elas:
1. Use uma estratégia para alcançar a felicidade
Qual a primeira condição para que um negócio dê certo? Um plano de
negócios bem feito. Cada negócio precisa definir seu objetivo e em
seguida criar uma estratégia para alcançá-lo. O mesmo acontece com as
pessoas. Defina o que você quer e então use uma estratégia para
consegui-lo.
2. Concentre-se naquilo que é realmente importante para você
Não há nenhum sentido em disputar um jogo que você não está
interessado em vencer. Faça com que sua vida e suas expectativas sejam
reflexos profundamente pessoais daquilo que é realmente importante para
você. O que é que você realmente deseja? Qual a meta pela qual vale a
pena lutar e que está de acordo com o seu modo de ser? Não invista num
objetivo por mera competição, pela expectativa que os outros têm em
relação à você, ou por um modelo que lhe impuseram. Os objetivos são
essenciais para que as pessoas se orientem no mundo e para que
alcancem a satisfação na vida.
Planejamento Estratégico Pessoal
185
3. A sua vida tem um propósito e um sentido
Você não está aqui apenas para preencher um espaço ou para ser
um figurante no filme de outra pessoa. Os estudos realizados com
americanos mais idosos descobriram que um dos fatores mais importantes
para a felicidade é saber profundamente que sua vida tem um propósito.
Sem um propósito claramente definido, 7 entre 10 indivíduos sentem-se
inseguros em relação a suas vidas.
4. Faça algo todos os dias
As vezes os dias vão embora sem nos darmos conta do que
pensamos e do que fizemos. Como se o tempo nos carregasse e não
fossemos donos de nós mesmos. Assegure-se todos os dias de fazer algo,
por menor que seja, em busca de seus objetivos – “uma viagem de mil
milhas começa com um único passo”.
5. Tenha um objetivo
Sem um objetivo, tudo perde o sentido. Você pode trabalhar 40
horas por semana, arrumar a casa, brincar com os filhos, divertir-se,
tomar resoluções para o ano novo. Entretanto, se você não tiver uma
razão para estar fazendo tudo isso, nenhuma dessas coisas terá qualquer
sentido.
Em uma pesquisa realizada com estudantes universitário fez-se uma
comparação entre os estudantes que gostavam da vida que levavam e de
seus estudos e os estudantes que sentiam-se insatisfeitos. Constatou-se
uma diferença significativa: os estudantes do primeiro grupo tinham
consciência do que desejavam da vida, enquanto os outros iam
simplesmente tocando.
Franciane Ulaf
186
6. Os objetivos devem estar alinhados entre si
Os quatro pneus do seu carro precisam estar adequadamente
alinhados. Se não for assim, os pneus esquerdos estarão voltados para
uma direção diferente daquela dos pneus direitos e o carro não vai
funcionar. Os objetivos também são assim. Precisam estar todos voltados
para a mesma direção. Se seus objetivos estiverem em conflito uns com
os outros, é possível que sua vida não funcione.
7. Não deixe que outras pessoas definam os seus objetivos
Há muitas pessoas que escolhem seus objetivos com base naquilo
que outros pensam. Para ser feliz, não é preciso ter sucesso em
absolutamente tudo o que se faz. mas é essencial acreditar que se tem
controle sobre a própria vida. Aqueles que sabem que são responsáveis
por sua própria situação e por suas decisões sentem-se mais satisfeitos do
que aqueles que têm a sensação de não segurar as rédeas da própria
vida.
Planejamento Estratégico Pessoal
187
Considerações Finais
O planejamento hoje está tomando novas formas e ampliando seu
leque de aplicação. Já não planeja-se somente a carreira, tornou-se
necessário também planejar a vida como um todo.
Pesquisas com pessoas das mais variadas nacionalidades revelam
que os objetivos de vida são fundamentais para que o indivíduo sinta que
sua vida tem significado, o que conseqüentemente, traz motivação e
felicidade. Uma pessoa que acorda todas as manhãs ciente de seus
objetivos e de que a cada dia faz alguma coisa por eles tem uma sensação
e uma motivação diferente para com a vida do que uma pessoa que vai
levando a vida nas costas, ao sabor do vento. Talvez seja este o segredo
da felicidade que estes últimos buscam desesperadamente, pulando de
galho em galho, buscando algo fora de si, enquanto os primeiros tiram os
objetivos de dentro, seguindo em linha reta, com a convicção de que
chegarão lá. A insegurança de um futuro incerto é substituída pela
tranqüilidade de compreender o sentido da vida e saber que a cada
momento se chega mais perto dos objetivos conhecidos.
No entanto, ter objetivos somente não basta. É preciso planejá-los
para saber o que se deve fazer ao longo do tempo para que no final do
prazo estabelecido realize-se o objetivo. É preciso traçar o caminho das
pedras, saber quais são os obstáculos, oportunidades, levantar os
recursos necessários, criar uma estratégia.
Pessoas motivadas, com objetivos de vida, com a convicção de
seguir o caminho que lhes trará realização estão sendo valorizadas como
ouro pelas empresas. Estas pessoas são capazes de trazer resultados,
criar soluções, fazer a diferença, enquanto as que “apenas vivem” só
executam o seu trabalho. As empresas que investirem no
desenvolvimento pessoal de seus funcionários, e principalmente, levá-los
a descobrirem seus objetivos de vida terão um capital inestimável.
Franciane Ulaf
188
Funcionários automotivados, proativos e empreendedores, que sabem
aproveitar seu potencial da melhor forma, poderão contribuir de forma
fantástica com os objetivos da empresa.
A humanidade está começando a vivenciar a era do
desenvolvimento pessoal. Um tempo onde sucesso significa auto-
realização, e as prioridades não são mais ditadas pelo meio, mas por cada
um de nós. Um tempo onde as oportunidades e escolhas são infinitamente
maiores do que as disponíveis aos nossos antepassados e a liberdade já
não é mais uma utopia ou privilégio de poucos, mas algo na qual ainda
temos que aprender a lidar e utilizá-la da melhor forma possível para
atingirmos nosso objetivo maior que é a felicidade.
Planejamento Estratégico Pessoal
189
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Franciane Ulaf
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Franciane Ulaf é consultora em desenvolvimento e planejamento pessoal.
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